sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Intocáveis


Intocáveis
(Intouchables, 2011)
Drama/Comédia - 112 min.

Direção: Olivier Nakache e Eric Toledano
Roteiro: Olivier Nakache e Eric Toledano

Com: François Cluzet, Omar Sy

Como descrever Intocáveis? Uma comédia de humor politicamente incorreto, sem nenhuma piedade em brincar com a condição de um ser humano tolhido de suas liberdades decorrente de uma deficiência? Um conto sobre mundos que se encontram, se tocam e se modificam? Um "buddy movie" com aquele toque fabulesco? Tudo isso, ainda amparado por um trabalho técnico de qualidade, mas principalmente por uma dupla de atores muito especial.

Intocáveis diz a que veio e o que pretende, já em sua cena inicial, quando vemos um homem negro e forte dirigir um belo carro esporte, acompanhado por um homem de meia idade de feições doloridas, barbado e perdido em seus pensamentos. O homem negro acelera forte ultrapassando sem dó diversos veículos em sua corrida sem nenhum objetivo claro. De repente são perseguidos pela polícia e depois de uma tentativa de fuga, forçados a parar. O homem negro sai do carro e vocifera que precisa levar o outro homem ao hospital, pois ele está convulsionando ao seu lado. O homem de meia idade, ao mesmo tempo, começa a babar simulando essa condição. Para piorar a situação, o homem de meia idade está numa cadeira de rodas, o que amplia ainda mais a piedade dos policiais. Pronto, eles são liberados e os dois homens podem voltar a sua diversão.

Essa descrição detalhada que fiz (e que vocês que acompanham os textos por aqui, sabem que não costumo fazer) é importante para situar o leitor sobre o que vai ver. Ao enganar os policiais com uma desculpa das mais "ofensivas" o filme logo diz que o politicamente incorreto dará o tom da historia. Não espere uma historia edificante tradicional, e apesar da ideia ser até se enquadrar no ideal de superação de dificuldades, é dessa forma "diferente" que o filme vai seguir em frente.


O sujeito na cadeira de rodas é tetraplégico (ou seja, não sente nada do pescoço para baixo) e se chama Philippe. O motorista é o homem negro e forte chamado Driss. Quando o filme realmente começa após esse prólogo que é genial ao rapidamente dar as coordenadas do que veremos a seguir, Philippe está em busca de um novo cuidador, alguém para vesti-lo, conduzir sua cadeira, dar-lhe banho, dar-lhe de comer, beber, lhe passar o telefone, abrir sua correspondência entre muitas outras responsabilidades. Driss acaba de sair da cadeia depois de meses presos por um furto, e está - ao lado de muitos homens teoricamente mais bem preparados que ele - diante de uma entrevista de emprego, que para ele apenas serve como subterfúgio para conseguir garantir seu seguro desemprego (algo assim) por mais trinta dias.

Porém, Philippe encanta-se com o jeito sem rodeios, sem piedade, irônico e muito honesto de Driss e resolve contratá-lo. A partir daí o filme vai nos mostrar como a relação de empregado e patrão evolui para uma amizade verdadeira e muito forte.

Não existem vilões em Intocáveis, além das próprias limitações de Phillipe. Seus inimigos estão em sua própria mente e em seu próprio corpo. Por outro lado, Driss tem uma historia em seu passado, uma família muito numerosa que tem uma serie de problemas para manter-se. Esse talvez seja o único demérito do filme, já que essa linha narrativa é pouco explorada de forma mais intensa dando lugar a historia principal, embora em determinado momento da trama as duas narrativas acabem se cruzando, interferindo uma na outra.


Intocáveis é um filme profundamente humano e por isso não é politicamente correto. Não trata o deficiente como um aleijado social, alguém que não tem capacidade emocional para ouvir uma brincadeira e que não consegue lidar com seus próprios fantasmas. Tratar o deficiente como mais um cidadão, sem piedade e sem meias palavras é um dos grandes méritos do filme, que não tem medo de fazer piada com a condição de Philippe. Porém, é bom avisar o leitor, que quando falo de "fazer graça" não estou apontando a baixaria de produções escatológicas, mas de observações cotidianas sobre Philippe. Por exemplo, Driss fica curioso sobre como sexualmente o seu novo amigo funciona. Ao receber a noticia de que o amigo não sente nada do pescoço pra baixo fica curioso em saber como ele faz sexo. "Existem outras zona erógenas no corpo", diz Philippe. "Por exemplo?" retruca Driss. "Os lóbulos das orelhas" complementa o homem atado à cadeira de rodas. "Quer dizer que quando suas orelhas ficam duras é sinal que está excitado?" diz com todo o bom humor, o gigante africano.

Compreendem? É assim que Intocáveis trata seus personagens. Sem "dó", sem "passar a mão na cabeça" e dizer: "que coitadinho", mas fazendo graça de uma condição humana, colocando o deficiente como membro ativo da sociedade, alguém que deve ser tratado com igualdade assim como todos os demais seres vivos.

Isso não significa que o filme seja uma comédia rasgada, pelo contrário. Como estamos próximos ao ambiente de fábula, onde além de ser rico, Philippe mora quase em um castelo encravado em Paris, personagens coadjuvantes acabam se apaixonando quase beirando o cartoon, a doçura equilibra com muita sabedoria as observações ácidas e irônicas. Se Driss se esquece que seu patrão não consegue atender ao telefone e apenas "entrega" o aparelho ao homem, é também aquele que o incentiva a viver mais profundamente. Se ele tem uma paixão, ele o incentiva a seguir em frente, se ele quer praticar algum esporte é ele que o acompanha, e logo Philippe também ensina Driss o quão ele é competente e pode ser importante.


O filme de Olivier Nakache e Eric Toledano consegue essa proeza. Fazer graça de algo que a sociedade nos ensina a não brincar ao mesmo tempo em que é profundamente emocionante e leve. François Cluzet está reluzente. Philippe é um homem muito complexo que aparenta uma leveza que não condiz com suas reais emoções. Claro que se sente enfraquecido e deprimido com sua condição. Claro que sente falta de caminhar sozinho, de sua independência, mas mesmo assim, tenta encontrar ajuda exatamente em alguém que "se esquece" de suas deficiências, alguém que o trate nem pior, nem melhor, apenas igual a todos os outros. São nos olhos de Cluzet que vemos ele se entregar completamente ao papel. São nos pequenos movimentos de sua boca e em seu franzir de testa que tudo está contido. Obviamente limitado, é com a voz e seu rosto que o ator consegue nos convencer e identificar facilmente quando aquela alegria é falsa e quando Driss consegue tocá-lo de forma real, transformando-o em uma pessoa melhor.

Omar Sy - anote esse nome. Esse é um legitimo representante daquele chavão do cinema: força da natureza. Enorme, quase bronco, cheio de trejeitos que podem indicar uma agressividade, é leve, inteligente, sagaz e cheio de fibra moral. Sy é intenso, cheio de energia e dono de um carisma maior que o próprio filme. Sua química, com todos os demais interpretes, é assustadora e em especial com Cluzet, que parecem amigos de longa data, tamanha facilidade que os dois têm para conversar e convencer. Realmente um trabalho notável.

Intocáveis é um dos grandes filmes do ano. Uma aula de como tocar em temas complexos de uma forma profundamente inteligente e emocional, sem no entanto, esbarrar no pedantismo, no melodrama (no pior dos sentidos) ou na falta de respeito e na ofensa gratuita. Caminha sobre uma finíssima corda de forma elegante, com resultados exultantes.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Os Mercenários 2


Os Mercenários 2
(The Expendables 2, 2012)
Ação - 103 min.

Direção: Simon West
Roteiro: Richard Wenk e Sylvester Stallone

com: Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Terry Crews, Randy Couture, Liam Hemsworth, Nan Yu, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris

Overdose de testosterona. Maior coleção de brutamontes por metro quadrado. A maior quantidade de balas usadas em um mesmo filme na historia do cinema. Um bando de senhores de idade - quase geriátricos - disparando contra outro tanto de desconhecidos. Essas e outras definições podem ser usadas para descrever Mercenários 2. Porém, apesar de serem honestas, são igualmente pejorativas.

É claro que o filme é uma reunião de brucutus oitentistas cheia de referências e paródias ao momento em que essa trupe mandava nos cinemas. Claro que a quantidade de tiroteios é exagerada. Claro que a idade passa para todos, mas também é claro que a intenção de uma produção como Mercenários 2 é exatamente essa: divertir-se com o exagero.

Não é possível encarar Mercenários 2 da mesma que se encara um filme de ação como os Jasons Bourne da vida, ou mesmo produções onde esse viés realista é o foco principal da ação. A produção encabeçada por Sylvester Stallone é um tributo a uma época quase jurássica (pelos padrões dos moderninhos de plantão), onde um homem e seu fuzil enfrentavam (sem colete, às vezes sem camisa) um exercito de inimigos virulentos e sempre malvados em busca de justiça e liberdade (mesmo que essa seja conquistada a base da bala, sem nenhum conhecimento sobre o local da incursão heróica).


Como produto dos anos oitenta, Stallone sabe como poucos elaborar uma historia que beba sem nenhuma dó nesse lago, ao mesmo tempo em que (sendo um sujeito que, apesar do que muitos falam, não parou no tempo) consegue elaborar sequências de ação usando o que tecnicamente existe de melhor no ramo. Trocando em miúdos: Mercenários 2 é uma coroa de 50 e poucos depois de horas e horas de academia, dieta balanceada, algumas correções faciais e muito bom humor. Sim, humor, essa é a grande característica do filme. Não se levar a serio em momento algum, mesmo naqueles momentos em que - em teoria - deveria se levar.

A equipe de Mercenários continua a mesma do filme anterior, reunindo Stallone, o lendário ex-lutador do UFC Randy Couture, o engraçado Terry Crews, o mestre das artes marciais Jet Li, o alívio cômico, sim uma grande descoberta do filme, Dolph Lundgren e o último herói de ação, o inigualável Jason Statham. Ao lado desse pessoal, se junta o novato Liam Hemsworth, de Jogos Vorazes, como um jovem atirador de elite. Logo na primeira sequência, que também serve de prólogo, reconhecemos uma figura que fez uma aguardada participação no filme original e nos despedimos de Li, que no filme tem uma participação bastante limitada (problemas de agenda?).

Após serem contatados novamente pelo misterioso Church (Bruce Willis), o agente da CIA que não tem pudores em contratar os Mercenários para cumprir serviços sujos, são enviados para uma região remota na Europa em busca de um artefato que poderá redimi-los pelo fiasco (na visão de Church) visto no filme original. A essa equipe se junta a misteriosa e bela Maggie (Nan Yu), que tem a responsabilidade de encontrar o artefato e ainda não ser ferida, tornando o personagem de Stallone uma babá de luxo. Depois da missão, acabam sendo surpreendidos pelo grupo liderado pelo vilão Vilain (sim, não é por acaso que o nome do sujeito seja "vilão" escrito em inglês, o que mostra o bom humor da produção), que é "interpretado" no alto de toda sua canastrice por Jean-Claude Van Damme.


Sem estragar a graça da historia - que de fato é divertida - apenas digo que alguma coisa sai errada e os mercenários partem para o revide, enfrentando meio mundo no processo. O roteiro é banal, bastante derivativo de dezenas de outros filmes mas funciona, já que o filme é uma ode a todo esse exagero de duas décadas atrás.

Tentar enxergar algo mais do que diversão escapista em um filme como esse é um exagero desnecessário. Porém, cabe aqui uma explicação aos muitos que talvez fiquem pensando: "por que nesse caso, você diz isso, e em outros filmes você não dá esse desconto?". Simples, em geral esse tipo de produção se leva ou a sério demais ou é infeliz no quesito diversão descerebrada. Mercenários consegue ser uma produção que visando apenas o passatempo, consegue seu objetivo, principalmente quando coloca os astros de ação para contracenar, soltando frases de efeito a todo o momento.

Além de em Mercenários 2 termos muito mais de Schwarzenegger e Willis (agora até com armas em punho), temos a adição - de maneira mítica - de Chuck Norris, que surge da maneira mais sensacional possível, rendendo sem sombra de dúvida o momento mais divertido de todo o filme. Completamente à vontade em sua imagem de semideus que a Internet imortalizou (quem nunca leu algum dos feitos que Norris seria capaz de fazer?) é responsável pelas melhores frases e mesmo que seu personagem não tenha nenhuma função prática na trama, é absolutamente indispensável para que o sabor nostálgico do filme estar completo.


Stallone e Statham são os protagonistas do filme e fica claro que Sylvester enxerga no britânico uma espécie de sucessor, mesmo porque é o "ultimo dos moicanos" dentre os brucutus. É o único que ainda consegue colocar um trabalho ou outro nos cinemas e que se mantém ativo com uma produção de baixo orçamento e muita pancadaria, competente muitas vezes, por ano.

Mercenários não inventa a roda nem tenta ser original. É uma homenagem, uma declaração contra os heróis politicamente corretos da atualidade (as frases em que os veteranos se declaram peças de museu é impagável), uma diversão escapista e uma coleção de cenas de ação bem realizadas. O que esperar, além disso?


quarta-feira, 29 de agosto de 2012



Bom dia, boa tarde, boa noite, boa lista recheada de nomes com testosterona o suficiente para crescer pelos até dentro dos olhos. Sejam bem vindos.

Sylvester Stallone. O ator de 66 anos que despontou no mundo da sétima arte há décadas e décadas, em 1976 quando decidiu vender o roteiro de um tal de “Rocky”. Queriam comprar a história, mas não queriam que Stallone fosse o protagonista. Porém, depois de idas e vindas, ele se tornou Rocky Balboa. Essa pode ter sido a pior escolha para algumas pessoas, devido ao que viria do sujeito. Mas para muitas outras (eu incluso), não poderia ter sido melhor. Além de cair como uma luva para o papel, o nome Stallone ficaria marcado nos anais do cinema, para o bem ou para o mal.

A lista abaixo tenta reunir os personagens de Stallone com os melhores (ou piores, dependendo do ponto de vista) nomes. Afinal, se existe um brucutu com nomes mais marcantes, sonoros e também ridículos, esse alguém é, sem qualquer vestígio de dúvida, Sylvester Stallone.

8ª posição – Cosmo Carboni 
(de “A Taverna do Inferno) Ano: 1978

Um dos primeiros filmes de Stallone, “A Taverna do Inferno” apresenta um sujeito com o nome de Cosmo Carboni. Começando por baixo, é um nome simples, mas com a dupla consoante inicial, digna dos maiores super heróis que tem essa dupla consonantal. Tá bom, foi uma forçação de barra. Mas o "Cosmo" no começo já era um prenuncio que a carreira do rapaz iria chegar às estrelas.

7ª posição – Kit Latura 
(de “Daylight”) Ano: 1996

Tem que ser um cara muito macho para ter o primeiro nome como Kit. Kit é quase um prenuncio para “Kit Kat”, “Kitty, o gatinho fofinho”. Mas tente fazer uma brincadeira dessas na frente do personagem de Stallone nesse filme. Você vai tomar porrada até se desculpar com a oitava geração do herói. E Latura. O que dizer desse estrogonoficamente lindo sobrenome? Só Sylvester mesmo para ter Latura como sobrenome. E ainda por cima fica sonoro. Fale em voz alta “Kit Latura” e me diga se não é um nome de respeito.

6ª posição – Lincoln Hawk 
(de “Falcão – O Campeão dos Campeões”) Ano: 1987

Um papel mais conhecido de Sylvester, uma vez que “Falcão – O Campeão dos Campeões” era uma constante na época em que a Sessão da Tarde ainda era legal. Um sujeito fortão que se chamava Lincoln, que era caminhoneiro, que ensinou o filho mimado a ser um homem de respeito nas estradas dos Estados Unidos, comendo bacon e “brigando” de queda de braço de ferro entre um sono e outro. E como esquecer o falcão no capô do caminhão? Uma alusão sem sutileza alguma a seu sobrenome “Hawk”, que na dublagem brasileira foi traduzido para Falcão. Ou seja: Lincoln Falcão. Uma sexta posição digna de uma virada de boné para ganhar força extra.

5ª posição – Angelo “Snaps” Provolone 
(de “Oscar- Minha Filha Quer Casar”) Ano: 1991

Antes de mais nada, nunca assisti a “Oscar – Minha Filha Quer Casar”. Mas o nome do personagem de Stallone é tão esdruxulamente estranho e digno de zoação infinita que não tinha como não coloca-lo na lista. Provavelmente um italiano pela junção dos nomes “Angelo” e “Provolone”, se quiser analisar mais profundamente esse nome digno de Oscar (sacou a jogada?), podemos dizer que “Angelo” é Anjo e “Provolone” é Queijo mesmo. OU SEJA, Stallone é o Anjo do Queijo. (Nota do editor: Artur não assistiu, mas eu sim. Aqueles que não viram o filme, Provolone é um mafioso maluco que tenta impedir sua filha de se casar em meio a uma daquelas comédias de encontros e desencontros.)

4ª posição – John Spartan 
(de “O Demolidor”) Ano: 1993

John Spartan, o policial obcecado em caçar o criminoso Simon Phoenix (Wesley Snippes). Se na posição posterior ele era um tira “direito”, aqui digamos que ele alcança quase a alcunha de mercenário (um prenúncio talvez?), onde seus métodos são extremos e ele não visa tomar cuidado com as construções e pessoas que estão por perto. Jogado em um futuro onde o que aprendeu foi costurar e sem saber usar as três conchas, o filho dos métodos espartanos tenta capturar mais uma vez o criminoso Simon Phoenix.

3ª posição – Marion “Cobra” Cobretti 
(de “Stallone: Cobra) Ano: 1986

O policial definitivo. Marion Cobretti é um casca-grossa do cinema de ação que profere frases de efeito a cada segundo, no naipe de “Você é um cocô” ou a icônica “Você é a doença, eu sou a cura”. Como bater de frente com um sujeito cujo apelido é “Cobra” e tal qual esse réptil, não pensa duas vezes antes de dar o bote no criminoso e destilar toda sua munição sem mirar no bandido? Stallone fazendo escola.

2ª posição – Rocky Balboa 
(de “Rocky, um Lutador” e continuações) Anos: 1976, 1979, 1982, 1985, 1990 e 2006

Rocky Balboa. O nome que alçou Stallone ao estrelato e o fez ser indicado ao Oscar por sua atuação, que logo se descobriu que era realmente o jeito e a forma do homem falar. Mas, acima de tudo, um nome sonoro que ficou marcado ao lado de “Mike Tyson” e “Sugar Ray” entre os boxeadores mais famosos, só que Rocky não existiu de verdade. Você pensa em boxe, você pensa em Rocky Balboa.

1ª posição – John Rambo 
(de “Rambo - Programado para Matar” e continuações) Anos: 1982, 1985, 1988 e 2008

Mais marcante que Balboa, só John Rambo. Muitas pessoas esquecem que existe John. E fazem até bem. Rambo por si só é um nome contundente e diz desde o começo para o realmente veio. Você teme um sujeito que tem Rambo no nome. Você respeita. Você venera. Rambo é o exército absoluto de um homem só. É Rambo que você chama quando as coisas estão dando errado. Você quer ser Rambo. Mas Rambo só pode ser um. Só Sylvester Stallone pode ser Rambo.

Hours concours - Stud, o “Garanhão Italiano” 
(de “O Garanhão Italiano”) Ano: 1970

Por que hors concours? Bem, porque sim. O primeiro “filme” de fato de Stallone foi um “soft-porn” em que ficou conhecido por “Garanhão Italiano”, alcunha que foi usada mais de uma vez na saga de Rocky Balboa, quando se dirigiam ao personagem ou quando era anunciada sua entrada no ringue. Só por isso.

Espero que tenham apreciado essa pequena, mas feita de coração, lista, ou “Listallone” (outro nome que poderia figurar fácil entre as melhores se Sylvester decidisse criar um personagem com esse nome. Quem sabe um dia.). Muitos nomes igualmente marcantes para alguns e outros horríveis para outros ficaram de fora. Mas tentei reunir os mais interessantes (sendo bons ou não).

Colaboração especial
Artur Andrade
conheça o trabalho do Artur em www.tardis.com.br 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Casa Silenciosa


A Casa Silenciosa
(Silent House, 2011)
Terror/Suspense - 85 min.

Direção: Chris Kentis, Laura Lau
Roteiro: Laura Lau e Gustavo Hernández

Com: Elizabeth Olsen, Adam Trese, Eric Sheffer Stevens

Ano passado estreou com algum barulho um longa metragem vindo do Uruguai, chamado A Casa. A ideia deste longa sul-americano era muito interessante: acompanhar "em tempo real e sem cortes", uma legitima historia de casa assombrada, ou algo assim. Infelizmente, a magia incensada e desejada pelo realizador Gustavo Hernández, viu ruir-se diante de um trabalho técnico questionável (além da câmera de mão que acompanha a ação causar vertigens, o filme apresentava cortes sim, já que o tempo real em que o filme se passa é muito mais extenso do que o tempo de cena) e de um texto que abusa de um exagero quase hermético em um gênero com uma proposta que mais confunde do que ajuda o espectador.

Como parece praxe, e um atestado cruel de falta de criatividade, os americanos logo pensaram em - por que não - criarem uma adaptação para a língua inglesa (afinal, o publico americano não sabe ler e é ignorante mesmo, é o que parecem dizer os muitos produtores desse tipo de remake). Essa é dirigida por Chris Kentis e Laura Lau e tem como estrela Elizabeth Olsen (do ainda inédito por aqui, mas muito elogiado Martha May Marcy Marlene). Curiosamente, o roteiro dessa produção - assim como em O Grito - tem o dedo do diretor e um dos roteiristas do filme original, o já citado Gustavo Hernández.

Apesar de não ser nenhuma grande produção do gênero, esse remake, consegue (surpreendentemente) ser um pouco superior ao filme original. Além da qualidade técnica deste ser infinitamente melhor (apesar da câmera nunca parar, o filme consegue achar ângulos em que o espectador consegue acompanhar a trama sem, no entanto precisar adivinhar o que vê na tela), consegue manter a sensação do "tempo real" mais crível, ao focar-se em período muito mais curto de tempo (praticamente os mesmos oitenta e cinco minutos e duração do filme em si) e ter em Elizabeth Olsen uma interprete muito mais segura do que Florencia Colucci, o era no filme original.


Existem algumas alterações na trama, especialmente para tornar a desse remake mais "palatável" para o gosto do consumidor americano, muito menos afeito a mensagens cifradas especialmente em filmes com essa temática assumidamente comercial.

A subversão de gêneros, que já acontecia no filme original, mas que levava o espectador há pensar um pouco mais e talvez parecesse exagerada em seus conceitos, aqui é mais "pé no chão", mais próxima de um filme de horror mais comum. Explicações acabam sendo dadas em uma dose muito maior do que acontecia no filme uruguaio, mas de outro lado, o impacto das revelações na personagem de Olsen é muito mais intenso.

Olsen é uma atriz muito interessante, e que consegue transmitir muita naturalidade no papel de uma garota que se vê diante de um mal que não consegue enxergar nem compreender. Suas reações, apesar de esbarrarem nos clichês, são críveis e a atriz consegue dar veracidade a situação que vive.


Esbarrando no óbvio demérito de ser um remake (e esse é assumidamente um remake, que não tem medo nem de copiar alguns planos e estrutura narrativa), A Casa Silenciosa não é um fracasso como em geral são essas adaptações. Não assusta tanto quando o original (que era mais aterrador, principalmente pela atmosfera amadora e imunda do cenário), mas é mais bem resolvido e conta sua historia sem pretensões, sabendo que é apenas mais um filme de terror. Aposta em uma técnica "ousada"? Aposta, mas no fundo é a subversão de gêneros e o plot twist final que são as armas do filme.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Rock of Ages: O Filme


Rock of Ages: O Filme
(Rock of Ages, 2012)
Comédia/Musical - 123 min.

Direção: Adam Shankman
Roteiro: Justin Theroux, Chris D'Arienzo e Allan Loeb

com: Diego Boneta, Julianne Hough, Tom Cruise, Alec Baldwin, Russel Brand, Catherine Zeta-Jones, Mary J. Blige, Bryan Cranston, Paul Giamatti

Rock of Ages é brega. Muito brega. Exagerado, cartunesco, simplório na relação de seus personagens, tem um roteiro absolutamente previsível, personagens que são praticamente esboços, canções que (em sua maioria) não são especificamente conhecidas de muita gente e direção apenas mediana.

Mas é uma ótima diversão. Parece absurdo não? Explico. Rock of Ages é tudo isso acima, mas propositalmente. E essa é a grande qualidade da produção de Adam Shankman, não se levar a sério. Mesmo quando o filme apresenta momentos de maior "reflexão", ou pequenos dramas dos personagens principais, sempre encontra uma maneira de encaixar uma observação engraçada, irônica ou simplesmente mostra na tela algo que destrua aquele clima de pseudo seriedade que o espectador possa - por alguns segundos - ter comprado.

A historia é absurdamente clichê e versa sobre a garota da cidade pequena (Sherrie Christian/vivida por Julianne Hough) que chega a Los Angeles em plena era do hard rock californiano, ou como muita gente erroneamente gosta de chamar "metal farofa", em busca do sonho de ser cantora. Assim que põe os pés na cidade é assaltada perdendo seus bens mais preciosos: seus discos. Entra em cena o ajudante de bar e músico em potencial Drew Boley (Diego Boneta) que vendo a situação da garota decide convidá-la a trabalhar com ele no famoso Bourbon Club, um amalgama de todos os bares da famosa Sunset Strip.


O bar é administrado pelo bonachão Dennis Dupree (Alec Baldwin), um hippie aposentado que vive o sonho do rock'n'roll ao lado do amigo e parceiro de negócios Lonny (Russel Brand). O Bourbon está ameaçado pela eleição do prefeito Mike Whitmore (Bryan Cranston) e especialmente por sua esposa Patricia (Catherine Zeta-Jones), uma combativa inimiga do estilo de vida rock'n'roll.

Enquanto os jovens pombinhos se envolvem romanticamente, Dupree prepara sua cartada final para manter seu bar funcionando, armando um concerto com o rockstar Stacee Jaxx (Tom Cruise) uma mistura de todos os clichês e personalidades roqueiras típicas dessa era de excessos. A historia segue então estes personagens, seus encontros e desencontros, sempre com muito bom humor, acidez e uma breguice que combina demais com a produção.

Evidentemente que o filme não é perfeito. Tem alguns personagens que entram e saem da trama sem nenhuma função, como a dona de um clube de striptease vivida por Mary J. Blige. Apesar de ser uma cantora de mão cheia e de seu clube ser palco de algumas das poucas coreografias desse musical, onde muito se canta e muito pouco se dança, sua personagem não tem nenhum arco dramático. Outra que é desperdiçada é Malin Akerman, como a jornalista que coloca pela primeira vez o rockstar Stacee Jaxx em uma posição - digamos - desconfortável.


Os protagonistas também não são grande coisa, sejamos francos. Se não comprometem cantando (embora quase nenhuma canção tenha conseguido ficar no mesmo patamar das versões originais), são apenas jovens esforçados, e talvez diante de uma trama mais complexa e que exigisse mais do que a mimetização de um clichê do casal apaixonado, os dois atores conseguissem apresentar algo mais denso.

Mas aqueles que realmente roubam a cena são os coadjuvantes. Todos muito bem no filme (isso mesmo, até mesmo o insuportável Russel Brand acerta, e assim, como Jack Black em Escola de Rock, parece estar interpretando uma variação de sua própria personalidade), mesmo com Zeta-Jones sendo menos importante para a trama como todos os trailers anunciavam. Mesmo Bryan Cranston em uma ponta de luxo acerta na canastrice necessária para seu personagem. E Alec Baldwin, já consagrado como um comediante de mão cheia, novamente vai muito bem, naquela auto parodia que ele sabe fazer tão bem na serie 30 Rock.

Mas, os grandes destaques do elenco são Paul Giamatti e Tom Cruise. Giamatti imita Peter Grant, famoso empresário do ramo musical, que teve como principal cliente o Led Zeppelin. O personagem do empresário é o mais próximo de um vilão que o filme apresenta, embora suas maldades não sejam em si - cruéis - mas simplesmente aproveitadoras. Ele é mais um dos muitos clichês explorados pelo filme, a da indústria como um gigantesco tubarão comendo o talento dos artistas.


E Cruise, mesmo com seus problemas pessoais, maluquices e afins, é sim um ator talentoso. Quem ainda não consegue conceber que um sujeito com pinta de galã tenha sim talento, precisa desesperadamente procurar um psicólogo para curar essa baixa estima. Porém, é inegável que por muito tempo, o ator se protegeu de papéis que brincassem com sua imagem. Se em Trovão Tropical ele vivia o empresário canalha, aqui ele vai ao limite da imagem de galã surgindo sem camisa em quase todas as cenas do filme, abusando das muitas caras e bocas para representar o ápice da degradação do rock star. Além disso, sempre está acompanhado de seu macaco de estimação Hey Man, que ao mesmo tempo em que é uma frase comum no inglês, não deixa de ser uma piadinha sobre Rain Man, filme que Cruise co-estrelou ao lado de Dustin Hoffman. Apesar de até esboçar um arco dramático que fala de amadurecimento e de encontrar seu lugar no mundo, Cruise se destaca mesmo pela incrível capacidade de convencer o espectador como o rock star, inclusive cantando (e bem).

Adam Shankman, do irregular, mas com a mesma ideia anárquica Hairspray, consegue criar um musical divertido e profundamente irônico que funciona muito bem na tela. A peça original (para os que não sabem o filme é baseado em um sucesso da Broadway) consegue encontrar significados até profundos - milagrosamente, diga-se de passagem - e fazer das efêmeras e profundamente divertidas canções da época um belo acompanhamento para um filme que sabe que não está inventando a roda, mas que acerta com bons arranjos e divertidas versões de canções de forte apelo melódico.

O filme tem alguns destaques óbvios entre os momentos musicais da trama. Catherine Zeta-Jones cantando e realizando a coreografia mais exagerada da historia em "Hit me With your Best Shot" de Pat Benatar, o surgimento do personagem Rock Star de Cruise em "Wanted Dead or Alive" do Bon Jovi, o dueto engraçadíssimo e exponencialmente oposto ao que diz a letra de "I Want to Know what Love Is" do Foreigner, a consagração rock star, com direito a todos os excessos de um show oitentista de "Pour Some Sugar on Me" do Def Leppard, a montagem inteligente e sensível ao som de "Here I Go Again" do Whitesnake, a engraçadissima cena de entrega emocional ao som de "Can't Fight this Feeling Anymore" do REO Speedwagon e o número musical bem realizado ao som de "Any way You Want It" do Journey. E não, não citei todas as musicas do longa, e sim, são muitos os momentos musicais no filme, que não sofre como outros musicais de um cansaço mental ao acompanharmos as canções. Talvez pelas mesmas serem conhecidas e em geral terem um clima alegre e descontraído, que além de funcionarem como obras fechadas dão ao filme um animo muito grande.


Rock of Ages é uma ode a um período quase totalmente hedonista e ao trinômio sexo-alcool (os personagens não usam drogas no filme, embora o álcool seja uma, mas enfim, me entenderam) e muito rock'n'roll. Uma celebração das festas e da falta de compromisso com qualquer coisa que não seja a diversão e a busca do sonho ingênuo do amor eterno. É quase um conto de fadas, mas com uma trilha sonora muito mais legal.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Ditador


O Ditador
(The Dictator, 2012)
Comédia - 83 min.

Direção: Larry Charles
Roteiro: Sacha Baron Cohen, Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer

com: Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley, Jason Mantzoukas

Sacha Baron Cohen ataca novamente. Se em 2006 o britânico satirizou sem dó os costumes americanos com o inspirado Borat e deixou mais gente humilhada no fraquinho Bruno, em 2012 Baron Cohen decide apontar seus canhões nada sutis para os ditadores cruéis, ao mesmo tempo - e talvez de forma mais interessante - em que força os limites do politicamente correto. Dessa vez, novamente ao lado do diretor Larry Charles, Cohen desiste do "mockumentary" e aposta na estrutura narrativa mais comum (embora tanto Borat, quanto Bruno tenha lá uma narrativa) apresentando claramente uma historia fictícia, com co-estrelas conhecidas do público ao lado do ator britânico que vive o ditador do título, o bizarro Aladeen (sim, a coincidência não é acidental).

Supremo ditador do fictício país de Wadiya, Aladeen é o estereótipo do ditador imbecil. Absolutamente preconceituoso e ignorante sobre qualquer assunto, passa seus dias entre fazer alguma idiotice (como reclamar do formato dos mísseis nucleares que seu cientista chefe fabrica), encontrar qualquer motivo para mandar executar alguém e dividir a cama com alguma celebridade que é paga para satisfazer suas vontades sexuais.

O filme parte da repercussão mundial dos desmandos do ditador em seu país, acusando-o (justamente) de manter armas nucleares em Wadiya e ameaçando-o de uma invasão, caso,  Aladeen não compareça a sede da ONU em Nova Iorque e apresente sua versão dos fatos em uma Assembléia Geral. Sendo um sujeito absolutamente detestável, o ditador mantém inimigos secretos, como seu tio Tamir (Ben Kingsley que adora uma produção trash) que é o principal conselheiro do ditador, mas que aproveita está viagem a Nova Iorque para lhe aplicar um golpe que o faz perder sua identidade e precisar pedir auxilio a uma garota (Zoey, Anna Faris, que parece só saber fazer esse tipo de personagem) que simboliza todos os estereótipos dos extremos do politicamente correto.


Apesar de simbolizar tudo de errado que existe no extremismo ditatorial, não conseguimos odiar nosso protagonista, mas sentir pena de tamanha imbecilidade. Quando - por exemplo - ele joga uma partida de videogame em que seu objetivo é recriar o massacre ocorrido na olimpíada de Munique em 1972, nos chocamos não pela ação do personagem, mas pela "ousadia" em não poupar ninguém na sátira. A graça está - de forma bastante sádica - ver até onde Cohen vai chegar dessa vez.

Mal comparando, Ditador bebe na fonte do humor politicamente incorreto com uma intenção satírica vista, por exemplo, em Family Guy, com o incomparável ônus de que o texto da serie de Seth McFarlane (que ainda esse ano dirige seu primeiro filme, Ted) sabe dosar a porção de ofensa aos padrões morais mais puritanos, com ácidas criticas ao mundo em que vivemos. Por alguns momentos - aqueles realmente engraçados - Ditador até acerta, mas infelizmente a grande parte das piadas da produção apela para a grosseria pura e simples, sem, no entanto nos dar a chance de simplesmente gostar dos personagens, já nem Aladeen nem a garota Zoey parecem críveis.

Mesmo que ambos estejam simbolizando estereótipos é importante que os personagens tenham um mínimo de credibilidade. Não é o caso desse filme, em que o absurdo dá o tom. Nesse tipo de obra, se o texto não for afiado (e aí volto ao exemplo de Family Guy) a possibilidade das piadas não funcionarem é enorme e o que nos resta são personagens exagerados e irreais. As boas observações sociais (como as que envolvem as diferenças entre uma ditadura assumida e uma indireta, ou as muitas alfinetadas nos exageros libertários politicamente corretos), convivem com piadas sobre masturbação, ordenha humana e são ancoradas por uma trama nada original.


Apela para o óbvio romance entre dois estranhos, um vilão absurdo, um coadjuvante que parece esquecer todo e qualquer rancor anterior assim que o roteiro acha conveniente e participações especiais que não funcionam.

Baron Cohen está como se espera absurdamente exagerado como o ditador Aladeen. Forçando um sotaque árabe como se estivesse com um incessante pigarro na garganta, é um bom comediante, mas assim como em Bruno parece ter perdido o gás. Sua forma de fazer rir parece parada no tempo, dependente de uma serie de gags visuais e de gosto bastante duvidosos, muito diferentes da completa anarquia vista em Borat, quando a grosseria estava a serviço de uma ideia.

Anna Faris é realmente uma atriz muito fraca, porém não dá para dizer que ela não se arrisca e ou que não tenha um amor próprio muito grande, pois só sendo muito confiante para surgir em mais um filme em que sua personagem é uma mulher absurda. Cheia de caras e bocas, aqueles olhos arregalados que nada dizem e auxiliada por um texto pobre é complicado entender como alguém pode confiar na atriz (talvez ela seja a única que topou a brincadeira). O filme ainda tem algumas participações especiais canastras como a de John C. Reilly que até diverte, e de Megan Fox e Edward Norton, esses passando vergonha "de cara limpa".


Por fim, Ben Kingsley, um sujeito que também deve ter um bom humor inesgotável, já que vira e mexe aparece em alguma produção de baixa qualidade (a lembrar: Guru do Amor, BloodRayne, O Som do Trovão, Thunderbirds entre outros). Longe de mim dizer que o ator seja ruim, pelo contrário, já que além de um careca dourado pela "incorporação" de Gandhi no filme de mesmo nome, tem momentos inspirados em Sexy Beast, Casa de Areia e Névoa e em Hugo Cabret só para ficar em filmes mais recentes. Porém, de vez em quando, Kingsley parece querer brincar com sua pinta de "Sir" e abraça esse tipo de filme B. Muito pouco a se dizer sobre seu personagem, que em teoria - e quase até o final do filme - é o mais equilibrado da produção. Apenas quando conta o que ira fazer depois de seu plano maligno dar resultado é que a produção também indica que sim, além de vilão, este sujeito também é maluco.

Talvez aquele que seja mais "normal" em toda a produção seja o cientista nuclear, responsável (pasmem) pela criação de mísseis para bombardear Israel. Nadal (Jason Mantzoukas) é aquele típico personagem "irritado", que funciona em uma comédia para disparar frases a torto e a direito a fim de atingir o público com suas observações irônicas daquilo que enxerga. Isso até o fim da primeira "parte" do filme. Quando ressurge, apesar de ainda manter esse ar irônico, é difícil engolir suas motivações e mais ainda, sua completa ausência de rancor, porque assim que é ofertado com uma mudança de vida, não tem pudores em abraçar "a causa".

A nova produção de Sacha Baron Cohen é muito menos do que poderia ser, mas não é um completo desastre. É superior ao praticamente indefensável Bruno, mas perde pontos ao não conseguir balancear o humor rude e observações politicamente incorretas, com a ideia de satirizar os ditadores e seus conceitos absurdos e a nova democracia tão arraigada ao politicamente correto. Tenta atirar para todo lado e erra muito mais do que acerta, deixando O Ditador com uma sensação de um filme longo demais (mesmo em seus enxutos 83 minutos), que parece querer dizer muita coisa e ofender tanto a tanta gente que se esquece de unir as piadas por uma historia menos obvia e boba.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

360


360
(360, 2012)
Drama/Romance - 110 min.

Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Peter Morgan

Com: Jude Law, Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Maria Flor, Juliano Cazarré, Lucia Siposová, Gabriela Marcinkova, Jamel Debbouze, Dinara Drukarova, Vladimir Vdovichenkov, Ben Foster


Dono de um arrojo visual intrigante, Fernando Meirelles sempre buscou projetos certos para explorar sua qualidade como diretor. Suas obras, ainda que distintas em narrativa apresentam uma visão de mundo peculiar, ao introduzir personagens que vivem delicados acontecimentos, falando sobre grandes temas. A urgência no trabalho do diretor atingiu seu ápice em Ensaio Sobre a Cegueira, um trabalho incômodo, que trabalhara com a destruição do ego do ser humano e o levara a condições extremas. O que nos leva ao trabalho de Arthur Schnitzler, La Ronde. Peça controversa na época, La Ronde contava as desventuras de um grupo de pessoas em Viena que se envolviam de forma sexual. Com uma estrutura bem linear (não li a obra, mas basicamente fala sobre o círculo perfeito de casos sexuais dos vienenses), a peça de Schnitzler parece datada hoje em dia. Nada mais natural, portanto, que uma nova estrutura seja adotada. Novos casos são introduzidos, e agora, a trama roda diversos lugares do globo.

E se de Meirelles era de se esperar uma análise incômoda sobre esses relacionamentos, é com surpresa que acompanhamos uma narrativa leve, fragmentada e charmosa. A bela trilha, sem interferir brutalmente nas cenas, funciona como uma metonímia do filme, ao descrever com sutileza diversos conflitos humanos, sejam eles de qualquer natureza. Ainda que mantenha como tema principal o sexo, Meirelles e o roteirista Peter Morgan o utilizam também como mero gatilho em diversas passagens, o que acaba dando certa irregularidade no trabalho.

Para introduzir seus personagens, Morgan começa criando situações que envolvem explicitamente o sexo. Desde a espécie de prólogo com as irmãs eslovacas até a cena de Juliano Cazarré e Maria Flor, é a tensão das traições e do cruzamento entre os casais que vai construindo a atmosfera, o que é um tanto similar à própria peça que originou o roteiro. Porém, quando surge o personagem de Anthony Hopkins, os conflitos começam a tomar novas proporções. O personagem de Hopkins é atormentado pelo sumiço da filha, que parece ter um fundo sexual; o Tyler de Ben Foster tenta lidar com sua saída do regime carcerário, fruto justamente de seus impulsos para o estupro; Valentina e seu patrão não conseguem se comunicar direito devido à religião do homem e o casamento da mulher, o que reprime o envolvimento de ambos (ou seja, o sexo); Serguei conhece uma personagem quando está cuidando de seu patrão, interessado em sexo.


Isso traz um frescor para o texto de Morgan. O fato das tramas se cruzarem de maneira fluida também auxilia, tanto o ritmo do filme quanto o foco do tema. O problema, definitivamente, não é na estrutura adotada, que ainda surpreende pela falta de atos propriamente ditos pelas convenções dos roteiros em geral. A direção de Meirelles evolui sua estética já bem estabelecida em Ensaio, ao se apoiar em uma bela fotografia esbranquiçada, mas que ainda assim fica suja, devido á granulação. Mais: o brasileiro demonstra sensibilidade autoral ao abordar certas cenas com uma inquieta câmera na mão, o que ressalta o tom naturalista/intimista da película. E ao investir bastante em takes que ressaltam transparências (repare como todas as casas parecem ou ser de vidro ou conter uma suntuosa janela), Meirelles parece ironizar com os personagens ali retratados: afinal, transparência é a única coisa que parece faltar nos relacionamentos retratados no filme – todas as vítimas de traição.

É na diluição da substância, porém, que 360 escorrega – e significativamente, já que um dos maiores perigos que um filme pode correr é uma fuga do tema, uma falta de unidade.
A promissora discussão envolvendo o núcleo de Michael e Rose (vividos com segurança por Jude Law e Rachel Weisz) acaba soando apenas como conflito de casamento. Já Tyler tem sua compulsão bem retratada pelo diretor (incrível o take em que Foster aproxima seu pé de uma menininha), mas para que? O personagem é esquecido com facilidade na narrativa e tem um final que é apenas trivial e simples, sem muito conteúdo. John, vivido por Hopkins, protagoniza talvez a melhor cena do filme, o monólogo da Igreja. Seu drama é ricamente detalhado e a atuação do lorde inglês lembra as naturais composições de Michael Caine, mas funciona para o tema? E Laura? Houve uma evolução?

Além disso, Morgan parece apontar para diversas discussões e acaba fugindo do próprio conteúdo sexual temático. A relação de Valentina e o seu patrão algeriano mais parece um conto sobre as dissonâncias da humanidade do que um conto de repressão sexual. E, ao que parece, é uma constatação verdadeira: se for falar de repressão, por que não dar mais tempo a Ben Foster?


Se há uma fuga do tema sexo que permeava La Ronde desde o princípio, seria prudente encontrar em 360 uma antologia sobre relações amorosas. Porém, além de abrangente e não - totalmente verdade (Tyler não se encaixaria aqui, tampouco John, afinal sua relação com Laura é quase paternal), seria um nivelamento baixo para o filme. Closer foi muito mais pungente e afirmativo, conciso e repleto de argumentos. Além disso, um panorama sobre relações é um caminho perigoso, que certamente não foi proposto por Morgan. Por filme-coral se define histórias curtas e que se cruzam. O próprio Meirelles, na coletiva, afirmou: não há como desenvolver personagens de uma maneira tão aprofundada nesse formato.

Sendo assim, seria o novo filme do brasileiro um trabalho enfadonho e incoerente? Absolutamente não. 360 pode não ter competência para analisar com cuidado suas próprias situações, mas é uma narrativa consistente e repleta de personagens coerentes e bem retratados. Cada caso se encerra de maneira verossímil. E isso diz muito mais sobre o filme do que parece.

Peter Morgan afirmou para Meirelles que queria fazer um filme sobre as conexões entre as pessoas no mundo todo. Sua experiência de vida ajuda nisso, já que o inglês mora em Viena e viaja o tempo inteiro. E o que isso teria a ver com sexo? Tudo. Afinal, o que ajuda a mover os humanos? Nisso, se decifra a unidade da película. Ao tentar criar um longa sobre como o sexo pode atrapalhar ou mover as relações, Morgan concebeu uma análise sem intervenções sobre a vida em geral, sobre a interpessoalidade, sobre o ser humano. Como já citado, cada conto se encerra com coerência. Porque a falta de glamour e a esperança que inicia a nossa despedida dos personagens, representa muito sobre o que nós mesmos vivemos. Como disse Michael no final, ainda acreditamos. Seja por “sermos otimistas ou muito burros”.


Ao analisar a última passagem (que, pelo fecho de círculo, tende a ser a mais importante), não há muito estofo para discussões ou conclusões. Apesar da falta de uma estrutura trivial, é com certo quê de clímax que o arco das irmãs chega ás telas – e, ao não formar uma coerência em sua temática, 360 acaba opaco em seu debate. Quando há a percepção que se trata mais de um projeto sobre as dissonâncias e complexidades do mundo contemporâneo, o filme até se faz valer como um tributo naturalista de como as pessoas tem seus dramas particulares – mas que, ainda assim, são universais, num paradoxo que só humanos poderiam conceber com certa coerência. E na filmografia de Meirelles, soa como um respiro intimista.

Ao menos, Meirelles criou um produto contemporâneo, se baseando em algo datado. Ainda que não seja o estudo que planejava, 360 vale pela observação estilística.