quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Hitchcock


Hitchcock
(Hitchcock, 2012)
Drama - 98 min.

Direção: Sacha Gervasi
Roteiro: John J. McLaughlin

com: Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, Danny Huston, Toni Collette, Michael Stuhlbarg, Jessica Biel

Modéstia a parte, eu conheço um pouco da história de Alfred Hitchcock. Por questões profissionais e pessoais (afinal, adoro seu trabalho) consegui ver boa parte de suas obras - que são muitas - e ler a respeito de seu processo criativo e sua vida pessoal. Sobre o processo criativo, e suas trucagens nas filmagens, suas ideias originais de enquadramentos ou suas observações sobre a construção de roteiros intrigantes e que mesmo aparentemente complexos guardavam para o público, soluções simples e gostosas de serem compradas, o melhor mesmo é ler os livros que são encontrados em diversas livrarias mundo afora.

O cinema, no entanto, parece preferir futricar sobre a vida pessoal do diretor. Ano passado, além do citado aqui, "A Garota", produção televisiva estrelada por Toby Jones e Sienna Miller mostrou a obsessão de Hitch por Tippi Hedren com uma ligeira romanceada. Mas, de fato, Hitchcock foi cruel com a atriz, e muita coisa do que está ali na tela (incluindo os pedidos de favores sexuais) são confirmados pela própria Hedren em algumas entrevistas. O quanto disso é a verdade dos fatos, nunca saberemos.

Hitchcock, no entanto é mais sutil nos problemas pessoais do diretor. Seria uma versão oficial de sua vida, caso esse estivesse vivo e pudesse opinar no roteiro. Apesar de ser vendido como "os bastidores de Psicose", muito pouco sobre o filme em si e suas gravações é mostrado. A produção de Sacha Gervasi, prefere se ater às questões de pré-produção, como encontrar o roteiro, os atores, driblar a censura e principalmente no papel fundamental da esposa de Hitchcock, Alma em toda a carreira do diretor.


Nisso, o filme acerta com exatidão matemática. Alma era a pedra da Rosetta de Hitchcock. A real decodificadora de sucessos e fracassos que mantinha a carreira do diretor nos eixos. Ela era quem lia os livros e os aprovava, ou dava as dicas em relação a novas ou novos atores para produções posteriores do diretor. A interpretação de Helen Mirren é segura, fazendo de Alma, uma mulher forte e decidida que mesmo amando - ao seu jeito - Hitch, sente-se isolada mediante as frustrações profundas de seu marido.

Anthony Hopkins por sua vez constrói Hitchcock da maneira mais conhecida por suas biografias e fofocas: um sujeito metódico, ciumento, profundamente talentoso e genial, mas cheio de uma infinidade de problemas emocionais que vão desde o ódio por seu corpo obeso (e sua obsessão por comida é um reflexo de seus problemas emocionais), a frustração com o seu estereótipo de "loira gelada" (sua musa inatingível) e seus muitos problemas com sua sexualidade.

A estrutura do filme é charmosa e irônica a principio já que apresenta o próprio Hitch/Hopkins diante da câmera e apresentando ao público a história a ser mostrada. Uma óbvia referencia ao período onde o filme se encaixa (os meses que tomaram conta da criação de Psicose), quando o diretor tinha sua muito bem sucedida série de TV, onde contava semanalmente um novo caso de suspense na telas americanas.


O filme então apresenta uma curiosa relação entre o famoso serial killer Ed Gein, que deu origem ao livro Psicose e também inspirou Silêncio dos Inocentes, e o próprio Hitchcock, numa tentativa de mostrar ao público como funcionava o processo do diretor e como ele se relacionava com seus vilões. Isso é outra referência à vida real do diretor, que era famoso por sua falta de confiança nas autoridades e medo profundo da polícia.

Hitchcock tenta ser um retrato de várias personas do biografado: o gênio das câmeras, o marido complicado, o homem cheio de traumas e não consegue ser profundo em nenhum deles. O gênio das câmeras mal é mostrado e sua relação com seus atores é vista de passagem, em uma curta cena onde entrevista Anthony Perkins/James D'Arcy (que está muito parecido com o ator, chegando a assustar) e na relação de amizade entre ele e a estrela Janet Leigh/Scarlett Johansson (fora do tom, apesar de ter acertado na composição do timbre e do sotaque da atriz interpretada). Mesmo nas passagens que envolvem o comitê da censura americana, o que se vê é muito pouco.

Já o homem cheio de traumas é visto aqui e ali, nos exemplos que já citei, e principalmente quando a mosquinha do ciúme o incomoda. Mas me parece uma visão muito reverente, muito cheia de dedos, com um profundo receio de incomodar, de ir além dos lugares comuns.


O único elemento que ganha alguma força é sua relação com sua mulher, que é de fato, a verdadeira protagonista do filme. Helen Mirren rouba cada uma das cenas, mesmo quando não deveria, o que enfraquece a composição de Hopkins para o personagem. Suas cenas com Danny Huston por exemplo são um frescor bem vindo em uma produção que tem dificuldade em encontrar a forma correta de abordar a difícil relação matrimonial de Hitch e Alma. O amor se existe ali, é quase fraternal e a relação dos dois é muito mais simbiótica do que amorosa. Existe uma necessidade quase fisiológica da presença de ambos um na vida do outro e Mirren consegue demonstrar isso com muita clareza. Mesmo tendo suas reservas quanto ao comportamento do marido, eles precisam estar juntos para existirem. Chega a ser triste e melancólico.

Mas, Gervasi erra muito a mão no balanço desses aspectos todos. Mesmo que a relação Hitch/Alma seja o centro do filme, ele é prejudicado por todo o resto que simplesmente não dá liga. E mesmo Anthony Hopkins é prejudicado por uma maquiagem que é - na melhor das hipóteses - medianas. A composição feita para a TV de Toby Jones - em "A Garota" -  é mais próxima do verdadeiro Hitchcock do que essa maquiagem (que absurdamente ganhou uma indicação ao Oscar desse ano).

As cenas de Hitch e Janet Leigh são tediosas, e Johansson não acerta nunca. E as poucas cenas de produção são tratadas de passagem e logo esquecidas. O trauma verídico com o fato de o filme mostrar pela primeira vez no cinema americano alguém usando um vaso sanitário (sim, isso é verdade), sua relação com Vera Miles (Jessica Biel) ou mesmo a questão das filmagens da famosa cena do chuveiro são mal aproveitadas numa montagem que quer criar humor em uma historia que grita por um ritmo mais lento e pausado.


São defeitos que estragam a experiência de assistir a uma ideia de biografia, que como está na moda, não mostra o homenageado do nascer ao morrer, mas a partir de um fato cria um panorama sobre sua vida. Hitchcock é uma experiência vazia como as valises, caixas ou pastas recheadas de "McGuffins", apesar do esforço do esforço de Helen Mirren e da presença classuda de Anthony Hopkins.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013: aquele das barbas, dos cabelos e do apresentador meia-boca. Parte 2 - Os premiados


Hora de falar sério. Hora de falar sobre os vencedores dos Carecas de Ouro, o prêmio mais importante... bla bla bla... enfim vocês sabem. Também sabem que o Oscar não é o maior dos símbolos de qualidade em produção cinematográfica no mundo (nem mesmo nos Estados Unidos), mas é o mais famoso, cheio de glamour, que reúne as estrelas e que todo ator deseja ganhar (mesmo aquele pessoal que desdenha).

Esse ano, como vocês leitores bem informados do Fotograma sabem, a Academia se enrolou toda no anúncio de seus indicados. Adiantou o processo de votação, deu a opção do voto online e no fim das contas acabou não indicando Ben Affleck nem Kathryn Bigelow para direção e talvez tenha esquecido de uma ou outra atriz (Marin Cotillard por Ferrugem e Osso merecia um lugar), ator (John Hawkes por As Sessões) e até mesmo filmes (por que o Mestre o melhor filme americano de 2012 não foi indicado é um assombro). 

Mais, isso já foi, e não adianta debater os cada vez mais políticos e estranhos conceitos e critérios que a Academia tem. O fato é que esse Oscar foi o mais disputado dos últimos ... sei lá quantos anos. E por culpa da própria Academia, que ao ignorar Ben Affleck, abriu a possibilidade de uma surpresa por aí. Seria Argo um filme menor? Seria a vez de Spielberg? Ou de Ang Lee? No fim, o prêmio seguiu a tendência na maioria das categorias já vistas em outras premiações. No fundo, cada dia mais o Oscar é mais um "carimbão" que lacra a caixa do filme/ator/diretor vitorioso depois de ela ser cheia com todos os troféus ganhos até ali. O Oscar caiu no óbvio. Por quê? É uma resposta direta a quantidade obscena de premiações que foram criadas justamente para contrabalancear a opinião única e solene da Academia. O mais antigo deles, o Globo de Ouro, há tempos não é mais parâmetro, mas em geral coincide seus premiados com o Oscar até mesmo quando das surpresas (esse ano foi uma prova disso). Já os prêmios de Sindicatos, foram a resposta dos profissionais a eventuais "absurdos" cometidos pela Academia e hoje servem como parâmetro para o Carecão. E por fim, os prêmios da crítica cada vez mais pulverizados devido à popularização da profissão. Praticamente toda cidade tem seu sindicato e eles também funcionam no buzz do filme campeão.

Somando-se tudo isso aos tais critérios do Oscar não fica tão difícil adivinhar quem leva o prêmio, embora (meu bolão que o diga) existam pequenas surpresas ou dúvidas.

Ufa... vamos então à festa, que para não deixar o texto absurdamente longo não será dissecada prêmio a prêmio, mas avaliada filme a filme, o que acho mais fácil de entender, explicar, agrupar.

Comecemos pelo grande "perdedor" da noite: Lincoln. Com incríveis doze indicações, levou para casa apenas duas, sendo que uma delas (direção de arte/design de produção) foi um dos poucos reais absurdos da festa. O trabalho desse quesito no filme é evidentemente ótimo, principalmente como recriação de época, mas tinha como concorrente o mais belo trabalho em anos indicado ao prêmio: Anna Karenina. O que foi realizado nessa produção é algo verdadeiramente único e muito original. A ideia de misturar cenários teatrais com cinema é de uma inteligência e resultado prático impecável. Além de ter vencido o Sindicato, ou seja, deram para não ficar feio para o filme do tio Steven. O outro prêmio da noite para Lincoln, foi aquele que somente uma invasão alienígena ou bombas atômicas tirariam de Daniel Day-Lewis, melhor ator. Entregue por Meryl Streep (que parece sequer ter aberto o envelope) esse era o prêmio mais fácil de ser previsto de todo o Oscar. E não é nada injusto, já que Day-Lewis (pra mim) é o maior ator de sua geração. Joaquin Phoenix poderia ter vencido, sim, mas ele conta com uma rejeição brutal na Academia e o fato dele esnobar (ou fingir que esnoba) esse tipo de premiação só depõe contra.

Rick Carter, um dos vencedores de design de produção/direção de arte por Lincoln

Daniel Day-Lewis e seu terceiro Oscar de Melhor Ator
Já que citei Anna Karenina aproveito para falar do prêmio que o filme levou, um merecido Oscar de figurino. Vencedor do sindicato concorria com outro vencedor do Sindicato (que se divide sempre entre fantasia, histórico e contemporâneo) a falecida Eiko Ishioka por Espelho, Espelho Meu. Teria sido uma chance homenagear Ishioka, mas seu trabalho apesar de muito criativo no filme (que é uma bomba sejamos sinceros), perdeu para a elegância clássica dos figurinos criados por Jacqueline Durran.

Falando em mulheres do Oscar, já passemos à outra surpresa do prêmio (injusta): a premiação de animação. Valente foi o escolhido em detrimento a dois trabalhos mais redondos e um potencial favorito: Detona Ralph e ParaNorman (o meu favorito) e o possível vencedor, Frankenweenie de Tim Burton. A opção pela história "fofinha" de Valente foi uma saída obvia: é da Pixar então leva.

Jacqueline Durran, vencedora de Melhor Figurino por Anna Karenina

Mark Andrews (de kilt, olha só) e Brenda Chapman, vencedor de longa de animação com Valente.
Se Lincoln foi um dos "perdedores", A Hora mais Escura foi ainda pior. Polêmico demais para ser enquadrado como filme de Oscar, a produção de Kathryn Bigelow foi indicado a cinco prêmios, levando apenas um e ainda assim, num insólito empate em categorias técnica. A equipe de edição de som levou o único prêmio da noite para o time de Bigelow ao empatar com o time de 007: Operação Skyfall.

Esse foi o primeiro de dois prêmios para Skyfall. Como esperado - e muito merecido - Adele e Paul Epworth levaram o prêmio de melhor canção, com a bela Skyfall, um dos grandes temas da história do agente secreto, nesse que foi o primeiro tema de Bond a ganhar um Oscar. Um dos prêmios que tinha apostado (mesmo imaginando que não levaria) que Skyfall poderia levar também era o de fotografia, graças ao trabalho deslumbrante de Roger Deakins, esse eterno injustiçado. Sobrou para o igualmente ótimo dublê de Thor/Lúcio Malfoy/Edin do Jaspion, Claudio Miranda, responsável pela magia de Aventuras de Pi.

Paul N.J. Ottoson, vencedor de edição de Som por Hora mais Escura

Per Hellberg e Karen M. Baker vencedores de edição de Som por 007: Operação Skyfall

Paul Epworth, Adele (ai, ai) vencedores na categoria Melhor Canção e Richard Gere, um dos apresentadores do prêmio.
Aventuras de Pi que chegou a festa com onze indicações e saiu-se como o "grande vencedor" da noite. Somada a estatueta de Miranda para fotografia, levou ainda efeitos visuais, trilha sonora e direção

O prêmio de efeitos visuais causou polêmica, já que a empresa da equipe responsável pelos efeitos visuais do filme teve de encerrar as atividades, e um discurso político foi iniciado na premiação. Mais tarde Ang Lee deu declarações infelizes a respeito da questão do preço dos efeitos visuais no mercado e como isso pode ter influenciado no fechamento da empresa. Já o prêmio de trilha sonora para Michael Danna é bastante justo. Dentre os indicados, ao lado de Thomas Newman por Skyfall eram - pra mim - as mais corretas.

E chegamos ao prêmio de direção, que foi surpreendente embora possa ser "explicado". Vamos lá: Lincoln começou a disputa como favorito, mas no decorrer da corrida foi perdendo força, perdendo tudo para Argo, incluindo o prêmio do sindicato dos diretores. Como vocês sabem Ben Affleck não estava entre os indicados, deixando - em teoria - o caminho livre para Spielberg. Mas, como explicar a vitória de Spielberg como diretor e de Argo como filme com uma resposta diferente de: "erramos pessoal, esqueçam o prêmio de direção, que foi só de consolação". Por isso, Ang Lee corria por fora, num filme gracioso, fácil de gostar e que é tecnicamente absurdo. Por isso, o taiwanes levou seu segundo prêmio, novamente quando seu filme não venceu o Oscar. Embora daquela vez tenha sido o vencedor merecido e aqui leve por uma questão política.

Os Vingadores reúnidos. Homem de Ferro, Gavião Arqueiro, Nick Fury, Hulk e Capitão América. Ao centro Thor, ou melhor Cláudio Miranda, vencedor de melhor fotografia por Aventuras de Pi

O time de efeito visuais de Aventuras de Pi, vencedores na categoria.  Bill WestenhoferGuillaume RocheronErik De Boer e Donald Elliott

Michael Danna, vencedor de melhor trilha sonora por Aventuras de Pi

Ang Lee, melhor diretor por Aventuras de Pi
Politicagem que explica (as pedras vão rolar agora) a quantidade de indicações a Os Miseráveis. Foram oito, levando para casa três: maquiagem, atriz coadjuvante e mixagem de som. Maquiagem por pura falta de concorrentes, num dos piores (senão o pior) ano da categoria no Oscar. Mixagem por reconhecimento a dificuldade de fazer o público compreender aquele mundaréu de gente cantando, gritando, chorando, rindo e ainda sem contar com as bombas, tiros e a orquestra. 

E por fim, Anne Hathaway. Acho Hathaway uma tremenda atriz, das mais versáteis no mercado. Capaz de se afundar na depressão em Casamento de Rachel (quando poderia ter levado um careca), de rir de si mesma e ficar nua (para minha alegria) em Amor e Outras Drogas e de cantar como em Miseráveis. Que se leve em consideração que seu tempo de tela é praticamente risível (embora Judi Dench tenha vencido em Shakespeare Apaixonado por menos tempo ainda) ela cortou o cabelo, perdeu peso e cantou "I Dreamed a Dream", canção símbolo do musical e reconhecida em quase todos os lugares do mundo, graças a Susan Boyle. Portanto, tinha a cara do Oscar. Amy Adams merecia mais? Talvez, mas o dia em que a academia der um Oscar para uma atriz que simula uma masturbação em um filme, choverá canivete.

Lisa Westcott e Julie Darnell, vencedoras de melhor maquiagem por Os Miseráveis

O time da mixagem de som de Os Miseráveis vencedores do prêmio: Andy Nelson, Mark Paterson e Simon Hayes

Anne Hathaway beijando seu Careca de atriz coadjuvante
O Oscar premiou Searching for Sugar Man como documentário - o que era previsível - diante da quantidade de prêmios que ele vem levando mundo afora. Entre os curtas-metragem (que como sabem não apostei) Inocente - documentário - e Curfew - entre os de ficção - foram premiados. A Disney fez dobradinha entre as animações levando também o prêmio de curta, pelo lindo Paperman, que foi exibido nos cinemas junto a Detona Ralph.

Amor levou o prêmio que dele se esperava, o de filme estrangeiro. Dessa vez Michael Haneke não foi surpreendido por outro filme sul-americano como aconteceu quando A Fita Branca perdeu para Segredo de seus Olhos. Não é nenhum segredo (perdoem-me pelo trocadilho) que Amor é meu filme favorito dentre os nove indicados ao prêmio e que votaria nele, tanto para filme, como direção, atriz e roteiro original. Mas na lógica da Academia, Amor se contentou com aquilo que lhe foi oferecido. Um lugarzinho na festa, um clipe entre os indicados e o prêmio do melhor "dos outros".

Vencedores por melhor documentário com Searching for Sugar Man,  Malik Bendjelloul e Simon Chinn

Vencedores de melhor curta-metragem documental por Inocente,  Sean Fine e Andrea Nix

O vencedor na categoria melhor curta-metragem de ficção por Curfew, Shawn  Christensen

O vencedor na categoria de melhor curta-metragem de animação por Paperman, John Kahrs, com os apresentadores da categoria Paul Rudd e Melissa McCarthy

Michael Haneke recebendo seu prêmio como melhor filme em língua estrangeira, por Amor
O Lado Bom da Vida que chegou ao prêmio com oito - exageradas - indicações, saiu da festa apenas com o reconhecimento de Jennifer Lawrence como melhor atriz. Que pese o fato de Emmanuelle Riva "chutar bundas" em Amor, Jennifer é magnética e digo isso não apenas por sua beleza. Fora das câmeras parece sempre estar de bem com a vida ou não levando a sério essa "coisa de ser atriz", e seu trabalho em Lado Bom da Vida, se não é a melhor coisa do mundo, é muito bom. Ela é jovem, bonita, talentosa e agora oscarizada. Quem pode com ela?

Outras duas surpresas da noite vieram para os dois prêmios de Djangooooooo (perdoem os "o" excessivos, mas é inevitável). Das cinco indicações, levou duas, o que dá um cociente de aproveitamento maior do que todos os outros indicados a melhor filme (informação inútil, eu sei). A vitória de Quentin Tarantino por melhor roteiro original foi surpreendente e - mesmo com um roteiro que não é seu melhor na minha interpretação - vale como delírio cinéfilo. Venceu Hora mais Escura, que mesmo sendo favorito, não ganhou minha aposta, exatamente pela campanha negativa por trás do filme. Imaginei que Amor pudesse levar também, mas a força da figura de Tarantino parece ter prevalecido diante dos maneirismos de Moonrise Kingdom, a frieza de Amor, os problemas de resolução de O Voo e a já citada polêmica de Hora mais Escura. Spike Lee não deve ter gostado.

Christoph Waltz - o maior poliglota do planeta - levou seu segundo prêmio de ator coadjuvante, em sua segunda indicação, em seu segundo filme de Tarantino fazendo praticamente o avô do personagem que lhe rendeu seu primeiro Oscar. Piadas a parte, dos cinco indicados apenas Alan Arkin (apesar de divertido), me pareceria uma escolha "estranha". Se Tommy Lee esbanja verborragia em Lincoln, DeNiro está desfilando emoção em Lado Bom da Vida e Philip Seymour Hoffman (minha escolha) é um absurdo em O Mestre. No fim prevaleceu Waltz, que espero que se acerte com mais frequência fora da alça de Tarantino.

J. Law e seu careca de melhor atriz

Tarantino e seu prêmio de roteiro original

Christoph Waltz (ao lado de Octavia Spencer) vencedor como ator coadjuvante
E chegamos a Argo, o vencedor de três das sete indicações. A vitória em montagem para William Goldenberg é mais do que justa, já que sem ela o filme simplesmente não funcionaria. Apesar de óbvia, afinal é um thriller, ela cumpre o que dela se espera, mantém o espectador preso e ansioso pela conclusão dos fatos apresentados. Já o prêmio de roteiro adaptado foi o que indicou o caminho que a Academia iria seguir. Concorrendo diretamente com Lincoln, o roteiro de Chris Terrio foi escolhido e de todos os apresentados, me parece o mais certinho, ideal para a Academia. Não tem os excessos verborrágicos de Lincoln, os simbolismos de Indomável Sonhadora, as metáforas religiosas de Pi e melodrama por melodrama, apostou-se na história de Argo em detrimento a família disfuncional de Lado Bom da Vida. 

É o mesmo raciocínio que faço em relação ao prêmio de Melhor Filme. Argo é o melhor dos nove indicados? Jamais. Mais é o ideal para sair-se vitorioso de uma festa da Academia que sempre opta pelo filme do consenso e da obviedade, o que não significa reducionismo, mas apenas simplicidade. Analisemos os indicados: Amor é frio e doloroso demais para o Oscar, Django Livre é violento e ainda contou com a polêmica da "the N word", polêmica que vitimou o político e ousado Hora mais Escura enquanto o hermetismo de Indomável Sonhadora jamais seria vitorioso. Sobram cinco indicados: Pi, Lincoln, Miseráveis, Argo e Lado Bom da Vida.

Pi é simbólico, cheio de momentos sublimes e singelos, mas em resumo - e por mais que adore o filme - é a história de um garoto e um tigre de CG no mar. Já O Lado Bom da Vida é um filme de atores e por mais que os Weinstein tenham força contavam com filmes com componentes (leia-se a exaltação de figuras ou ideias patrióticos) mais poderosos do que eles mesmos. Miseráveis é um musical, e desde 2002 nenhum deles leva, além de terem sido muito poucos os que levaram o prêmio. Isso sem considerar os critérios de avaliação cinematográfica, como os erros de Tom Hooper na direção, sua escolha equivocada de Russel Crowe e seu roteiro que esmagou boa parte da história. 

William Goldenberg, vencedor de melhor montagem por Argo

Chris Terrio, vencedor de melhor roteiro adaptado por Argo
Lincoln ou Argo? Dois meses atrás Lincoln seria o vitorioso, e isso estava claro (pra mim) desde o momento em que terminei de vê-lo. O filme "cheira" a Oscar em cada fotograma, com sua história séria, sobre um evento político importante com um grande nome por trás e outro diante das câmeras. Os motivos para sua derrota ainda parecem misteriosos agora. Talvez, um dia, alguém consiga explicar os motivos exatos para sua súbita derrocada. Uns dizem que a Academia não gosta de Spielberg (e de fato ele perdeu muito mais do que ganhou), mas como explicar sua derrota em todos os outros prêmios importantes, ou na maioria deles? Talvez sejam as incorreções históricas que muitos vêm levantando nas ultimas semanas. Mas e Argo, não tem incorreções históricas? O personagem de Alan Arkin, por exemplo, não existiu na vida real.

Na minha infinita mediocridade, não consigo explicar os motivos que fizeram a Academia optar pela vitória da CIA diante da biografia de seu presidente mais famoso. De fato, pareceu um mea-culpa, algo como: "todos estão premiando, fica chato não premiar". Como sabemos a política é fundamental em Hollywood e no Oscar mais ainda. E esse ano isso ficou ainda mais claro: divisão de prêmios, escolhas estranhas entre os indicados, boicotes ao pessoal dos efeitos visuais, e até primeira dama entregando Oscar. No fim, ganhou Argo e o mundo não mudou. Por quê? Não sei exatamente, mas talvez sejam as barbas.

Grant Heslov, Ben Affleck e George Clooney. Produtores de Argo, o vencedor de melhor filme e donos de barbas de respeito.
PS: no meu bolão pessoal acertei dezesseis das vinte e uma apostas. Não ganharia nem um parabéns se tivesse valendo dinheiro.


Oscar 2013: aquele das barbas, dos cabelos e do apresentador meia-boca. Parte 1 - A Festa



Já começo com um título polêmico esse texto que não pretende ser uma análise puramente técnica da festa e dos premiados do Oscar, mas observações sobre o tema e sobre a festa em si. Não tenho a menor intenção de ser o dono da verdade e, portanto, caso discordem do mesmo, comentem com educação (aqui tem moderação de comentários hehehe).

Divido esse texto em duas partes, na esperança de não ficar longo, nesse primeiro faço os comentários "moleques" e divertidos sobre a festa e no seguinte, falo sobre os prêmios.

Vamos começar com Seth MacFarlane, o sujeito em que todos nós despejamos nossas esperanças de que pudéssemos ter um ar de novidade e de diversão na festa. De fato, podemos dizer que seu monólogo inicial apesar de brutalmente longo até tentou ser diferente. Começou complicado, apesar de logo na primeira piada ter conseguido tirar um sorriso de Tommy Lee Jones, o que sabemos ser mais difícil do que escalar o Everest. Mas depois o monólogo seguiu engessado (palavra que será muito usada no texto, aguardem) até a aparição de William Shatner.

MacFarlane tentando...

Capitão Kirk prevendo o desfecho da noite
Em plena era nerd, a presença do eterno (e nunca desvinculado ao papel) Capitão James Tiberius Kirk no palco foi uma ótima sacada. O problema é que o texto parecia arrastado e logo poderíamos adivinhar como aquele segmento se desenvolveria. A ideia de Kirk em prever o futuro de fato funcionou, como a festa nos provou. Se MacFarlane não foi o pior host da história do Oscar, também não passou do comum.

Mesmo assim, sejamos justos, uma musica grosseira no melhor estilo Family Guy caiu bem e talvez indicasse uma ousadia à festa, que infelizmente parou ali. Ao lado do coro dos "Homens Gays de Los Angeles", MacFarlane cantou de forma ácida sobre as atrizes que já haviam mostrado os seios em filmes, com especial atenção a sempre nua Kate Winslet. De fato, foi uma bem vinda anarquia ao formato quadrado da festa do Oscar. As expressões de raiva ou indignação das atrizes presentes à festa foram combinadas, afinal isso é Hollywood. Ou você acha que uma apresentação dessas não seria vista, revista, mudada e acertada um milhão de vezes antes de acontecer?

MacFarlane então em seu habitat natural cantou com sua voz de crooner temas clássicos de musicais para dar um ar de glamour e classicismo à premiação. "The Way you Look Tonight" de 1936, originalmente na voz de Fred Astaire e coverizada ad infinitum ao passar dos anos. Ao lado dele, Channing Tatum e Charlize Theron dançaram. Depois ainda tivemos MacFarlane ao lado de Daniel Radcliffe e Joseph Gordon-Levitt cantando "High Hopes", famosa na voz de Frank Sinatra.

"We Saw your Boobs"

"The Way You Look Tonight"

"High Hopes"
Ainda deu tempo de MacFarlane apresentar sua versão com fantoches de meia para O Voo (que funcionou bem) e tentar criar um número divertido com Sally Field. A ideia de surgir como a Noviça Voadora (primeiro papel de destaque da atriz) foi divertida, mas o restante do número simplesmente não funcionou; o timing estava errado, as punch lines não deram certo e o final - ao melhor estilo Family Guy - funcionariam melhor na TV e com animação. Ainda assassinou "Be Our Guest" de Bela e a Fera, na tentativa de ser engraçado substituindo pedaços da canção por piadinhas com os indicados, no melhor/pior estilo Billy Cristal.

O Voo da meia

A Noviça e a Primeira Dama
Depois de diversos prêmios (mais sobre isso no outro texto) chegamos à primeira homenagem da noite. Para mim, o ponto alto da premiação. Depois de ignorar por 50 anos a franquia mais lucrativa da historia do cinema, a Academia finalmente rendeu uma justa homenagem a James Bond. Tá certo que para host escolheram Halle Berry, uma das piores bond-girls da história, e que o ideal mesmo seria termos todos os agentes ali no palco, levando aquela boa e velha salva de palmas, mas ver Shirley Bassey cantar ao vivo Goldfinger foi verdadeiramente histórico.

A festa seguiu com mais música, dessa vez num despropositado momento - homenagem aos musicais lançados nos últimos dez anos. Pergunto-me por quê? Com todo respeito ao gênero, mas Dreamgirls merecia mesmo um momento na festa? Que pese a excelente forma de Catherine Zeta-Jones (que mulher maravilhosa) e seu desempenho, o fato de Jennifer Hudson estar lá (porque é uma estrela, talvez?) falando de Dreamgirls, um musical que não levou um Oscar na categoria de canção ou de trilha? E outra, por que relembrar Chicago, um filme que tem dez anos? Só porque foi produzido pelos produtores do Oscar? 

E por fim o mico máximo: a apresentação exagerada e muito over de Miseráveis, que começou com a candidata ao Oscar de Canção "Suddenly" e se transformou em "One More Day". Deve ser maravilhoso acompanhá-la no palco com cantores/atores preparados para isso, com uma produção cênica menos cafona e que pareceu comprimir todo mundo em um fusquinha. Mas ver Russel Crowe desafinando ao vivo foi de doer. Que levemos em consideração o momento e os trajes - nada adequados - o elenco é de bons cantores, mas a forma como aquilo foi montado não funcionou. Pareceu de última hora, mal ensaiado.

Shirley Bassey chutando bundas

Zeta-Jones... ai ai

Jennifer Hudson, a intrusa

Os Miseráveis... todos apertados
MacFarlane teve um momentozinho de "glória" quando Wahlberg e o ursinho virtual Ted entregaram o surpreendente empate na categoria de Edição de Som (apenas o sexto empate na história do Oscar). No geral - aproveitando o ensejo - os pequenos monólogos de apresentação dos indicados foram igualmente sem inspiração. Às vezes longos demais, as piadas demoravam a funcionar e quando aconteciam, simplesmente não tinham graça, como a péssima envolvendo Paul Rudd e Melissa McCarthy, ou a fraquíssima que introduziu Christopher Plummer. Parecia uma cena "random" saída de Family Guy, que ali não deu certo.

Por fim, Adele brilhando muito, cantou Skyfall - de longe a melhor música indicada - e fez o que dela se espera: deu show. Norah Jones encolhida ali antes do anúncio das canções defendeu a canção de Ted - escrita por MacFarlane. Aliás, vale uma observação pertinente. O sujeito que criou essa ideia de apresentar duas (e meia) das canções indicadas ao vivo, relegando as outras duas a um vídeo merece ser demitido por justa-causa. Além de uma completa falta de educação para com os demais indicados, demonstra que sim - de fato - as canções só voltaram porque tínhamos estrelas defendo-as. E se esse foi o pensamento, onde estava Scarlett Johansson, que canta a canção do musical Chasing Ice? Ou se apresentam todas ou não se apresenta nenhuma. Barbra Streisand homenageou o falecido Marvin Hamlish durante o In Memoriam, cantando "The Way You Are" do filme Nosso Amor de Ontem, estrelada pela própria ao lado de Robert Redford em 1973. Canção defendida e vencedora do Oscar.

O melhor momento de MacFarlane na noite

Adele, sendo linda

Norah Jones, sendo linda (2)

Tia Barbra, sendo elegante :p
Por fim, colocar uma apresentação depois que o prêmio de Melhor Filme foi entregue foi outra ideia de "gênio". Depois de três horas e meia de uma festa sonolenta, para que encerrar a festa com uma canção que parecia saída de uma festinha escolar? Desnecessário. Vale lembrar ainda que a contínua ideia de tirar os prêmios especiais da festa, continua me parecendo muita falta de respeito, embora possa até compreender pelas questões óbvias de tempo e etc.

A 85ª festa do Oscar foi tediosa como há tempos não via (e olha que as festas do Oscar são em geral assim). Mesmo com a "tensão" causada pela falta de um favorito e surpresas aqui e ali, a festa em si, o show, precisa ser modificado com urgência. Essa coisa de orquestra e host engraçadinho engessam a apresentação. Existe a necessidade de um monólogo de abertura tão longo? Precisa mesmo ser apresentado por um humorista? O formato precisa ser repensado e atualizado para o melhor do que a TV pode fazer no século XXI. E quanto a MacFarlane, foi burocrático, óbvio e errou mais do que acertou. Pelo seu histórico, podia se prever algo bem mais criativo. Preso num formato que está fazendo hora extra, ele tentou apimentar aqui e ali e não deu certo. Que isso melhore ano que vem, pois a cada ano acompanhar a festa está se tornando cada vez mais uma questão 100% profissional para mim.