Compramos um Zoológico
(We Bought a Zoo, 2011)
Comédia/Drama - 124 min.
Direção: Cameron Crowe
Roteiro: Aline Brosh McKenna e Cameron Crowe
Com: Matt Damon, Scarlett Johansson, Colin Ford, Thomas Hayden Church, Maggie Elizabeth Jones e Elle Fanning
O simplismo travestido de história de superação. É - em pouquíssimas palavras - isso que Cameron Crowe faz em Compramos um Zoológico, a partir da biografia de Benjamin Mee que conta a historia de sua família quando essa compra um zoológico. Benjamin (Matt Damon) é um homem que perde sua esposa e que precisa reconstruir sua família, sua relação com os filhos e encontrar uma motivação para continuar seguindo em frente. Ele também é um forte opositor das seguidas tentativas de todos ao seu redor em demonstrar pena e "aliviar" a pressão sobre o recém- viúvo, e por isso, quando encontra uma ótima e afastada casa que tem como adendo um bucólico zoológico, decide fixar-se por lá, mesmo com os problemas entre ele e seu filho adolescente e rebelde (Dylan, interpretado por Colin Ford) que não aceita a morte da mãe, além de manter um comportamento arredio na escola (de onde é até expulso), e que obviamente não aceita muito bem a mudança para o zoológico.
Cameron Crowe assina o filme, neste que é o único de seus trabalhos em que ele não é o único responsável pelo roteiro, fazendo deste seu filme menos pessoal, embora o diretor tenha dito em entrevistas que "precisava contar a história de Benjamin" e que por isso o filme torna-se pessoal para ele. São desculpas e respostas prontas para camuflar o fato de que se não tivesse o pedigree de Crowe e não contasse com Damon e Johansson como estrelas, Compramos um Zoológico não chamaria a atenção de muita gente, já que não é bem sucedido quando precisa explicar a complexa montagem e administração do zoológico, e faz das relações humanas excessivamente melodramáticas.
Aline Brosh McKenna, a outra autora do roteiro do filme, coloca traços de outros de seus filmes no projeto. A roteirista responsável por uma série de comédias românticas (Diabo Veste Prada, Vestida para Casar, Manhã Gloriosa, Leis da Atração e o recente Não sei como Ela Consegue) usa de sua experiência para dar o tom de humor camp e implausível, para fazer do filme uma comédia romântica com cobertura indie de butique.
Traços nefastos do gênero estão presentes, por exemplo, na facilidade de resolução dos problemas financeiros de Benjamin que nunca são bem explicados, já que parece haver um problema em explicar os meandros das questões do vil metal para o público leigo. Mas compreendo que talvez fugisse da ideia do filme, de que o tom de conto de fadas era necessário, embora sempre me incomode com produções baseadas em histórias reais que aliviam no tom dos problemas enfrentados pelos personagens, fazendo dos biografados (em sua imensa maioria) pessoas sem defeitos e que resolvem seus problemas com facilidade, já que são "vencedores".
Crowe parece ter esquecido como contar uma história ao mesmo tempo popular e inteligente, e desde o pavoroso Elizabethtown, vem desaprendendo conceitos básicos como a escolha de figurino de seu filme, chegando até mesmo a enfrentar problemas na condução de suas múltiplas histórias e personagens.
Comecemos pela perfumaria: Benjamin sempre é visto de roupas escuras, o que é uma clara interpretação de seu luto, uma clara demonstração de que Crowe representa seus sentimentos de angustia e perda com o figurino. Pois bem, a partir do momento em que ele abre seu zoológico descobrimos que todos os outros funcionários também vestem roupas sóbrias e escuras, o que também mostra que a equipe tem duvidas quanto ao seu futuro, que existe uma distancia entre o almejado pelo grupo e sua realidade. O problema é que o óbvio, normal e aceitável é que tudo o que envolve um personagem (incluindo seu figurino) é alterado quando seus valores, moral ou humor vá se alterando, ainda mais quando a proposta do filme é exatamente esta: a de um conto de fadas simplista e sem grandes pretensões dramáticas. Crowe, no entanto, mantém todo mundo vestindo a mesma coisa quando as coisas começam a melhorar no filme, o que demonstra que na verdade a escolha de figurino foi apenas mais um detalhe sem importância para o diretor nessa produção, o que vai de encontro ao que o próprio Cameron realizou em outros filmes, como Quase Famosos por exemplo, em que mesmo nos apresentando um filme de época, cada personagem tinha sua própria personalidade estampada em cada figurino.
Quanto à condução das múltiplas histórias, fica claro que a ideia de colocar o personagem de Dylan encontrando uma amizade/amor com a personagem de Elle Fanning foi incluída na última hora, já que a relação dos dois em momento algum convence o espectador de sua credibilidade. Incluída, imagino, para que a personagem de Fanning tivesse alguma utilidade, o relacionamento baseado no velho clichê do garoto da cidade descolado que encontra a jovem e ingênua garota do campo, é mal realizado já que nunca chega a lugar algum, com uma incessante procissão de entregas de sanduiches, uma reviravolta final forçada e uma redenção que parece ter sido escrita pelo pai zeloso de Elle, talvez com medo de ver a grota beijar alguém na tela.
Além disso, o personagem do fiscal (o sem graça John Michael Higgins de Sim,Senhor, Loucuras de Dick e Jane e do recente Professora sem Classe) é tão caricato, que também foge da proposta "proto-realista" e de redenção emocional do filme. Só o fato de o personagem cortar a paisagem rural a bordo de uma possante caminhonete, apenas para demonstrar sua vilania e desrespeito pela natureza, demonstra a construção infantilizada de Walter Ferris.
O que se salva é a entrega de Damon ao papel, que resulta em dois ótimos momentos, um que mostra que Crowe continua afiado na escolha de suas canções para seus filmes e outra que resulta em um diálogo forte entre ele e seu filho, o que norteia toda a produção. Já Scarlett está no automático e sua personagem, apesar de ser apresentada como uma mulher forte e decidida, é no fundo o ideal da "mulher mal cuidada" e que precisa de um homem para se acertar e ser feliz.
Compramos um Zoológico é simplista e não faz jus a carreira do até então eficiente Cameron Crowe, que parece ter perdido a mão, entregando esse inofensivo e "bobinho" conto de superação.
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