quarta-feira, 31 de agosto de 2011


Haywire




Mais um dos últimos projetos já finalizados do diretor Steven Soderbergh , Haywire - que tem lançamento previsto para 20 de janeiro de 2012 - ganha seu primeiro trailer . Como de costume na sua carreira , Soderbergh varia entre grandes projetos e produções experimentais - e esse último tipo é o caso de Haywire . Como grande diferencial do longa, temos a presença de uma protagonista não-atriz (como Soderbergh também fez em The Girlfriend Experience). Gina Carano, ex-lutadora de MMA, é a heroína do filme de espionagem, que não parece inventar muito em roteiro , mas tem estilo de filmagem e pancadaria de sobra em sua prévia. Na trama, Mallory Kane (Carano) é uma ex-oficial de operações especias que trabalha para um grupo privado de ações militares . Quando traída por um dos seus companheiros de equipe, passa a buscar vingança. Recheado de estrelas coadjuvantes - Michael Douglas, Antonio Banderas, Ewan McGregor - seria este um Salt mais 
brutal, que viria a dar certo ? É esperar pra ver.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Singularidades de uma Rapariga Loura
(Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009)
Drama - 64 min.

Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira

Com: Ricardo Trêpa, Carolina Wallenstein e Diogo Dória


É emocionante presenciar um homem de mais de 100 anos disposto a fazer arte e contar histórias em um planeta cada vez mais imediatista e sem paciência para esperar nada mais do que cinco segundos. Por isso, Singularidades de uma Rapariga Loira é um importante registro da força de vontade e do talento desse fenômeno chamado Manoel de Oliveira.


Esse sentimento complacente não impede, no entanto, que o filme seja avaliado de forma crítica. E Singularidades não é um filme perfeito (longe disso), mas é ousado por contar sua história em pouco mais de uma hora (outra coisa raríssima). Acompanha Macário, um jovem secretário que trabalha na loja do tio, e que se apaixona por uma bela loira que mora em frente ao seu trabalho. Por meio de flashbacks, o rapaz , que viaja de Lisboa para o interior, conta a uma completa desconhecida, a história de sua paixão pela tal rapariga loira.



A fotografia é primorosa e os enquadramentos são tecnicamente perfeitos. Rígidos em sua forma e precisos em suas intenções pretendem (a meu ver) retratar a incrível incapacidade de uma sociedade em se abrir ao novo e suas complexas e difíceis relações sentimentais. Macário em sua epopéia para conquistar, noivar e desposar Luísa (a loira) precisa enfrentar a resistência dos a sua volta e manter-se financeiramente estável para (em sua cabeça) ser digno de dar um futuro a sua amada. O visual do filme amplia essa sensação de imobilidade do texto de Eça de Queirós e da idéia de Manoel.


Um dos problemas do filme, e que o impede de conseguir a nota máxima, é a forma quase declamatória com que os atores apresentam seus diálogos. Talvez trate também da idéia de Manoel de Oliveira de que a sociedade portuguesa é tão arraigada as tradições que mesmo em conversas informais o tom de formalidade não seja esquecido. Mas, isso prejudica a fluência do filme e impede que o espectador creia naquela gente. Parecem bonecos de cera repetindo a oração de Oliveira contra os problemas de Portugal.



Mesmo tendo menos de setenta minutos de duração, Singularidades sofre com um ritmo claudicante que faz o filme parecer muito mais longo do que é. A tal inteligência crítica para falar do país também sofre com excessos (como a homenagem a Eça de Queirós que aparece deslocada), mas tem em seu final ácido uma grande sacada.


Singularidades é um filme interessante por suas propostas, estética singular nos dias de hoje, mas que peca por suas próprias qualidades. Aposta demais em suas críticas e esquece que além de teorizar é necessário criar uma história que sustente essas idéias, o que infelizmente não é o caso do filme.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Motoqueiro Fantasma – O Espírito do Vingança




O invocadíssimo trailer do novo filme do herói mais sombrio da Marvel já se estabelece como um anti-Motoqueiro Fantasma 1, o que é excelente. Apostando num ar mais diabólico e trash, os diretores Mark Neveldine e Brian Taylor realizam aqui seu primeiro blockbuster de grande orçamento, mas parecem manter a mesma essência que os tornou tão famosos nos ótimos Adrenalina e Gamer. Com uma montagem frenética das sequências de impacto, após um arrastado e irônico começo “solene”, a prévia não esconde o visual do “herói”, que agora está com uma caveira mais negra e aterrorizante que a anterior. Se não bastasse o visual tresloucado e bem realizado dos diretores (repare o salto em câmera super-lenta do homem no precipício) e o tom descompromissado que é ideal pro personagem, ainda temos um Nicolas Cage tão inspirado como sempre, deixando-se surtar com mais facilidade e sem medo algum. Destaque pro “Ohh, it’s awesome” no final do trailer, que contém uma cena que é impossível de ser descrita aqui. Um promissor novo rumo.





domingo, 28 de agosto de 2011

In Time



O trailer estendido do novo filme de Andrew Niccol introduz muito bem a trama e, embalado por uma boa trilha, deixa mais ansioso ainda o espectador ávido por uma ficção-científica de qualidade. Com um interessante conceito de tempo como dinheiro, In Time ainda conta com a presença de cena imponente do cada vez melhor Justin Timberlake e da talentosa Amanda Seyfried. Prometendo desde já abordar questões como a imortalidade, o trailer do filme só mostra o que é um tema recorrente na filmografia de Niccol: Usar a ficção para debater temas filosóficos relevantes e atuais. Ainda utilizando engraçados trocadilhos com tempo (Don't waste my time) e o novo contexto monetário (Follow the Time é o novo Follow the Money), In Time têm uma ótima prévia que conta com um instigante ritmo. Promessa boa para o fim de ano

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amor a Toda Prova
(Crazy, Stupid, Love, 2011)
Comédia/Romance - 118 min.

Direção: Glenn Ficarra e John Requa
Roteiro: Dan Fogelman

Com: Steve Carell, Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Analeigh Tipton, Jonah Bobo, Kevin Bacon e Marisa Tomei

Meia idade, casamentos infelizes, personagens deslocados, aceitar o envelhecimento, saber ceder e perdoar. É disso que, basicamente, trata a comédia Amor a Toda Prova, novo filme dos diretores Glenn Ficara e John Requa (de O Golpista do Ano e responsáveis pelo roteiro de Bad Santa, entre outros). Dessa vez a dupla fica apenas atrás das câmeras e deixou o texto aos cuidados de Dan Fogelman (o mesmo de Carros, Enrolados, Carros 2 e Bolt). Se os currículos dos envolvidos não impressionam, o elenco reunido para essa comédia dramática é respeitável. Steve Carell, Julianne Moore, Ryan Gosling, Kevin Bacon, Marisa Tomei e Emma Stone todos reunidos para contar a história da separação de Cal (Carrell) e Emily (Moore).

Cal é um típico homem de meia idade que ficou para trás em alguns quesitos que fazem parte de nosso cotidiano. A moda é um deles, e é brilhantemente ilustrada na sequencia que abre o filme, quando Ficara e Requa mostram uma série de planos dos calçados usados por homens e mulheres que jantam a dois, em um romântico restaurante. Todos impecavelmente usando sapatos brilhantes enquanto as mulheres desfilam de salto alto ou sandálias com muito estilo. Quando a câmera mostra o nosso "herói", vemos que Cal usa um tênis que - no mínimo - não condiz com o que se espera de alguém que vá a um lugar desses. E antes que a patrulha do bom mocismo comece a berrar, não,  a idéia não é impor uma realidade sobre a outra, mas atestar que aquele homem parou no tempo e que aos poucos foi deixando sua vida e seu casamento se perder.


Não é surpresa então, quando Emily pede o divorcio e para melhorar ainda mais sua situação, diz que o traiu com um colega do trabalho. Cal, arrasado, sai de casa e passa várias noites em um bar até ser abordado pelo galã Jacob (Ryan Gosling), uma mistura de Don Juan do século 21 com Hitch - O Conselheiro Amoroso, que o filme já havia apresentado anteriormente quando ele tenta sem sucesso conquistar (um eufemismo para "levar para a cama") a travada e ansiosa Hannah (Emma Stone).

Ao mesmo tempo, o filme ainda dá espaço para o apaixonado filho de Cal e Emily, Robbie (Jonah Bobo) que está totalmente obcecado por sua babá, a adolescente desengonçada Jessica (Analeigh Tipton), que por sua vez começa a demonstrar certa queda por Cal. Enfim, um prato cheio para uma boa e convincente comédia de costumes, recheada com algumas piadas mordazes, alguma acidez, um pouco de escatologia e piadas físicas.


Amor a Toda Prova é a melhor comédia que vi esse ano em uma sala de cinema. Leve, divertida, realmente vale o preço - caro - do ingresso. Todo o elenco, incluindo os coadjuvantes tem ótimos momentos em tela, embora o filme peque pelo mal do bom mocismo, típico de produções americanas.

Steve Carrel comanda a festa interpretando Cal, como um homem completamente sem chão, quando se ve sem sua mulher. Parado no tempo, Cal reflete uma visão da realidade masculina que, segundo a mesma "morre" depois que se casa, e que por culpa própria, pela preguiça e como conseqüência da vida acaba se distanciando de sua própria personalidade, tornando-se um rascunho de ser humano, que não consegue atrair ou manter um casamento. O mais interessante, é que Carrel não tem idéia de sua condição, o que além de ser comovente como constatação de sua própria falta de tato, gera uma série de gags divertidas (a dos tênis New Balance é de gargalhar). Carrel é um dos poucos comediantes que conseguem interpretar sem apelar, o homem comum colocado em uma situação extrema. As reações do personagem são críveis e o ator ainda aproveita para apresentar mais uma faceta de seu talento, em uma cena delicada e profundamente honesta ao lado de Ryan Gosling (quando assistirem vão entender).


Ao seu lado, Julianne Moore é a mulher que tenta fugir do casamento frustrado e entediante, buscando um pouco de aventura. Apresentando tanto momentos cômicos (como a sequencia em que aos prantos revela ter visto Crepúsculo) quanto nos mais tocantes e emocionais (em especial, a cena em que conversa pelo telefone com Carrel, enquanto é observada pelo mesmo do jardim de sua casa) o mesmo talento, mostra (como se houvessem dúvidas ainda) sua capacidade de interpretação.

Fechando o quarteto de protagonistas, Ryan Gosling e Emma Stone mostram uma ótima química e confirmam-se como dois dos mais talentosos atores de sua geração. Gosling fugindo dos dramas intimistas ou dos trabalhos autorais, aqui vive uma versão mais sedutora e divertida de Hitch, personagem de Will Smith no filme homônimo. Gosling em momento algum, apesar de óbvios exageros, parece ser um cafajeste na concepção da palavra. Seu Jacob é traumatizado pelo passado e em sua atitude de negação foge dos compromissos e dos relacionamentos sérios. Você nota quando um grande ator está em cena, mesmo quando o roteiro é simplista e não busca nada mais do que divertir o espectador, ao perceber a atenção aos detalhes em sua atuação. Notem como Gosling jamais sobe o tom de sua voz, mesmo quando se vê diante de uma discussão acalorada. Stone, além de estar lindíssima, o que ajuda a entender a fascinação de Gosling por sua personagem, é carismática e tem um ótimo timing cômico. A sequencia que homenageia (ou será que tira um sarro?) de Dirty Dancing é engraçadíssima, e vai se transformando em um momento romântico e sensual, graças ao bom texto de Dan Fogelman e aos dois atores muito bem entrosados.


O filme ainda tem um terceiro plot que envolve a baby-sitter Jessica (Analeigh Tipton) que aproveita seu tipo físico para demonstrar ainda mais sua falta de jeito e de traquejo social e sua obsessão típica adolescente pelo homem mais velho. Analeigh é sensível e é outra atriz que apresenta timing cômico a ser explorado em futuras produções. O único problema desse elenco talentoso é o personagem do garoto Robbie (Jonah Bobo) que por "mérito" próprio ou do texto (ou ambos) torna irritante sua obsessão pela garota.

O discurso "Love conquers all" tão americanóide é um pouco anacrônico, mas não chega a incomodar. O excelente texto que mistura com inteligência a comédia de situação, o drama e o pastelão merece sim, elogios. Mesmo derrapando com a glicose durante as declarações de amor, consegue transmitir a idéia implícita em seu título. Esse Amor, Estúpido e Louco é o responsável por ações impensadas, personagens engraçados, as pitadas de emoção tão importantes em filmes assim e a melhor comédia do ano, até aqui.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos - A Origem
(Rise of the Planet of the Apes, 2011)
Ação/Sci-Fi - 105 min.

Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Rick Jaffa e Amanda Silver

Com: Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, Brian Cox e Tom Felton

Existem algumas formas de falar sobre preconceito na tela grande. As mais comuns são: o discurso direto e contemporâneo e o uso da fantasia para ilustrar a discussão sobre minorias. Em 1968, o Planeta dos Macacos deu sua gigantesca contribuição ao utilizar a fantasia para falar sobre a situação política e social da época. Para os que faltaram na aula de história, o ano de 1968 (também conhecido como o "ano que não terminou") foi pródigo em manifestações contra o preconceito, atos de autoritarismo, guerrilhas urbanas e insatisfação política a níveis globais.

A adaptação do romance de Pierre Boulle (Le Planet des Singes) aproveitou a idéia de uma sociedade dominada por macacos, onde os humanos eram os "animais", e adicionou camadas de discussão contemporânea a situação. Claro, embaladas pela ação, ficção cientifica e o final mais impactante e surpreendente da história do cinema.


Do filme original, seguiram-se quatro sequências bem realizadas em sua maioria, e que, em maior ou menor grau, continuaram a apostar nos comentários políticos e sociais intrinsecamente ligados ao filme original. Dentre eles, o terceiro filme, Fuga do Planeta dos Macacos (construído como uma comédia de situação que vai se transformando em thriller) e o quarto, Conquista do Planeta dos Macacos (que mostra a ascensão dos primeiros macacos e a primeira vitória dos símios contra os humanos) são os dois que melhor aproveitaram essa idéia do original. Muitos anos mais tarde, Tim Burton realizou a sua fantasia sobre o mesmo romance, com resultados medíocres. Investiu tanto - como é de praxe em sua produções - na questão visual, que esqueceu de rechear seu filme com os mesmos comentários que são parte integrante da graça e do sucesso dos macacos no cinema. O Planeta de Burton é um filme de ação genérico, que tem como diferencial atores vestidos de macaco e que ainda tem a cara de pau de "copiar" - em essência - o final surpresa do filme original.

Parecia então, que os macacos teriam encontrado aqui seu derradeiro destino. Mas, a Fox resolveu apostar novamente na franquia, tentando recontar sua origem (como está na moda) e apresentar do zero a uma "nova geração" a mitologia da série. Conseguem?

Em termos. Estão de volta os comentários sociais e as criticas a contemporaneidade, mas o roteiro erra - e feio - ao simplificar muitas das soluções que o filme desenvolve por boa parte de sua projeção.


A história fale do doutor Will Rodman (James Franco), um médico geneticista que em desespero para encontrar a cura para a doença de seu pai Charles (John Lithgow), testa sem muito esmero e cuidado, uma série de vacinas em chimpanzés, procurando vencer a doença e por conseqüência ajudar a humanidade. Aparentemente a vacina dá certo e quando Will apresenta a descoberta para o grupo de acionistas de sua empresa, o macaco que apresentava melhoria cerebral invade a sala e tem de ser abatido. O que ninguém sabia - nem Will, já que mesmo sendo cientista ele jamais se preocupou em testar o sangue de seus animais - é que o macaco, ou melhor a macaca, estava grávida. Num arroubo incompreensível de solidez moral, Will leva o animalzinho para casa e com o passar do tempo, passa a perceber que o macaco apresenta uma inteligência muito acima da média para sua espécie. Obviamente a questão de manter um animal profundamente inteligente em cativeiro (ou melhor, preso) causa conflito, ao mesmo tempo em que o pai de Will cria o macaco, agora batizado César, como um filho.

A relação entre Charles - em mais uma interpretação muito boa de John Lithgow - Will e o macaco César é o que faz do filme interessante na maior parte do tempo. Notem a sensibilidade dos pequenos gestos, como a cena que envolve um café da manhã, quando César - aqui já adulto - ajuda Charles a comer e troca olhares preocupados com Will. Uma proeza técnica e um dos poucos momentos realmente mágicos do filme.


O problema mais evidente na história de Rick Jaffa e Amanda Silver é a fragilidade do personagem de James Franco. Apresentado como um gélido e insensível médico, que não tem dó em testar qualquer nova vacina em animais, o personagem se afeiçoa ao macaco e começa a gostar dele, mas apenas, quando percebe que o bicho não age como tal, mas mimetiza o raciocínio humano. Por outro lado, não ve problemas, mesmo convivendo com um animal, em continuar a testar suas vacinas "como se não houvesse amanhã" em outros animais.

Isso merece um parêntese: por mais evoluídos que sejamos, ainda não conseguimos nos comunicar diretamente com os animais, portanto nossa percepção de inteligência e racionalidade é baseada em nossa própria condição. Planeta dos Macacos - mesmo o original - mimetiza essa idéia. Uma vez que os macacos são inteligentes e usam mais de sua capacidade cerebral, mais racionais e próximos dos humanos eles vão se parecer.


Essa é uma das discussões propostas pelo novo filme: a nossa incapacidade de aceitar as diferenças e de respeitar as individualidades de cada espécie na natureza. Em resumo: a velha critica do homem quando brinca de Deus e acaba criando alguma coisa que modificará sua realidade. Mas, o filme não convence quando apresenta a relação do médico e do animal. Passa boa parte do filme demonstrando que Will realmente gostava do macaco, para, em uma cena patética, dispensar completamente essa idéia, de forma apressada.

Por mais que consideremos Franco o personagem principal do filme, esse é um conceito "preconceituoso". O verdadeiro protagonista do filme é o macaco César, fruto da tecnologia impecável e profundamente crível da Weta (a mesma que criou o Gollum) e da interpretação fabulosa de Andy Serkis. Já passou da hora dos "velhinhos das academias" considerarem o ator para uma premiação. O trabalho de construção da personalidade de César é maravilhoso. César surge mais tri-dimensional e interessante do que todos os personagens humanos do filme. Serkis transfigura o personagem, mostrando todos a sua evolução desde o macaco brincalhão e interessado em encontrar uma namorada para Will (namorada essa vivida de forma unidimensional pela bela Freida Pinto), até a negação e o medo enfrentados pelo personagem quando é destituído de seu lar, culminando na autoconfiança, capacidade de liderança e inteligência tática que o transforma em uma espécie de general na parte final do filme. Serkis faz tudo isso com imensa qualidade, César é um personagem que nos emociona, nos aflige, nos causa medo e compaixão. Como todo grande personagem cinematográfico deveria fazer.


Os demais coadjuvantes cumprem as funções básicas dos estereótipos que são seus personagens. Desde o chefe da empresa de engenharia genética, corrupto e ávido pelo dinheiro (que em um comentário social nada sutil é interpretado pelo ator negro David Oyelowo), passando pelo cientista bondoso que se apega aos animais, aos demais macacos que são forjados como: o durão, o grandão de coração mole e o biruta, culminando nos tratadores de macacos humanos - que surgem posteriormente na historia - que são a encarnação da ignorância e do mal. Tom Felton repete as caretas de Draco Malfoy, e Brian Cox faz de seu personagem uma versão light de William Striker de X Men 2.

O único destaque entre os humanos vai para o mal aproveitado (imagino que na "versão do diretor" veremos mais do personagem) John Lithgow, que sendo um ator preciso e talentoso, faz de Charles um personagem crível.


Tecnicamente Ryan Wyatt (do bom O Escapista) é um diretor seguro do que quer mostrar, apesar de ser didático demais em alguns momentos. Como exemplo, uso a cena em que um determinado personagem diz, em meio a uma discussão, sua profissão, que virá a ter papel importante no final da trama. Um diretor mais ousado apostaria em não descrever a profissão do personagem e surpreender os espectadores mostrando-o quando fosse necessário, causando surpresa na platéia. Nas seqüências de ação (e existe uma na ponte Golden Gate, que é das melhores do ano, sem dúvida) o direto também vai bem, preferindo - felizmente - criar pequenos clímaces quando possível e em dar o escopo necessário às cenas, apostando em cenas aéreas, ou closes dos personagens para evidenciar as reações emocionais dos personagens. Aqui e ali, o vicio moderno da câmera treme-treme dá o ar da graça, mais de forma muito mais sutil do que a maioria das produções de ação. 

A montagem de Conrad Bluff IV e Mark Goldblatt é frenética, fazendo do filme um thriller de ação desde a saída. Isso faz o público ficar atento a ação na tela, mas prejudica o ritmo quando é necessário ter mais tempo para apresentar os personagens.


Os fãs por sua vez - imagino - gostarão da série de homenagens e referencias ao filme original presentes em Planeta - A Origem. Frases clássicas estão lá, ditas em contextos diferentes é claro, assim como detalhes mais sutis, como a nomeação dos macacos que fazem parte da experiência genética de Olhos Brilhantes (como o personagem de Charlton Heston era chamado no filme original), ou mesmo a inserção proposital da primeira viagem a Marte, como posicionamento histórico do filme novo dentro da franquia (para quem não sabe, a viagem do filme original que culmina na chegada ao "planeta dos macacos" era a primeira tripulada para Marte).

Planeta dos Macacos - A Origem não é a tragédia anunciada que poderíamos imaginar. Mas,  perde muitos pontos por ter como fio condutor da história, um roteiro tão frágil e que simplifica as ações dos personagens. O final é quase esquizofrênico, quando propõe uma redenção de personagem por meio do discurso fajuto "foi tudo minha culpa", que poderia - e deveria - ter sido evitado. No fundo o personagem de Franco, uma visão da humanidade destrutiva, jamais gostou do bicho, e só o mantinha em casa por comodidade e como bizarra experiência genética.


Muito diferente do dono de circo Armando (Ricardo Montalban), que no clássico Conquista do Planeta dos Macacos, realmente amava o "seu" César e o respeitava como tal. Teríamos involuído? Ou a visão de Ryatt é mais próxima do que a humanidade realmente é? Hipócrita, maligna e autodestrutiva. Somente o tempo, o senhor de todo o universo, será capaz de dizer se nosso futuro será o mesmo de O Planeta dos Macacos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011


Drive




O estiloso trailer do novo filme de Nicolas Winding Refn, do soberbo Valhalla Rising, é hábil ao apresentar bem o caráter do trabalho do protagonista, vivido por Ryan Gosling, sem se estender. Já dando uma prévia das perseguições filmadas pelo diretor premiado em Cannes, o trailer ainda aposta na trilha mais incidental eletrônica que Refn utilizou no ousado Bronson, em 2009. Mostrando a natureza suja e criminosa de seu filme, Refn impõe frases de efeito fantásticas (a das mãos sujas é genial) e atira seu arsenal de estilo nas sequências de violência com música calma ao fundo, o que rende momentos tão lindos quanto o beijo de Gosling em Carey Mulligan, quanto brutais, a sequência no elevador e a martelada na cara. É de se esperar um novo filme brilhante de Refn, se firmando cada vez mais como um dos grandes diretores dessa geração. Parece que nem ao mesmo em Hollywood ele se deixou comprar pelos produtores.

terça-feira, 23 de agosto de 2011


A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.

Quero Ser John Malkovich
(Being John Malkovich, 1999)


Escritor imaginativo e incrivelmente inventivo, Charlie Kaufman é um dos roteiristas mais inteligentes que atuam em Hollywood. Suas tramas são sempre intrincadas, com desafios intelectuais e propostas de tramas sempre ousadas. Ao mesmo tempo, mesmo com essa mão boa para trabalhar com a racionalidade e com verdadeiros desafios mentais, Kaufman revela grande tendência emotiva em suas histórias. Para conseguir mesclar de maneira tão suave essas duas vertentes, de fato, é necessário um algo a mais, ser verdadeiramente genial. No seu trabalho de estréia, Quero Ser John Malkovich (1999), podemos encontrar quase todas as suas qualidades que viriam a ser mais exploradas no decorrer de sua vindoura carreira. E todas essas qualidades cristalinas, foram exibidas, pela primeira vez, numa narrativa verdadeiramente inovadora, intrigante e brilhante.

Assim como o roteirista, um estreante no cinema se encarregou de levar o projeto ás telas. Na época marido de Sofia Coppola, Spike Jonze recebeu o roteiro de seu então sogro, Francis Ford Coppola - que havia recebido o roteiro de Kaufman, o qual procurava por produtores interessados - e decidiu rodar o longa. Desse modo nasceu o embrião de Quero Ser John Malkovich, através de uma união de estreantes talentosos, que possuíam características semelhantes no estilo - afinal, se Kaufman é excêntrico em suas narrativas, Jonze segue pela mesma peculiaridade - e que se complementavam com encaixe e combinação perfeitas.

E Quero Ser John Malkovich, pode ser considerado, sem exageros, um verdadeiro clássico. Com muitas interpretações e detalhes sem paralelo existente em nenhuma outra obra de outro roteirista, é um filme que marca por ser singular em vários aspectos, e também por ser um espetáculo que estimula nossas mentes a ir a lugares nunca antes imaginados.

A trama imaginada por Kaufman desabrocha gradativamente como uma flor. Acompanhamos a princípio Craig Schwartz (John Cusack) um titereiro (o homem que manipulas as marionetes) profissional que está desempregado por não haver procura por seu trabalho no mercado. Até que um dia, Schwartz encontra um emprego no arquivo de papéis em um estranho prédio, e vai trabalhar no andar 7 1/2, um andar com teto menor, para empresas que precisam ''cortar custos''. Ali, Schwartz começa a se interessar por Maxine (Catherine Keener) - apesar de ele ser casado com Lotte (Cameron Diaz) - e faz uma descoberta impressionante: em uma parede do andar, há um tipo de portal, que permite àquele que o passa, 15 minutos na mente e no corpo de John Malkovich (este último interpretando uma versão ficcional de si mesmo). Tal fato incrível será a engrenagem central e fundamental para as reações sensacionais entre os personagens ao longo do filme.

Os roteiros escritos por Charlie Kaufman possuem um diferencial por estabelecerem um universo semelhante ao que vivemos, mas com detalhes absurdos que fazem tudo - absolutamente tudo - mudar de figura. Em Quero Ser John Malkovich, obviamente não é diferente. O que o escritor faz aqui é um estudo muito interessante sobre o ser humano - estudo esse que seria prolongado em seus projetos posteriores, como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, por exemplo, com caráter mais romântico. Esse debruçar sobre o homem vem de maneira quase científica: introduzir, no meio de uma sociedade dita ''normal'' um detalhe irreal e catastrófico, e absorver a reação de todos. No caso deste filme, o detalhe é simples, mas cruel: expor a mente de uma pessoa ao domínio público, e exercer, em diferentes escalas, um dos artifícios que os seres humanos menos gostam de ser submetidos - a manipulação.

Por isso o subtexto do titereiro com suas marionetes é tão importante e crucial para a obra. Vemos os personagens cobiçando a mente de John Malkovich, querendo ser ele pelo menos por 15 minutos que seja. Ora, o lema do titereiro é esse ''ver pelos olhos de outra pessoa, viver pelos olhos de outra pessoa''. Talvez a vontade de viver a vida de outro ser - uma celebridade - seja uma alfinetada aos acomodados e insatisfeitos com a própria vida. Quantos não se amontoam em frente ao sofá para ver Reality Shows ou fofocas diárias? Mas paralelamente a isso, repare no furacão que passa pelas vidas dos personagens principais após começarem a explorar o portal. Com detalhes imprevisíveis, as reações humanas são extremas e também inesperadas. Uma deseja a troca de sexo; outra cobiça poder e mais poder sobre a descoberta; alguns querem viver mais e mais; e outro tem o desejo mais primário: conquistar o amor de quem ele ama.


E o grande dilema que rodeia nossas mentes e nosso coração ao desenrolar da trama - que vai num crescente rumo à obliteração como Clube da Luta, ou Magnólia - é o da dinâmica entre titereiro e marionete, afinal. Aquele que se apossa do corpo de outro, não terá a própria identidade, e viverá pelo corpo de outro ser. Aquele que tem o corpo apossado, simplesmente existirá, mas não VIVERÁ efetivamente. Uma relação dolorosa para ambas as partes, mas que nos revela algo a mais: até mesmo aqueles que dominam o corpo alheio, que seriam os denominados ''titereiros'' de humanos, são na verdade meras marionetes, controlados por seus desejos irracionais e irrefreáveis (aqueles que citei no fim do parágrafo anterior). Alguns, tomam a racionalidade e abandonam seus desejos, se livrando dos fios que os comandam. Outros, entretanto, dão poder completo a seus desejos, e permanecem como meras marionetes, sem expressar vontade própria, pela eternidade.

Diante disso, é preciso grifar um momento ápice de genialidade presente no longa. John Malkovich, personagem do filme, é, afinal, a pessoa mais manipulada e mais ''violada mentalmente '' da trama. Todos adentram seu corpo, tomam atitudes por ele, vivem sua vida. É a marionete em pessoa. Então, tomando parte do ser que ele é - um famoso ator, que vive muitas vidas e sofre tanto assédio - , o próprio filme formula a pergunta '' O que acontece a um homem que adentra o próprio portal?'' Ora, a resposta transposta em tela é caótica. E não seria diferente: um ser que é manipulado constantemente, quando encontra o seu eu interior, toma um choque. O resultado não seria outro além do caos. Brilhante sacada captada pelas lentes de Jonze com sucesso.

Aliás, sem sua equipe preciosa, Quero Ser John Malkovich não teria tanta força. Seu elenco é excelente, com destaque para a competente Catherine Keener, imersa completamente no papel, e uma ovação para o Malkovich ator. Interpretar a si mesmo já não deve ser fácil - repare nas variações delicadas da interpretação, quando Malkovich está entre populares, e entre pessoas do seu meio - e ainda mais interpretar um terceiro incorporado ao seu corpo. Gênio da atuação, é o que se sai melhor no filme que carrega seu nome.

Na parte técnica, temos sucesso em todas as partes. A trilha do mestre Carter Burwell é precisa ao montar, através de notas singulares de piano, verdadeiras sinfonias, que despertam desespero e aflição nos momentos certos, sem perder em nenhum ponto a originalidade de sua composição. Também é válido dizer que em meio a um filme complexo, com muitos pontos de vista e conceitos inéditos e inexplorados que brotaram da mente fértil de Charlie Kaufman, é imprescindível a presença de um bom montador, papel que Eric Zumbrunnen exerce formidavelmente, sabendo cortar velozmente nos momentos certos, dando ao filme um ar enxuto que só auxilia no produto final. Por fim, é impossível não saudar Spike Jonze, diretor que tem um olhar tão peculiar e dado a estranhezas quanto à imaginação e roteiro de Kaufman. Uma dupla perfeita, onde Jonze consegue captar em tela com excelência todas as emoções propostas no papel por Kaufman.

Uma obra de arte exuberante e um marco no cinema em geral, Quero Ser John Malkovich é um filme que aborda temas com sutileza e adequação, e estimula a mente dos espectadores com conceitos inteligentíssimos, intrigantes e completamente originais. Para finalizar, analisemos a bela cena de abertura que, além de esteticamente deslumbrante, possui muito significado para a obra: Uma dança com música alta e tensa, de uma marionete. Ela salta, corre, e então percebe algo que não esperava. Esperneia, desespera-se, quebra seus pertences e cai no chão, aos prantos. Tudo isso, pois ''vê'' que estava sendo manuseado por um titereiro. E não há tormenta maior, para qualquer ser, do que ser manipulado.


.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Carnage




O surpreendente trailer do novo filme de Roman Polanski já entrega muito bem o que esperar da trama, mas é esperto ao causar um espanto no espectador. Quem esperava uma trama densa e pesada vai se deparar com um cômico ensaio sobre casais. O que era apenas uma reunião para resolver uma briga entre os filhos dos dois casais, acaba se tornando uma discussão moral e divertidíssima sobre as fraturas de cada relacionamento. Se o tom bizarro, reforçado por uma engraçada trilha, já é suficiente para aguçar a curiosidade, o elenco afiadíssimo que vai de Kate Winslet a John C. Reilly já concretiza a expectativa.



sábado, 20 de agosto de 2011


Don't Be Afraid of the Dark


Produção de Guillermo del Toro (diretor dos dois Hellboy e do mágico Labirinto do Fauno) que volta a suas origens do terror (ele dirigiu o cultuado Espinha do Diabo e produziu o impactante O Orfanato entre outros) apresentando Don't Be Afraid of Dark, que reúne um elenco interessante (Katie Holmes de Batman Begins e O Casamento do meu Ex e Guy Pearce de Amnésia, Priscila Rainha do Deserto entre outros) em um filme que parece misturar duas das coisas apavorantes no cinema de horror: casas amaldiçoadas e crianças macabras. Com o selo del Toro de qualidade, marca a estréia de Troy Laxman na direção. O trailer é eficiente em sua proposta e parece garantir bons sustos. Curiosidade: o roteiro é baseado em um filme para tv da década de setenta.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Professora sem Classe
(Bad Teacher, 2011)
Comédia - 92 min.

Direção: Jake Kasdan
Roteiro: Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg

Com: Cameron Diaz, Jason Segel, Justin Timberlake, Lucy Punch

Politicamente incorreto é pouco para descrever a nova comédia estrelada por Cameron Diaz e dirigida pelo filho do lendário Lawrence Kasdan (o diretor de Corpos Ardentes e roteirista de O Império Contra-Ataca e de Caçadores da Arca Perdida), Jake Kasdan. Professora sem Classe conta a história da fútil, vazia e imoral professora Elizabeth Halsey (Diaz) que usa seu trabalho como professora, apenas como um passatempo passageiro enquanto se prepara para se casar com um milionário. Quando o meninão descobre que sua amável noiva estava preparando o golpe do baú a dispensa e a moça precisa voltar a dar aula, tendo como objetivo encontrar um marido rico que a faça parar de trabalhar e a sustente ao mesmo tempo, em que pretende realizar uma operação de aumento nos seios, para - em sua cabeça oca - ter maiores chances de encontrar o cara de sua vida.

O filme funciona porque é uma comédia besteirol que não apela para o final moralizante ou para um "crescimento emocional" dos personagens. Seu roteiro satírico (assinado por Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg) aposta no escracho puro e agudo, sem dar espaço ou permitir qualquer tipo de alívio emocional. Elizabeth é uma megera patológica, gananciosa e arrogante sim, e daí?


Estamos então no mundo da sátira onde tudo é exagerado, e estereotipado com a função de divertir pelo absurdo ou criticar um objeto. Bad Teacher não pretende criticar ninguém (aparentemente). Pretende, divertir pela grosseria, pelo abuso e pela falta clara de moral de sua protagonista, auxiliada por uma coleção de coadjuvantes apalermados. Todos os professores são retratados como criaturas de segunda classe, meio abobalhadas, infantilizadas e muito estúpidas. Sua "amiga" na escola é a gorducha e introvertida Lynn (Phyllis Smith). Essa lista de figuras exóticas conta ainda com um diretor obcecado por golfinhos, um professor saído da era hippie e outra que parece uma dublê de caminhoneira. Além, é claro, de apresentar a antagonista do filme: a exageradamente feliz e acelerada Amy (Lucy Punch) que parece a versão humana do esquilo Hammy de Os Sem Floresta.

A história tem uma virada quando o professor Scott (Justin Timberlake) entra para o corpo docente e a personagem de Diaz passa a tentar de todo jeito conquistar o rapaz, quando descobre que ele é rico. Ao mesmo tempo o desbocado e boa-praça Russell Gettis (Jason Segel) tenta a todo jeito conquistar a mulher.


E tome um festival de piadas grosseiras e que fazem da personagem Elizabeth uma versão menina de Billy Bob Thornton em Bad Santa (lembram desse?). A diferença é que no filme de Natal, Billy Bob tinha uma espécie de redenção, ou encontrava alguém para ajudar. Aqui não existe uma redenção, mais a percepção de que o que buscava além de ser absurdo e infantil, não iria lhe trazer felicidade. Quando o filme parece que vai caminhar para o arrependimento e a lição de moral, pisa no acelerador e oferece mais gags e piadas grosseiras.

Cameron é uma atriz com talento para a comédia. O filme em pouco menos de cinco minutos já nos apresenta a personagem ao incluir uma inspirada montagem em flashback que mostra ao espectador o que esperar da nossa professora. Diaz em momento algum baixa a crista, e mesmo quando leva algumas rasteiras na história, usa de classe (ou falta de) para conseguir dar a volta por cima. Timberlake - muito parecido com o personagem Will Schuster em Glee - é a quintessência do politicamente correto e vazio. Seus diálogos são uma ode a vergonha alheia e protagoniza (ao lado de Cameron) a cena mais constrangedora do ano.


Kasdan tem timing cômico e revela a piada apenas quando ela está para acontecer. Aposta em uma montagem clássica e não tem pudor em apresentar seqüências politicamente incorretas para os padrões americanos. A seleção de canções dos anos 80 e do hard rock/heavy metal faz rir aqueles que conhecem as canções, em especial a que envolve o lava - rápido (e que copia o clipe da referida canção) e a que é protagonizada pelo companheiro de quarto de Diaz (o sempre hilário Eric Stonestreet, o Cameron de Modern Family).

Professora sem Classe não vai mudar o mundo, nem é um grande filme. Mas por ser corajoso ao entregar aquilo que se propõe, sem apelar para o bom mocismo e redenções frustradas merece o respeito desse critico. O cinema está cheio de "comédias adultas" que pregam o politicamente incorreto mas morrem na praia com medo da censura ou por terem na verdade o nariz apontado para os "valores da família". E isso, é uma tremenda chatice.



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lanterna Verde
(Green Lantern, 2011)
Ação/Fantasia - 114 min.

Direção: Martin Campbell
Roteiro: Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg

Com: Ryan Reynolds, Blake Lively, Mark Strong, Peter Sarsgaard, Tim Robbins

Massacrado pela grande maioria dos críticos mundo afora, Lanterna Verde apresenta ao grande público o personagem da DC Comics que tem a mais complexa e vasta galeria de personagens, aventuras e escopo da editora. Afinal, o Lanterna Verde (ou melhor, Hal Jordan UM DOS Lanternas Verdes) faz parte de uma força policial que toma conta de todo o universo. Sim, de todo o universo. Só essa idéia, já faz pensar na quantidade inconcebível de histórias, personagens e aventuras que os personagens, conhecidos como a Tropa dos Lanternas Verdes poderiam se envolver.

O filme, infelizmente, não consegue traduzir esse escopo, sendo mais um na lista de blockbusters baseados em quadrinhos que funcionam apenas como uma diversão passageira, não deixando marcas em quem o vê. Deixando de lado muito dessa idéia de policia espacial, o filme de Martin Campbell (Goldeneye, Fim da Escuridão) abraça sem piedade o mal fadado filme de origem, um mal necessário para apresentar ao público o personagem, seus coadjuvantes, um antagonista a altura de nosso herói e toda a gama de informações necessárias para a compreensão de um mundo novo e até então inexplorado.


Ryan Reynolds é Hal Jordan, um piloto de avião falastrão, irresponsável e sem respeito algum pelas regras, em suma, um bad boy. Ao mesmo tempo, o filme (precariamente) apresenta em um forçado flashback, seus problemas em relação à morte de seu pai, que serve tanto para dar alguma profundidade ao personagem quanto para dizer ao público que embora Hal seja um maluco que não respeita as regras, no fundo, ele é um bom rapaz.

Seguindo em paralelo, o filme mostra brevemente o mundo dos Guardiões (uma raça de seres talvez tão antigos quanto o universo e criadores da Tropa dos Lanternas Verdes), Oa, um lugar aparentemente bucólico e de arquitetura praticamente pré-histórica, cheio de curvas, picos e prédios de profunda assimetria. Bem feito, mas profundamente óbvio. O grande destaque na construção desse mundo único é a estrutura de uma espécie de salão de reunião, onde os guardiões recebem os Lanternas para conferencias, planejamento de suas ações entre outras coisas. O grande vilão do filme também surge aqui: Parallax. Originalmente sendo visto como um guardião que tentou comandar uma força maior do que deveria, foi preso em um planeta perdido no meio de uma galáxia abandonada (ou algo assim). Quando um grupo de alienígenas surge em seu habitat, acidentalmente despertam a fúria do ser responsável por comandar o medo.


Parallax é uma entidade, uma força sombria que deveria ser representado como algo tão imponente quanto força dos guardiões, mas me lembrou um inimigo qualquer de desenho animado de segunda, com direito a rosto ameaçador surgindo de uma "misteriosa" fumaça e aquela tradicional e óbvia voz gutural e profunda. Não sou um conhecedor dos quadrinhos do Lanterna e muito menos do personagem citado, mas deixo claro aqui, que caso Parallax seja - no material original - tão risível quanto surge nesse filme, é desde já um personagem a ser incluído na lista dos vilões mais fajutos da história.

Quando penso na representação do medo, jamais consigo imaginar uma forma física, mas uma espécie de vírus, algo intangível ao ser humano. Mesmo que houvesse a necessidade de uma representação física do Medo, ou de alguém que controla o medo, a produção poderia ter pensado em alguma coisa mais eficiente e assustadora do que uma cabeça surgindo entre uma fumaça sinistra.


Por outro lado a maquiagem que tem de causar asco e admiração é muito bem realizada. Sinestro (Mark Strong) com sua pele púrpura é ao mesmo tempo severo e nobre, nos causando só por seu visual a dubiedade que é condizente com o que filme diz de seu personagem. A maquiagem de Abin Sur (Temuera Morrison) também nos espanta ao mesmo tempo em que nos faz pensar no caráter daquele personagem, quando ele surge pela primeira vez em frente a Hal Jordan. Mas, a grande maquiagem em Lanterna Verde é a destinada ao vilão humano Hector Hammond, que passa por uma transformação física durante o filme. Apesar de não ser uma maquiagem inovadora é muito bem realizada e parece integrada ao ator, não surgindo como um apêndice deslocado.

Infelizmente as tão antecipadas e recheadas de expectativas roupas dos Lanternas surgem aqui brutalmente artificiais. A ideia de um traje que fosse uma extensão do pensamento do personagem é interessante em teoria, mas a realização dessa ideia é mediana. As roupas surgem artificiais e claramente produzidas com auxilio da computação gráfica o que resulta em um figurino que não faz jus a ideia dos realizadores.


A montagem do filme tenta dar ritmo a história. Em especial na sequencia em que vemos o "nascimento" do vilão Hammond, quando intercala sua mutação com uma espécie de exame médico a que Hal é submetido em Oa.

O elenco é bom, mas pouco pode avançar além da mordaça juvenil que o texto de Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldberg impõe. Ryan Reynolds é um protagonista carismático ainda que mantenha alguns cacoetes de suas inúmeras comédias românticas. Longe de ser uma falha, mas demonstra que a construção de Hal Jordan foi realmente açucarada, já que Reynolds solta aqui e ali uma série de piadinhas (como as vistas no trailer, por exemplo). Apesar disso, Ryan - que teve um desempenho matador em Enterrado Vivo - é um ator com talento para manter-se entre o irônico e o caricato, e é dessa forma (para o bem e para o mal) que Hal Jordan surge no filme.


Os coadjuvantes vão bem, em especial Mark Strong (o vilão favorito de Hollywood) que faz de Sinestro um personagem interessante. Auxiliado pela ótima maquiagem, constrói um personagem de características vilanescas embora isso não fique claro para o grande público, que talvez enxergue Sinestro apenas como um camarada nervoso e rígido. Já Peter Sarsgaard tem o melhor desempenho de todo o elenco. Fazendo de Hector Hammond um vilão cínico, falível e bastante humano (apesar de na parte final parecer mais estúpido do que a maioria de nós humanos) seria um vilão digno a produção se a idéia do filme fosse algo mais sério e menos cartunesco.

Explico: Lanterna Verde aposta nas piadinhas, em simplismos para explicar suas situações e em soluções narrativas apressadas, que parecem terem saído de um episódio de um desenho animado juvenil. Nada contra, se o resultado fosse interessante e bem realizado. O clima "sessão da tarde" é divertido, mas se enrola na hora de apresentar os antagonistas e encerrar o filme. Como já disse na crítica, Parallax é um inimigo de proporções tão exageradas que usá-lo como vilão de um filme de origem, nos faz pensar em quanto os produtores terão de trabalhar para encontrar um novo vilão tão gigantesco como o desse filme (porque obviamente o herói vence o vilão, ou vocês acham que ele perderia?).


Isso leva a outra reflexão a cerca do final do filme. Sem revelar o que e como, basta dizer que falta amplitude na sequência, deixando a impressão que a ameaça enfrentada não é tão grandiosa como o filme insiste em dizer, já que as soluções para encontrar a vitória são exageradamente simples. Em suma: o vilão não é páreo para o nosso herói, o que é uma pena. Hal não precisa "suar a camisa" para enfrentar seus antagonistas. O clima levemente açucarado atrapalha a ação e a aventura, e parece ter sido resolvido de última hora.

Lanterna Verde é o herói com maior potencial de se transformar em febre, dentre os do "panteão" da DC Comics, para acompanhar os já universalmente famosos Batman, Superman e Mulher Maravilha. Uma pena que para a editora, a escolha para tal intento tenha sido o de apostar em uma simplificação exagerada de conflitos e personagens, que em Lanterna (o filme) são tão bi-dimensionais como uma revista em quadrinho.


PS: Existe uma cena pós-créditos - para os fãs - mais que é brutalmente deslocada do restante do filme.