domingo, 28 de fevereiro de 2010

Simplesmente Complicado
(It's Complicated, 2009)
Comédia/Romance - 120 min.

Direção: Nancy Meyers
Roteiro: Nancy Meyers

Com: Meryl Streep, Alec Baldwin, Steve Martin

Em determinado ponto do filme, a personagem de Meryl Streep diz: “então é assim que é uma conversa de adultos”. Essa frase explica muito sobre o filme Simplesmente Complicado, que inacreditavelmente teve seu roteiro indicado ao Globo de Ouro.

Simplesmente é o novo fruto da árvore (que parece não ter fim) das comédias agridoces americanas, que pretendem ser “verdadeiras”, “realistas” e contar fatos da vida.

As aspas são mais que justificadas, pois o filme da diretora Nancy Meyers falha fragorosamente nessa tentativa. O filme soa no máximo como um passatempo esquecível de pouco mais de hora e meia.


A história fala sobre Jane (Meryl Streep), uma mulher de meia idade que está separada a dez anos de Jack (Alec Baldwin). Juntos o ex-casal viveram mais de 20 anos, e tiveram 3 filhos. O enrosco começa quando o mais novo dos filhos vai se formar e após uma mistura de flerte com um belo pileque, os dois acabam na cama.

As fagulhas até então adormecidas despertam e um caso de “retorno dos que não foram” se instaura. O problema é que Jack é casado, e Jane se vê no papel de amante do ex marido.
Nancy Meyers é uma especialista no gênero tendo escrito Recruta Benjamin, Presente de Grego, O Pai da Noiva, Alguém Tem de Ceder (esse ultimo também dirigiu) e sabe os atalhos do gênero. Talvez por isso, soe exageradamente infantil a trama orquestrada pela diretora.


O filme não funciona para começar pela sua falha moral básica dos personagens: sejam eles coadjuvantes (as cenas envolvendo o grupo de amigas deleitando-se com a “vingancinha” de Jane, ou os três filhos agindo como bebes de colo ao descobrirem o caso são medíocres) ou principais. A personagem de Meryl parece não ter conseguido seguir sua vida por questão da separação, e o de Alec é um esteriotipo ambulante. Steve Martin que vive o arquiteto Adam, é o único que realmente parece ser tridimensional. Todos os demais sofrem de “síndrome de Peter Pan”. Jane, não cresceu emocionalmente e lida a dez anos com a separação. Jack, parecendo entediado com o novo casamento acha que tudo vai ficar bem, os filhos do casal são uma coleção de “filhinhos da mamãe” típicos do subúrbio americano, que ficam chocados a cada demonstração de afeto dos pais. Cresçam minha gente ! Superem seus problemas, pelo amor de deus !

Meyers por sua vez, além de escrever os personagens rasos, ainda tenta amenizar a óbvia inconsistência de seus personagens, incluindo a comedia (que confesso funciona) numa historia que de leve e simples não tem nada. É realmente “simplesmente complicado” entender como uma mulher pode se sujeitar a uma nova tentativa de algo que já sabe que não vai dar certo. Pode até funcionar para alguns mas para mim, soou artificial, fútil e imbecil.


Baldwin é um cômico impagável, mas um ator dramático limitado. O ator, “se achou”, seu nicho é a comédia, e seus tipos (seja por aqui ou na série 30 Rock) roubam sempre a cena. São hilárias as suas tentativas de aproximação de Jane. Streep, dentre suas duas atuações indicadas a prêmios, tem nessa a “menos boa”. Streep, sempre está no mínimo muito bem, e esse é o caso. Apesar da futilidade e do texto fraco, os dois atores estão bem, conseguindo sobressair no meio da canastrice do roteiro. Martin, apesar de ter o personagem mais interessante, a tempos não tem uma atuação digna de nota, e não será dessa vez que terá.

O filme não é ruim, como pode ter parecido por minha resenha. Só não deve ser levado a sério, é um típico passatempo que você vai esquecer assim que sair da sala.


A comédia romântica é um dos gêneros preferidos do público, e também dos estúdios. Entretanto, por existir uma larguíssima variedade de filmes do gênero, fica ás vezes complicado de se criar mais tramas, já que quase todas dão no mesmo resultado final, passando pelas mesmas situações. Talvez na Inglaterra, pelas mentes dos componentes da Working Title, o terreno seja mais fértil, mas nos EUA a situação nem sempre é a mesma . Nancy Meyers, roteirista e diretora (mais recentemente) é uma daquelas que trabalha recorrentemente com comédias românticas, e conhece melhor do que ninguém o gosto do público. Criou diversos filmes do gênero, e já está calejada de criar esses roteiros.



Por vezes, a diretora criou filmes batidos, sobre mulheres de meia-idade que voltam ao amor, casais que se encontram e desencontram. Entretanto, ás vezes vem uma boa idéia, como em Do que as Mulheres Gostam , que tem uma premissa interessante . Nesse ano, Meyers nos dá Simplesmente Complicado, que possui uma trama rasoavelmente diferenciada, nesse infinito mar de ''mais do mesmo''. Contudo, se na hora de conceber idéias Meyers tem até algum sucesso, na hora de desenvolve-las tudo se resume ao fracasso .




Fracasso crítico, já que o público se lambusa com os caminhos (ruins) que a criadora segue em sua obra. Principalmente mulheres de certa idade que já se separaram (o que não é muito difícil de se encontrar hoje em dia, obviamente). Afinal, qual dessas mulheres não ia gostar da nova história de Meyers? Uma mulher separada há tempos, Jane (Meryl Streep) , não consegue arrumar um namorado, e não faz sexo há muito tempo (e o roteiro adora enfatizar isso). Um dia, na formatura de um de seus filhos, ela reencontra seu ex, Jake (o patético assumido Alec Baldwin), então casado com uma mulher muito mais jovem. Depois de beber e dançar muito, os dois passam um noite juntos. A partir daí, começam a ter um caso. Porém, Jane vai ter que decidir entre Jake de novo, ou o arquiteto recém divorciado Adam, que passa a reparar em Jane.



A premissa é até interessante, e acredito que foi ela e algumas piadas bem elaboradas que renderam ao longa a indicação no Globo de Ouro de melhor roteiro original. Fora isso, não há muito do que se pegar do roteiro. Parece, por vezes -principalmente no final - que foi o próprio Sid Field que escreveu o script . Para quem já está acostumado com filmes do tipo, tudo já é facilmente captado, e o que vai acontecer a seguir não é novidade . As situações são as clássicas do gênero, e nisso, o filme carrega quase zero de originalidade.


A falta de sutileza também dá as caras . O respeito a inteligência do espectador não está ali, e tudo que aparece em tela tem que ser explicado - tanto com imagens como com palavras - ao extremo. Ora, mesmo antes de entrar na sala, já sabemos que Jane é uma mulher que se sente sozinha e que queria ter um companheiro. Mostrar isso em tela está correto. Mas Meyers pesa a mão e exagera. Quem assiste não precisa nem se inclinar sobre a situação para senti-la. Tudo vem já mastigado . Quando Jane está triste por sua solidão, aparece um casal muito feliz e entra no elevador com ela. Então a diretora corta pra dentro dele, e mostra as carícias do casal, e a cara de tristeza de Jane. É realmente necessário colocar isso deste modo ? Prova de que Meyers está muito longe de saber guiar um filme com inteligência necessária .



E se o roteiro estrutural desenrola reviravoltas e clichês óbvios, os diálogos mostram certa qualidade. As piadas são boas, e as atuações - principalmente de Streep e John Krasinski - conseguem colaborar para efetua-las com timing certo. Com boas tiradas, o filme até faz rir, apesar de não muito. De resto, os diálogos mostram a falta de habilidade de Meyers de introduzir informação sem parecer artificial . ''Afinal, são dez anos''- de divórcio- , diz a protagonista logo no início do filme. Não fosse a ótima atuação de Streep, a frase poderia se tornar mais artificial ainda. Não seria mais fácil fazer a coadjuvante da vez perguntar quanto tempo faziam de separados ?




É também explícita a falta de qualidade na direção de Nancy Meyers. Seu jeito sem sal de dirigir já é colocado a vista logo no primeiro frame dos créditos iniciais. Não há cuidado por parte da cineasta em fazer algo mais diferenciado, e coordena o set com desleixo digno de alguns diretores de telenovelas. Além disso, alguns de seus takes são tão mal escolhidos que atrapalham o trabalho de edição, que já seria ruim o suficiente por si só. Deste modo, ocorrem erros até de continuidade. De fato, Meyers não consegue passar o que quer dizer de forma satisfatória, e sua direção deixa muito a desejar.



As atuações demonstram um pouco de qualidade em Simplesmente Complicado. Destaque para a renomada Meryl Streep. Mesmo fazendo o papel de mulher - comum, de meia-idade, que parece ter saído de Sex and the City- o tipo de personagem que Meyers adora - Streep demonstra todo seu talento. Consegue engolir o roteiro ruim com uma atuação extremamente realista e crível . Steve Martin está ali no meio com qualidade habitual, mas com destaque para seu timing com humor físico. Já Alec Baldwin não podia estar em melhor personagem . Risível, faz o papel de si mesmo, e enfim consegue assumir seu jeito estúpido de ser. É mais fácil - pelo menos para o resenhista aqui - rir de Badwin do que o que ele faz. É nada mais do que uma piada ambulante.

Mas Simplesmente Complicado foi feito para o público, que quer apenas dar umas gargalhadas fáceis e aliviar a mente. Pensando assim, o filme até funciona. Consegue mesclar o humor com o drama sem descompassar, até. Mas para por aí . Se quiser se divertir, procure uma forma inteligente, como comédias mais bem elaboradas como as dos Coen . No caso desse filme, é melhor ver uma comédia romântica da Working Title . Ou assisitir o núcleo cômico de uma novela das 8 global. É tão ruim quanto, mas é mais barato, e economiza tempo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Segredo de Seus Olhos
(El Secreto de Sus Ojos, 2009)
Drama/Thriller/Romance - 127 min.

Direção: Juan José Campanella
Roteiro: Juan José Campanella e Eduardo Sacheri

Com: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Guillermo Francella

Antes de escrever essa resenha havia lido no jornal Folha de S.Paulo, uma curta entrevista com o diretor Juan José Campanella, em que entre outras coisas dizia que seu “modelo” para a construção de seu filme havia sido o clássico dos clássicos Casablanca. O diretor disse que assim como Casablanca ele quis que a percepção dos fatos sócio-políticos incrustados em sua produção fossem percebidos pelos acontecimentos menores, aqueles detalhes corriqueiros.

Em resumo Campanella quis contar uma historia e não elaborar um tratado social sobre seu pais, o que é o erro de nove de 10 filmes feitos no Brasil.

O poder de Segredo de Seus Olhos está justamente nessa incrível capacidade de ser uma amalgama de variantes cinematográficas tão diversas e incongruentes e mesmo assim soar enxuto, redondo e brilhante.


O filme trata da história de Benjamin Esposito , um funcionário do ministério da justiça aposentado que resolve escrever um romance baseando-se num caso que mudou sua vida há 25 anos. E o filme também trata do mesmo Benjamin (por meio de um excelente flashback) 25 anos no passado vivenciando as mesmas situações que ele coloca no papel.

Benjamin é vivido pelo brilhante ator Ricardo Darin (que fez outros filmes do diretor, o mais famoso deles é o Filho da Noiva) e é um homem que sobrevive. Esqueceu de como viver a 25 anos em função do caso que ele, quase numa sessão de exorcismo privado, resolve colocar pra fora por meio de um romance. Entre os “entraves” causados pelo caso, está a sua mal resolvida história de quase-amor com sua superior, a juíza Irene Hastings (a lindíssima Soledad Villami). Benjamin sofre de síndrome de Charlie Brown. Explicando aos leigos, a síndrome manifesta-se quando o doente não consegue demonstrar de forma clara e objetiva (às vezes até se auto-sabotando) seus sentimentos por determinada pessoa. Benjamin nunca conseguiu de forma clara expor o que pensa, sempre agindo como se temesse algo quase sobrenatural.


Quando disse acima que o filme é um amalgama, isso se reflete no personagem de Morales (Pablo Rago). O tal caso que perturba Benjamin, envolve o estupro e a posterior morte da mulher deste. Por mais de um ano (que são suavemente mostrados) Benjamin e seu companheiro Sandoval (Guillermo Francella) investigam, a principio de forma oficial e depois de forma oficiosa, o caso e partem a caça do assassino.

Toda essa mistura de comédia agridoce, com thriller policial ainda guarda a tal “camada” de denuncia política, pois o filme ambienta-se nos anos pré-ditatoriais na Argentina e como tal, o que se segue ao resultado da investigação é o acontece com todo e qualquer “enxerido” que acaba mexendo com quem não deve.

Antes que pensem, não, a resolução não é clichê. Ela é solida como uma rocha e bastante verossímil. O resultado da investigação somado a instabilidade política resultam no que é mostrado no filme. Uma bela idéia do diretor.


Outro ponto que deve ser analisado é a quantidade de gags e momentos de pura comédia que Campanella tempera seu filme. Quase como um chef preocupado com a quantidade de sal ou de açúcar, o diretor preocupa-se em apresentar uma mistura, ou uma sopa, que possa agraciar aos mais diversos paladares. Tarefa ingrata, que ele consegue suplantar com grande competência.

Falando da parte técnica, a principio destaca-se o belo trabalho do departamento de maquiagem que conseguiu envelhecer Darin de uma maneira totalmente convincente, assim como todos os demais personagens que transitam entre os dois tempos do filme.


As interpretações dos atores principais são todas muito boas. Darin é um senhor ator, e talvez apresente o personagem mais cheio de nuances de sua carreira (pelo menos dentre os filmes que vi). Ora dono de si, ora abanando o rabo como um poodle, ora temerário e ora nostálgico, seu personagem transpira tridimensionalidade. Soledad além de belíssima serve como o nêmeses de Darin. Se ele pende para a esquerda ela equilibra a cena andando para a direita (notem sua interpretação na cena do interrogatório, notem a sua completa compreensão da situação apenas pelo seu olhar). Guillermo como o hilário Sandoval serve como o pierrô da história. Assim como o palhaço trágico, mostra-se divertido e expansivo apenas para esconder sua existência comum e desinteressante. Um tremendo trabalho, hora hilário, hora comovente. Completando Pablo Rago, que apresenta a mais interessante curva narrativa da história (em especial na meia hora final). Se Benjamin (apesar de seus problemas) sabe quais são seus problemas, e apesar de conhecê-los não tem força para enfrentá-los, o personagem de Pablo é uma esfinge. Misterioso, gélido e profundamente apaixonado.

O trabalho de Campanella é impressionante. Realmemte. Estamos falando de um diretor no auge de suas capacidades de criação e de desenvolvimento de narrativas. Apenas como forma de ilustrar (espero que vejam o filme e comentem) falo de duas seqüências. A primeira envolve uma casa de uma senhora idosa, as quais nossos “heróis” invadem a procura de cartas. A seqüência em si não apresenta nenhuma grande revolução estética, mas uma inteligência na construção dos enquadramentos e no uso de cores muito interessantes. A outra é a inigualável (pra mim a melhor seqüência até agora em 2010) cena do estádio do Racing Club. De uma panorâmica vista de cima, para (sem cortes) o close lateral de Benjamin para (ainda sem cortes) uma tentativa de localização de um suspeito que se transforma (adivinhem se temos cortes?) numa perseguição pelo interior do estádio que culmina com o camarada entrando no campo e levando um encontrão, caindo desacordado. Como ele fez isso, eu não sei, e duvido que alguém consiga me explicar de forma convincente. É absolutamente impressionante.


Impressionante, talvez resuma todo o sentimento que eu levo da sessão de O Segredo de seus Olhos. Impressionei-me com o desfecho (apesar de óbvio, funciona), me impressionei com a qualidade técnica, me impressionei com as questões pontuais sobre o homem sobrevivendo em vez de viver e me impressionei (mais uma vez) com mais uma película vinda dos hermanos. Podemos discutir por décadas quem tem o melhor futebol, ou quem foi melhor (Pelé ou Maradona), mas quando o assunto é cinema, não a discussão. Eles ganham da gente (pelo menos nos últimos 15 anos) de goleada. E eu nem ligo, sento na arquibancada e viro a casaca mesmo.

TRAILER:

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Aeroporto 77, Annie Hall, Contatos Imediatos de 3º Grau, Exorcista II, Embalos de Sábado a Noite, 007 O Espião que me Amava e Star Wars IV: Uma Nova Esperança. Esses são alguns filmes que chegaram nas telonas em 1977, ano em que também chegava The Duellists a estréia de Ridley Scott como diretor de cinema.








O plano de fundo da trama é a França napoleônica, retratando a história de 2 generais extremamente fiéis ao império e principalmente aos códigos napoleônicos, bem como a ética de comportamento entre os indivíduos.


Dois generais extremamente orgulhosos que por um motivo pífio tem suas vidas cruzadas e que acabam por realizar um duelo até a morte. Entretanto o duelo não termina, e pelo código de ética deve ser novamente realizado. E assim a história segue. Como são generais, volta e meia são mandados para a frente de batalha em locais diferentes, se reencontrando anos depois para o término, mas sempre há um imprevisto e nunca conseguem terminar.







Assim vemos que conforme o passar dos anos, o duelo vira uma questão de honra e pode até ser considerado como uma razão para continuar a viver, simplesmente por orgulho. O Motivo não importa mais, caiu no esquecimento. Mais ou menos como na história do debut de Spielberg (Encurralado).


Aqui já podemos ter alguns indícios de como seria os trabalhos seguintes de Scott, em todos seus filmes há a figura do anti-herói, bem como as imagens proporcionadas que dão a sensação de beleza sombria.







Não é o melhor do Scott, mas é algo para se conferir, pois como poucos diretores, Scott tem um filme de estréia que não é ruim, é simples e objetivo.

Duelos em Imagens:















Bruno Gonçalves
Estudante de Direito e Arauto do Caos