quinta-feira, 31 de maio de 2012

Branca de Neve e o Caçador




Branca de Neve e o Caçador
(Snow White and the Huntsman, 2012)
Drama/Ação - 127 min.

Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini

Com: Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Charlize Theron, Bob Hoskins, Ian McShane, Nick Frost, Ray Winstone


Esse é o segundo filme que chega aos cinemas falando sobre o conto da Branca de Neve somente em 2012. Alguns meses atrás, o cinema foi invadido pela piada sem graça de Tarsem Singh, estrelada por Julia Roberts e Lily Collins, que colocava a historia da "menina mais bela do mundo" em uma ambiente cômico e absurdo.

Branca de Neve e o Caçador vai no caminho contrário, porém com resultados ainda mais infelizes. Aqui a historia se leva a serio demais, querendo a todo o momento se transformar em uma espécie de épico moderno, com pretensões de transformar a Branca de Neve de Kristen Stewart em uma seguidora de Robin Hood e Joana D'Arc.

A historia é basicamente a mesma do conto clássico, com a madrasta malvada mandando matar Branca de Neve por ela ser a mulher mais bonita do reino. Porém, o filme aqui ignora a motivação original da rainha (ela simplesmente é invejosa e quer matar sua concorrente), para colocar um background de exploração e de sofrimento passado para - de alguma forma - justificar os atos da madrasta vivida por Charlize Theron.


Apresentando-se em um flashback narrado pelo tal caçador (Chris Hemsworth), o filme mostra um reino verossímil, com destaque para uma excelente direção de arte e fotografia irretocável. Tudo para contar que após uma batalha, o rei Magnus encontra uma jovem escrava, e que (se a tradução não está errada) um dia depois a transforma em rainha. Já como rainha, a madrasta de Branca de Neve mata o rei e prende a garota em uma torre por muitos anos, até o dia em que ela foge em direção a floresta negra (um local que ninguém ousa entrar). Entra em cena o tal caçador que precisa encontrá-la e matá-la, e dai o filme muda o conto original. Em vez de matar um animal da floresta e entregar a rainha, o caçador se junta à garota em fuga. Ainda existe uma ideia - muito infeliz - de transformar Branca de Neve em uma espécie de escolhida, uma coisa absolutamente descabida e que não funciona.

Partindo da ideia - para mim absurda - de que Kristen Stewart é mais bonita que Charlize Theron, o filme já começa errado. Brincadeiras a parte, Kristen mostra mais uma vez o porquê é tão criticada por todos os não fãs de Crepúsculo. Insegura, nada crível e principalmente desconfortável nas cenas em que precisa se impostar diante de um grupo grande de pessoas (ela faz um discurso motivacional, digno de vergonha alheia), a atriz não nos convence nem ao falar e muito menos ao olhar. O olhar, coisa fundamental em uma interpretação, parece alheio, distante daquele mundo meio medieval, meio mágico. Se Lily Collins errava em Espelho, Espelho Meu por ter se enfiado de cabeça na ideia de princesinha intocada, Kristen falha grosseiramente ao se manter afastada o máximo que pode da fantasia.

Chris Hemsworth que vive o caçador está no cinema por seu tipo. Galã, alto e talhado para papéis de ação e aqueles ambientados em mundos mágicos e medievais, o ator faz do Caçador um Thor sem humor. Sujeito sério, marcado por traumas e dificuldades, é o "herói" do filme, que ao mesmo tempo em que pega em um machado, recita frases verborrágicas, até pedantes em alguns momentos, que acompanhados de uma química inexistente com Stewart, fazem do "casal" um dos mais infelizes do cinema.


Charlize Theron é uma atriz de qualidade. Não é especialmente brilhante, mas é competente no que faz. Em Branca de Neve, no entanto, ela tem de se sujeitar a uma personagem que fica o tempo todo se justificando para o público. O diretor estreante Rupert Sanders e os roteiristas Evan Daughtry, John Lee Hancock (do medonho Um Sonho Possível) e Hossein Amani (do excepcional Drive) parecem ter entendido errado o conceito de "vilão tridimensional". Longe de explicar as motivações para a vilania da personagem, o filme prefere transformar a Rainha/Madrasta em vítima, inserindo sempre que pode, ora um flashback de sua infância, ora seu medo de perder seus poderes ou de envelhecer. Isso apenas enfraquece a personagem, que parece uma "maluca" gritando sem motivo. Exagerada e fora do tom, como todo o filme.

O único destaque entre o elenco são os anões, que funcionam muito bem, porque são interpretados por atores qualificados. Desde o anão cego, que funciona como líder (Bob Hoskins), o alívio cômico (Nick Frost), ou os mais sérios (Ian McShane e Ray Winstone) ou o mais ingênuo (Brian Gleeson), a credibilidade naqueles personagens se interpõe claramente diante dos fracos Hemsworth e Stewart.

Além da questão da escolhida, que surge no filme gratuitamente, o filme ainda tenta inserir o tal Príncipe Encantado, na figura de William (Sam Claffin), que é dos personagens mais inexpressivos do cinema recente. Desesperado para encontrar sua amiga (segundo a lógica do filme, eles se conheceram quando crianças e eram "namoradinhos") depois de anos, não tem pudores em se unir ao bando que a rainha envia para caçar Branca e seu agora aliado Caçador, destruindo vilas pelo caminho. Se William era um opositor tão virulento ao regime da rainha, como o filme não cansa de reforçar com diálogos, se unir aos caçadores da garota e no caminho devastar o povo, tudo bem?


E o mais grave do filme é seu ritmo, que não consegue engrenar nunca, tornando-se modorrento e arrastado. Não envolve como fantasia medieval, como historia de amor e como épico é uma vergonha. Todo o trabalho feito nos trailers que apontavam uma mistura de Game of Thrones com Irmãos Grimm, fica por terra. O visual está lá e ele realmente é estonteante, mas o conteúdo e a historia não comportam tamanho esmero técnico.

A maquiagem que transforma Theron em uma mulher mais velha é impecável, realmente atingindo um grau de naturalismo raro no cinema, mas, de que adianta se a personagem vocifera e não convence por trás daquilo tudo?

A fotografia é impecável como disse no início do texto, inserindo o espectador em um mundo realista e crível, com suas florestas mágicas e sinistras, lodosas e macabras, ou lindas, ensolaradas, quentes e quase paradisíacas. Ou mesmo em suas batalhas a cavalo pela praia, que apresentam uma fagulha da sensação épica pretendida pelo filme. Tudo é visualmente de tirar o fôlego.


Os efeitos visuais são funcionais e também bem realizados. O espelho mágico nunca foi tão sinistro e mesmo sem muita função, até mesmo um troll feito de pedras é bem realizado, assim como os movimentos da floresta amaldiçoada. Um desbunde ao olhar.

Talvez se esse cuidado visual tão apurado fosse levado para os atores, e principalmente para a forma de contar a história, o filme funcionasse muito melhor. Sanders dirige como se estivesse à frente de uma trilogia épica, paciente até demais, não incutindo a sensação de perigo nos personagens, deixando-os vagando pela floresta declamando um texto pobre no conteúdo (embora bonito na forma) e apresentados em uma historia vazia e sem impacto. Quando temos o inevitável confronto entre bem e mal, a coisa acontece tão rápido que é impossível não pensar no tempo perdido explicando uma historia que não merece tanta atenção assim.

Todos conhecemos Branca de Neve e mesmo com algumas alterações aqui e ali, a ideia de transformá-lo em algo verdadeiramente "real", não funciona. As motivações das ações da trama impedem isso. Não é uma disputa política, ou uma simples historia de vingança. Estamos falando de uma mulher - segundo o filme - traumatizada (uma terapia resolveria seus problemas facilmente) e que usa o poder para machucar os outros. Simples. Do outro lado, a herdeira aprisionada, que magicamente sabe se virar muito bem em um mundo que nunca viu. E um herói acidental, que se envolve com Branca de Neve sem crermos nisso.


Um vilão motivado por elementos óbvios e claros ao espectador, uma heroína fraca mais que tem uma historia igualmente simples de se notar e um herói que funciona como estereotipo do galã. O público já entendeu, não existe a necessidade de procurar camadas nesses personagens, de estender a historia por mais do que - sendo bem gentil - 90 minutos enxutos. As mais de duas horas do filme se arrastam pela produção, nunca conseguindo empolgar o público e irritando aqueles que não agüentam mais um papel de garota sem sal "mais especial" de Kristen Stewart no cinema.

domingo, 27 de maio de 2012

Essential Killing


Essential Killing
(Essential Killing, 2010)
Thriller - 83 min.

Direção: Jerzy Skolimowski
Roteiro: Jerzy Skolimowski

Com: Vincent Gallo



Temos aqui um dos mais fabulosos filmes do ano sem dúvida. A história de sobrevivência do homem comum frente à natureza, sua própria condição e a fuga da sociedade civilizada é magnífica.

Essential Killing, o novo petardo de Jerzy Skolimowski é tão simples e ao mesmo tempo tão cheio de complexidades e de apuro técnico que é sem dúvida um dos mais viscerais filmes vistos por esse crítico esse ano.


Temos esse homem (Vincent Gallo) que surge confinado em uma caverna em um dos muitos países em que os americanos invadiram com o propósito de "salvar" sua população. Ao sentir a aproximação do grupo de soldados ianques, dispara sua arma (uma bazuca ou algo assim), matando todos os oficiais, partindo para sua primeira fuga. Não conseguindo ir muito longe é preso, e parcialmente ensurdecido pelo barulho de um dos tiros que tentaram acertá-lo não consegue se comunicar. Mais tarde - isso tudo acontece rapidamente, e em menos de quinze minutos o diretor já posiciona todos as peças de seu filme - durante sua transferência, o carro que o transportava sofre um acidente e Mohammed (seu nome não é dito em momento algum do filme e só sabemos disso durante os créditos) se vê livre e parte em fuga.



Skolimowski apresenta uma impressionante e absolutamente deslumbrante fotografia, apostando tudo na inércia das planícies geladas da Polônia e faz seu ator (o igualmente incrível Vincent Gallo) sofrer todas as penúrias que seu personagem poderia sofrer. Cenas absolutamente antológicas que certamente o espectador vai guardar na memória brotam aos montes. Como não esquecer da tecnicamente irrepreensível sequencia de delírio onde o personagem se vê cercado por cães? Ou das aparições da "mulher de azul"? Ou mesmo do desespero do homem perdido no meio do nada para encontrar o que comer e onde dormir? Sua dieta é desagradável e por vezes poética e sua jornada dolorosa e impiedosa.


A interpretação muda de Gallo é a mais intensa do ano, e por acompanharmos seu personagem durante todo o filme emudecido, são seus olhos e seu corpo meio arcado, machucado pela situação e sua intensidade em conseguir fugir e entender onde se encontra que fazem do filme ainda mais desafiador.


Skolimowski brinca com nossas noções de realidade ou inserir sua história num cenário ainda mais confuso. Afinal qual o propósito de transportar um preso árabe pelo meio da neve em um país desconhecido da Europa? Jerzy não quer o realismo, mas o lirismo e apresenta um conto sobre o homem primitivo que foge desesperadamente em busca de sua salvação.



A ausência de falas (óbvias pela situação) só aumenta o agonizante caminhar do personagem que luta pela sobrevida de forma realmente tocante. E mata por necessidade (as tais "mortes essenciais" do título do filme) tal qual eu ou você faríamos se estivéssemos abandonados durante um inverno rigoroso e sem ninguém a vista. Mataríamos pela vida, sobreviveríamos a tudo e a todos por nossa vida.


A audácia do diretor dá um passo a mais quando contextualizamos de onde vem esse homem. Seria muito mais fácil - e comercialmente mais vantajoso - se o nosso sobrevivente fosse um náufrago na neve, que encontrasse seu Wilson e vivesse para encontrar o amanhã glorioso. Skolimowski não caminha pela estrada mais segura e nos faz torcer por um personagem que talvez seja um terrorista, ou um fanático qualquer, que talvez não teria piedade de você, caso atrapalhasse seus planos.


Mas ao despir o personagem de panos religiosos e políticos, deixando-o nu de suas crenças e visões de mundo, o vemos como um protótipo do ser humano acuado e sem escapatória, tendo como esperança a luta brutal pela sobrevivência.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Flores do Oriente


Flores do Oriente
(Flowers of War, 2011)
Drama - 146 min.

Direção: Yimou Zhang
Roteiro: Heng Liu

Com: Christian Bale, Ni Ni, Xinyi Zhang

Yimou Zhang é um dos poucos diretores chineses conhecidos globalmente. Destacou-se já no início dos anos 90 com o singelo Lanternas Vermelhas e desde então vem marcando sua carreira com trabalhos que mesclam beleza visual com historias de sacrifício e honra, tradicionalmente ligadas a emoção do povo oriental.

Em Flores do Oriente não é diferente. Contando a historia de um grupo de garotas que se vê presa durante a invasão japonesa a China, antes da segunda guerra mundial, coloca o personagem de Christian Bale, como o herói acidental da história. Ele vive John, um coveiro contratado para aprontar o enterro do padre da paróquia em meio à invasão. Quando sobrevive aos tiroteios e finalmente consegue chegar à igreja, descobre que o padre foi - literalmente - explodido por um canhão japonês e que não existe mais chance de se realizar um enterro.

Percebendo que não existe motivo para sair dali e precisando de dinheiro, o boa vida decide ficar por ali mesmo aproveitando uma boa cama e a bebida de graça enquanto a guerra explode do lado de fora dos muros da igreja. Porém, quando um grupo de - digamos - cortesãs chega à igreja e soldados japoneses atacam ferozmente as meninas do convento, Bale assume a tarefa de protetor daquela gente.


Bale está um bom momento. Sua interpretação é segura e bastante convincente como um homem que passa de completo desinteressado no mundo ao seu redor a defensor dedicado da inocência em frente ao caos. O elenco secundário não compromete - e é todo formado por atores locais ou japoneses - onde se destaca a sensível interpretação de Ni Ni, que vive a cortesã principal, em seu primeiro papel no cinema. A química entre Bale e Ni Ni é boa e a atriz mesmo no inglês se sai bem.

O problema é que Yimou não assume exatamente uma postura com o filme, mesmo transformando os personagens japoneses em criaturas das trevas. A produção é baseada em fatos reais, ocorridos na cidade de Nanking, mas ao demonizar o inimigo, não dá ao terror um rosto. Explico. Quando Yimou opta por transformar os antagonistas do filme em personagens sem personalidade alguma, meras sombras violentas e profundamente detestáveis, perde a chance de apresentar as motivações para tanta violência. Os japoneses - no filme, que fique muito claro - são ruins, porque são ruins e ponto. Atacam as mulheres porque são "demônios do inferno" e ponto. Não existe uma preocupação em explicar os motivos ao espectador, que quando tem contato com um único personagem nipônico que não é demonizado, é obrigado a ver clichês como "o soldado nobre que ama a música" ou "o respeito pela figura do sacerdote". Ou seja, mesmo não demonizado o personagem do comandante japonês é um clichê.

Por outro lado, Yimou continua mostrando o porquê é - facilmente - um dos melhores estetas do cinema mundial. Em Flores do Oriente, mesmo falando sobre um tema profundamente doloroso, ele ainda consegue deixar sua marca em algumas sequências que expõem a violência de forma gráfica sem, no entanto resvalar no mau gosto. Como exemplos, a suja e perigosa sequência em que um pequeno grupo do exercito chinês tem de enfrentar uma horda de japoneses é filmada de forma granulada, abusando do tom documental, mas com inserções sutis e inteligentes de slow motion, para destacar alguma determinada ação. Ou mesmo quando acompanhamos uma armadilha preparada contra os japoneses,e Yimou nos impõe um sentido de urgência e de perigo sem economizar nas cores mais fortes. E o grande destaque: a fuga desesperada de uma das cortesãs que inclui uma tomada altamente complexa em que acompanhamos a personagem fugindo por um casarão para se atirar na água, sem corte algum. Não chega a ser um plano sequência, mas o fato da câmera acompanhar a queda da personagem e seu posterior desespero quando é capturada é um espetáculo.


Espetáculo que continua mesmo na parte final do filme, quando fica claro - e seguindo a tradição do diretor - que as pessoas envolvidas nessa historia não passarão incólumes. O diretor aposta na tal "poesia visual", em retratar cada elemento do roteiro como uma experiência sensorial. Temos o vitral da igreja que funciona como uma aquarela que pinta a realidade cinzenta em que aquelas garotas vivem, ou os figurinos das cortesãs todos coloridos e que também remetem a essa questão da fuga da realidade dolorosa da guerra. É Yimou colocando cor em um evento asqueroso, não deixando que uma situação tão extrema impeça que seu estilo marcante seja apresentado.

Apesar de não apresentar nenhuma verdade surpreendente e se apoiar na velha historia de redenção e perda de inocência diante de uma tragédia, Flores do Oriente funciona por seus bons personagens, pela entrega de Bale e porque atrás das câmeras Yimou Zhang continua a ser um dos diretores que pode dizer que cada filme seu tem seu dedo e sua qualidade artística notável.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Homens de Preto 3


Homens de Preto 3
(Men in Black 3, 2012)
Ação/Comédia - 103 min.

Direção: Barry Sonnenfeld
Roteiro: David Koepp, Jeff Nathanson e Michael Soccio

Com: Will Smith, Tommy Lee Jones, Josh Brolin, Emma Thompson, Jemaine Clement

Quando o primeiro Homens de Preto estreou (no quase jurássico ano de 1997) fez um sucesso inesperado. A sátira ao mundo da ficção cientifica funcionou perfeitamente, amparado pelo talento de uma dupla que exibia na tela uma química tremenda. A direção eficiente de Barry Sonnenfeld também conferia aquele mundo uma veracidade que nos fez crer que sim, existia mesmo uma agencia super secreta que cuidava da chegada e partida de alienígenas no planeta.

A inevitável sequência foi programada, e o mundo teve o desprazer de assistir ao quase indefensável Homens de Preto 2, que se concentrava tanto em criar novas criaturas que se esqueceu completamente de apresentar uma historia que não parecesse tão derivativa e inconstante.

Uma década depois, a franquia - depois de muitas e muitas noticias sobre a realização do filme - volta às telas do planeta apostando no carisma de Will Smith, mas do que nunca alçado a condição de protagonista do filme, e do velho chavão da ficção cientifica: à volta no tempo.


A trama fala sobre um alienígena que busca vingança contra o agente K (Tommy Lee Jones) que há quarenta anos o prendeu, arrancando seu braço no processo, em uma colônia penal encravada na Lua. Quando o filme começa, o tal alienígena, chamado Boris (Jemaine Clement) consegue fugir da cadeia e volta a terra em busca de um dispositivo que o permita voltar no tempo e impedir que K o prenda, e por consequência acabar com o agente da MIB.

Sem me estender demais, o filme engrena quando subitamente K "some" tendo sua existência apagada da memória de todos, que enxergam o agente como um bravo combatente morto a mais de quarenta anos. O único que se lembra do agente, é J (Will Smith), que volta no tempo para impedir que o amigo e parceiro morra.

Homens de Preto se apóia no carisma de Smith e no falso mau humor de Tommy Lee Jones. Se Smith é dos poucos atores confiáveis do mercado hollywoodiano hoje, muito se deve a sua capacidade de entregar personagens agradáveis e naturalmente engraçados, simpáticos à primeira vista. Seu agente J é um caso claro dessa constatação. Longe de ser profundo, ou complexo, J é um veiculo ideal para que a persona de Smith sobressaia num exercício que o transforma naquele amigo "gente boa" ou naquele sujeito que sempre vai ser a alma da festa. E com trabalhos como esse, altamente comerciais e sucessos praticamente garantidos, Smith consegue espaço para se lançar em projetos mais ousados como Ali ou Procurando a Felicidade por exemplo, trabalhos em que o ator precisa desenvolver personagens mais densos do que seu homem de preto.


Já Tommy Lee Jones parece estar no automático há anos. Talvez falte ao ator uma melhor assessoria que o impeça te tomar contato com personagens muito parecidos. Curioso notar como essa imagem de Jones (se minha memória não falha) como um sujeito autoritário, sempre sisudo, mas "de bom coração", nasceu com o primeiro Homens de Preto e desde então o ator está vezes demais ligado a projetos que abusam do estereotipo.

As novidades do elenco são as adições de Emma Thompson como a nova chefe dos Homens de Preto (será que Rip Torn não quis voltar?) que mostra seu timing para a comédia - pouco explorado no cinema, infelizmente - e o ótimo Michael Stuhlbarg (do também ótimo Um Homem Sério e que esteve em Hugo Cabret) como uma criatura que parece ter saído da mente de um roteirista de Doctor Who, tamanha excentricidade e bizarrice. Stuhlbarg faz de Griffin, uma criatura divertida e inocentemente perturbada. A impagável participação de Bill Hader como Andy Warhol é outro destaque, e mesmo que curta, apresenta os momentos mais engraçados do filme ao lado da ótima piada que envolve o presidente americano.

Mas o grande "adendo" é mesmo Josh Brolin, que imita quase a perfeição Tommy Lee Jones. Além da semelhança física, Brolin recriou inflexões de voz, olhares enviesados e até a mania de Jones de manter o olhar eternamente caído, como se suas pálpebras precisassem de um guindaste para manterem-se abertas. Um trabalho divertido e correto, principalmente se levarmos em consideração que o material não é nenhuma maravilha.


Apesar de correto, o roteiro de David Koepp, Jeff Nathanson e Michael Soccio escorrega justamente na hora em que dele mais se espera. Durante todo o filme, somos bombardeados com frases misteriosas, de que existe um segredo muito grande por trás da trama. Quando o grande segredo é revelado, além dele não ser tão sensacional assim, destrói a suspensão de descrença do filme, já que prejulga que um dos personagens sofre no mínimo de problemas de memória graves. E mesmo que o filme insira uma justificativa para essa - digamos - falta de memória, ignora os eventos mostrados no primeiro filme, quando encontramos os personagens pela primeira vez e nada é sequer mencionado referente a esses eventos.

O que resta é um divertimento leve e passageiro que infelizmente não deixa marca alguma. Os ótimos efeitos visuais continuam afinados, assim como a trilha e o som. A maquiagem no somente esforçado Jemaine Clement que vive o vilão Boris, é excelente também. Mas são elementos técnicos que criam um mundo bonito de se ver, mas simplório, e pior, requentado. Acho que é a hora dos homens de preto perdurarem os ternos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Desejo de um Milagre


O Desejo de um Milagre
(Kiseki, 2011)
Drama - 128 min.

Direção: Hirokazu Kore-eda
Roteiro: Hirokazu Kore-eda

Com: Koki Maeda, Ohshirô Maeda

O Desejo de um Milagre é a prova de que é possível fazer muito a partir de pouco. Contando a rotina de dois garotos que estão separados graças ao divórcio de seus pais, Hirokazu Kore-eda (diretor e roteirista) constrói uma fabula doce e inocente sobre o lugar das crianças diante dos conflitos adultos e a capacidade insaciável dos pequenos em conseguirem ver a magia onde ela não existe.

Koichi é um garoto questionador, inteligente e maduro. Tendo de viver com sua mãe e seus avos maternos em uma pequena cidade, vive questionando a motivação da separação dos pais e permanece quase obcecado em conseguir fazer os dois se unirem novamente. Ryu é divertido, alegre, quase inconsequente. Vive com o pai, um músico frustrado, mas sonhador. É daquelas crianças eternamente felizes, que mostra desde muito cedo que verá a vida como "um copo meio cheio", sempre procurando ver a positividade nas coisas. Por outro lado, foge dos problemas relacionados à separação dos pais, bloqueando-os e até fingindo que tudo vai muito bem.

Características que transformam os dois garotos (que não devem ter mais de 10 anos) em personagens complexos e cheios de duvidas, o que mostra que o filme não tem medo de dizer que as crianças assim como os adultos são capazes de analises complexas sobre o que vive e sentimentos conflitantes sobre suas próprias vidas.


Porém, Kore-eda é sutil nessa analise. Não existem mocinhos de bandidos na historia. Não existe um grande mal que precisa ser vencido, ou um trauma gigantesco. Trata-se da inexorabilidade do destino, de que por mais que queiramos uma coisa, talvez ela seja impossível de se realizar.

A "virada" da trama acontece quando o pequeno Koichi, ansioso para ter sua família toda unida, ouve uma historia de que quando dois trens bala se cruzam e você faz um pedido, aquele desejo se realiza. A partir dai o garoto tenta de todo jeito encontrar uma maneira de ver o "fenômeno" e ter seu desejo realizado.

Tudo é muito simples e sensível e os personagens adultos são deixados de lado em detrimento da visão dos garotinhos. As pequenas aventuras das famílias são as que contam,  como o avô que quer fazer um doce exatamente igual ao que comia quando era jovem, ou uma das colegas de Ryu que quer ser atriz e enfrenta as duvidas da mãe, ou o casal de idosos solitário que vê nas crianças uma chance de voltar ao passado. Pequenas crônicas sobre o dia a dia daquela gente que vive a vida em um ritmo todo próprio.


O Desejo de um Milagre é simpático, gostoso de ser visto e revela um olhar dos pequenos sobre o mundo cruel que nos cerca que ainda reserva elementos fantásticos que somente os mais sensíveis podem ver.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Corvo


O Corvo
(The Raven, 2012)
Thriller - 110 min.

Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingstone e Hannah Shakespeare

Com: John Cusack, Luke Evans, Brendan Gleeson e Alice Eve

Edgar Allan Poe é um dos maiores autores da historia do planeta. Sim, sem exageros. Sua mistura do lúgubre, macabro e sangrento em historias que deixavam seus personagens a beira do abismo emocional ainda hoje tem impacto em leitores de todas as idades.

No cinema, Poe já foi adaptado e vivido muitas e muitas vezes. Segundo o IMDB (o maior banco de dados sobre cinema do planeta) Edgar Allan Poe já foi interpretado na tela grande 54 vezes até agora, enquanto seus livros e contos deram origem a mais de 250 filmes, curtas, vídeos e series de tv.

Entre os mais famosos destacam-se aqueles estrelados por Vincent Price, como O Solar Maldito, A Mansão do Terror, A Orgia da Morte, The Raven (estrelada por Bel Lugosi e Boris Karloff). Além dos igualmente interessantes The Black Cat (com o Sherlock Holmes do cinema Basil Rathbone), Túmulo Sinistro, Dois Olhos Satânicos (em que o mestre Dario Argento adapta como um média metragem o clássico, O Corvo) entre muitos outros.


Portanto, era de se esperar uma deferência e respeito à obra e ao personagem nessa biografia ficcional dirigida por James McTeigue (de V de Vingança), estrelada por John Cusack (de filmes tão diversos como 2012 e Alta Fidelidade, por exemplo) e que mistura a vida real do biografado com a criação de um serial killer que assassina pessoas baseando-se em contos e livros do escritor.

Pois bem, o primeiro problema do filme é que o Poe de Cusack parece um maluco perturbado e sem nenhum carisma. Cusack parece viver Poe como um sujeito contemporâneo, cheio de manias e trejeitos de um homem do século XXI. Apesar do filme não ter essa pretensão de ser um retrato histórico de um período, mas uma divertida homenagem aos escritos do autor, fica claro que McTeigue imaginou Poe mais como um personagem de quadrinhos ou livros pulp do que um sujeito de carne e osso. Estereotipado como o gênio incompreendido, cheio de problemas e mentalmente instável, o autor não é um personagem facilmente amável no filme, e isso dificulta com que o filme engrene.

A trama é até divertida, pois vai misturando diversas historias de Poe, incluindo ai os clássicos Assassinato na Rua Morgue, O Corvo e o Poço e o Pêndulo (essa última violenta e suja como o conto original, embora prefira o que Argento fez em Dois Olhos Satânicos), mas esbarra no maior defeito de todas as produções desse gênero: a expectativa.


Cria-se um mundo de idéias e criativas soluções para uma historia de gato e rato, mas a solução é pedestre e praticamente sem justificativa alguma. Não ajuda também o fato de Luke Evans (de Imortais, Três Mosqueteiros entre outros) não convencer como o detetive que pede ao autor que ajude nas investigações. O romance forçado também não ajuda em nada e apesar de ser fundamental para a trama, não existe química alguma entre Cusack e a bela Alice Eve.

McTeigue apresenta uma reconstrução de época eficiente, bons efeitos visuais e uma fotografia que ajuda a compor o clima de mistério, mas esbarra na tentativa de transformar Poe em uma figura de ação, algo próximo do que Guy Ritchie fez com Sherlock Holmes ou mesmo o que Alan Moore fez com seus personagens dos quadrinhos de A Liga Extraordinária, porém, com um componente bastante perigoso: Poe é um homem real, enquanto os demais são personagens ficcionais.

Tentar impingir características a uma figura pública é muito perigoso e precisa ser muito bem dosado para não parecer uma vontade de reescrever a historia. McTeigue esbarra nisso, mas parece um exagero crer que essa tenha sido uma ideia consciente. Prefiro acreditar que McTeigue tratou Poe como mais um personagem ficcional, e como tal fez o que quis com o escritor.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Plano de Fuga


Plano de Fuga
(Get the Gringo, 2012)
Ação - 95 min.

Direção: Adrian Grunberg
Roteiro: Mel Gibson, Adrian Grunberg e Stacy Perskie

Com: Mel Gibson, Peter Stormare, Dolores Heredia, Kevin Hernandez

Existe uma ideia no mercado de que certos atores "vendem bem". Mesmo quando os filmes produzidos ou estrelados por determinados atores são claramente fracos, muita gente imagina que o carisma ou mesmo a fama vai impulsionar sem muito esforço tais produções.

Às vezes até funciona, e não são raros os filmes que ganham sua chance na telona e são vistos pelo público, mas, em geral, essa estratégia acaba frustrando o público, que vai ao cinema esperando algo na linha do que aquele astro querido se consagrou fazendo.

Plano de Fuga passa raspando nessa categoria. Longe de ser um grande filme, não é um desastre porque apesar de simplória, a historia funciona razoavelmente bem e tem Mel Gibson imitando trejeitos conhecidos e até simpáticos de outros personagens mais interessantes que o seu Motorista (sim, o personagem não tem nome).


Na historia, Mel vive um ladrão de banco que na primeira cena do filme está fugindo desesperadamente da policia americana - literalmente - na fronteira ianque e mexicana. Quando consegue fugir (de maneira acrobática e que já indica o clima do filme, onde o realismo é deixado de lado em função de ações cinematográficas) é preso por autoridades mexicanas. Corruptos, os policias do México, ficam com o dinheiro roubado e o enviam a cadeia. Cadeia essa, que mais parece uma cidade da marginalidade, um gigantesco terreno murado onde homens, mulheres e crianças convivem como um perturbado conjunto habitacional do crime. E lá que o nosso herói "gringo" precisa se envolver na fauna do local e - claro - tentar de alguma forma sobreviver ao ambiente e fugir.

Gibson está no que as pessoas costumam chamar de "automático", o que nada mais é do que a repetição de caras e bocas consagradas em outros papéis mais famosos. No caso de Gibson, uma mistura dos tipos mais "perturbados" como Martin Riggs da série Maquina Mortífera com Porter, seu personagem no filme O Troco.

Filme esse que também tem muitas semelhanças no humor "doentio" de Plano de Fuga. Em O Troco, Mel parte em busca de vingança contra sua esposa e seu melhor amigo que o balearam e o deixaram para morrer. Aqui, mesmo sem esse plot de vingança (e de fato O Troco é um filme mais amargo que Plano de Fuga), a quantidade de personagens exóticos e estereotipados e a ação cravejada de humor negro é muito próxima do filme de 1999.


Até mesmo a fotografia segue a mesma escola, com uma diferença óbvia em relação às cores. Se O Troco era sombrio e apostava em tons de azul, Plano de Fuga aposta na desolação, mas também com o foco em uma cor como guia para representar os sentimentos do filme, no caso os tons quentes e alaranjados que inflige ao filme uma sensação de angústia e de sujeira e abandono.

No entanto, os - digamos - vilões do filme são muito ruins. Tanto os de dentro da cadeia, como a ameaça "invisível" que se revela no ato final são fracas e não criam tensão alguma. Plano de Fuga é daqueles filmes de ação em que você sabe que o personagem principal sofrerá muito pouco (ou nada) já que em momento algum tememos por sua segurança.

A direção é de Adrian Grunberg - um estreante - mas que foi diretor assistente em muitos filmes como Mestre dos Mares, Apocalypto, Wall Street: O Dinheiro Nunca Morre entre outros. Sua experiência faz do filme uma experiência visualmente interessante, principalmente quando retrata os meandros da cidade prisão. Também é eficiente filmando as cenas de ação, e não tem pudor em mostrar o resultado de uma troca de tiros. 


O roteiro é do próprio diretor, com participação do próprio Mel, o que talvez explique algumas ideias simplórias sobre a personalidade dos personagens, algo bem próximo do que - imagina-se - Gibson pensa em relação a muita gente. Os vilões são maus e pronto, o garoto com que ele se relaciona é daquele jeito porque obviamente sofre de um trauma e sua mãe, claro, irá se envolver com Mel. 

Plano de Fuga é razoável. Um veículo para Mel Gibson mostrar que ainda pode "chutar bundas" e que Adrian Grunberg pode ter futuro no mercado de filmes de ação, mas nada além do que um filme que poderia vir direto para o home video, abrindo espaço para tantos outros filmes mais interessantes que não tem o pistolão de um astro em decadência (infelizmente).


sábado, 12 de maio de 2012

Battleship - Batalha dos Mares


Battleship - Batalha dos Mares
(Battleship, 2012)
Ação/Sci Fi - 131 min.

Direção: Peter Berg
Roteiro: Erich Hoeber e Jon Hoeber

Com: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgard, Rihanna, Liam Neeson, Brooklyn Decker

Com um profundo medo de me arrepender de minhas palavras digo: senti falta de Michael Bay. Senti falta da sua total e completa falta de pudor em destruir uma cidade, seu sexismo idiotizante ou mesmo de seus efeitos visuais grosseiramente exagerados. E o por que dessa declaração mais do que absurda? Por que se Michael Bay fosse o diretor do medonho Battleship, talvez o resultado não fosse tão ruim.

A ideia, que é a principio muito absurda, de adaptar para o cinema o clássico jogo de tabuleiro Batalha Naval peca primeiramente por ignorar os principais elementos do próprio jogo: a estratégia e a disputa entre dois comandantes marinhos em guerra.

O filme prefere, no entanto, usar o jogo apenas para justificar o uso de navios na produção, já que a historia fala sobre uma invasão - injustificada e não explicada em momento algum no filme - alienígena que apenas alguns poucos navios podem enfrentar. O que me deixa a impressão que o estúdio deve ter sido procurado pela marinha americana, preocupada com um baixo numero de alistados para suas filas e que ao lado da gigante dos brinquedos (Hasbro) decidiram unir o útil ao agradável: produzir um filme pipoca da pior qualidade e que também pode ser visto como o maior vídeo de alistamento militar da historia.


O nível dos diálogos prejulga que o público atingido diretamente pela "mensagem" é de quase neandertais, tamanha a incapacidade de formular uma frase que não fuja do lugar comum. Pior do que ser apenas ruim, o filme é daquele tipo que deixa dúvidas causadas pela incapacidade de seu texto em não explicar pontos apresentados pelo próprio filme. Correndo o risco de soltar alguns spoilers, explico: em determinado momento, por exemplo, vemos três navios entrando em contato com uma gigantesca nave alienígena. Pois bem, a nave ataca a minúscula frota destruindo alguns de seus navios. O filme passa a acompanhar outro núcleo e quando volta a navio sobrevivente, e sem nenhuma explicação, a gigantesca nave some. Simplesmente some e deixa a tripulação principal questionando porque a gigantesca nave não enxerga a embarcação. Ora, se os alienígenas viram a pequena frota anteriormente, porque deixariam de ver agora? A impressão é que alguém esqueceu um rolo de filme, parecendo que falta um pedaço do filme.

Outro problema crônico reside na apresentação do personagem principal, vivido pelo péssimo Taylor Kitsch (de John Carter). Quando o filme começa, ele é praticamente um vegetal, e é representado por um longo cabelo e uma barba mal feita (o que já é um estereótipo para os conservadores, para mim, o alvo claro da produção). Alex Hopper é um perdedor completo, sem emprego e nenhuma perspectiva de vida, enquanto seu irmão Stone (Alexander Skarsgard) é o perfeito Mister América, afinal ele está na marinha (nada sutil). Depois que o sujeito apronta mais uma imbecilidade tentando impressionar a típica americana de filme de Hollywood (gigantescos seios e nenhum carisma ou inteligência), seu irmão decide que o único jeito de mudá-lo é alistá-lo na marinha. Sério. Em pleno século XXI.

Quando o filme retoma, Alex já é um oficial e - pasmem - está namorando a mesma garota da primeira cena do filme. E para melhorar ainda mais o clima, tem como grande desafio, pedir a mão em casamento para o sério Almirante Shane (Liam Neeson passando muita vergonha). Novamente. Em pleno século XXI. E para piorar, nunca fica claro de quem é essa ideia de "pedir a mão em casamento". Alex parece não ver necessidade disso (quem em sã consciência vê a necessidade disso?) e nem sua namorada (Sam, vivida pela linda mais fraquinha Brooklyn Decker) parece se importar também.


Como então torcer por um sujeito que é tão bobo como esse? Que não tem nenhuma personalidade e que apenas e o típico esquentadinho, por que afinal, os americanos não podem ser certinhos. O "homem de verdade" tem que cuspir na cara e peitar a autoridade.

Os demais atores atuam no modo "militar revoltado" ou "militar cego" ou "péssimo ator fazendo bico". Em um dos momentos que melhor exemplifica essa impressão, um dos marinheiros chega para o nosso "herói" e mesmo sabendo o que fazer diz: "eu não sei o que fazer senhor, afinal o senhor está no comando". Quando Alex toma uma decisão, no entanto, o mesmo personagem passa a questionar a ideia de seu comandante. Esses vícios do militarismo (seguimos regras sem questionar) são - além de na vida real serem profundamente perigosos - imbecil, pois apenas comprova o quanto o texto parece não entender que, em uma situação como aquela a hierarquia dificilmente seria seguida.

Os alienígenas por sua vez são muito mal construídos. A qualidade da animação (sim, os alienígenas são feitos em CG) é baixa e me faz questionar os motivos para essa escolha. Por que não colocar atores maquiados? Por que optar por uma técnica tão arriscada? O resultado não convence absolutamente ninguém. A personalidade daqueles invasores também é muito mal desenvolvida. Não se explica o porquê eles estão na terra, nem o que pretende fazer e muito menos o porquê eles tomam uma determinada atitude em relação aos humanos.


Para deixar o caldo ainda mais indigesto, o filme ainda insere um outro núcleo formado pela namorada loira do herói, um ex-marinheiro ("interpretado" por um marinheiro real) que é deficiente físico e um nerd de laboratório que, evidentemente, precisa ser meio covarde e o pseudo alívio cômico da história.

Nem mesmo as cenas de ação - que geralmente salvam esse tipo de bobagem - funcionam na totalidade. São navios destruídos, naves espaciais razoáveis e muito ferro retorcido. Nada do que o nosso amigo Michael já não tenha nos mostrado. O "diretor" Peter Berg tem uma única vantagem em uma comparação com seu inspirador: não fica balançando a câmera freneticamente a cada take. Uma qualidade é verdade, mas a serviço de um produto muito fraco.

E o final? Amigos, por respeito a vocês que imagino tenham ficado curiosos pela bizarrice, não entrarei em detalhes. Apenas peço para que atentem para a participação de mais um grupo de marinheiros, digamos, inusitados. Ali, o caixão que já estava pregado foi baixado a sete palmos do chão.


Battleship tem apenas um pequeno momento feliz. Quando o filme "brinca de Batalha Naval", ao colocar personagens precisando descobrir inimigos usando bóias de medição de mares e que deixa o navio "às cegas". Uma boa ideia que não salvam os mais de duas horas de martírio.

Se o filme fosse um documentário sobre uma partida real de Batalha Naval não seria tão irritante. Com louvor, um dos piores filmes de 2012.