domingo, 27 de junho de 2010



Bem Amigos do Fotograma Digital, segue abaixo (em clima "clichê" de Copa do Mundo) um humilde top de filmes em que o futebol é o prato principal na sétima arte. Onde joga-se bola, onde o futebol é o prato principal ou mesmo aquele elo entre personagens ou situações. Espero que gostem.


(Obs: a lista não tem ordem de melhor ou pior, apenas estão listados 15 bons filmes que abordam o tema).


Maldito Futebol Clube (Damned United, 2009)
dir: Tom Hooper

Michael Sheen (de Frost/Nixon) estrela esse filme inglês (que acaba de sair por aqui em dvd) sobre o técnico Brian Clough e seu período de 44 dias a frente do Leeds United. Esse filme terá uma crítica em breve no blog.

Driblando o Destino (Bend It Like Beckham, 2002)
dir: Gurinder Chadha

A fábula da menina indiana que resolve desafiar os preceitos de sua cultura e religião para realizar seu sonho: jogar bola. Com Keira Knightley em início de carreira, Jonathan Rhys Meyers (pré The Tudors) e Parminder Nagra que se notabilizou como a Dra. Neela Rasgotra em ER. Apesar de parecer "bobinho" o filme até funciona bem, principalmente por ter surgido antes do "boom" da moda indiana no cinema. Precursor ?


A Um Passo da Glória (A Shot at Glory, 2000)
dir: Michael Corrente

Esse pequeno filme anglo-americano narra a história de Gordon McLeod (Robert Duvall, muito bem), um técnico de uma equipe pequena da Escócia, o Kinockie, que após ter sido comprado por um milionário americano (Michael Keaton) é obrigado a "engolir" o bad boy Jackie McQuillan (vivído pelo ex-jogador Ally McCoist que não compromete) , que por um desses milagres do cinema foi casado com a filha do técnio. O caldeirão se arma para algumas discussões interessantes sobre tolerância, perdão e aprendizado. Uma pequena jóia a ser descoberta pelos leitores.


Kung Fu Futebol Clube (Shaolin Soccer, 2001)
dir: Stephen Chow

A bizarra e hilária história de Stephen Chow sobre um grupo de mestres de artes marciais que se juntam para montar um time de futebol é sensacional. Afora os efeitos visuais cartunescos, o filme ainda conta com piadas e gags visuais que remetem a Chuck Jones e ao melhor dos desenhos Hanna Barbera e Looney Tunes. Recomendado com louvor.


Fuga para a Vitória (Victory, 1981)
dir: John Huston

O genial John Huston conta a história do grupo de prisioneiros da segunda guerra mundial que aproveitam de um jogo contra os oficiais nazistas para elaborarem uma fuga rumo a liberdade. Apesar de alguns problemas de ritmo (que começa cauteloso e engrena mesmo só a partir da sua parte final) o filme funciona como bom entretenimento e fotograficamente talvez seja o primeiro a conseguir filmar futebol com alguma competência. Fora o fato de os coadjuvantes serem quase todos fabulosos jogadores de futebol, entre eles: Bobby Moore (genial zagueiro inglês, campeão mundial em 1966), Osvaldo Ardiles (grandíssimo meia ofensivo argentino), Paul Van Himst (meia belga), Kazimierz Deyna (tremendo armador polonês) e é claro Pelé. Do lado dos atores: Max von Sydow, Sylvester Stallone e Michael Caine.


O Milagre de Berna (Das Wunder von Bern, 2003)
dir: Sonke Wortmann

A história real da maior zebra da história das copas do mundo, a vitória da seleção alemã sobre a magnífica equipe húngara no campeonato disputado em 1954 na Suiça. Vale pela incrível reconstrução de época e da memória de um país que abraçou a vitória como o primeiro passo para o crescimento de sua alto estima. Outro destaque é para o realismo encontrado pela produção e direção para realizar as tomadas que retratam a partida final. Se o leitor tiver a chance de ver o filme oficial da copa de 54, compare a precisão cirúrgica com que os realizadores apontaram suas câmeras para o campo. Um trabalho notável, que só perde um pouco ao inserir uma história sentimental comum como "âncora" emocional.


Hooligans (Green Street Hooligans, 2005)
dir: Lexi Alexander

Esse filme já teve crítica do Fotograma (para ler clique aqui ) e versa sobre o estudante de jornalismo americano (Elijah Wood) que viaja a Inglaterra e envolve-se numa gangue de hooligans (aqueles torcedores "brigões" ingleses). Apesar de vermos pouca bola rolando na tela, o entorno e a relação doente das pessoas com seus times - algo muito maior do que um simples esporte - é brilhantemente retratada.


Garrincha, a Alegria do Povo (Garrincha, a Alegria do Povo, 1962
dir: Joaquim Pedro de Andrade

O seminal documentário brasileiro sobre o gênio das pernas tortas, é obrigatório para todos os fãs de futebol e de fotografia esportiva, pois em 1962, Joaquim Pedro de Andrade conseguiu imagens que anos depois ainda impressionam.


Duelo de Campeões (The Game of Their Lives, 2005)
dir: David Anspaugh

Mais uma história real, dessa vez da outra grande zebra da história das copas: a vitória da seleção amadora norte-americana frente aos inventores do futebol (a Inglaterra) na Copa de 1950, no Brasil. Seguindo a linha de drama de superação histórico, o filme vale pela reconstrução de época e pela chance de ver um Gerard Butler (pré sucesso de 300) como o principal personagem do filme - o goleiro Frank Borghi.


À Procura de Eric (Looking for Eric, 2009)
dir: Ken Loach

Mais um filme que teve resenha do Fotograma (para ler clique aqui ). Usa da imagem do jogador Eric Cantona para retratar mais um estudo sobre o homem do diretor Ken Loach. Brilhante filme e dos melhores do ano de 2009.


O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 2006)
dir: Cao Hamburger

A partir da paixão do brasileiro (e do garoto Mauro) pelo futebol, o diretor Cao Hamburger narra essa história delicada sobre a ditadura militar no país, sem nunca cair no panfletário ou na tendência do cinema nacional em teorizar sobre tudo e todos. Um excelente trabalho e o melhor filme feito no país em 2006.


Boleiros - Era uma Vez o Futebol (Boleiros - Era uma Vez o Futebol, 1998)
dir: Ugo Giorgetti

Se existe a quintessencia da filmografia futebolística mundial, acho muito pouco provável que essa brilhante obra do genial Ugo Giorgetti não figure no topo da lista, ou entre os três mais fabulosos filmes sobre o tema. Engraçado, tocante e reflexivo. Um dos maiores filmes da história do Brasil.


Gol ! (Goal!The Dream Begins, 2005)
dir: Danny Cannon

O filme de Danny Cannon foi pensado como uma trilogia que exploraria o crescimento esportivo e emocional de Santiago Munez, um garoto pobre de origem mexicana descoberto por um olheiro num parque em Los Angeles. Emulando Rocky a cada fotograma (olha nóis aí!) o filme é um dos mais deliciosos "guilty pleasures" que já vi. Clichê até o último segundo, mas talvez por tratar de um tema que quase todo brasileiro adora, funciona bem.


Todos os Corações do Mundo (Two Billion Hearts, 1995)
dir: Mauro Salles

É tradicional que a cada final de Copa do Mundo seja lançado (meses depois é claro) um filme retratando os melhores momentos do torneio realizado. Não foi diferente em 1994, quando da realização da Copa nos Estados Unidos, porém de todos os documentários (e eu vi todos eles) o melhor - sem sombra de dúvida - é esse belo documentário de Mauro Salles. Genial desde a montagem, até a coleta de entrevistas com diversos populares, passando por várias imagens de torcedores no mundo todo, é uma aula de fotografia e direção. Essencial para todos os amantes da bola.


Penalidade Máxima (Mean Machine, 2001)
dir: Barry Skolnick

Talvez o leitor conheça essa história por sua refilmagem (inferior) americana estrelada por Adam Sandler e Burt Reynolds. No filme original, Vinnie Jones (que antes de atuar foi jogador de futebol) e Jason Statham (Carga Explosiva) são os astros da história do jogador que é preso e tem que juntar um grupo de presos e enfrentar um grupo de guardas. As cenas do jogo são muito bem realizadas e Vinnie Jones e Jason Statham fazem rir só de estarem em tela.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Esclarecimentos


Pessoal que segue o Fotograma tudo bem ?


Não morremos, apesar da frequencia dos posts ter diminuído nas últimas duas semanas em virtude e outros afazeres da equipe.


Em breve voltaremos a "carga" com as postagens diárias, e algumas boas novidades.


Por enquanto, as postagens continuarão um pouco mais espaçadas (não ultrapassando três dias entre uma e outra).


No mais, agradecemos a companhia de vocês nos pageviews e "cobramos" uma maior participação nos comentários do blog.


Comentem ai sobre nossos artigos, críticas e colunas.


Abraços !

quarta-feira, 23 de junho de 2010



Trilhas Sonoras e os Sintetizadores – Part III

Olá ao Fotograma Digital. Para as pessoas que estão lendo a coluna FotoMusic Score pela primeira vez, estou fazendo uma série de postagens sobre o grande uso dos teclados sintetizadores na trilha sonora. Estou comentando sobre alguns compositores que se destacaram neste ramo, e também sobre alguns equipamentos que fizeram parte desta história.

Diferente das duas últimas postagens, que comentei bastante sobre o surgimento dos primeiros sintetizadores, e sobre alguns compositores que experimentaram fazer música com este novo instrumento musical, nesta semana não pretendo comentar tanto sobre equipamentos, ou sobre a história do sintetizador. Resolvi escrever sobre um compositor que ficou muito conhecido por usar sons sintéticos no arranjo da suas Trilhas Sonoras. Tem uma sólida carreira com vários discos, shows com grandes efeitos visuais, sem contar sua criatividade que o fez ganhar alguns prêmios cinematográficos com suas trilhas sonoras.



Evángelos Odysséas Papathanassíu, conhecido como Vangelis, nasceu em Vólos, Grécia, em 29 de Março de 1943. Começou a compôr desde cedo, aos 4 anos de idade, porém não se dedicou à música tradicional, nem ao estudo do piano. Há quem diga que ele é um grande exemplo de músico auto-didata, e que não sabe ler ou escrever partitura. Sendo verdade ou não, o fato é Vangelis sempre teve o sucesso nas mãos, em todos os projetos que participou.

Nos anos 60, formou o grupo pop “Formynx”, bastante popular na Grécia. Pouco depois, foi para a França, formando o conhecido grupo de rock progressivo Aphrodite´s Child, famoso tanto na Europa quanto aqui no Brasil.


Com o grupo desfeito em 1972, Vangelis estava pronto para formar sua carreira solo, e em paralelo, continuar o seu trabalho com trilhas sonoras, que havia começou nos anos 60. Estando na França, compôs a trilha sonora de alguns filmes do diretor francês Frédéric Rossif, como “L'apocalypse des animaux“ (1972), “Le cantique des créatures: Georges Mathieu ou La fureur d'être” (1974), e “Le cantique des créatures: Georges Braque ou Le temps différent” (1975).


Junto com a trilha sonora destes filmes, Vangelis lança seu primeiro álbum solo, “Earth”, de 1974, na mesma época em que foi convidado para tocar na clássica banda de Rock Progressico “Yes”. Vangelis recusou o convite, mas criou uma grande amizade com o cantor Jon Anderson, que trabalhou em vários dos seus discos. Para a alegria de muitos, o compositor grego continuou fazendo seus respeitosos trabalhos na música eletrônica. Mudou-se para Londres, montando seu próprio estúdio, onde podia trabalhar nos seus discos e trilhas sonoras. Em 1975 lançou o álbum “Heaven and Hell”, onde uma das faixas foi usada para o tema de abertura da série Cosmos.



Mas os grandes sucessos de Vangelis vieram a partir dos anos 80, com a trilha sonora de “Chariots of Fire” (1981). O tema ficou mundialmente conhecido, tornando-se o tema das maratonas de todo o mundo, rendendo ao compositor o Oscar de Melhor Trilha Sonora em 1982.



Após o grande sucesso de “Chariots of Fire”, Vangelis também trabalhou com o diretor Ridley Scott, compondo trilhas também memoráveis, como “Blade Runner” (1982) e “1942: Conquest of Paradise” (1992).



Vangelis ficou mundialmente conhecido com suas trilhas sonoras, especialmente de “Chariots of Fire”, mas seu foco principal era sua carreira solo. O compositor sempre relutou bastante para dar entrevistas, e mesmo sendo famoso, nunca desejou ficar aberto à imprensa. Ele costuma dizer que ao invés de dar entrevistas, ele transmite suas opiniões sobre o mundo com sua música. Entre os anos 80 e 90, Vangelis compôs uma série de álbuns com participações de vários artistas, em especial o cantor da banda Yes, Jon Anderson. Em 2001, lançou o disco “Mythodea”, sendo um álbum mais orquestral do que eletrônico. Um dos seus últimos trabalhos com filmes foi a trilha sonora de “Alexander” (2004), Oliver Stone.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Toy Story 3
(Toy Story 3, 2010)
Animação - 103 min.

Direção: Lee Unkrich
Roteiro: John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich

Quando Toy Story foi lançado em 1995, o sucesso foi imediato. Com revolução na parte técnica e profunda criatividade na hora de contar histórias, todos se apaixonaram pelo primeiro filme de Woody e Buzz. Ora, a continuação foi feita em 1999 , com mais uma boa história e uma constatação que já rondava as mentes dos bonecos : “ Um dia Andy vai para a faculdade, e todos seremos esquecidos’’ . Mesmo com essa mensagem na cabeça, todos os brinquedos continuaram fielmente ao lado de Andy, até quando tudo acabasse. Onze anos depois de Toy Story 2 e quinze anos depois de sua primeira aventura, a Pixar decide corajosamente retratar o dia tão temido pelos brinquedos . Corajosamente, pois realizar uma sequencia de um filme depois de mais de uma década, é de um risco inimaginável. Há toda uma geração nova, e as crianças de 1995 são adolescentes crescidos de hoje em dia. Mas a trilogia assim foi pensada. A maior saga da Pixar chega ao seu ponto final .

A trama é levada ao espectador de maneira reta e sem rodeios. Os personagens estão reduzidos, e não duvide do que aconteceu com eles: foram jogados fora. Os bonecos sentem tudo que ocorre a sua volta, mas o que poderiam fazer? A hora também chega para os poucos que restaram. Quando Woody fala para os brinquedos se reunirem, e a resposta é “Estamos todos aqui , Woody” há um vislumbre do que o filme representará para todos os personagens. Na trama em si, Andy decide que levará apenas Woody para a faculdade , e que todos os outros brinquedos ficariam no sótão. Por azar do destino, os brinquedos são colocados no saco do lixo, e ao pensar que seriam jogados fora, fogem para a caixa de doações que vai para a creche Sunnyside. Começa então a tentativa de Woody em trazer os companheiros de volta para casa, e mostrar que foi tudo um engano. Mas todo o grupo se decide em ir para a creche, e ser eterno lá. É a volta do discurso de Toy Story 2, onde rondava o questionamento de fidelidade á casa de Andy ,ou favorecimento solo.


E não há questionamentos de que esse é o filme mais adulto e dramático da série Toy Story, e muito provavelmente o da Pixar também . Não há mais o tom de porto seguro, e o termo “voltar pra casa” já não tem o mesmo significado que antes. A simbologia mais clara de que este é o filme mais realista e sombrio dos cativantes personagens está no início da película . Em 1995, no original , o filme começa com Andy brincando com seus bonecos, e sua voz narrando enquanto os balança pelos móveis de seu quarto. A partir da cena mostrada, somos introduzidos á imaginação do menino. Em Toy Story 3, o filme se inicia com uma cena épica de aventura dos brinquedos e logo corta para a cena do mesmo Andy pequeno brincando com seus bonecos. A mensagem que fica é que nesse filme não há mais espaço para deslizes ou brincadeiras. O destino deles é definitivo e real. O que se segue após essas cenas é a seqüência de filmagens feitas pela mãe de Andy quando ele era pequeno. Neste momento, temos certeza de que não sairemos da sala de exibição sem chorar pelo menos uma vez.

O foco do roteiro como sempre , é na construção de personagens. Ou melhor, desconstrução de personagens . A maior parte das personas de Toy Story 3 já está estabelecida na mente de todos que assistem, e não cabe acrescentar nenhuma informação nova . O destino do filme é levar todos esses personagens ao limite : da emoção, da razão, da força , da esperança . E é assim que o filme corre ; sob a pressão de todos os acontecimentos , Woody assume a responsabilidade de protagonista , e tem o dever de reunir todos os amigos e salvá-los do destino trágico ; Buzz tem a força necessária para assumir a liderança do grupo em vários momentos, e não demonstra fraqueza perante os desafios monstruosos . Como resultado disso tudo tiramos a mensagem que o filme passa durante seu desenvolvimento : Não importa a crise pela qual passamos, mas a tradição e a amizade dos companheiros é maior do que qualquer promessa falsa .O símbolo máximo disso é uma das cenas finais, onde todos os personagens, cientes de seus destinos e incapazes de reverter a situação, simplesmente dão-se as mãos, enquanto a música dramática sobe. Um dos gestos mais emocionantes que já vi em toda a história do cinema. Passar incólume a cenas desse tipo é impossível .



E a escolha da direção foi das mais acertadas. Lee Unkrich pode não ser o melhor cineasta, mas soube utilizar todos os manerismos típicos da série, sem errar na mão , dirigindo ação de maneira incrível e tornando todos os momentos épicos e emocionantes . Escolher o diretor do primeiro longa, John Lasseter, seria menos correto . Apesar de Lasseter ser genial , é um diretor que cria ótimas obras originais, e o que este último capítulo não pedia originalidade, mas sim forte emoção e engrandecimento dos personagens. E foi o que Unkrich conseguiu fazer com sucesso . As sensações de nolstagia que ele consegiu passar ao público ainda vão ecoar por algumas semanas.

Por fim, Toy Story 3 passa sem erro nenhum , superando as expectativas criadas e tirando o medo que muitos fãs (inclusive aquele que vos escreve) que o filme fosse ruim e estragasse a série. Muito pelo contrário . O longa de 2010 de Woody e Buzz consegue honrar seus predecessores e ir além , superando os outros dois filmes e se consagrando como o melhor da trilogia . Somando todos os seus extratosféricos acertos , a constatação final é indubitavel : Toy Story 3 é isoladamente o melhor filme do ano até aqui, e um dos melhores filmes da história. Divertido. Emocionante. Dramático. Perfeito.

domingo, 20 de junho de 2010

Kick-Ass
(Kick-Ass, 2010)
Ação/Thriller - 117 min.

Direção: Mathew Vaughn
Roteiro: Jane Goldman e Mathew Vaughn

Com: Aaron Johnson, Chloe Moritz, Nicolas Cage, Mark Strong

Mark Millar sempre foi um escritor extremamente polêmico. E competente. Desde trabalhos obscuros e irônicos como O Procurado até mega-blockbusters em páginas de quadrinhos, como Guerra Civil e Old Man Logan, Millar é um sucesso entre os críticos e os leitores, sendo sucesso de vendas. Ainda fez um clássico moderno pela Marvel, Os Supremos, que é tido como referência pra criação de Universo dos filmes Marvel. Em 2008, Millar resolveu escrever outra história. Dessa vez, rumava para o rumo irônico que se tronou sua marca. O tema: O que aconteceria se um fanático por quadrinhos virasse um super-herói? Juntando tudo ao gênio vivo chamado John Romita Jr. e temos Kick-Ass. A HQ fez muito sucesso e os fãs (eu entre eles, diga-se de passagem), aguardavam ansiosamente a conclusão dela (as 8 partes saíram de 2008 a 2010, com incrível atraso) e a adaptação cinematográfica. Cerca de 3 meses depois do melancólico final da HQ, surge o filme nos cinemas. E com censura 18 anos, o que torna evidente o fato da HQ ser ultra-violenta. E como ficou o resultado? Alucinantemente sensacional.

A trama gira em torno de 3 arcos principais. O de Dave Lizewski (Aaron Johnson), um adolescente de 16 anos, nerd fanático por HQs que quer se transformar em super-herói por não mais aguentar as pessoas nada fazerem pra combater o crime. O do mafioso Frank D'Amico (o cada vez mais genial Mark Strong), que quer descobrir quem é o tal super-herói que está matando seus homens e o de Big Daddy e Hit-Girl (Nicolas Cage e Chloe Moretz), dois super-heróis, pai e filha, que querem vingança contra D'Amico por ter feito sua esposa e mãe ter se matado. E ainda temos o filho de Frank, Chris (Christopher Mintz-Plasse), que vai completar 18 anos e quer ter um papel central na "família". A trama se extende até o meio com agilidade e muitas informações engraçadas e construção de personagens formidáveis.


Porém, se o espectador achar que é apenas um blockbuster comum, se chocará.

Kick-Ass tem doses cavalares de violência, que justificam uma censura R nos USA e tem palavrões a todo momento, sendo eles proferidos por um mafioso irado ou uma menininha de 11 anos. Essa, por sua vez, é a Hit-Girl, que esfacela criminosos ao longo de toda a película e com requintes de violência realmente extrema (mutilações, tiros na cabeça e até mesmo uma morte pelas costas, de uma mulher "indefesa"). Logo, se o espectador preza pela dignidade moral e acha repreensível comportamentos violentos, corra do filme. É um dos maiores e mais divertidos exemplos da glamurização da violência de toda a história do cinema. Tudo isso potencializa o fato de que Kick-Ass, como bom filme de nicho que é, se tornará um novo cult, a ser apreciados por cidadãos que prezam por uma boa história.

O roteiro de Jane Campion e Matthew Vaughn é simplesmente sensacional por transformar a, já difícil de digerir, HQ de Millar e Romita Jr. em uma película absurda e original ao extremo. Além de abusar dos clichês de todos os filmes de super-herói (o Big Daddy se veste como o Batman, Dave é um típico Peter Parker, as motivações dos heróis são todas chupadas de quadrinhos), o roteiro expõe uma excelente crítica a sociedade ridícula que tomou conta do mundo, áquela que nem liga em ter violência urbana nas ruas e esqueceu honra e respeito. Quando frases geniais como "Por que todos querem ser Paris Hilton e ninguém que ser o Homem-Aranha?" são proferidas, a verdadeira identidade da primeira metade do filme fica evidente. Segue á risca a aversão aos clichês (e deboche a eles).


Porém, na segunda metade do filme, ele se torna um filme mais sério, se tornando um filme de personagens e deixando os clichês, se distanciando da HQ. E, sinceramente, ficou bem melhor. O final da HQ seguia a linha de deboche aos clichês. Resumo: Dave terminava simplesmente acabado. Não conseguiu nada que queria, um desastre total. Já no filme, o roteiro visou mais um apego aos personagens e uma linha séria, o que só transformou o filme numa experiência soberba, irretocável. Mesmo que o distanciamento cronológico do que houve na HQ tenha ocorrido, nas telas Kick-Ass continuou extremo, alucinado e corajoso, sem ter amolecido ou reduzido a fortíssima mensagem (gráfica e mental) que a HQ pensava. Os ideais permaneceram, mas os personagens foram premiados por eles. Em síntese, o que se coloca em Kick-Ass no cinema é mais simples do que na obra original, despertando emoções mais verdadeiras e apego mais fácil e tangível à história, deixando assim toda a narrativa mais palatável ao espectador, sem tirar sua originalidade ou sua mensagem.

Tendo um roteiro fiel e bem adaptado, o que Matthew Vaughn faz na direção é acima da média, mas sem abusar demais (o que é bom no caso desse filme). Enquadra atores perfeitamente bem, diferente da maneira enlatada de Hollywood , e utiliza planos limpos e largos como o quadrinista John Romita Jr. fez na HQ . Quando abusa de cortes rápidos, eles não confundem o espectador, mas criam um dinamismo maior dos movimentos executados . Sem dúvidas, não perde o controle em momento nenhum, e permanece em sintonia com a proposta do filme. Para tanto, também precisou utilizar takes mais modernos (afinal o filme é modernidade pura) como a pistola indo na câmera e a divertida sequencia em primeira- pessoa de Hit-Girl.

Nas outras partes técnicas , Kick-Ass passa sem erros. A trilha sonora montada é uma colcha de retalhos de vários ritmos e canções, que no final combinam perfeitamente. As músicas entram com um propósito, tanto de criar uma ironia - como nas sequencias de mutilação de Hit-Girl - ou por puro estilo de fundo musical. Já a trilha original também consegue ter um espaço considerável, utilizando um estilo clássico a lá Hans Zimmer, tendo ritmos muito parecidos com o do último Batman. Mas a própria fotografia já deixa bem claro que Kick-Ass não é nada sombrio. Esse quesito, aliás , é importantíssimo para a compreensão final da mensagem da obra. Os quilos de violência do filme combinados com o toque colorido-vivo da fotografia , deixam bem claro que aquele não é uma película sombria, mas sim extremamente divertida, com alguns momentos non-sense e por fim, feel good.


Nas atuações, Kick-Ass também não erra. A escolha mais acertada parece ter sido da garota Chloe Moretz, que não só atua soberbamente mas também parece ter adorado e se divertido nas gravações. Encontrar uma garotinha de 11 anos que participasse de tantas cenas de violência gráfica não poderia ser fácil, e a equipe achou a menina certa. Todos os outros tem atuações competentes, e Nicolas Cage não erra como Big Daddy, e concretiza-se em dois trabalhos seguidos sem nenhum erro .

Com toda a sua violência e proposta de criar um shake de cultura pop e de super-herois, Kick-Ass cumpre o que promete, mas vai além. Não só adapta de maneira perfeita a parte inicial da HQ escrita por Mark Millar ,como também apara seus erros na reta final . É definitivamente, então, melhor que sua obra original. O Kick- Ass dos cinemas é mais do que um fã podia esperar.

Não se espantem se no futuro esse filme reverberar como um consagrado cult de nossa década. Ele merecerá - e merece- todos os elogios .

(Nota do Editor: Por que duas resenhas de Kick-Ass? Simples, acreditamos no potencial do filme e a segunda crítica foi realizada por nossa dupla de fãs neófitos por hq, o que trás uma abordagem diferente ao filme)

sábado, 19 de junho de 2010

Kick-Ass
(Kick-Ass, 2010)
Ação/Thriller - 117 min.

Direção: Mathew Vaughn
Roteiro: Jane Goldman e Mathew Vaughn

Com: Aaron Johnson, Chloe Moritz, Nicolas Cage, Mark Strong

Posso pressentir as resenhas sobre Kick Ass que serão escritas pelos “velhos” críticos, muito mais preocupados em rolar sobre o próprio conhecimento do que em experimentar as novidades. Cunharão termos como: “absurdo”, “descerebrado”, “imbecil”, “ofensivo” entre outros adjetivos pouco gentis ao filme de Mathew Vaughn.

Permita-me estar no outro lado do ringue, com o protetor bucal, e luvas em punho e sacramentar sem a menor dúvida: Kick-Ass é um dos filmes mais divertidos que já vi.
Por que ? Simplesmente por não se importar nem um pouco com o que será dito e repercutido sobre sua completa subversão sobre o que é considerado aceitável na sociedade. Esqueça qualquer resquício de moralidade que ainda reste em você, pois Kick-Ass é um tiro bem no meio da testa de uma geração que, ou acorda e percebe que o que foi, um dia, sinônimo de diversão, hoje não funciona mais.


Hoje, os adolescentes pensam e agem de uma maneira mais acelerada e tem conhecimento de coisas com uma velocidade mil vezes mais intensa do que toda uma civilização que a procedeu. Reflexos de uma sociedade que nasceu mexendo no computador, ouvindo Mp3, tendo a sua disposição quilos de e-books e afins. Afinal, é impossível imaginar que em outro período histórico, um vídeo no YouTube geraria tamanha comoção, ou que um personagem que se transformaria em herói teria a sua disposição um site e uma revista em quadrinhos, como são mostrados no excelente roteiro de Jane Goldman e do próprio diretor Mathew Vaughn. A excelência do trabalho vai além da representação de uma geração, mas na sátira dela mesma e principalmente na “destruição” dos preceitos do objeto de culto. A diferença de Kick-Ass, para o outro grande trabalho que pensou nessa desconstrução é o tom. Se em Watchmen (a mais importante história em quadrinho da história), Alan Moore (o autor) quis retratar uma sociedade castrada e a beira de uma destruição moral e social e que havia destruído (fisica e simbolicamente) aqueles que um dia tentaram protegê-la, o filme (e imagino os quadrinhos) Kick-Ass imagina que essa sociedade já se foi. A moralidade já era, é coisa do passado, e os limites do ser humano hoje são muito mais permissivos, aceitando um tipo de “herói” inacreditavelmente falível, patético e violento. E tudo isso com uma dose gigantesca de cinismo, sarcasmo e bom humor.

Isso é bom? Não sei, mas sou um produto dessa sociedade e, portanto minha visão sobre ela é de alguém intrinsecamente ligado em seus movimentos “peristálticos”. Tratar de assuntos sérios com essa “leveza” e despojo são marcas de minha, e das gerações mais novas.


Por isso, me diverti imensamente com o filme de Matthew Vaughn, pois para minhas pupilas acostumadas aquele caleidoscópio de imagens, sons e cores, em vez de enxergar o horror e o ofensivo, viram uma sátira inacreditavelmente violenta e abusada em seus conceitos e que mesmo levando-se a sério (como conceito), entrega uma diversão de primeira.

Não, Kick Ass, não tem violência estilizada, tem sangue sim, e se você não estiver acostumado a subversões vai se incomodar, ainda mais quando a responsável por boa parte dele é uma garotinha de 11 anos.

Sim, leitor, 11 anos. Uma super-heroina badass, com apenas 11 primaveras intitulado Hit Girl (Chloe Moritz, espetacular durante todo o filme) , treinada desde que nasceu como uma máquina de lutar/ferir/matar por seu pai, um ex-policial em busca de vingança contra os assassinos de sua mulher.


De outro lado, temos o nerd bobo da vez, Aaron Johnson, vivendo o “herói” titulo do filme. Como está na moda, o rapaz é magrelo e tem aquele cabelo em formato de capacete, estilo Michael Cera ( de Juno e eternamente o nerd-mor dessa geração). Ele é apalermado com as meninas, ainda está passando pela mudança de voz e tem dois amigos (igualmente nerds) que passam as tardes numa comic shop. Um dia, de sopetão, num momento de lucidez diz: porque ninguém quis ser um super-herói e muitos querem ser Paris Hilton? Diante dessa pérola de sabedoria, resolve vestir a roupa colada e defender os fracos e oprimidos das garras da injustiça (poético não?).

Só pela descrição (necessária para explicar os motivos do choque de muita gente), boa parte do público já fez careta e desistiu de ver o filme. E fico feliz com isso, pois diferente de Lost (outra série de nicho que fez a “bobagem” de se tornar popular, agregando a sua base de fãs gente que não entendia bulhufas do que estava sendo dito), Kick Ass será um filme de poucos, e que fará um grande sucesso entre eles, assim como filmes de arte tchecos tem seu nicho e fãs por exemplo.


O filme é um primor técnico e artístico, em especial do uso da trilha sonora para ilustrar determinado momento ou sensação dos personagens. Cada pequeno “ato” funciona como uma “música” separada, tendo destaque especial e brilho próprio. A fotografia abusa dos clichês dos filmes de herói e das graphic novels com o uso do alto contraste sendo sua marca mais nítida, porém não querendo simular a realidade do quadrinho, mas representá-la e homenageá-la. A câmera lenta brigando por espaço em meio aos cortes ágeis (que graças a deus, não são do tipo “piscou-perdeu”) e a iluminação que adquire vida própria, (em especial numa sequencia de tortura, onde a única coisa que ilumina a cena são os tiros) são outros pontos estéticos muito interessantes. Sensacional.

Vaughn por sua vez, parece ter se divertido horrores na direção. Usando e abusando de referencias e auto-referências, transforma Kick-Ass num filme muito seu. Quem pode ver Layer Cake, com o então desconhecido Daniel Craig (pré-Bond) vai reconhecer a forma bem humorada com que o diretor trata os gangsters mostrados no filme. Diferente do “rei” dos gangsters ingleses, Guy Ritchie, Vaughn prefere ver seus personagens como pessoas normais que se envolvem em situações estranhas sempre com muito bom humor, enquanto o ex de Madonna os mostra como personagens estranhos e exóticos que estão simbioticamente ligados ao universo perturbado do diretor.


Outro que parece feliz em cada take, é o nerd de plantão Nicolas Cage, que parece viver um bom ano, depois do excelente Vicio Frenético, encarnando um herói bad-ass e perturbado (Big Daddy). Destaque para a história de origem do “herói” que é contada em quadrinhos e que funciona muito bem.

As sequencias de ação são as melhores do ano com folga. Diferente do que vemos atualmente, Vaughn prefere deixar a ação fluir e usar os cortes para mostrar ângulos, e possibilidades dramáticas. Observem a sequencia (embalada pela trilha de Ennio Morricone) em que uma garotinha coloca sua arma na boca do figurante de luxo Jason Flemyng (ator inglês de muitos papéis interessantes). Num momento vemos o personagem de costas encobrindo a garota e no take seguinte, nos é revelado o “segredinho” por trás da suposta inocência da garota. Muita gente já fez isso sim, mas com essa competência é difícil ver.


Mas o mais dicotômico, e que pode parecer absurdo a primeiro plano, é que apesar de estarmos vendo um filme assumidamente violento, em nenhum momento (apesar de se levar a sério e nos jogar dentro do universo dos personagens) ele deixa de ser divertido e até leve, o que é um feito notável.

Sem muito medo digo: Kick-Ass deverá ser um Cult movie dessa geração, e já é um dos mais divertidos filmes do ano.

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Trilhas Sonoras e os sintetizadores – Part. II

Olá ao Fotograma Digital. Na semana passada fiz uma introdução a um tema que achei interessante de levantar para o blog: A Trilha Sonora feita com Sintetizadores. Desde o início das minhas postagens, procurei falar sobre temas variados, que tratam da música em si ou sobre a trilha sonora como um todo. Falei bastante sobre alguns aspectos teóricos da música, sobre a forma como a música para o cinema foi encarada para alguns compositores, conservadores ou inovadores, e até sobre a própria história da música. Enfim, sempre procurei fazer o leitor ter uma reflexão, mesmo que às vezes pareça um tema óbvio, sempre existe aquela “vírgula” da história que não nos damos conta.

Mas raras foram as vezes que comentei sobre o uso de instrumentos eletrônicos na trilha sonora. Durante o tempo que escrevi sobre a vida e obra de alguns compositores famosos, comentei que grande parte deles fizeram bom uso de instrumentos musicais como theremins e teclados sintetizadores, mas em momento algum separei uma postagem inteira pra comentar sobre isso, sobre como são estes instrumentos, qual a sonoridade de cada um, quais compositores usaram tal instrumento e qual filme ficou conhecido por “Nossa, que som diferente é aquele daquela cena???”, rs... Acho que agora, depois de um certo número de postagens, chegou a hora de comentar sobre uma área um pouco mais técnica, que desde os anos 70 e especialmente hoje, atua mais do que nunca no ramo da trilha sonora.


Como foi dito na semana passada, a música eletrônica nasceu com o uso musical de alguns equipamentos de rádio, em meados dos anos 50. Por ser muito difícil de manusear, uma vez que estes equipamentos precisavam ser programados para poderem emitir som, poucas pessoas puderam (ou conseguiram) fazer composições nestes instrumentos. No final dos anos 60, Robert Moog criou uma forma do sintetizador ficar mais popular, acoplando um teclado ao complexo circuito eletrônico. Com isso, o mundo inteiro pôde usufruir de uma infinita variedade de instrumentos e sonoridades eletrônicas. A partir de então, uma grande quantidade de músicos eruditos e populares começaram a explorar as sonoridades do sintetizador, que ao passar dos anos ganhava novos designs e modelos cada vez mais próximos dos teclados sofisticados que temos hoje.


Wendy Carlos mostrou ao mundo que o sintetizador é um instrumento versátil, tocando peças de Bach e de outros compositores da música erudita com timbres jamais ouvidos anteriomente. Seus discos “Switched On Bach” e “The Well Tempered Synthesizer” foram grandes sucessos, ouvidos no mundo todo e influenciando muitos músicos interessados no ramo da música eletrônica. Sua trilha sonora de “A Clockwork Orange” (1971) e “Tron” (1982), foram uma nova referência para a trilha sonora, que explorou muito destes novos sons.

O fato é que, para a minha geração, por exemplo, que nasceu e viveu a partir dos anos 80 e 90, a música eletrônica já estava forte e estruturada, por isso as sonoridades vindas com estes instrumentos já não eram tanta novidade, pelo fato de termos ouvido várias destas sonoridades desde sempre em filmes, desenhos animados, séries, etc. Mas se eu tivesse 22 anos no fim dos anos 60, por exemplo, estaria passando por uma grande transição musical, que é exatamente a “popularização” do sintetizador. Para esta época, todos estes sons eram uma grande novidade, e a trilha sonora, assim como muitos compositores, descobriram novas possibilidades para a narrativa dos fimes.
Um grande exemplo disso é o Theremin. Mesmo sendo um instrumento mais antigo, que foi popularizado nos Estados Unidos em 1928, ele foi um dos precursores das tais “novas sonoridades”, sendo amplamente usado no filme “The Day the Earth Stood Still” (1951). Já nos anos 30 o theremin foi usado pelo compositor russo Dmitri Shostakovich, para a trilha sonora do filme “Odna” (1931). Miklós Rósza, outro conhecido compositor, utilizou este instrumento na trilha sonora de “The Lost Weekend”(1945) e “Spellbound”(1945). Este curioso instrumento, um dos primeiros a funcionar com energia elétrica também foi muito usado em séries futurista de TV, como “Lost in Space” (1965-1968) e “Star Trek” (1966-1969).

(A partir dos 0:45 deste vídeo, o som do theremin na cena em que aparece o extra-terrestre)


(Um fã de Star Trek tocando o tema da série no Theremin)

Outro fato muito importante de notar é que o sintetizador, junto com outros instrumentos eletrônicos, foram usados não só para a música, mas também para fazer uma infinita variedade de ruídos, especialmente futuristas. Um grande exemplo disso é o primeiro filme da série “Star Wars” que estreiou nos cinemas aqui no Brasil em 18 de Novembro em 1977. Em “Episode IV - A New Hope”, apitos, vozes controladas por Vocoders (um equipamento responsável por adicionar efeitos à voz humana), mais filtros e outros elementos do sintetizador ARP 2600 foram usados para criar os sons do robô R2D2.

(ARP 2600, produzido nos anos 70)


(Neste vídeo, uma pessoa tentando fazer o som do robozinho em um outro sintetizador. Ele chegou bem perto!! Rs..)

Nas próximas postagens, pretendo continuar a abordar este tema, comentando um pouco mais sobre a história do sintetizador, com alguns modelos específicos de equipamentos, assim como filmes e compositores que ficaram para a história com o uso artístico e musical destes novos instrumentos musicais.