Noite de Ano Novo
(New Year's Eve, 2011)
Comédia/Romance - 118 min.
Direção: Garry Marshall
Roteiro: Katherine Fugate
Com: Michelle Pfeiffer, Zac Efron, Robert De Niro, Halle Berry, Jessica Biel, Katherine Heigl, Jon Bon Jovi, Sofia Vergara, Ashton Kutcher, Lea Michele, Sarah Jessica Parker, Abigail Breslin, Josh Duhamel, Hilary Swank e Hector Elizondo
De vez em quando a profissão exige certos sacrifícios. Muitos leitores talvez imaginem - e não tiro a razão de vocês em termos - que a profissão de crítico de cinema é fácil, afinal basta assistir a filmes e escrever sobre eles. Muitos "colegas" escrevem de qualquer jeito, sem nenhuma preocupação com o conteúdo e ficam felizes apenas com os triviais "gostei" e "não gostei", sem perderem tempo tentando decifrar os porquês da coisa toda (essa é outra discussão longa que talvez mereça até uma publicação especial por aqui).
O que vocês talvez não saibam, é que ao mesmo tempo em que vemos os mais interessantes, fantásticos, bem realizados, bonitos e inteligentes filmes do ano, também somos "obrigados" a assistir as piores atrocidades cometidas todos os anos e que chegam as telas do cinema. Garanto a vocês, que o impulso de levantar da cadeira e sair andando sem olhar para atrás acontece com certa frequência, mas em geral, sempre consigo ver aqui e ali, algum detalhe ou interpretação que seguram esse impulso de sair correndo.
Porém, às vezes, a consulta ao relógio e o "pensamento paralelo" tomam conta da mente e do olhar, e nos fazem realmente ameaçar sair de certas sessões, que não fazemos por respeito aos profissionais das distribuidoras que gentilmente nos convidam, ao público que quer saber (acho/espero/gostaria de pensar que) suas impressões sobre determinado filme e por convicção profissional, afinal nem tudo são flores nessa vida.
Noite de Ano Novo se enquadra nessa última categoria, e é sem dúvida uma das piores experiências cinematográficas do ano, fazendo frente a outras pérolas e que dificilmente não estará presente na nossa lista anual (pelo menos a minha) de piores filmes do ano, já que consegue a proeza de não ser nem engraçada, nem romântica, nem cínica, nem divertida e nem uma boa realização cinematográfica.
A direção fraquíssima de Gary Marshall (do Cult Uma Linda Mulher) é burocrática e nem um pouco inspirada, se limitando a mostrar ao público todos os muitos astros e estrelas que fazem pontas no filme. Parece mais cobertura de tapete vermelho de premiação do que um trabalho sério de direção cinematográfica. Em 2010, o diretor havia reunido um elenco tão estelar quanto esse para criar o açucarado e bobinho, mais infinitamente superior a esse aqui, Idas e Vindas do Amor, que falava dos encontros e desencontros de um grupo de pessoas durante o dia dos namorados americano.
Talvez falte a inspiração de uma data claramente romântica aqui, já que esse Noite de Ano Novo, não apela apenas para o pseudo romantismo, mas tenta dar "lições de vida", apresentar moribundos, mulheres frustradas com sua vida, homens buscando encontrar seu lugar na vida, casais brigando por dinheiro pelo primeiro filho a nascer em um novo ano (sim, pois é), cantores pop em crise, jovens rabugentos que encontram razões para curtir o ano novo e é claro, muito amor politicamente correto PG-13/conto de fada com príncipe encantado feito para uma geração cada vez mais infantilizada e aborrecida.
É desnecessário listar os muitos (mesmo) plots da história e me limito a dizer que invariavelmente todos são fracos e óbvios. O que se salva desse mar de gente talentosa (ou não) é muito pouco. A história da mulher frustrada (Michelle Pfeiffer) é talvez a única que funcione em alguns momentos, já que a atriz está bem e seu par em cena (o teen star Zac Efron) também não compromete. Talvez , e se Marshall não fosse tão egocêntrico, essa historia simplesinha poderia apresentar todos os mesmos elementos que ele espalhou por dezenas de histórias ruins em apenas uma narrativa.
Outros destaques pinçados aqui e ali, vão para a voluptuosa Sofia Vergara que trás sua Glória da serie de tv Modern Family, para o ambiente do filme e para a dignidade que De Niro tenta dar ao seu papel. Por outro lado algumas escolhas realmente não funcionam, como a ideia de colocar em um mesmo plot, dois dos atores mais irritantes (apesar de extremamente famosos e populares) do momento: Ashton Kutcher e Lea Michele (que também canta para alegria dos fãs).
Mais o maior problema das muitas historia do filme está nas formulas pré-estabelecidas e que muito de vez em quando funcionam. Mesmo com a intenção clara de ser apenas uma diversão escapista, é preciso que o que se propõe funcione nos quesitos que julga importante para o desenvolvimento de sua narrativa. Pura e simples matemática.
A tal "auto-ajuda romântica" significa que o filme é petulante a ponto de apresentar histórias que são mostradas como soluções mágicas para seus problemas. No caso de Noite de Ano Novo, isso fica claro no discurso sobre a importância da data feita pela personagem de Swank. Apesar de mal escrita e cheia de lugares comuns, na realidade de personagens vazios e completamente imbecis ela serve de inspiração para uma mudança de vida. Basicamente é assim que o filme enxerga seu público: criaturas vazias, recheadas de pipoca e refrigerante que não conseguem resolver nenhum de seus problemas.
O romantismo puro e melado do filme por sua vez, também atende a formula hollywoodiana do amor perfeito, cheia de demonstrações publicas de carinho, frases bregas e (novamente) lugares comuns. No fundo, é apenas uma reunião que parece não ter fim de todos os clichês das comédias românticas americanas.
E antes que leitores e leitoras atirem suas pedras, me chamando de insensível e afins, digo que filme românticos (aqueles realmente bons) funcionam da mesma forma que um romance/namoro/casamento geralmente funciona: não são perfeitos. Tem problemas, discussões, e não são resolvidos com uma cantoria, um abandono de carreira ou um buque de flores. As coisas - assim como nos bons filmes - são resolvidas com naturalidade, com uma boa conversa e com o sentimento de que estamos vendo (ou vivendo) uma experiência verdadeira. Muito longe do que as comédias românticas enlatadas tendem a fazer. Nelas, tudo é simplista, óbvio e relaxante, como um fast food, feito para que as pessoas não se sintam verdadeiramente tocadas por aquele filme. O importante é desopilar o fígado e esperar pela próxima bobagem semana que vem, sem pensar em deixar marcas, em aprender alguma coisa ou modificar seu pensamento por que alguém te disse alguma coisa, ou você (na tela) acompanhou uma experiência intrigante e honesta.
É quase uma confissão de ruindade quando seu único momento de real prazer e alegria acompanhando o filme, venha dos créditos finais quando vemos o que os atores estavam fazendo fora das câmeras e que talvez não puderam fazer em frente às mesmas: divertir o público.
Noite de Ano Novo só não é o pior filme do ano, por que infelizmente em 2011, tive o desprazer de ver outros filmes, mas certamente é a pior comédia romântica do ano e uma vergonha para a carreira de todos os envolvidos.
Realmente, é muito ruim. Não fosse o óbvio suporte financeiro da Philips, Nivea e Toshiba, não teria o elenco que tem e, obviamente, não teria saído do papel.
ResponderExcluirEnquanto isso, temos que aguentar pessoas dizendo "preciso ver este filme de novo" 5 segundos depois dos créditos finais surgirem na tela (sim, isso aconteceu de verdade na sessão que eu fui). Aparentemente, descobrir que Hilary Swank não é o affair de Josh Duhamel é a melhor reviravolta desde O Sexto Sentido, por isso a empolgação. Ou talvez eu tenha sido irônico nesta última observação.
Abraço
Lea Michele e muito irritante, e verdade embora eu goste dela e de glee !
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