Gato de Botas
(Puss in Boots, 2011)
Aventura/Comédia - 90 min.
Direção: Chris Miller
Roteiro: Will Davies, Brian Lynch, David H. Steinberg, Tom Wheeler e Jon Zack
Com as vozes de: Antonio Banderas, Salma Hayek, Zach Galifianakis, Billy Bob Thornton e Amy Sedaris.
Mesmo depois dos pavorosos Shrek 3 e Shrek para Sempre, a Dreamworks continua apostando em sua "gansa dos ovos de ouro", agora com o spin off de Gato de Botas, o carismático personagem introduzido no segundo filme da série. Nesse prequel, conhecemos a origem do personagem, suas primeiras aventuras, seus aliados, família e inimigos.
O grande problema de Gato de Botas é que falta a ele a ousadia e o humor ácido que caracterizou os primeiros dois filmes da serie Shrek, ao mesmo tempo em que o longa investe em desnecessárias sequencias de dança e apresenta um vilão desinteressante e que atrapalha o heroísmo do Gato, que aqui está mais afetado, "libidinoso" e aventureiro do que nunca. Se na série Shrek, o personagem sempre surgia como o coadjuvante que roubava a cena, aqui ele tem de aparecer como grande herói e figura central do enredo, o que nem sempre é sinal de bons trabalhos (vide o péssimo Piratas do Caribe 4), mas que nesse caso não incomoda, já que o roteiro deixa de lado a atmosfera mais cínica/adulta/ácida do humor dos filmes do ogro verde para apostar na aventura infanto-juvenil com ligeiras pitadas de humor mais adulto.
Na história, vemos o Gato se reencontrar com seu "irmão de sangue", o também personagem clássico das histórias infantis Humpty Dumpty (que não é tão conhecido por aqui), um "homem" que é um ovo (enfim), após ter sua tentativa de roubo dos feijões mágicos ser frustradas por uma ladra conhecida como Kitty Patas Macias, que trabalha com o garoto ovo.
O filme então mostra o motivo para que Gato e Humpty tenham se distanciado, o que é pretexto para apresentar ao público em um flashback, a historia de origem do felpudo de botinas, que é óbvia, cheia de clichês, mas que não deixa de ser interessante.
Quando o filme retoma ao presente, Gato e Humpty acabam se reunindo para conseguirem encontrar os tais feijões, um velho sonho da dupla. Para quem não se recorda, os tais feijões mágicos são aqueles mesmos que João recebeu em troca de uma vaca e que davam acesso ao castelo do Gigante no céu, onde ele encontrou o ganso dos ovos de ouro. Mais uma vez, a Dreamworks aumenta o escopo de seu "mundo Shrek" incluindo outros seres encantados que até então não tinham feito suas estréias na serie.
Dizem, e eu concordo, que medimos o valor e importância de um herói, de acordo com a sensação de perigo que seu antagonista provoca no público. No caso de Gato de Botas esse é mais um elemento que enfraquece o filme, já que o personagem vive repleto de dúvidas e suas "mudanças de humor" apesar de justificadas pela historia, não soam razoáveis. Além do fato de que o público facilmente identifica o vilão, assim que ele surge em tela, talvez calejados por uma serie de filmes que apostam na mesma ideia.
Tentando ao máximo não estragar a diversão de quem vai assistir ao filme basta dizer que: se você imagina saber quem é o vilão de cara, sim, você acertou. Outro problema é que o filme parece muito mais longo do que a metragem indica (pouco mais de 80 minutos), graças ao ritmo inconstante da história, que começa lenta e explicativa - o interlúdio com a origem do Gato ajuda a dar essa sensação - para descambar em uma espiral de ação amparada por gansos gigantes, máquinas voadoras, destruição de cidades inteiras e uma história de amizade e amor felino.
Amor felino que surge do encontro do Gato e de Kitty e que começa em um duelo de dança (pois é), que faz mais mal do que bem a história, já que incomoda como número musical e poderia facilmente ser substituído pelo flerte e conquista de maneira menos "pseudo-erotica", como a própria Dreamworks tinha feito no primeiro Shrek. Mas a irregularidade do filme, faz o ritmo da produção mudar de forma abrupta, saindo de um início que apesar da ação (a ótima perseguição pelos telhados de San Ricardo, por exemplo) era mais contido, para a ação controlada (o grupo no pé de feijão e o encontro com os tesouros do gigante), finalizando em uma resolução apressada, que tenta apresentar uma conclusão para todas as historias paralelas (o amor felino, redenção de personagens, a ameaça do invasor gigante), sacrificando conclusões mais elaboradas.
Visualmente, Gato de Botas continua o bom trabalho da Dreamworks, e é um avanço visual na série Shrek, mas ainda fica longe do trabalho da Pixar (mesmo quando erra, visualmente continuam impecáveis), da Nickelodeon/Paramount com Rango e da Warner com a mais bonita entre todas as animações no ano, Happy Feet 2. As cenas de ação e as que precisam da dimensão monumental (como a escalada do pé de feijão) são muito boas, com ótimo uso de travellings, uma paleta de cores que se apóia nas cores primárias e ótimos efeitos de luz, que dão realismo as sequencias.
Mesmo assim, fica um gosto agridoce na boca. Uma premissa interessante, a criação de um anti-herói animado, um coadjuvante aparentemente interessante, mas que se complica com todas as ideias que pretende desenvolver, fazendo do terceiro ato uma correria desenfreada. Falta aquela acidez que fez dos dois primeiros Shreks obras que resistirão ao tempo (uma aposta minha), falta aquele deboche com o clima de conto de fadas. Gato de Botas é muito reverente com a ideia de aventura de ação e as poucas piadas que realmente funcionam são eclipsadas por números de dança e um macacão dourado.
Obs: o 3d é desnecessário, sendo apenas mais um desnecessário acréscimo ao preço do ingresso.
Alexandre
ResponderExcluirAchei também mediano esta animação cujo roteiro não consegue funcionar em retrospecto depois da reviravolta principal da narrativa. É divertidinho, mas nada que justificasse lançamento no cinema.
Uma dúvida que talvez você tenha tido: a montagem que apresenta um personagem que estava em todos os lugares é uma referência a qual filme? Eu sei que eu já vi isto antes, mas não lembro onde :/
Márcio, também me pareceu familiar e o efeito das aparições do personagem até funcionam, mas como você não me recordo aonde vi esse tipo de montagem antes.
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