quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Nos vemos em 2012


Amigos, chegamos ao final de mais um ano e o Fotograma Digital entra em recesso até o dia 05/01, quando estaremos de volta com nossas tradicionais listas de melhores e piores do ano de 2011. Até lá, fucem a vontade no blog, busquem as críticas que ainda não leram, os Top ainda não conferidos e os clássicos ainda não conhecidos.


Aos colaboradores e amigos, meu muito obrigado por mais um ano de trabalho, diversão e filmes. 


Agradeço também a todos vocês que passaram a conhecer nosso trabalho desde a minha entrada na TV Gazeta em maio de 2011. Desde então tenho tentado fazer do nosso humilde espaço, um lugar onde o cinema tem o destaque que merece, e espero que estejam gostando.


Que o 2012 de vocês seja ótimo, com grandes realizações e sucesso em tudo aquilo que pretendem fazer.


Até breve,
Um abraço
Alexandre Landucci

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cópia Fiel
(Copie Conforme, 2010)
Drama - 106 min.

Direção: Abbas Kiarostami
Roteiro: Abbas Kiarostami

Com: Juliette Binoche e William Shimell

Confesso a vocês que o hype em cima de Cópia Fiel me fez esperar o pior. O burburinho em torno do filme, me fez esperar a complexidade chatíssima que vem acompanhada de muitos "queridinhos" da critica. Não consegui assistir ao filme quando esse estreou, e tive de esperar o home video para conseguir acompanhar esse que é o mais impecável estudo sobre relacionamentos humanos lançado no país em 2011.

Às vezes fico profundamente feliz de ter meus prognósticos e expectativas (embora não devamos os ter em relação aos lançamentos cinematográficos) destroçados por um filme que subverte minhas esperanças e até mesmo minha má vontade inicial em assisti-lo. Rendo-me ao talento dessa atriz mais que fabulosa chamada Juliette Binoche, a esse muitíssimo talentoso William Shimell e a esse tremendo diretor e roteirista vindo detrás do muros impenetráveis do Irã, chamado Abbas Kiarostami.

Em Cópia Fiel acompanhamos as personagens de Elle (Binoche), a dona de uma loja de antiguidades que depois de acompanhar a palestra do escritor Jason Miller (Shimell) decide conhecê-lo. Miller por sua vez, está na Itália, divulgando seu livro onde defende que a cópia pode ser tão emocionante e verdadeira quanto um objeto real.


O que Kiarostami faz com enorme maestria é aos poucos e sem nenhuma motivação aparente, transportar o casal e o espectador para uma espécie de realidade fantástica, ou uma dimensão paralela, ou quem sabe a verdadeira realidade daqueles dois personagens, que se vêem durante o filme discutindo e citando fatos e eventos como se fossem casados a (no caso) quinze anos.

Como podemos nos emocionar no cinema, mesmo sabendo que tudo o que vemos nada mais é do que a manipulação da "realidade" pelas mãos hábeis de um diretor, produtor, fotografo, montador, ator, músico e afins? Esse é o conceito que o diretor procura desenvolver. Se o espectador consegue se emocionar com uma historia claramente de mentira, será que se emocionaria e acompanharia intrigado uma historia que em suas "viradas dramáticas" mudasse completamente de tom e de realidade? Seria possível que a cópia de um relacionamento de verdade possa emocionar e intrigar o espectador? E por que isso acontece?

A brincadeira do Jogo de Cena (como Eduardo Coutinho muito bem realizou em seu mockumentary de mesmo título) aqui é elevada a um patamar ainda mais virulento e crítico. Se acompanhamos Elle e Jason discutindo sobre a tendência da sociedade em diminuir tudo que não é original, numa busca sem fim pelo "purismo da originalidade", no mesmo filme vemos as reações emocionais de um casal quando confrontado pela rotina em uma simples visita a um restaurante, em que o fato de os brincos de Elle não serem notados transformam-se em um estopim para uma hecatombe nuclear.


É essa mistura de realidade dos personagens e suas supostas mudanças, essa volátil mistura entre real e imaginário é que fazem de Cópia Fiel, um filme extremamente bem sucedido, mesmo contando com ação diminuta e passando-se apenas durante uma tarde em uma pequena vila italiana.

Mesmo assim, Kiarostami consegue com grande inteligência emular os passos de um relacionamento (o grande objeto de pesquisa do filme) encaixando nosso pseudo-casal em três realidades diferentes que apresentam ao público a visão do diretor sobre o casamento, o amor e a convivência entre os seres humanos. 

Acompanhamos um jovem casal recém-casado, cheio de alegrias, sonhos e profunda energia celebrando sua festa de casamento nessa pequena vila. Minutos depois, o diretor nos apresenta um casal de meia idade, que próximos da idade dos personagens principais do filme, são professorais e atenciosos em seus conselhos sobre as dificuldades extremas da convivência que podem ser resolvidas - às vezes - com simples gestos como o caminhar ao lado da companheira/o apoiando-se em seus ombros, numa demonstração clara de que caso seu amor caia, lá estará você pronto para agarrá-lo. Kiarostami também não esquece do silêncio sereno dos casais mais velhos, que atingiram um grau de compreensão quase metafísico, que dispensa as discussões desnecessárias. Tudo é compreendido no olhar e com as atitudes.


Cópia Fiel não é fácil. É um desafio ao espectador comprar a ideia de que pode estar sendo enganado (ou não) o tempo todo, sendo claramente manipulado para que o diretor atinja seu objetivo. Mas ai fica minha pergunta: estamos tão acostumados a sermos quase emocionalmente violentados por uma dezena de comédias e romances pré-fabricados que quando o véu da mentira é tirado de nossos rostos, nos negamos a compreendê-lo?

É possível, ou melhor, muito provável, que o público se negue a ver diante de seus olhos que Cópia Fiel apenas tirou da frente às paredes que impediam o espectador de enxergar o homem que puxava as cordas e que torcia e retorcia cada centímetro de emoção que entregamos em cada sala escura diante do altar da tela luminosa.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011


Fúria de Titãs 2 



Parece que Jonathan Liebesman não ficou satisfeito em quase provocar suicídio coletivo com Battle LA : Ele já está de volta ás câmeras para dirigir Fúria de Titãs 2, filme que acaba de ganhar seu primeiro trailer . Usando a versão de Marilyn Manson para a belíssima música Sweet Dreams, hit dos anos 80, a prévia começa abusando - de maneira ineficaz -do tom épico . A trama trata da sequêcia do primeiro filme, e nela, Perseu ( Sam Worthington) precisa ajudar seu pai Zeus (Liam Nesson), já que os deuses vivem uma crise - como os humanos perderam sua fé neles, os moradores do Olimpo perdem suas forças - e estão em guerra com os Titãs, que são liderados por Cronos. Sequestrado por Hades(Ralph Fiennes) e Ares - que foram contratados por Cronos - Zeus só pode ser salvo por Perseu e seus companheiros . Realmente, a Warner tenta passar uma vivacidade muito grande com o vídeo, e busca aumentar a expectativa de qualquer jeito . Entretanto, quem já viu o trailer do primeiro filme, ou conhece brevemente Jonathan Liebesman, sabe que esses dois minutos podem muito bem ser mera enrolação, para uma verdadeira desgraça de cerca de duas horas .


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


The Dictator



A nova comédia de Sacha Baron Cohen , The Dictator, ganha seu primeiro trailer . A sátira da vez , dirigida por Larry Charles - o mesmo que realizou Borat e Brüno - é sobre os ditadores característicos do Oriente Médio . Na trama, Cohen interpreta dois personagens, um pastor de ovelhas norte-americano e um ditador árabe perdido em Nova York, depois de ser deposto de seu cargo.  Com todo o viés cínico e crítico de Cohen em formato de gags muito apropriadas, o trailer demonstra piadas desde  11 de setembro - ''visite o Empire State , antes que você ou um de seus primos decida derrubá-lo'' - até alfinetadas em celebridades em geral - como a referência ás partes íntimas das Kardashians. Em tempos de Primavera Árabe , e de queda de suas respectivas ditaduras , o novo filme de Cohen já parece imperdível .




sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tudo Pelo Poder
(The Ides of March, 2011)
Drama - 101 min.

Direção: George Clooney
Roteiro: George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon

Com: Ryan Gosling, George Clooney, Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti e Evan Rachel Wood

Quando todos estão sujos, como sobreviver na lama? Essa é pergunta que o personagem de Ryan Gosling deve ter feito a si mesmo durante Tudo pelo Poder, nova incursão de George Clooney por detrás das câmeras. Nele, Gosling vive um assessor político profundamente engajado na campanha de Ethan Morris (vivido pelo próprio Clooney) que durante as primárias do partido democrata (uma característica da política americana, que dá poder aos eleitores de realizarem uma "pré-eleição", onde são selecionados os dois candidatos - tanto do partido republicano, quando do democrata para os cargos eletivos) descobre uma situação que pode comprometer a campanha de seu candidato, e passa a perceber que aquele mundo político é um lugar mais duro e complexo do que ele imaginava, onde os valores das pessoas são testados e palavras como lealdade, coragem e amizade são variáveis sombrias e que são sucessivamente forçadas ao limite do ético.

O grande destaque do filme é para seu elenco (todo ele) fenomenal. Desde a construção segura e sóbria de Morris (Clooney), que é caracterizado como o über liberal, sem medo de meter o dedo na ferida aberta e sem muita paciência para conchavos políticos. 

Interessante notar que o roteiro de Clooney, Heslov e Willimon é inteligente ao apostar em uma série de pequenos discursos durante a campanha pela conquista dos votos no estado da Pensilvânia (um dos maiores colégios eleitorais americanos) tanto em eventos públicos, quanto em debates na tv, o que pode referenciar as preferências políticas dos autores do texto e ajuda ao espectador a apreciar aquele homem e que faz com que quando conheçamos o problema que poderá causa uma eventual derrota em sua campanha, fiquemos surpresos (mas nem tanto) e passemos a nos questionar sobre como questões morais e estritamente pessoais podem influenciar de maneira tão decisiva o futuro de um país.


Obviamente tendo como base, um caso mais que famoso da política americana, Clooney vai além, e não se furta a apontar o "problema", mas sim em como aquela informação muda completamente a forma com que o jovem e impressionável Stephen Meyers (Gosling) passa a ver seu messias. Ao mesmo tempo, os meandros da politicagem são mostrados - embora não apresente nenhuma informação nova - com toda dose de cinismo e realismo que o público conhece, tais como o vazamento de informações pessoais ou sigilosas com o intuito de atrapalhar o caminho de um eventual adversário, ou a forma de preparar as estratégias políticas (as chamadas agendas) tentando favorecer o maior número de possíveis aliados, ou mesmo a noção - talvez a única novidade em termos cinematográficos - de vermos tudo isso acontecendo dentro de um mesmo partido, que na teoria deveria seguir um mesmo código de conduta e ser pautado pela mesma ideia de certo e errado.

Outros destaques do elenco vão para os personagens periféricos que servem como pedras fundamentais dos dois lados da balança política democrata. Do lado de Morris, Paul Zara (o ótimo Philip Seymour Hoffman) que dentre o mar de lama e profunda dificuldade de compreender o certo e o errado, talvez seja o que melhor consegue transitar por esse caminho, sem no entanto, deixar-se corromper de forma completa. Em determinado momento do filme, Hoffman discursa para o personagem de Gosling sobre a importância da lealdade na política, já que mesmo diante de acordos, favores financeiros ou políticos, a única coisa que realmente é verdadeira nesse meio, é o valor da palavra de um homem. Ao mesmo tempo, Zara é um homem que se vendo em uma situação sem soluções fáceis, torna-se desesperado e se vê ameaçado por todos os lados, num estado de paranóia monumental.

Contrabalanceando a situação, o seguro e escorregadio Tom Duffy (o igualmente ótimo Paul Giamatti) funciona como a semente da discórdia, já que como assessor do candidato adversário é responsável por estimular a paranóia coletiva da equipe liderada por Hoffman e que tem no jovem personagem de Gosling seu pupilo. Cínico e inteligente a ponto, de como um mestre enxadrista, adiantar-se cinco movimentos a seus adversários é o grande artífice da produção e responsável por fazer a história andar, já que a todo o momento - mesmo quando não o vemos em tela - sua presença é sentida, principalmente a partir do momento em que o personagem faz seu primeiro movimento no tabuleiro político.


Fechando o time de coadjuvantes, as belas Marisa Tomei e Evan Rachel Wood tem o trabalho mais difícil. Tomei, mesmo com pouco tempo, consegue nos fazer crer que a jornalista Ida Horowicz fará de tudo para conseguir um furo, mesmo que isso signifique abrir mão de amizades e da tão falada lealdade. Já Wood, tem o papel mais ingrato, já que é sobre ela que todo o apocalipse acontece. Uma jovem e determinada mulher, sem muitas papas na língua e que é "usada" na produção como estopim de uma crise que não afeta apenas a política, mas a vida do personagem de Gosling, que se vê motivado a corromper-se de forma vingativa.

É nele que se concentram todas as viradas da trama e todo o peso dramático, já que acompanhamos cada sequencia por sua visão (acho que o personagem está presente em cada cena do filme) e portanto quando o castelo de cartas que é sua vida começa a ser demolido, nos solidarizamos, ao mesmo tempo em que não conseguimos esquecer de suas falhas de caráter.

Gosling faz de Stephen, um homem impressionado por um herói que o decepciona e que se ve afundado até o pescoço em um viscoso pântano causado por sua ingenuidade e pela forma apaixonada de ver sua profissão. Nesse ponto é preciso esquecer de seus escrúpulos, rasgar-se de pudores e tentar sobreviver na selva, e é isso que ele faz, transformando-se de galã engajado em um cínico e virulento homem de negócios. Uma ótima interpretação.


A fotografia de Phedon Papamichael (Sideways, Encontro Explosivo, À Procura da Felicidade, Johnny & June entre outros) é segura, apostando na claustrofobia das salas de reunião e na reação dos personagens as luzes cegantes dos holofotes sempre apontados para os candidatos. A trilha a cargo de Alexandre Desplat consegue a proeza de criar um tema para o thriller político, daqueles que são facilmente assoviáveis no fim da sessão.

Mas é para Clooney que os maiores aplausos devem ser dirigidos. É notável sua evolução como realizador desde o ótimo Segredos de uma Mente Perigosa, passando pela homenagem a liberdade de imprensa em Boa Noite e Boa Sorte, culminando nesse soberbo Tudo Pelo Poder, um dos poucos (genuínos) grandes filmes da safra de 2011.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico
(We Bought a Zoo, 2011)
Comédia/Drama - 124 min.

Direção: Cameron Crowe
Roteiro: Aline Brosh McKenna e Cameron Crowe

Com: Matt Damon, Scarlett Johansson, Colin Ford, Thomas Hayden Church, Maggie Elizabeth Jones e Elle Fanning

O simplismo travestido de história de superação. É - em pouquíssimas palavras - isso que Cameron Crowe faz em Compramos um Zoológico, a partir da biografia de Benjamin Mee que conta a historia de sua família quando essa compra um zoológico. Benjamin (Matt Damon) é um homem que perde sua esposa e que precisa reconstruir sua família, sua relação com os filhos e encontrar uma motivação para continuar seguindo em frente. Ele também é um forte opositor das seguidas tentativas de todos ao seu redor em demonstrar pena e "aliviar" a pressão sobre o recém- viúvo, e por isso, quando encontra uma ótima e afastada casa que tem como adendo um bucólico zoológico, decide fixar-se por lá, mesmo com os problemas entre ele e seu filho adolescente e rebelde (Dylan, interpretado por Colin Ford) que não aceita a morte da mãe, além de manter um comportamento arredio na escola (de onde é até expulso), e que obviamente não aceita muito bem a mudança para o zoológico.

Cameron Crowe assina o filme, neste que é o único de seus trabalhos em que ele não é o único responsável pelo roteiro, fazendo deste seu filme menos pessoal, embora o diretor tenha dito em entrevistas que "precisava contar a história de Benjamin" e que por isso o filme torna-se pessoal para ele. São desculpas e respostas prontas para camuflar o fato de que se não tivesse o pedigree de Crowe e não contasse com Damon e Johansson como estrelas, Compramos um Zoológico não chamaria a atenção de muita gente, já que não é bem sucedido quando precisa explicar a complexa montagem e administração do zoológico, e faz das relações humanas excessivamente melodramáticas.

Aline Brosh McKenna, a outra autora do roteiro do filme, coloca traços de outros de seus filmes no projeto. A roteirista responsável por uma série de comédias românticas (Diabo Veste Prada, Vestida para Casar, Manhã Gloriosa, Leis da Atração e o recente Não sei como Ela Consegue) usa de sua experiência para dar o tom de humor camp e implausível, para fazer do filme uma comédia romântica com cobertura indie de butique. 


Traços nefastos do gênero estão presentes, por exemplo, na facilidade de resolução dos problemas financeiros de Benjamin que nunca são bem explicados, já que parece haver um problema em explicar os meandros das questões do vil metal para o público leigo. Mas compreendo que talvez fugisse da ideia do filme, de que o tom de conto de fadas era necessário, embora sempre me incomode com produções baseadas em histórias reais que aliviam no tom dos problemas enfrentados pelos personagens, fazendo dos biografados (em sua imensa maioria) pessoas sem defeitos e que resolvem seus problemas com facilidade, já que são "vencedores".

Crowe parece ter esquecido como contar uma história ao mesmo tempo popular e inteligente, e desde o pavoroso Elizabethtown, vem desaprendendo conceitos básicos como a escolha de figurino de seu filme, chegando até mesmo a enfrentar problemas na condução de suas múltiplas histórias e personagens.

Comecemos pela perfumaria: Benjamin sempre é visto de roupas escuras, o que é uma clara interpretação de seu luto, uma clara demonstração de que Crowe representa seus sentimentos de angustia e perda com o figurino. Pois bem, a partir do momento em que ele abre seu zoológico descobrimos que todos os outros funcionários também vestem roupas sóbrias e escuras, o que também mostra que a equipe tem duvidas quanto ao seu futuro, que existe uma distancia entre o almejado pelo grupo e sua realidade. O problema é que o óbvio, normal e aceitável é que tudo o que envolve um personagem (incluindo seu figurino) é alterado quando seus valores, moral ou humor vá se alterando, ainda mais quando a proposta do filme é exatamente esta: a de um conto de fadas simplista e sem grandes pretensões dramáticas. Crowe, no entanto, mantém todo mundo vestindo a mesma coisa quando as coisas começam a melhorar no filme, o que demonstra que na verdade a escolha de figurino foi apenas mais um detalhe sem importância para o diretor nessa produção, o que vai de encontro ao que o próprio Cameron realizou em outros filmes, como Quase Famosos por exemplo, em que mesmo nos apresentando um filme de época, cada personagem tinha sua própria personalidade estampada em cada figurino.


Quanto à condução das múltiplas histórias, fica claro que a ideia de colocar o personagem de Dylan encontrando uma amizade/amor com a personagem de Elle Fanning foi incluída na última hora, já que a relação dos dois em momento algum convence o espectador de sua credibilidade. Incluída, imagino, para que a personagem de Fanning tivesse alguma utilidade, o relacionamento baseado no velho clichê do garoto da cidade descolado que encontra a jovem e ingênua garota do campo, é mal realizado já que nunca chega a lugar algum, com uma incessante procissão de entregas de sanduiches, uma reviravolta final forçada e uma redenção que parece ter sido escrita pelo pai zeloso de Elle, talvez com medo de ver a grota beijar alguém na tela.

Além disso, o personagem do fiscal (o sem graça John Michael Higgins de Sim,Senhor, Loucuras de Dick e Jane e do recente Professora sem Classe) é tão caricato, que também foge da proposta "proto-realista" e de redenção emocional do filme. Só o fato de o personagem cortar a paisagem rural a bordo de uma possante caminhonete, apenas para demonstrar sua vilania e desrespeito pela natureza, demonstra a construção infantilizada de Walter Ferris.

O que se salva é a entrega de Damon ao papel, que resulta em dois ótimos momentos, um que mostra que Crowe continua afiado na escolha de suas canções para seus filmes e outra que resulta em um diálogo forte entre ele e seu filho, o que norteia toda a produção. Já Scarlett está no automático e sua personagem, apesar de ser apresentada como uma mulher forte e decidida, é no fundo o ideal da "mulher mal cuidada" e que precisa de um homem para se acertar e ser feliz.


Compramos um Zoológico é simplista e não faz jus a carreira do até então eficiente Cameron Crowe, que parece ter perdido a mão, entregando esse inofensivo e "bobinho" conto de superação.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


O Hobbit – Uma Jornada Inesperada




O esplêndido teaser trailer do novo filme de Peter Jackson, voltando ás adaptações de Tolkien depois do fracasso colossal Um Olhar do Paraíso, se junta ao trailer do novo Batman na função que os trailers pareciam ter perdido: causar expectativa no espectador, sem que isso revele algo da história. Começando com uma fotografia mais colorida que a da trilogia Senhor dos Anéis (o que reflete bem o tom da trama), aos poucos o trailer vai tomando rumo para o clima de fábula, o que inclui os takes aéreos indispensáveis nos épicos fantasiosos. Agradando também por conter a fina inocência aventuresca presente no material de origem, a prévia do filme empolga até mesmo os não-fãs (como esse que vos escreve). O canto crescente (quase religioso) dos anões começa logo após a apresentação divertida dos personagens e se estende até o final da prévia. Poderosa, a música entoada por Thorin realça a atmosfera épica que há em diversos elementos em cena, como a espada que Bilbo pega, e emociona pela simplicidade. E o que dizer de um velho conhecido, que encontra o Bolseiro no final? Um trailer simplesmente memorável, que torna o filme um grande candidato de mais esperados de 2012.



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Missão: Impossível - Protocolo Fantasma
(Mission: Impossible - Ghost Protocol, 2011)

Ação/Aventura - 133 min.

Direção: Brad Bird
Roteiro: Josh Appelbaum e André Nemec

Com: Tom Cruise, Simon Pegg, Paula Patton, Jeremy Renner e Michael Nyqvist

Meu nome é Bond, Ethan Bond. Se em algum momento do filme Ethan Hunt, personagem de Tom Cruise, proferisse essas palavras, juro que não me surpreenderia, já que essa quarta aventura da série Missão: Impossível, é a que mais se parece com as aventuras do agente secreto britânico.

As comparações podem começar a serem feitas, a partir do plot retirado de um dos muitos filmes estrelados por Roger Moore em meados dos anos setenta. Temos um vilão megalomaníaco que deseja provocar o caos - os motivos nunca ficam claros e as explicações são simplórias - a partir da energia nuclear, provocando a tensão entre Estados Unidos e Rússia, o que apesar de as tensões entre os dois países terem voltado aos noticiários, ainda soa datado. Hunt por sua vez, viaja pelos quatro cantos do mundo - o que não é novidade na série, é verdade, mas que aqui alcança o grau de exotismo e diversidade que a série não tinha atingido até então - tem um carro modernoso com função touch screen no vidro e sequencias de ação de tirar o fôlego (com o perdão da expressão óbvia).

O que faz então Missão 4 ser inferior ao primeiro e ao mais recente filme da série, é seu roteiro boboca e principalmente, um antagonista que é tão canastrão e dotado de frases tão vazias que fica impossível não lembrar de Owen Davian, o vilão ardiloso e cruel interpretado por Phillip Seymour Hoffman na última produção da série.


Além de apostar na obviedade do plot (terrorista maluco provoca 3ª guerra mundial), tem em Hendricks (vivido por Michael Nyqvist) um ponto fraco, já que o personagem apesar de ter um QI de 190 (sim, isso é informado ao público) é mais um vilão de dotes físicos do que mentais. Apesar de o filme mostrar que o vilão está sempre um passo a frente de nossos heróis, em momento algum o filme nos convence que aquele homem é verdadeiramente um mestre do crime, mais parecendo um maluco qualquer dotado de armas nucleares.

Ao mesmo tempo, o filme aposta em duas tramas paralelas: questiona o que aconteceu com o relacionamento de Hunt e Julia (principal trama no filme anterior) e mostra que graças a um plano do nosso vilão, Hunt e seus amigos do IMF tem de agir na clandestinidade. A segunda dessas tramas dá um tempero na busca dos agentes pelo vilão interpretado por Nyqvist, enquanto a história do passado de Hunt (e que vai se relacionar com a de outro personagem durante o filme) é a mais interessante e bem construída da história, e que funciona como pausa dramática, entre a correria desenfreada numa autentica perseguição global.

Esse problema na credibilidade de um roteiro tão fora de moda (assinado por Josh Appelbaum  e André Nemec das séries Life on Mars, Happy Town, Alias entre outras) pode ser exemplificado na sequencia que envolve Cruise e o personagem de Jeremy Renner. Quando os dois estão sendo perseguidos pela polícia russa, seu carro acaba caindo de uma ponte e para fugir dos atiradores, Hunt recorre a "brilhante" ideia de acender um sinalizador e colocar junto ao corpo já morto de outro ocupante do veiculo. Sabe-se lá por que os perseguidores começam a atirar no corpo iluminado, enquanto os dois conseguem fugir. Depois de uma correria, Renner pergunta a Hunt sobre sua ideia, e recebe a seguinte resposta: "não sabia se ia dar certo, só fiz por que tive um palpite". Renner então diz: "mas como sabia que eles iam acreditar na sua ideia", e ouve em seguida: "esse caras não estudaram em Oxford". Traduzindo, Appelbaum e Nemec dizem categoricamente: nosso filme tem buracos, é uma história rasa e que exige uma enorme suspensão de descrença (isso por que não dei o exemplo da conveniente tempestade de areia em Dubai) mas, esqueça isso e desfrute das nossas sequencias de ação legais e do carisma de Mr. Cruise.


Brad Bird debuta no live-action mantendo algumas características de seus longas de animação, como um cuidado especial na construção das ótimas sequencias de ação do filme, que surgem de forma fluída e graciosa, como se o diretor tivesse conseguido montar cada ação de forma coreografada, funcionando muito mais como uma apresentação de dança e dando oportunidade ao espectador de acompanhar cada detalhe das ações em tela, diferente dos muitos cortes abruptos e a estética do piscou perdeu comum no cinema de ação. Só de ter optado por essa solução visual, Bird já mostra que tem um olhar fresco para a direção.

O filme tem mais classe que o anterior (mais urbano e que deixava o personagem de Hunt indefeso emocionalmente), exatamente por apostar numa profusão maior de disfarces, planos mirabolantes e no exotismo típico dos filmes de espionagem. Numa comparação com os exemplares anteriores da serie, Protocolo Fantasma é uma mistura dos gadgets do primeiro com a ideia de filme de perseguição do terceiro, em que também víamos Hunt perseguindo o vilão do filme em um tour mundial.

Protocolo Fantasma por sua vez tem as melhores sequencias de ação da série. A já clássica sequencia que mostra a escalada com as mãos quase nuas de Cruise pelo prédio Burj Khalifa (o maior do mundo) em Dubai, faz a abertura de Missão 2, parecer uma brincadeira de fan film. Profundamente tensa, muitíssimo bem fotografada (sempre destacando o perigo da inacreditável altura a que o personagem estava enfrentando) e com uma montagem ágil e esperta (destacando o embate entre a dificuldade da subida, o fato de que a equipe tem um prazo para cumprir e a tensão no rosto de Cruise para realizar a tarefa), o que demonstra não só uma qualidade técnica invejável quanto à impressão que Bird tem competência para administrar uma trama multifacetada. Essa impressão é reforçada pelos próprios plots múltiplos na história, quanto pela sequencia de ação final em que Bird e seu montador repetem a ideia da sequencia em Dubai.


Tom Cruise conhece mais do que ninguém seu personagem, que surge mais sombrio (por motivos óbvios) nesse quarto filme, mas que continua sendo um herói de ação típico, embora nesse, ainda tenha um conflito interno e uma mágoa acumulada. Nessa aventura, Cruise conta com o auxílio de Benji (Simon Pegg) que no filme anterior era um geek de escritório que ajudava Cruise em determinado momento da trama. O personagem continua o mesmo, mas agora como agente de campo e responsável pelos alívios cômicos do filme, que funcionam, embora não sempre. Paula Patton (a professora de Preciosa) é a agente sexy e durona da vez e Jeremy Renner faz o feijão com arroz. Quem sofre mais é Nyqvist, que tem de interpretar um personagem muito vazio, com diálogos pobres e que precisa passar a impressão de ser um vilão competente, com olhares "malvados" e cheios de ódio. Seu personagem do medíocre Sem Saída era melhor do que essa tristeza que é Hendricks.

Impossível ainda, não destacar mais um excelente trabalho de Michael Giacchino, cada vez mais inteligente e variado, indo na trilha de Protocolo Fantasma, de adaptações ao tema da série a inclusões de batuques étnicos, música russa entre outros detalhes.

Mas o melhor é mesmo comprovar que Brad Bird é um camarada talentoso, mesmo quando dirige "gente de verdade". Já o filme, não se compara a paranóica aventura da produção original e perde pontos por apostar em uma trama tão banal e óbvia. Protocolo Fantasma não consegue ser o grande filme pipoca de 2011, mas não ofende, embora fique em segundo plano em um ano que tivemos os mutantes nostálgicos, macacos revolucionários e garotos criando cinema.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge




O segundo trailer do terceiro filme da franquia de Christopher Nolan para o morcego está enfim na rede. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge tem uma prévia espetacular, depois do bombástico teaser lançado em agosto . A trama enfim começa a se desenhar com traços mais claros: Oito anos após os eventos de O Cavaleiro das Trevas , Bruce Wayne (Christian Bale) já aposentou o Batman faz tempo . Entretanto, uma ''tempestade'' - como diz Selina Kyle (Anne Hathaway) no trailer - está se aproximando de Gothan, prometendo destruição e carnificina. Ela se chama Bane (Tom Hardy) um adversário que ameaça o herói tanto por sua força física estupenda, quanto por seu avançado intelecto . A partir disso, Wayne precisa trazer o Batman de volta, para salvar a cidade de um destino trágico . Com todo seu potencial épico, o vídeo traz frases marcantes, além da cena da implosão do estádio - parte que dispensa comentários . ''Quando a cidade virar cinzas, você terá minha permissão para morrer'' diz Bane a Bruce . A lenda termina em 2012, e nós não temos a permissão perder esse lançamento. 



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


Redenção
(Machine Gun Preacher, 2011)
Drama/Ação - 129 min.


Direção: Marc Forster
Roteiro: Jason Keller


Com: Gerard Butler, Michelle Monaghan e Michael Shannon


Sam Childers está em um quarto, na África, com seu amigo Deng. Sabemos de sua causa comunitária ali, mas ali ainda não dá pra prever com certeza os caminhos que isso irá tomar. Sam sabe da terra de ninguém que é o Sudão e sabe, também, que a luta de Deng é pesada, violenta. Então, ele vê a arma do lado do amigo com certa casualidade. Pede para pegá-la nas mãos. Questiona sobre qual o problema dela. E o identifica de imediato. O sudanês pergunta, intrigado, como Sam sabe tanto sobre a Ak-47.

 “Gosto de armas", diz o americano do Minnesota. Não necessariamente "entendo" ou "conheço", ele "gosta" de armas.

Emblemática, a passagem poderia ser descrita como a cena-chave de Redenção, o novo filme de Marc Forster, sobre o tal pastor da metralhadora do título original. Uma opção de simplificar (seja por incompetência ou por preguiça) um personagem que tende a ser bem vasto em suas facetas, o que não poderia ser pior em uma película que exige um apego emocional grande aos envolvidos. Se o Sam Childers da vida real é um caipira que usa o conhecimento das armas para lutar pelo que, certo ou não, acredita, o de Gerard Butler é um redneck White trash (com direito a moto invocada e tatuagem da Harley-Davidson).




Inclusive, a decisão da Imagem Filmes de encaixar um título edificante e genérico aqui pode funcionar como estratégia de marketing, mas é péssimo no contexto. "Redenção" é mais convidativo, mas já entra errado por apontar, de imediato, uma falha do projeto. O mais honesto, O Pastor de Metralhadora, poderia soar como um Grindhouse dos mais cultuados, mas representaria mais o que é passado aqui. E falha se caracteriza porque de "redenção", o filme de Forster tem muito pouco.

Logo após o prólogo (que, em teoria, serviria para estabelecer a violência no Sudão, mas não causa impacto suficiente), somos introduzidos aos créditos iniciais. Os reducionismos começam, ainda que tímidos. O preso, devidamente vestido de colete preto, sai para encontrar sua mulher, com maquiagem meio borrada. Ao final dos créditos, eles transam dentro do carro, de maneira exclusivamente carnal. Depois do sexo (um mero prazer que Sam havia perdido na prisão), ele pede um cigarro, em busca de outro prazer. Não há dúvida: Lynn não foi ali porque é a sua esposa, mas porque Sam precisava tirar o atraso. Essa tendência unidimensional no desenvolvimento de personagens atinge a metástase logo em seguida. Na cozinha de casa, quando descobre que sua mulher trabalha em uma fábrica agora, Sam grita "Por que largou a dança?! Você é só uma dançarina viciada!". Chega a ser inacreditável a passagem do roteiro pifiamente escrito por Jason Keller.

Se a preguiça em apresentar seus personagens já é tamanha, as elipses de Keller também são igualmente equivocadas. A história é daquelas absurdas demais para ser uma ficção, que soam realistas justamente pelo seu caráter surpreendente. Já no filme, a tal redenção parece só um passe de mágica. Cada evento importante da construção da virada do personagem é observado com pressa, sem ser absorvido. Sam mostra que não sofreu transformação nenhuma na prisão, afinal volta a cometer todos os erros que tinha em sua vida. Droga-se, assalta, vai ao bar para arranjar briga. E, após a passagem do morador de rua, parece que se cansou. Porém, não parece que é a primeira vez que Sam mata alguém. Logo, não há impacto. A cena do batismo, que em teoria seria a mais importante do filme, acaba sendo mal realizada justamente porque nenhum desconforto, impacto ou laço afetivo aconteceu na meia hora anterior de projeção.




E se já é uma pena acompanhar as desperdiçadas situações criadas pelo roteiro, pior ainda é ver o personagem de o título ser reduzido a um senso comum. Premeditada ou não, a canastrice de Gerard Butler acaba reforçando mais ainda a limitação de Childers. A ira espartana do escocês acaba funcionando (e nas partes emocionantes, Butler não compromete), mas ao debater as implicações políticas e ideológicas do que está lutando, o protagonista acaba reduzido. É como tentar encaixar o cinema oitentista raso de ação a um discurso moral que se acha relevante. Mas no final, é equivocado tentar debater, sobre algo já difícil, de maneira rasa.

Utilizar de um fundo político para produções de ação não é novidade. Redenção, desde o trailer, parecia usar disso como Diamante de Sangue fez com a exploração dos diamantes. É a mania do thriller de ação que almeja soar "contemporâneo" apenas por dar razão á pancadaria. Nesse caso, Redenção só piora. Não almeja ser só um filme de ação; almeja ser um estudo de personagem, um drama de situação, uma história revigorante, um debate sociológico e um manifesto manjado anti-Guerra Civil ("Fomos esquecidos pelo mundo!"). Num apanhado geral, o título trash Pastor de Metralhadora faz mais sentido que tudo: no fundo, Redenção acaba sendo um Grindhouse "de arte" dos mais involuntários. Chega a ser cômico quando Forster, demonstrando ter dirigido a película enquanto dormia, encaixa o quadro de Butler atirando com um lança - mísseis, logo após uma cena dramática.

Não satisfeitos em conduzir com desleixo a história, Keller e Forster ainda unidimensionaliza Childers de tal forma que o transformam em um idiota. Exímio estrategista, fã incondicional de armas, o americano não consegue prever armadilhas óbvias, como a das duas crianças inertes, que permaneciam assim mesmo depois de chamadas. Não é um mero detalhe. Confesso que previ o perigo assim que entrou a cena (e não foi porque a fraca trilha de Ascher & Spencer avisou). Childers está em uma guerra civil há anos; eu só joguei Call of Duty.




Fora isso, ainda retratam o protagonista como um homem desatento, já que o mesmo só percebe as implicações erradas do que faz depois que alguém o avisa. Childers só questiona sua violência depois que a médica inglesa o atenta para isso; só pensa em reconstruir a igreja depois que a mulher o liga; o americano só percebe que está exagerando na violência depois de bater em uma criança e esbravejar em um culto. É indubitável que o Sam Childers real é muito mais complexo. Seria simplesmente impossível um ser tão bem intencionado ser tão unidimensional na vida real.

Forster, por sinal, mais uma vez encaixa um bom olhar estético a história, devido à fotografia hiper-granulada do sempre competente Roberto Schaeffer. Porém, se a estética é bonita, não se pode dizer o mesmo das escolhas dramáticas do alemão. Decupando seus quadros com uma falta de cuidado surpreendente, o diretor cria incompetentes cenas de impacto, que diminuem a força do já fraco roteiro. O batismo é filmado com preguiça; o ataque ao mendigo é glamourizado e estilizado, quando deveria focar na emoção do protagonista ao ataque; as cenas de ação são caóticas e mal coordenadas. Forster só acerta quando investe em travellings manjados (como o bonito take de Butler na cruz da igreja) e quando conduz de maneira evasiva (como no raro momento de genuína emoção da película, a cena com o africano com a cicatriz no final). O impacto que Redenção poderia causar é imenso. Cenas como a da filha de Childers, chorando e falando "você ama mais suas crianças africanas que a mim", poderiam ser esplêndidas. Podendo ser ousado, questionador, o filme se limita ao primeiro patamar.

Pelo menos, o projeto ganha ritmo quando se concentra na tensão passada no Sudão. A cada vez que tenta ganhar dimensão dramática, Redenção fica pior. O que dizer da ridícula passagem em que Childers, quando já sabíamos do afastamento com a família, SE ESQUECE da data do aniversário da filha apenas para martelar a mensagem? E a coisa piora: era uma senha de cofre. Mas cada vez que a fotografia granulada se funde à paisagem árida dos desertos sudaneses, o filme se torna passável, já que na superfície ao menos funciona. Inclusive, sem a besteira do politicamente correto, o que sempre ajuda. Já como debate e retrato de uma figura curiosa e interessante, soa apenas imbecil.




Childers real pode ser o caipira caricato por natureza (o orgulho com que exibe a destreza ao atirar com uma mão só a shotgun é a síntese disso), mas é um caricato tridimensional. Pertence mais a um O Vencedor e O Poder e a Lei do que a um Redenção.




quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Malu de Bicicleta
(Malu de Bicicleta, 2010)
Drama/Romance - 90 min.

Direção: Flávio R. Tambellini
Roteiro: Marcelo Rubens Paiva

Com: Marcelo Serrado, Fernanda de Freitas e Marjorie Estiano

Falar de um relacionamento pretensamente adulto é uma coisa complicada no cinema. Primeiro é difícil definir corretamente, o que diabos é relacionamento adulto. Envolve dois maiores de idade? Envolve um relacionamento baseado na confiança, na compreensão? Envolve uma mutua parceria entre casal? Ou talvez fale sem preconceitos sobre desejo, sobre fantasias e sobre a percepção de que por mais que amemos profundamente nossos parceiros, não é errado de repente olhar a grama do vizinho, e se for de comum acordo entre parceiros, adicionar uma nova sementinha a relação?

Por isso, minha teoria é que existem realmente muito poucos filmes que falam sobre  relacionamentos de uma ótica verdadeiramente adulta, mesmo porque essas características que citei acima, fazem parte do mundo de sonhos do relacionamento perfeito, e não conheço ninguém que consiga a todo tempo, durante todo o relacionamento manter todas essas características citadas. O ciúme, o medo, inseguranças mil, sentir-se inadequado, a rotina, tudo isso tempera um relacionamento dito, adulto.


É muita pretensão minha, tentar julgar se o filme x ou y fala de um relacionamento adulto, mas, é possível sim analisar se o filme x ou y consegue - diante de sua proposta - ser importante na discussão do tema, ou engraçado, ou romântico, ou assustador ou simplesmente blasé, desinteressante, banal ou fútil.

Malu de Bicicleta é irregular, e como tal tem momentos de profunda sensibilidade e outros de profunda nulidade. Falamos do vazio e solitário empresário paulistano Luis (Marcelo Serrado), um mulherengo assumido que não tem vergonha (deveria?) de "usar" as mulheres como parceiras sexuais de forma consensual e aparentemente sem muito stress. É "perseguido" por uma das muitas parceiras de alcova, que parece profundamente transtornada com seu charme ou algo assim.


Marcelo Serrano dá dignidade a Luis, embora recorrentemente vocifere alguns diálogos pretensamente engraçados que são profundamente patéticos. Toda a idéia dele ouvir os corpos femininos convidando-o para os conhecerem melhor é mal realizada, não funciona de forma erótica e muito menos de forma hilária. Obviamente Luis está em busca de alguma coisa que não sabe, mas que sente falta. Essa "coisa" é representada por Malu (Fernanda de Freitas), uma jovem ciclista que Luis cai perdidamente apaixonado em uma viagem de reflexão/autoconhecimento (coisa de gente rica) que o personagem faz ao Rio de Janeiro.

O relacionamento começa e boa parte do filme acompanha a relação de Luis com essa nova situação em sua vida: a de homem comprometido. É comum no cinema, aliás é até um clichê, o relacionamento estável e comum, ser pintado como a manifestação dos grilhões da escravatura que impedem o homem de seguir sua natureza predatória. Esse é um traço, para mim claro, de que muita gente tem os mesmíssimos problemas de nosso herói. Aceitar a condição de estar "preso" a um relacionamento é complicada, principalmente se isso não é parte integrante de sua idéia de vida feliz. Luis manifesta isso claramente, com arroubos de ciúme desnecessários, uma profunda falta de compreensão para com as necessidades da parceira e uma falta de capacidade - comum - de notar os sinais que as mulheres (esse bicho complicado) mostram quando estão felizes ou não.


Não existe propriamente um roteiro, uma jornada, mas um acompanhamento da rotina desse casal, com Luis cada vez mais neurótico com as ações de Malu. Malu por sua vez, é caracterizada como uma mulher sensata, apaixonada por seu namorado, mais que não quer (e nem deveria) abrir mão de sua individualidade e de sua vida pregressa.

Luis, no fundo, é um personagem detestável. Detestável por que é impossível não notarmos traços de nossas próprias personalidades em suas ações. Todos nós já tivemos crises de ciúme sem sentido, desconfianças e nos sentíamos intrigados com o fato de sermos amados. Nós (espero que os leitores sejam assim, ok?) vencemos essas crises, já Luis, torna-se cada vez mais neurótico.


O problema de Malu é a rigidez com que uma história tão solta é apresentada. Alguns momentos não deveriam ter sido mantidos na versão final do filme, como a aparição de um marido traído chorando e desesperado para com Luis, implorando de forma pavorosa para que o Bon vivant deixe de estar presente na vida de sua mulher. Ou mesmo a montagem que falha ao não mostrar ao espectador o tempo daquele relacionamento, ou o crescimento daquele namoro que culmina em uma relação estável (não sei se chegam a se casar realmente). Vendo o filme parece que tudo acontece de forma abrupta e apressada. Que a paixonite se transforma em casamento em questão de minutos. Um maior cuidado com a direção de arte (talvez, até apelando para um objeto de cena que marcasse a passagem de tempo) talvez resolveria esse problema. O filme tem um epilogo que diz ao espectador o tempo em que aquela história se passa, o que comprova a tese da pressa e da completa falta de maturidade de Luis.

Malu, como disse no começo da crítica, não ofende, mas também não consegue ser brilhante. O único brilhareco notável no filme, é a sequencia que batizei de "consumação do apocalipse" que ocorre no final do filme e que, além de bem pensada, tem um ritmo envolvente, é muito bem montada (criando realmente tensão) e apresenta ótimos momentos dos atores envolvidos na cena.


Flavio Tambellini (do interessante Buffo e Spalanzani) dirige com uma mão pesada desnecessária para uma produção que se deixa levar pelo vento, com um roteiro que apenas sugestiona (Marcelo Rubens Paiva) e que talvez funcionasse melhor e de forma mais intensa se fosse adaptado para o teatro, onde os episódios de crise de casal teriam ainda mais impacto, sem ter de concorrer com todos os elementos ao redor.

Apesar de tentar falar de um relacionamento adulto, Malu o faz de maneira juvenil e escorrega na forma de apresentar os sentimentos daquele casal ao público. Falta uma cena forte, uma interpretação visceral ou uma resolução menos cíclica e óbvia.