quinta-feira, 25 de julho de 2013

Wolverine: Imortal

Wolverine: Imortal
(The Wolverine, 2013)
Ação/Aventura - 126 min.

Direção: James Mangold
Roteiro: Mark Bomback e Scott Frank

com: Hugh Jackman, Rila Fukushima, Tao Okamoto, Hiroyuki Sanada, Svetlana Khodchenkova, Will Yun Lee, Ken Yamamura, Hal Yamanouchi, Famke Janssen

Vamos esquecer que um dia X-Men Origens: Wolverine viu a luz do dia. Vamos considerar que após o mediano (sendo gentil) X-Men 3, Wolverine ganhe sua primeira aventura solo aqui. Por quê? Porque diferente do péssimo Origens, esse é de fato um filme sobre Wolverine e não mais um desfile de mutantes pela tela. Fora o Carcaju, pouquíssimos mutantes cruzam a tela, podendo ser agrupados em uma mão sem grandes dificuldades matemáticas. Isso faz do filme excelente? Não, mas faz da produção divertida e redondinha e principalmente, focada em seu protagonista.

Os primeiros momentos do filme se passam na Segunda Guerra Mundial, quando um Wolverine prisioneiro (e ainda sem adamantium) é salvo - na cabeça do salvador - morte certa após os americanos lançarem uma das bombas atômicas em solo oriental. Yashida, o soldado que o salvou, se impressiona com o fato de na verdade Wolverine acabar o salvando, e por consequência revelar sua natureza mutante, quando o impacto da explosão alcança o local onde ambos estão escondidos.

O filme então avança no tempo até - ao que parece - alguns poucos anos depois da terceira aventura mutante. Logan é um ermitão que vive escondido nas montanhas canadenses, absolutamente largado para a vida e obcecado pela morte de Jean Grey, sendo "visitado" por ela durante os sonhos. Quando um Wolverine barbudo e cabeludo se envolve numa confusão com caçadores, toma conhecimento de que o japonês que tentou salvá-lo está à beira da morte e deseja vê-lo antes de partir dessa para uma melhor (ou não). Escoltado pela misteriosa Yukio é convencido a visitar Yoshida, agora um sujeito podre de rico e que oferece ao nosso mutante nervosinho a chance de deixar de ter seu fator de cura, o que o torna praticamente imortal (dai o título nacional, entenderam?).


Claro que a coisa não é tão fácil assim e uma vez no Japão, Logan se envolve com a neta do milionário, Mariko e acaba perseguido pela máfia japonesa e por uma serie de ninjas estranhos, todos em busca da garota protegida pelo nosso herói.

James Mangold dirige o filme que tem como grande mérito ser sobre Wolverine e levar o personagem razoavelmente a sério, como nos quadrinhos. Quem conhece minimamente o personagem sabe que ele é - de longe - um dos mais complexos e "adultos" personagens da Marvel e em seu filme solo anterior foi tratado muito mal. Ainda que não se aprofunde muito, o filme pelo menos acerta no tom do que quer mostrar. Ajuda muito o fato da historia acontecer no Japão, um país marcado pelos contrastes entre a última novidade e o apego a milenar tradição. Para um personagem como Wolverine, um sujeito velhíssimo e que vive confuso em meio à contemporaneidade, não existe lugar melhor para que se debata sua "imortalidade".

Meu conhecimento sobre as aventuras de Logan no Japão é limitado mas, em uma rápida pesquisa dá pra notar que muita coisa foi mudada em relação às hq's, especialmente em relação aos personagens de Yukio(interpretada por Rila Fukushima) e de Harada (interpretado por Will Yun Lee), além da identidade do grande vilão da trama. Se os fãs vão reclamar pelas mudanças não sei, mas o filme é bem construído em uma típica (e boa) aventura de ação até quase o seu final, praticamente deixando de lado as sequências de ação irreais (embora, seja impossível não dizer que, curiosamente, a mais eficiente delas, envolva uma perseguição em um trem e seja - de longe - a mais absurda). O filme só derrapa quando tenta resolver sua trama e parece esquecer da simplicidade e do clima Musashi/Zatoichi/Lobo Solitário e apelar para brigas megalomaníacas.


Hugh Jackman continua bem à vontade no papel, embora nunca tenha precisado ir verdadeiramente fundo na psique perturbado de Logan. As aparições - até excessivas - de Famke Janssen podem incomodar em primeiro instante, pois parecem uma muleta narrativa bastante pobre. Em vez de mostrar tensão, prefere-se colocar uma personagem que avisa Wolverine (e o publico) do perigo próximo. Porém, com o decorrer da historia, fica claro que sua função é maior e está relacionada à redenção de Logan. O elenco de coadjuvantes é surpreendentemente bom, levando-se em conta que apenas Hiroyuki Sanada (de Twilight Samurai e Ultimo Samurai) tem experiência anterior. Tanto Rila Fukushima, como Yukio e principalmente Tao Okamoto que vive Mariko funcionam muito bem e dão credibilidade a trama. Okamoto por sinal, é responsável por comprarmos um romance entre Wolverine e sua personagem de forma sutil e bastante delicada.

Por outro lado, apesar de Will Yun Lee/Harada estar bem, seu personagem assim como a geneticista mutante Viper (Svetlana Khodchenkova)  sofrem de mudanças súbitas de opinião e lealdade, já que hora "jogam para os mocinhos" e hora para os vilões, o que atrapalha ainda mais o problemático ato final.

Felizmente muito superior ao horrível Origens, James Mangold quase cumpriu a risca o que prometera em uma serie de entrevistas: que faria um filme pé no chão com cara de Western e filme de samurai. Até quase o final, o filme realmente adotava essas características. Pena que justamente nos derradeiros momentos, exista uma concessão desnecessária aos clichês. Mas, felizmente nada que fala a aventura do Carcaju ser menos divertida. Que o próximo filme do mutante acerte na mosca.

Obs: não saia da sala antes de ver a cena pós-créditos do filme. Além de nostálgica e muito bem realizada, aponta caminhos para a sequência da vida de Wolverine no cinema

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Homem de Aço

O Homem de Aço
(The Man of Steel, 2013)
Ação/Aventura - 143 min.

Direção: Zack Snyder
Roteiro: David S. Goyer

com: Henry Cavill, Michael Shannon, Amy Adams, Russel Crowe, Kevin Costner, Diane Lane, Laurence Fishburne

Esse não é um filme do Superman. Esse é um filme sobre um "Deus em treinamento". Um sujeito absolutamente perdido sobre suas origens, seu papel na sociedade e como lidar com seu inesgotável poder. É sim, uma interpretação ousada e até radical para o personagem. É sim, alvo fácil para críticas. É sim, muito questionável. Mas, para mim, uma visão diferente daquela que Richard Donner - por exemplo - criou em 1978 (que cristalizou uma imagem "clássica" do personagem nos cinemas) é válida. Se convivemos com as ideias de Tim Burton e Christopher Nolan para o Batman (e sim, menos ousadas mais completamente diferentes em estilo, abordagem do personagem e ambientes que o cercam), acho que a ideia de Snyder e Nolan (olha ele aí de novo) merece sim ser analisada por esse viés: uma nova interpretação para o herói.

Vindo de um fracasso - e que curiosamente era bastante fiel ao classicismo de Donner no Superman original - com Superman Returns, o mote da produção pareceu ser: "um herói mais agressivo, para um mundo mais cínico" ou algo assim. De fato, o Superman de Snyder é muito menos escoteiro do que qualquer outra encarnação do personagem até aqui. De fato, existe esse sentimento de rompimento com o que foi estabelecido no cinema, incluindo aí uma nova história de origem e a retirada de elementos importantes da franquia, como o tema de John Williams, o cachinho símbolo do Superman de Reeves e a alteração no uniforme que segue o padrão dos quadrinhos atuais do personagem.

Isso faz do filme ruim? Não, mas é uma interpretação radical do material fonte e como todo radicalismo sobram espinhos, farpas e alguns problemas que poderiam ter sido corrigidos, mas que são compensados com um espetáculo visual que consegue dar escopo e "realismo" a uma batalha de Deuses. É primeira vez que uma produção do Superman consegue dar impacto visual a magnitude do poder do personagem. Em seus confrontos, o que vemos é um embate grosseiro, onde nada (nem ninguém) consegue se manter intacto diante da força bruta destes combatentes. Vemos o Super rasgar o solo com suas quedas, formando crateras, o solo tremer ao alçar voo, vemos o personagem quebrar a barreira do som com enorme facilidade e o impacto da destruição causada por Deuses entre homens.



A produção não é nada sutil com essas referências divinas, colocando-o Super como uma espécie de Messias, que vem do espaço (céu?), para guiar os homens a um estado de excelência. Em uma determinada cena, vemos o personagem em uma igreja confessando-se a um padre com a imagem de Cristo ao fundo. Em outra sequência, descobrimos sua idade quando os eventos cataclismos em Metropolis começam a acontecer. São elementos que chancelam a ideia de que não estamos vendo um filme de super-herói, mas de uma divindade.

E tudo começa na Krypton apresentada pelo filme. Uma gigantesca metrópole que mistura elementos tecnológicos e biológicos, com amplos cenários escavados em cavernas. Jor-El e sua esposa Faora estão infringindo a lei ao terem um filho de forma natural em vez de seguirem a tradição da clonagem, que geneticamente escolhe a casta a que cada novo kryptoniano deve pertencer. Ao mesmo tempo, o cientista sofre com a desconfiança de seus superiores, já que prevê o fim do planeta. Em Krypton, Jor-El é mais do que apenas um homem da ciência e isso fica claro em seu confronto com Zod, que aqui é um sujeito do sistema, que ao mesmo tempo em que defende as castas é inflexível com os governantes do planeta. Minha impressão é que estamos acompanhando apenas o climax de uma discussão que existia há muitos anos e por isso as informações ficam pouco claras nesse início. O que é o codex? Por que Zod odeia tanto os líderes de seu planeta? Qual sua relação com Jor-El? O incessante sol vermelho e poente de Krypton é muito bonito e funciona como exemplo (nada sutil) da aurora de uma civilização e as muitas bestas voadoras me lembraram demais John Carter e Avatar.

Jor-El é também um homem de ação. É o bastião moral e que durante a trama (das formas mais variadas) serve como conselheiro de Kal/Clark sobre suas origens e suas "obrigações" para com o mundo que o abriga. Russel Crowe não compromete, mas também não consegue ir muito além. Quem rouba a cena é o pai "humano", Jonathan Kent, que tem Kevin Costner como interprete. Em pouco tempo de tela, Costner consegue criar um sujeito crível e responsável por dar as bases emocionais ao garoto que sofre com a dificuldade para compreender sua força e seu lugar no mundo.



Michael Shannon como Zod é daqueles vilões que ganham credibilidade e peso no decorrer da trama. Se so surgir parece mais um déspota de quadrinhos banal, vai ganhando tridimensionalidade quando conhecemos suas origens e sua falta de perspectiva quanto a um futuro diferente daquele que ele luta para atingir. Shannon é um ator muito intenso e essa intensidade ajuda a criar o paralelo entre o bom kryptoniano e kryptoniano ruim, já que Cavill interpreta Clark como um homem absolutamente perdido quanto a quem é e ao que fazer. Não fica muito claro quando sua peregrinação pelo mundo começou, mas durante a projeção acompanhamos muitas das paradas de um homem em busca de um sentido para sua vida.

Cavill faz de seu Clark/Kal esse poço de dúvidas, inexperiente e sem muita noção do tamanho de seu poder e de sua responsabilidade. Como disse no início do texto, o Superman de Zack Snyder é muito mais um Deus do que um super-herói, e as referências claras e (novamente) nada sutis a sua similaridade com a figura de Cristo acumulam-se. De discursos tanto de Jor-El quanto de Jonathan Kent, passando por sua idade, sua peregrinação e o fato de em determinado momento da trama ele chegar a pedir conselhos a um padre, diz muito sobre como a produção enxergou seu protagonista.

Isso também avaliza e legitima o terceiro ato (tão criticado por ai). Não estamos falando de uma divindade plenamente consciente de sua força, mas levada a um confronto tão extremo que suas travas morais - que já havia sido demonstrada em diversos outros momentos - acabam em segundo plano diante da força que aquelas duas figuras demonstram ao se encontrarem. Claro, que o rastro de destruição visto durante toda a trama é obsceno. Claro, que essa representação é extrema. Mas, Clark - apesar de sua idade - é um sujeito imaturo e despreparado para a consequência de seus atos.



Outra correção de rota muito interessante acontece com Lois Lane, sempre apresentada como uma repórter extremamente competente mas que nunca percebia coisas que estavam na sua frente. O filme aqui dá a personagem um reflexo visual que faz jus a toda a fama de excepcional repórter, corrigindo um erro crasso na origem da personagem (quase dei um spoiler). A mãe de Kent, Martha, vivida aqui por Diane Lane, também está bem. Diane, musa de uma geração, envelheceu muito bem e dá um ar de seriedade e calor humano que faz dela uma mãe perfeita para o personagem, um alienígena em busca de seu lugar. Percebe-se que diferente do que acontecia com o pai, em Martha, Clark encontra segurança emocional.

Zack Snyder aqui parece estar mais equilibrado. A estética de seus filmes sempre foi seu forte. Gostando-se ou não de Sucker Punch (eu não gosto), é possível enxergar um cuidado visual ali. Mesmo com exageros, problemas de roteiro, Snyder sempre teve assinatura e características muito marcantes em seu trabalho. Que pese o uso excessivo de slow motion transformado em piada pela quantidade industrial encontrada em seus trabalhos, Snyder sempre foi competente na hora de criar seus mundos. Excetuando-se Madrugada dos Mortos, em 300, Watchmen, Sucker Punch e até mesmo a animação Lenda dos Guardiões, tem momentos visuais impecáveis. 300 e seu cuidado em imitar com riqueza de detalhes os traços dos quadrinhos de Frank Miller, Watchmen e sua abertura (uma das melhores da historia recente do cinema), Sucker Punch e a criatividade dos mundos concebidos pelo diretor e toda a direção de arte e o design das corujas na animação, são exemplos dessa competência. Porém, Madrugada dos Mortos continua sendo seu melhor filme. Por quê? Pois, aliado a sua qualidade estética, existe uma boa historia por trás e que jamais se rende ao visual. O cuidado estético de Snyder está a serviço da historia a ser contada e não o contrário. Sim, em 300 Snyder estiliza-se ao máximo para conseguir chegar próximo do que os quadrinhos apresentavam, mas peca por esses excessos, criando sequências que apesar de visualmente serem impecáveis, não contribuem para o andamento da historia.

Homem de Aço é Snyder achando um equilíbrio. Continuamos a ver seu olhar na tela, com as grandiloquentes sequências, o impacto visual e sonoro da presença de deuses entre nós, mas com novidades e novas influencias. Em todos os flashbacks de Clark, impera a simplicidade, nos mostrando uma infância e um crescimento do personagem de maneira quase bucólica, como os trailers já nos haviam preparado. Snyder continua sim com seus cacoetes visuais e embora tenha lido muita gente reclamando da forma como suas batalhas vão sendo mostradas e comparando-o com Michael Bay, noto uma diferença brutal na forma de conduzir as situações. Snyder está preso ao tema do filme, e por isso me parece bastante natural que a intensidade e a forma como tais sequências sejam vistas na produção. Exageradas, ruidosas, praticamente invisíveis a olho nu e com um rastro de destruição enorme. Embora, reconheça que a grandiosidade pague o preço do excesso, já que a destruição depois de alguns minutos começa a cair na redundância. Mas isso seria tirar de Snyder suas pernas. Grandiosidade sempre foi marcante em todas as suas obras, sejam elas positivas ou negativas.



A dobradinha David Goyer e Christopher Nolan (responsáveis pelos novos filmes do Batman) se faz presente na tentativa de transformar tudo em "pé no chão" e de amarrar tudo, o que me causou problemas, especialmente na importância com que a simples repórter Lois Lane ganha no decorrer da trama e na utilização do tal Codex que vemos em Krypton. Essa "nolanização" de muita coisa no cinema (especialmente em filmes de heróis e ficção cientifica), onde tudo precisa ser "forensicamente" correto, com tratados de perfeição tende ao fracasso, já que o material fonte e os personagens em geral nunca se preocuparam com tais questões. A própria abordagem dada aqui ao Superman comprova isso. Existem diversas questões propostas pelo filme, mas que basicamente podem ser aglutinadas em: como um alienígenas se comportaria diante de um planeta que lhe dá capacidades físicas e mentais muito mais altas do que a dos residentes? Ele seria bom? Ele seria mal? Ou ele tentaria de toda forma se esconder?

A opção mais racional, me parece ser a última, já que nos mundos de Nolan o bem e o mal - apesar de serem bem diferenciados - estão recobertos de cinzas e precisam de tempo para ser identificados claramente. Ao optar por sua jornada de auto-conhecimento Clark/Kal está apenas adiando o inevitável e sendo muito humano e "realista". Seria ingênuo demais pensar que ele facilmente assumiria seu fardo como essa manifestação de deidade na Terra. Isso é influencia de Nolan, e para o bem ou para o mal vem sendo utilizada com maior frequência em diversos trabalhos no campo "nerd". Acho apenas (e isso é um achismo puro e simples) que muitas vezes esse tipo de abordagem atrapalha o material. Aqui, miraculosamente, e apesar de estar lidando com uma força da natureza e não com um vigilante mascarado a coisa não descambou, embora os problemas existam, especialmente na resolução de alguns pontos referentes à trama e o excesso de tempo com que a última sequência se estende.

Hans Zimmer não cria uma trilha épica para o filme, mas parece ter tido a mesma leitura que tive. Um tema glorioso, de bravura e de elegia as virtudes, não caberia em um personagem tão perdido em relação a saber seu papel no mundo. Por isso, a marcialidade e a percussão indicam uma batalha sem fim. Um clima de guerra que faz com que dela, surja um herói e um líder.




Homem de Aço não é perfeito e também não é um filme do Superman. É a representação (com colant azul e capa) do nascimento de um Deus nos dias de hoje. Tal como os gregos, um Deus que disfarçado de homem procura entender aqueles que deve proteger e que muitas vezes não o compreenderão. Um Deus aprendendo a como lidar com seu poder e sua capacidade de influenciar o mundo em que vive. Um Deus que erra e que exagera e que assim como o sujeito que resolveu "biografá-lo" (espero) talvez esteja perto da perfeição em sua nova aparição. Cada vez mais alto e cada vez mais avante!


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Truque de Mestre

Truque de Mestre
(Now You See Me, 2013)
Thriller - 115 min.

Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt

com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Morgan Freeman, Michael Caine, Isla Fisher, Woody Harrelson, Melánie Laurent, Dave Franco

Ao término de Truque de Mestre minha primeira sensação foi a de que tinha acabado de ver um dos mais competentes elencos reunidos no cinema recente...a serviço de um dos piores roteiros da atualidade. Na ânsia de acertar e criar uma "magia", Louis Leterrier e equipe construiu uma historia óbvia que cai por terra por tentar ser tanta coisa e não conseguir ser nada.

A trama até começa instigante com um grupo de quatro mágicos de rua (Daniel Atlas/Jesse Eisenberg, um especialista em magia de cartas, Henley/Isla Fisher uma especialista em fugas, Merritt/Woody Harrelson um "mentalista" e Jack/Dave Franco um sujeito que é ágil com as mãos e bom com fechaduras) sendo convocados por meio de cartas de tarô misteriosas para se encontrarem em um apartamento praticamente abandonado. O filme dá um salto de um ano quando aquele grupo de mágicos está reunido em Las Vegas para apresentarem-se pela primeira vez. Além dos quatro protagonistas somos apresentados ao financiador daquele grupo Arthur Tressler/Michael Caine e a Thaddeus Bradley/Morgan Freeman que ganha a vida como uma espécie de "Mr. M" sem máscara, desvendando os segredos dos truques de mágica.

O show culmina com um truque em que um sujeito da platéia é "transportado" para um banco francês e vê o dinheiro do cofre do banco simplesmente sumir. A montagem é eficiente aqui e cria tensão entre o homem vendo o dinheiro ser sugado e o pessoal do banco chegando para mais um dia de trabalho. E a surpresa (e que cria uma falsa esperança de vermos uma trama "arrumadinha” nos moldes de Onze Homens e um Segredo por exemplo) é que de fato o dinheiro no banco francês havia sumido. Como?



Entra em cena o personagem de Mark Ruffalo, um agente do FBI que ao lado de uma bela enviada da Interpol tem a missão de tentar entender o que de fato aconteceu. E a partir dai a historia segue acompanhando os policiais tentando antecipar o que o grupo de mágicos pretende, enquanto esses preparam mais dois shows, com objetivos ainda mais chocantes.

A direção é do mediano Louis Leterrier que parece ter feito um curso intensivo de "michaelbaysmo" já que adota alguns cacoetes do mal fadado diretor de Transformers, abusando dos movimentos de câmera frenéticos quando não existe a menor necessidade para isso e ilustrando muitas sequências com uma irritante câmera que contorna os personagens quando esses simplesmente conversam. Por outro lado, a montagem tenta pisar no freio de tanta insanidade deixando a ação ao menos compreensiva.

Mas não é aí que o filme de fato escorrega rumo a quase desgraça, mas na tentativa de ser muita coisa ao mesmo tempo. Além de reunir um elenco de estrelas e não dar espaço para nenhum desses personagens serem bem desenvolvido, busca criar toda uma historia de fundo com alguma profundidade para racionalizar as ações dos mágicos. Essa escolha resulta em uma trama mais furada que um queijo suíço, com a motivação de uma serie de personagens não fazendo o menor sentido quando analisada com calma. Sem cair na armadilha dos spoilers, essa é uma daquelas historias que tentam ser tão espertas e enganar de forma tão inteligente o expectador que acabam se complicando ao ponto de sua resolução não fazer muito sentido.



Esbarrando nas revelações da trama, os mágicos parecem facilmente convencidos de seus papéis e não existe sequer um conflito entre eles. Não existe uma dúvida em relação ao que deve ser feito, se de fato vale a pena enquanto outros personagens, como o de Michael Caine são absolutamente desperdiçados. Isso sem falar em Morgan Freeman em um dos papéis mais desagradáveis de sua carreira, parecendo profundamente entediado com sua função na história.

Outra bobagem que Truque de Mestre comete é tirar o foco daquilo que verdadeiramente era interessante, os quatro mágicos e deixar o público acompanhar tudo pelo viés do policial de Ruffalo e sua parceira eventual a francesa Alma/Melánie Laurent. Ok, entendo a opção de deixar os planos do grupo em suspense, e fazer do público refém das informações do policiais, mas diante da resolução da trama, fica impossível não fazer questionamentos sobre a infeliz (e constante) ideia de transformar tudo em um gigantesco plot twist.

Plot twist é sempre difícil de prever. A chance de uma bobagem surgir dai é sempre muito grande, principalmente quando não existem pistas para a resolução da trama encaixadas na historia. A cada Sexto Sentido, existem duzentos Em Transe e Truque de Mestre. Truque ainda tenta plantar uma pista sobre sua resolução, embora de forma difusa. Trocando em miúdos, a resolução não agrada, pois parece ter sido pensada muito mais como forma de surpreender o público do que como encerramento para a trama. Valendo-se do choque pelo choque, o filme naufraga gloriosamente. Truque de Mestre chega a enganar o espectador, com dois atos que nos mantém presos na ação e ansiando para uma resolução para o que vemos em tela. Porém, quando ela vem à decepção é inevitável.



quinta-feira, 4 de julho de 2013

Meu Malvado Favorito 2

Meu Malvado Favorito 2
(Despicable Me 2, 2013)
Comédia - 98 min.

Direção: Pierre Coffin e Chris Renaud
Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul

com as vozes de: Steve Carell, Kristen Wiig, Benjamin Bratt

Confesso que não fui atraído com a mesma paixão que muita gente demonstrou pelo filme original de Pierre Coffin e Chris Renaud, mesmo reconhecendo sua historia simpática, seu herói/vilão Gru interessante, as pequenas Margo, Edith e Agnes e principalmente os hilariantes Minions. O que o pessoal da Illumination Entertainment criou no filme original foram criaturinhas adoráveis e que podem ser utilizadas ad infinitum tanto nas animações como em uma quantidade obscena de produtos de merchandising. Ou seja, os criadores têm uma mina de ouro em mãos nas figuras desses bichinhos de sexo indefinido e amarelos, esses pequenos monstrinhos que falam como se tivessem inalado gás hélio e tem uma moral que os coloca no mesmo nível dos Looney Tunes em termos de falta de noção no trato da violência e que fazem dos Minions criaturas que roubam todas as cenas.

Mas, felizmente, os Minions não são utilizados em excesso. Apesar de fundamentais na trama, a produção não segue a infeliz ideia de Era do Gelo, que usa seu esquilo a cada quinze minutos como vinheta de forma absolutamente desnecessária (e cansativa) durante todo o filme. Aqui, as piadas dos Minions estão intrinsecamente ligadas a eventos da trama. E qual é a trama da vez?

Gru é recrutado por uma organização secreta para investigar o sumiço de um misterioso soro que causa mudanças brutais no físico e no comportamento de suas cobaias. Como parceira, a atrapalhada Lucy, que serve como novo elemento cômico da trama, embora (pelo menos na versão dublada que foi a que vi) seu humor não acerte sempre. Entre os novos personagens se destaca o bonachão e misterioso Eduardo (que em português ganha a voz do cantor Sidney Magal, em um trabalho muito competente e divertido) com seu visual "luchador" mexicano.


Porém, apesar da trama de investigação - que leva Gru a assumir uma identidade "secreta" num shopping center - impulsionar o início da história, são de fato os dramas dos personagens que fazem a historia funcionar. Se no primeiro filme sua baixa estima o transformou em um vilão e apenas com a acolhida das pequenas órfãs sua vida passou a ter outros significados, aqui o mote é sua dificuldade para se relacionar com as mulheres. Se Gru tem problemas para encontrar uma "alma gêmea", mostra-se um pai muito ciumento ao ver a garotinha nerd Margo descobrir o amor. Essa questão apresentada no filme dá mais tridimensionalidade ao personagem, já que esse tipo de ciúme paterno em relação aos filhos é deveras comum.

A pequena Agnes continua sendo a alma do filme, sempre pronta a demolir Gru (e os marmanjos com alguma sensibilidade) com aquelas declarações que só crianças são capazes de fazer, misturando ingenuidade e sabedoria. Posso estar exagerando nas intenções do texto de Ken Daurio e Cinco Paul, mas existe aqui algo um pouco mais elaborado do que simplesmente algumas boas piadas e referências um pouco mais intrincadas para os adultos. Isso já havia me chamado a atenção no primeiro Malvado Favorito e mesmo não estando (permitam-me a redundância) no grupo de grandes fãs do filme - muito por causa do antagonista enfadonho dessa primeira aventura - ficou claro a qualidade da interação (mesmo que pueril) entre Gru e as meninas que estão longe de exemplificarem os papéis óbvios de garotinhas no cinema. Acho que esse é um elemento fundamental para que o filme consiga funcionar tão bem para um público tão amplo: você enxerga ali um afeto real, ancorado - evidentemente - por sacadas humorísticas funcionais e pelos Minions, essas criaturas que pontuam muito bem as agruras do pobre Gru.

Meu Malvado Favorito 2 é um passo bem dado em direção a uma franquia, que parece estar estabelecida. Ao final dessa segunda historia algumas possibilidades ficam em aberto para uma eventual sequência. Todas elas envolvem novos conflitos entre Gru e seus traumas (e agora com o acréscimo de eventuais consequências para seu futuro) e é claro, muitos Minions. Não chega a ser uma animação de excelência, mas é divertida e tem estilo próprio, não tentando nem ser Pixar, muito menos cair na galhofa da maioria dos trabalhos da Blue Sky ou Dreamworks.