terça-feira, 3 de março de 2015

Relatos Selvagens

Relatos Selvagens
(Relatos Salvajes, 2014)

Direção: Damián Szifrón
Roteiro: Damián Szifrón

com: Ricardo Darín, Leonardo Sbaraglia, Oscar Martínez, Erica Rivas, Walter Donado, Julieta Zylberberg, Rita Cortese, Diego Gentile

Uma coletânea de diversas situações extremas em que o acaso, o destino ou o que quer que se acredite ditam as regras. Os tais "Relatos Selvagens" são pequenas histórias que representam momentos de desespero humano diante da injustiça, mentira e fúria. Um homem que se enxerga como vítima de todos a sua volta, uma garçonete que reencontra um homem que a fez muito mal no passado, uma disputa no trânsito, um homem em busca de justiça quando seu carro é rebocado, um acidente de trânsito com consequências terríveis e a pior festa de casamento da história. Todas elas misturando na mesma medida horror, suspense, non-sense e até um pouco de comédia, transformando o filme em um espetáculo de humor negro.

O que se destaca é a imprevisibilidade da maioria das situações, o texto afiado e as grandes interpretações dos atores, destacando-se o figurinha fácil do cinema argentino Ricardo Darín, Erica Rivas e Oscar Martínez nos seguimentos mais longos do filme. Não é difícil entender o sucesso do filme já que ele se relaciona facilmente com muitos de nós. Aqui, a coisa só é elevada a enésima potência e mesmo naqueles mais simplórios (o de Darín e o do homem que se vê como vítima) existe um toque de surpresa e fantasia. Alguns beiram o non-sense, outros usam da crítica social (de leve) para surpreender o espectador e outros beiram a anarquia. Tudo bem organizado, bem montado e com momentos muitíssimo satisfatórios.

Num mundo ideal, filmes como esse (e sendo bem honesto quase toda a lista dos estrangeiros) teriam sido os nomeados ao principal prêmio do cinema americano, com os demais filmes fazendo apenas figuração.

★★★★

segunda-feira, 2 de março de 2015

Conto da Princesa Kaguya

Conto da Princesa Kaguya
(Kaguyahime no monogatari, 2013)

Direção: Isao Takahata
Roteiro: Isao Takahata e Riko Sakaguchi

Faço votos para que esse não seja o último dos filmes do Studio Ghibli. Porém, se essa nefasta possibilidade se concretizar, essa é uma das mais belas histórias já apresentadas pelo estúdio e uma despedida bastante digna.

Adaptado de uma lenda do folclore japonês, o mais longo filme do estúdio é uma delicada e emocionante história sobre um casal de camponeses que encontram uma criança dentro de um bambu e a criam como sua filha transformando-a na Princesa Kaguya.

Muito já se disse a respeito da opção do diretor Isao Takahata (o mesmo do seminal O Tumulo dos Vagalumes) em fazer seu filme com essa técnica de animação que parece saída de uma pintura de aquarela ou esboços mais ríspidos - nas poucas, mais lindas sequências de ação. Funciona perfeitamente para a ideia do filme, que é suave e parece deslizar na tela. Um pouco longo (eu tiraria uns 10 minutos), mas essencial. Em um mundo em que todas as animações parecem precisar ser em 3D, Kaguya merece ser vista por sua enorme qualidade e por ainda compreender que um lápis e um papel podem dar vida a qualquer coisa.

★★★★½


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O Juiz

O Juiz
(The Judge, 2014)

Direção: David Dobkin
Roteiro: Nick Schenk, Bill Dubuque

com: Robert Downey Jr., Robert Duvall, Vera Farmiga, Billy Bob Thornton, Vincent D'Onofrio

Longo demais esse drama de tribunal/envelhecimento que reúne Robert Downey Jr. e o brilhante Robert Duvall. Downey é o filho advgado do juiz interpretado por Duvall que tem problemas sérios de relacionamento com o pai e que se ve obrigado a voltar a cidade pequena (mas que clichê) quando sua mãe morre. A partir daí seu envolvimento na família e nos problemas gravíssimos que acometem seu pai apenas aumentam.

A graça do filme é acompanhar os dois atores "duelando", mas a história é tão requentada e as reviravoltas tão melodramáticas e rocambolescas que não consegui me conectar aos personagens ou me emocionar com seus dramas, por mais humanos que sejam. Entendo que a trama até funcione e o embate entre o mal humor e a retidão moral de Duvall e o cinismo de Downey (aqui, finalmente deixando de ser Tony Stark) rendem bons momentos, mas a impressão de que o filme não está indo pra frente é enorme.

Com um final que - apesar de poético - você telegrafa um ano antes, "O Juiz" é um filme protocolar, daqueles que não conseguem um destaque na prateleira.

Obs: A indicação de Duvall por esse filme é desproporcional. Apesar de bom trabalho, o ator já esteve muito melhor em outros momentos e outros atores poderiam ter levado a vaga.

★★½





quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Caminhos da Floresta

Caminhos da Floresta
(Into the Woods, 2014)

Direção: Rob Marshall
Roteiro: James Lapine

com: Anna Kendrick, Daniel Huttlestone, James Corden, Emily Blunt, Christine Baranski, Meryl Streep, Lucy Punch, Tracey Ullman, Lilla Crwaford, Johnny Depp

Existe um momento em "Into the Woods" em que um dos personagens canta que não aguenta mais. Essa é a sensação que tive depois de pouco mais de vinte minutos desse péssimo musical que tenta misturar uma dezena de contos de fada em um mesmo balaio sem muita competência. Muito diferente do que a brilhante série em quadrinhos "Fábulas" ou a razoável "Once Upon a Time", falta muita coisa para que essa produção seja meninimante interessante.

Sendo um musical (e esse é daqueles em que só se canta, onde foram parar os musicais com números de dança?) esperasse competência das canções, principalmente quando se descobre - eu não sabia - que a produção de cinema é uma adaptação de uma musical de palco. Infelizmente, as músicas são muito fracas e quase todas as interpretações abaixo da crítica, especialmente as crianças que interpretam Chapeuzinho Vermelho e João (do Pé de Feijão). Johnny Depp faz uma ponta (péssima, o que vem se tornando um hábito em sua carreira) e Meryl Streep até que tenta mais não tem jeito jeito. Anna Kendrick e Emily Blunt ao lado do comediante britânico James Corden são os que se saem melhor, mas existe pouca inspiração na trama que segue - com algumas ligeiras mudanças - os fatos de alguns dos contos de fada mais famosos do mundo até sua metade, quando ocorre uma ruptura forçada e que dá origem a um terceiro ato absurdamente sério e deslocado diante do humor brega e exagerado que vinhamos até então.

Forte candidato a entrar na listinha de piores do ano de 2015, Into the Woods é um dos musicais mais fracos do século XXI, com atuações canastras, músicas fajutas, direção de arte pouco inspirada, figurinos fraquinhos (o que é o lobo mal?), efeitos visuais fajutos (os gigantes nunca aparecem e quando os vislumbramos notamos a falta de acabamento nos efeitos visuais) e uma trama que vai de aventura cômica meia boca a dramalhão insuportável.

★½ 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Livre

Livre
(Wild, 2014)

Direção: Jean-Marc Valée
Roteiro: Nick Hornby, Cheryl Strayed

com: Reese Whiterspoon, Laura Dern

Esse é um trabalho que sai perdendo seu impacto por ser parecido (concetualmente) com "Na Natureza Selvagem", que é um filme um pouco mais antigo e que tem um legião de fãs. Em ambos vemos a luta do ser humano comum (leia-se que não é um atleta ou que está fisicamente preparado) para sobreviver em um ambiente naturalmente hostil: a natureza. Porém, enquanto "Na Natureza" abordava o desiludido rapaz que foge da vida na cidade em busca de um novo caminho, aqui Reese Whiterspoon está em busca de redenção. Baseado na vida de Cheryl Strayed, Resse vive uma mulher que perdeu muito e que está tentando encontrar uma forma de começar a viver novamente.

O roteiro de Nick Hornby é inteligente ao não apostar no dramalhão, e misturar os momentos mais ousados - emocionais e fisicamentes - com outros mais leves deixando com que a "via crucis" da personagem seja melhor deglutida pelo espectador (penso eu).

A força do filme está mesmo em sua protagonista em um bom drama de redenção e superação de limites. Não é espetacular, mas tem seus bons momentos (especialmente nos flashbacks em que vemos os problemas emocionais e de convívio e vício da personagem). Whiterspoon é uma atriz competente, mas, que ainda não conseguiu apresentar em sua carreira, uma sequência de bons filmes (mesmo já tendo levado um Oscar pra casa por "Johnny e June" merecido). "Livre" talvez seja o início de uma nova fase na carreira da atriz.


★★★

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Para Sempre Alice

Para Sempre Alice
(Still Alice, 2014)

Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland

com: Juliane Moore, Kate Bosworth, Kristen Stewart, Alec Baldwin

Eta filme difícil de se ver (especialmente se você tem alguma traço de hipocondria). "Para Sempre Alice", da vencedora do Oscar Juliane Moore conta a história da professora de linguística que descobre ter um tipo raro de Alzheimer. O filme é uma longa (nem tanto já que o filme não chega a duas horas) espiral rumo a degradação mental da personagem. Esse é daqueles que quer que o espectador se emocione e chore e por vezes, quase consegue.

Moore é uma excelente atriz e leva nas costas o filme mesmo ancorada por coadjuvantes talentosos (especialmente Alec Baldwin e Kristin Stewart que vem acertando seguidamente). Felizmente o filme não vai até o fundo do poço da doença e nos deixa com uma imagem final bela e poética (o que reforça o aspecto de "fazer chorar" que o filme pretende).

Assim como a grande maioria dos filmes do Oscar desse ano passa longe de ser uma grande produção, mas tem seus méritos cinematográficos - especialmente em ter uma protagonista que vai se despindo de suas capacidades intelectuais na nossa frente - e por abordar um tema tão duro de forma não tão melodramática assim.


★★★

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Palpites do Oscar

Hora de palpitar. Os Oscars esse ano tem a menor quantidade de indicados a melhor filme desde que a regra que prevê até 10 nominações foi criada. Como uma observação pessoal, essa é a lista de filmes indicados que menos me agrada em muitos anos.

Obs 1: linkei as avaliações dos filmes que fiz no post. Por motivos óbvios não linkei mais de uma vez para não poluir o post.

Obs 2: algumas avaliações de filmes indicados ainda não foram publicadas. Quando essas forem ao ar atualizo o post.


FILME
"Sniper Americano" leia mais aqui
"O Jogo da Imitação'' leia mais aqui
"Birdman" leia mais aqui
"O Grande Hotel Budapeste" leia mais aqui
"Boyhood" leia mais aqui
"Selma" leia mais aqui
"A Teoria de Tudo" leia mais aqui
"Whiplash" leia mais aqui

Quem eu acho que leva? "Birdman"
Quem eu gostaria que levasse? "Whiplash"
Quem deveria estar aí e não está? "Era uma Vez em Nova Iorque", "O Abutre", "A Most Violent Year"

ATOR
Steve Carell em "Foxcatcher" leia mais aqui
Bradley Cooper em "Sniper Americano"
Benedict Cumberbatch em "O Jogo da Imitação"
Michael Keaton em "Birdman"
Eddie Redmayne em "A Teoria de Tudo"

Quem eu acho que leva? Michael Keaton
Quem eu gostaria que levasse? Steve Carell/Michael Keaton
Quem deveria estar aí e não está? David Oyelowo (Selma), Jake Gyllenhaal (O Abutre), Joaquin Phoenix (Era Uma Vez em Nova Iorque), Ralph Fiennes (O Grande Hotel Budapeste)

ATRIZ
Marion Cotillard em "Dois Dias, Uma Noite" leia mais aqui
Felicity Jones em "A Teoria de Tudo"
Juliane Moore em "Simplesmente Alice" (avaliação em breve)
Rosamund Pike em "Garota Exemplar" leia mais aqui
Reese Whiterspoon em "Livre" (avaliação em breve)

Quem eu acho que leva? Juliane Moore
Quem eu gostaria que levasse? Juliane Moore
Quem deveria estar aí e não está? Marion Cotillard (Era Uma Vez em Nova Iorque), Jessica Chastain (A Most Violent Year)

ATOR COADJUVANTE
Robert Duvall em "O Juiz" (avaliação em breve)
Ethan Hawke em "Boyhood"
Edward Norton em "Birdman"
Mark Ruffalo em "Foxcatcher"
J.K. Simmons em "Whiplash"

Quem eu acho que leva? J.K. Simmons
Quem eu gostaria que levasse? J.K. Simmons
Quem deveria estar aí e não está? Robert Pattinson (The Rover), Bill Murray (St. Vincent)

ATRIZ COADJUVANTE
Patricia Arquette em "Boyhood"
Laura Den em "Livre"
Keira Knightley em "Jogo da Imitação"
Emma Stone em "Birdman"
Meryl Streep em "Caminhos da Floresta" (avaliação em breve)

Quem eu acho que leva? Patricia Arquette
Quem eu gostaria que levasse? Patricia Arquette
Quem deveria estar aí e não está? Rene Russo (O Abutre), Jacqueline Bisset (Bem-vindo à Nova Iorque)

FILME ANIMADO
"Big Hero 6"
"Boxtrolls"
"Como Treinar seu Dragão 2"
"Song of the Sea"
"Conto da Princesa Kaguya"

Quem eu acho que leva? Big Hero 6
Quem eu gostaria que levasse? Não vi Song of the Sea, me abstenho.
Quem deveria estar aí e não está? "Uma Aventura LEGO"

FOTOGRAFIA
Emmanuel Lubezki por "Birdman"
Robert Yeoman por "Grande Hotel Budapeste"
Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski por "Ida" (avaliação em breve)
Dick Pope por "Mr. Turner"
Roger Deakins por "Invencível" (avaliação em breve)

Quem eu acho que leva? Birdman
Quem eu gostaria que levasse? Ida
Quem deveria estar aí e não está? "Interestelar", "Sob a Pele", "Era Uma Vez em Nova Iorque"

FIGURINO
Milena Canonero por "Grande Hotel Budapeste"
Mark Bridges por "Vício Inerente"
Colleen Atwood por "Caminhos da Floresta"
Anna B. Shepard por "Malévola"
Jacqueline Duran por "Mr. Turner"

Quem em acho que leva? Grande Hotel Budapeste
Quem eu gostaria que levasse? Grande Hotel Budapeste
Quem deveria estar aí e não está? "Guardiões da Galáxia", "Era Uma Vez em Nova Iorque"

DIREÇÃO
Alejandro Gonzáles Iñarritu por "Birdman"
Richard Linklater por "Boyhood"
Bennett Miller por "Foxcatcher"
Wes Anderson por "Grande Hotel Budapeste"
Morten Tyldum por "Jogo da Imitação"

Quem eu acho que leva? Richard Linklater
Quem eu gostaria que levasse? Wes Anderson
Quem deveria estar aí e não está? Dan Gilroy (O Abutre), James Gray (Era uma Vez em Nova Iorque), J.C. Chandor (A Most Violent Year)

DOCUMENTÁRIO
"CitizenFour"
"Finding Vivian Maier"
"Last Days in Vietnam"
"O Sal da Terra"
"Virunga"

Quem eu acho que leva? CitizenFour
Quem eu gostaria que levasse? Não assisti a nenhum deles. Me abstenho.
Quem deveria estar aí e não está? "Life Itself", "Elena"

MONTAGEM
Joel Cox e Gary Roach por "Sniper Americano"
Sandra Adair por "Boyhood"
Barney Pilling por "Grande Hotel Budapeste"
William Goldenberg por "Jogo da Imitação"
Tom Cross por "Whiplash"

Quem eu acho que leva? Boyhood
Quem eu gostaria que levasse? Boyhood
Quem deveria estar aí e não está? "Era Uma Vez em Nova Iorque", "O Abutre", "Garota Exemplar"

FILME EM LÍNGUA NÃO INGLESA
"Ida" de Pawel Pawlikowski (Polônia) 
"Leviathan" de Andrey Zvyagintsev (Rússia) (avaliação em breve)
"Tangerines" de Zaza Urushadze (Estônia) (avaliação em breve)
"Timbutku" de Abderrahmane Sissako (Mauritânia) (avaliação em breve)
"Relatos Selvagens" de Damián Szifrón (Argentina) (avaliação em breve)

Quem eu acho que leva? Leviathan
Quem eu gostaria que levasse? Não assisti a todos. Me abstenho.
Quem deveria estar aí e não está? "Dois Dias, Uma Noite" (Bélgica)

MAQUIAGEM
Bill Corso e Dennis Liddiard por "Foxcatcher"
Frances Hannon e Mark Coulier por "Grande Hotel Budapeste"
Elizabeth Yianni-Georgiou e David White por "Guardiões da Galáxia"

Quem eu acho que leva? Foxcatcher
Quem eu gostaria que levasse? Guardiões da Galáxia
Quem deveria estar aí e não está? Ninguém

TRILHA SONORA
Alexandre Desplat por "Grande Hotel Budapeste"
Alexandre Desplat por "Jogo da Imitação"
Hanz Zimmer por "Interestelar"
Gary Yershon por "Mr. Turner"
Jóhan Jóhansson por "A Teoria de Tudo"

Quem eu acho que leva? A Teoria de Tudo
Quem eu gostaria que levasse? Grande Hotel Budapeste
Quem deveria estar aí e não está? "Sob a Pele", "O Abutre", "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1"

CANÇÃO ORIGINAL
"Everything is Awesome" de "LEGO Movie" - Shawn Patterson
"Glory" de "Selma" - John Legend e Lonnie Lynn
"Grateful" de "Beyond the Lights" - Diane Warren
"I'm Not Gonna Miss You" de "Glenn Campbell... I'll be Me" - Glenn Campbell e Julian Raymond
"Lost Stars" de "Begin Again" - Gregg Alexander e Danielle Brisebois

Quem eu acho que leva? Glory, de Selma
Quem eu gostaria que levasse? Everything is Awesome, de LEGO Movie
Quem deveria estar aí e não está? "The Hanging Tree" de "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1"

DESIGN DE PRODUÇÃO
Adam Stockhausen e Anna Pinnock por "Grande Hotel Budapeste"
Maria Djurkovic e Tatiana Macdonald por "Jogo da Imitação"
Nathan Crowley e Gary Fettis por "Interestelar"
Dennis Gassner e Anna Pinnock por "Caminhos da Floresta"
Suzie Davies e Charlotte Watts por "Mr. Turner"

Quem eu acho que leva? Grande Hotel Budapeste
Quem eu gostaria que levasse? Grande Hotel Budapeste
Quem deveria estar aí e não está? "Malévola", "Guardiões da Galáxia", "Planeta dos Macacos: O Confronto"

EDIÇÃO DE SOM
Alan Robert Murray e Bub Asman por "Sniper Americano"
Martin Hernández e Aaron Glascock por "Birdman"
Brent Burge e Jason Canovas por "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos"
Richard King por "Interestelar"
Becky Sullivan e Andrew DeCristofaro por "Invencível"

Quem eu acho que leva? Sniper Americano
Quem eu gostaria que levasse? Interestelar
Quem deveria estar aí e não está? "Guardiões da Galáxia", "Godzilla", "Sob a Pele"

MIXAGEM DE SOM
John Reitz, Gregg Rudloff e Walt Martin por "Sniper Americano"
Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga por "Birdman"
Gary A. Rizzo, Gregg Landaker e Mark Weingarten por "Interestelar"
Jon Taylor, Frank A. Montaño e David Lee por "Invencível"
Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley por "Whiplash"

Quem eu acho que leva? Whiplash
Quem eu gostaria que levasse? Whiplash
Quem deveria estar aí e não está? "Garota Exemplar", "Godzilla", "Guardiões da Galáxia"

EFEITOS VISUAIS
Dan DeLeeuw, Russell Earl, Bryan Grill e Dan Sudyck por "Capitão América: O Soldado Invernal"
Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist por "Planeta dos Macacos: O Confronto"
Stephane Ceretti, Nicolas Aithadi, Jonathan Fawkner e Paul Corbould por "Guardiões da Galáxia"
Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher por "Interestelar"
Richard Stammers, Lou Pecora, Tim Crosbie e Cameron Waldbauer por "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido"

Quem eu acho que leva? Guardiões da Galáxia
Quem eu gostaria que levasse? Guardiões da Galáxia
Quem deveria estar aí e não está? "Godzilla"

ROTEIRO ADAPTADO
Jason Hall por "Sniper Americano"
Graham Moore por "Jogo da Imitação"
Paul Thomas Anderson por "Vício Inerente"
Anthony McCarten por "Teoria de Tudo"
Damien Chazelle por "Whiplash"

Quem eu acho que leva? Whiplash
Quem eu gostaria que levasse? Whiplash
Quem deveria estar aí e não está? "The Rover - A Caçada"

ROTEIRO ORIGINAL
Alejandro González Iñarritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo por "Birdman"
Richard Linklater por "Boyhood"
E. Max Frye e Dan Futterman por "Foxcatcher"
Wes Anderson e Hugo Guinness por "Grande Hotel Budapeste"
Dan Gilroy por "O Abutre" leia mais aqui

Quem eu acho que leva? Birdman
Quem eu gostaria que levasse? Grande Hotel Budapeste/O Abutre
Quem deveria estar aí e não está? "Era Uma Vez em Nova Iorque", "Bem-Vindo a Nova Iorque"



Sniper Americano

Sniper Americano
(American Sniper, 2014)

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Hall

com: Bradley Cooper, Elise Robertson

Cercado de muita polêmica devido ao seu conteúdo político, "American Sniper" assim como "Whiplash" é um exercício de desapego moral em virtude da história na tela. Embora não tenha um décimo da qualidade da trama do garoto baterista e seu professor carrasco, Sniper defende suas ideias com competência. Se eu concordo com a transformação de um atirador de elite em herói? Não. Mas isso não me impede de compreender o que Eastwood - um notório defensor da chamada "direita" nos Estados Unidos - quer contar.

Diferente da maioria dos filmes sobre a guerra do Iraque feitos até então, Eastwood prefere focar-se nos motivos que fazem Chris Kyle (Bradley Cooper) ser tão bom naquilo que faz. Apostando em flashbacks redundantes, mostra o protagonista como um produto de um meio que ensina crianças pequenas a caçar, que entende que a força bruta sempre resolve os conflitos e que o país merece ser defendido sempre (mesmo quando, de fato, ele não está sob ataque).

Soma-se a isso um desfile de excelentes sequências de tiroteio e guerra que constroem uma atmosfera de desespero e agonia que amplificam o estado mental de Kyle. Sejamos justos aqui: Eastwood não tenta transformar - como li por aí - o personagem de Cooper na versão americana do personagem satírico que Tarantino criou em "Bastardos Inglórios, mas em um herói segundo sua visão de mundo. Falha miseravelmente? Sim, mas a ideia de criar um herói "humano" está lá. 

"Sniper Americano" é um filme razoável, mas que é amparado por questões moralmente bastante questionáveis o que derruba (na minha avaliação) seu impacto. 


★★½ 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Birdman

Birdman
(Birdman, 2014)

Direção: Alejandro González Iñarritu
Roteiro: Alejandro González Iñarritu, Nicólas Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo

com: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Zach Galifianakis, Andrea Riseborough, Naomi Watts

Birdman tem ideia e conceitos bastante contemporâneos: fala sobre a nossa busca incessante por amor, na forma obsessiva com que perseguimos o sucesso e como a noção de popularidade pode estar ligada a fatores cada vez menos óbvios e de difícil compreensão. "Birdman" tem essas grandes qualidades mas derrapa na megalomania, na tentativa de transformar uma simples história de um sujeito desesperado por um "come back" ao sucesso em uma epopeia sobre o sucesso.

Brega, exagerado, beirando o ridículo muitas vezes, "Birdman" é um exercício de estilo ancorado em bons atores que entenderam a brincadeira melhor do que o próprio diretor. Michael Keaton - esse sim consegue um comeback digno de nota - Edward Norton (que transfigura-se entre o seu "eu real" e o "eu representativo" de forma que quase parecem duas pessoas diferentes), além de Emma Stone, dona dos diálogos mais mordazes e eficientes da trama. Todos os personagens são verborrágicos e vociferam abobrinhas que não tem sentido algum apenas para "chocar" o espectador com um timing cômico bastante duvidoso o que dificulta que a paródia seja bem construída. 

Visualmente, apesar de bonito, a ideia de inúmeros planos sequência não fazem sentido narrativamente. Estão ali para mostrar que a trama é fluída? Para dizer que a mente do personagem de Keaton está tão perdida que não existe espaço para "desligar"? Para dar a entender que tudo aquilo está se passando emn um perôdo curto de tempo e por isso é interessante mostrar que ele é uma longa espiral rumo ao fatalismo de seu final? Teorias e achismos que são a base do que a maioria dos assim chamados críticos adoram reproduzir em textos empolados e cheios de "e ses". Críticos esses que levam a melhor bordoada do filme no diálogo entre Keaton e a crítica azeda (e clichê). Confesso que vibrei.

Aliás, o julgamento sobre a arte e sucesso é talvez o grande acerto do filme. Quem somos nós para julgarmos o que para o outro é o seu melhor? Temos esse direito? De transformar um fracasso em sucesso e vice versa? E se tivermos, por quê? O que nos faz especiais? E principalmente, como alguém consegue sobreviver a uma avalanche de ódio e desprezo? Por outro lado, a visão careta do filme a respeito dos blockbusters não funciona mais no século XXI. 

As ilusões/viagens/sonhos de Keaton com seu personagem símbolo, o "Birdman", são as mais reais do filme e gosto de pensar que talvez sejam as únicas verdadeiramente honestas, já que colocam o personagem em um lugar que é o que parece mais correto: um ator trabalhador, mas apenas isso. Nada de gênio, brilhante ou afins. Um sujeito que devia ter aproveitado o sucesso, ganhado dinheiro e sossegado em vez de perseguir um sonho que - infelizmente - ele não tem capacidade para atingir.


★★½

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Selma

Selma: Uma Luta pela Igualdade
(Selma, 2014)

Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Paul Webb

com: David Oyelowo, Carmen Ejojo, Oprah Winfrey, Tom Wilkinson, Giovanni Ribisi, André Holland, Tim Roth, Common, Ruben Santiago-Hudson, Colman Domingo

Esse tipo de história está sempre fadada ao sucesso já que age em nossa consciência como um despertar para a realidade. É absurdo imaginar que a menos de 50 anos (o que pra essa geração é MUUUUUITO VELHO), pessoas tinham de lutar pelo direito ao voto apenas pelo fato de terem uma cor de pele diferente. Só por nos lembrar (sempre é válido) desse fato, "Selma" já é importante, mesmo que não seja cinematograficamente tão bom como outros filmes que abordaram o mesmo tema como "Mississippi em Chamas", "A Cor Púrpura" entre outros.

É um filme certinho, com boas interpretações do elenco principal (a não indicação de David Oyelowo é uma lástima, principalmente quando Bradley Cooper em um trabalho regular levou uma das vagas) e alguns momentos verdadeiramente excelentes, principalmente os que envolvem os discursos de Marthin Luther King Jr. e sua emocionante marcha na cidade de Selma, Alabama em busca de justiça social para os negros dos Estados Unidos.

Um detalhe curioso mais bastante relevante é a forma com que o filme aborda as outras duas figuras politicamente fundamentais para o andamento da história: o presidente Lyndon Johnson (Tom Wilkinson) e o governador do estado do Alabama George Wallace (Tim Roth). Johnson é visto como um político tradicional que entra na história com receio de que isso o prejudique e que tem de dar o braço a torcer e modificar mais rapidamente as leis quando percebe que a barbárie toma conta de parte do país. Já Wallace representa legislativamente os vilões do filme ao lado do chefe de polícia racista que faz de tudo para não dar o braço a torcer e encarar que está errado.

Selma, não é um grande filme mas tem um tema que merece sempre ser debatido e que ainda consegue chocar as pessoas. Por isso, mesmo com seus problemas fica no pote dos poucos filmes bons (na minha avaliação) indicados ao Oscar esse ano.


★★★½

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Jogo da Imitação

O Jogo da Imitação
(The Imitation Game, 2014)

Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Graham Moore

com: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Rory Kinnear, Charles Dance, Mark Strong

Um personagem enigmático, transtornado, cheio de segredos e brilhante. Alan Turing foi tudo isso e talvez por ser tão complexo merecia uma produção que fizesse juz a ele. "O Jogo da Imitação" é terno, professoral, emotivo (beirando os excessos melodramáticos) mas falha na tentativa de compreender de fato a genialidade de seu biografado.

Sim, ele aborda as dificuldades de relacionamento que Turing tinha com o mundo ao redor, e sua sexualidade reprimida e é bastante feliz em nos minutos finais da projeção ser irônico quanto ao destino do personagem, porém falta exemplificar os insights geniais, ou de onde vem suas conquistas, problemas bem parecidos com outro indicado ao Oscar desse ano, "Teoria de Tudo". Parece ser um problema crônico em cinebiografias (sendo generalista): ou se apela para a "chapa branca" e transforma-se o biografado em um santo ou foca-se em um aspecto de sua personalidade sem abordar o todo, o que faz dos seres humanos complexos.

Cumberbatch está bem, mas ainda acho que "Sherlock" e "O Espião que Sabia Demais" são suas duas interpretações mais eficientes. Benedict acerta ao fazer de Turing um sujeito que parece sempre estar engasgado pelas palavras e que fez de sua vida uma espiral de controle, resignação e apatia. Em sua vida, não existe espaço para nada além do que seu proposito e amor: a matemática. Amor esse, forjado pela dor de uma perda que o transformou e o manteve em um estado de inércia. A vida passava ao seu lado e ele não conseguia expressar-se.

Isso até envolver-se com o projeto que desvendou os segredos da comunicação nazista e que fez com que sua vida mudasse, abrindo sua percepção para as pessoas ao seu redor e utilizando seus traumas para construir uma máquina que salvou dezenas de milhares.

Os méritos de levantar - mais uma vez - o nome de Turing e dar visibilidade ao seu trabalho e principalmente o de chocar o público com o fato de que um país civilizado a menos de 100 anos condenava a prisão pessoas simplesmente porque estas eram homossexuais compensam os problemas do filme, embora ache que o biografado merecesse mais.


★★★

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A Teoria de Tudo

A Teoria de Tudo
(The Theory of Everything, 2014)

Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten

com: Eddie Redmayne, Felicity Jones, David Thewlis

Um dos grande abacaxis do começo do ano mas que está fadado a ser adorado por uma multidão. Com receio de transformar seu protagonista que passa por uma batalha diária para sobreviver em algo diferente de um santo, a "Teoria de Tudo" é um desperdício de uma história impressionante e de personagens que são conhecidos por boa parte do planeta.

Ao transformar Stephen Hawking é uma versão de messias da superação, o filme deixa de aprofundar em questões muito mais relevantes para a compreensão do personagem. Suas descobertas e teorias são mostradas como "mágicas de um gênio" ou como insights de uma mente superior. O trabalho duro, as dificuldades e as inspirações estão sempre em segundo plano quando comparadas ao relacionamento com sua primeira esposa.

Relacionamento esse que é tratado com tamanha reverência que fica dificil compreender o que de fato aconteceu. Naturalmente, Jane (Felicity Jones) se sente frustrada fisicamente e Stephen idem. Ao transformar esse problema fundamental em uma anedota de rodapé, o filme transforma o casal em uma dupla quase de celibatários (o que deixa o fato deles terem três filhos, ainda mais esquisito). Os casos extraconjugais ou mesmo discussões sobre os problemas comuns de um casal são deixados de lado para mostrar a genialidade de Hawking.

Adotando esse tipo de postura fica complicado compreender os personagens embora uma produção púdica assim tenha lá seu apelo, afinal "ela ficou com ele apesar das limitacões", ou "o amor vence tudo" entre outras frases feitas, que desabonam a realidade dos fatos, muito mais interessantes. Infelizmente não é acompanhando esse filme em que o esforçado Eddie Redmayne se transfigura em Hawking ao ponto de sentirmos sua dor e compartilharmos seus problemas, que vamos conhecer essa figura tão famosa no século XXI, chamada Stephen Hawking.

★★

sábado, 14 de fevereiro de 2015

CBGB


CBGB
(CBGB, 2013)

Direção: Randall Miller
Roteiro: Jody Savin, Randall Miller

com: Alan Rickman, Malin Akerman, Justin Bartha, Johnny Galecki, Rupert Grint, Taylor Hawkins, Freddy Rodriguez


Adoro rock'n'roll. Uns anos atrás até cheguei a trabalhar em uma gravadora graças a vontade de mexer com música. Por isso, já conhecia a história do CBGB embora talvez possa afastar algumas pessoas que não conhecem um pouco a história do rock e mais especificamente do punk rock.

Com uma pegada cômica clara, transforma o ambiente decadente da compra do bar que serviu como plataforma para o surgimento das primeiras bandas punks e pos punks se apresentarem, como o Television, Ramones, The Police, Blondie, Patty Smith, Dead Boys entre muitos outros, em uma comédia de situação ancorada em seu protagonista. Alan Rickman interpreta o dono do lugar, que é uma sujeito despojado e que tem o sonho de abrir um lugar onde músicos de country e blues possam se apresentar no meio de Nova Iorque. Claro que a ideia não deu muito certo e logo aquele bando de cabeludos, sujos e chapados começam a se reunir e a tocar no bar do sujeito. O jeito irônico natural de Rickman combina muito bem com o personagem e sedimenta a produção. Por outro lado, a trama é muito mais fetichista - graças a aparição de músicos e jornalistas, produtores e etc na época - do que uma história realmente bacana. Os momentos mais tensos daquele período não conseguem ter o impacto que se espera em situações que envolvem abuso cavalar de drogas, violência e etc. Tudo parece muito leve e divertido, mesmo quando isso parece claramente não ser verdade. Falta também um sentido de urgência em ver a história acontecer diante dos olhos.

Se você já conhece os personagens é capaz de gostar muito mais pela "clonagem" dos músicos (destaque para os Ramones idênticos e para Debby Harry, a vocalista do Blondie, muito bem caracterizada pela linda da Malin Akerman) e pela trilha sonora. Quem não conhece, talvez tenha o fetiche de ver algumas caras famosas (como Ruper Grint, o Ronny de Harry Potter, e o baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins) completamente diferentes do que são normalmente vistos, mas é mais provável que você passe batido.


★★½ 



Blind Detective


Blind Detective
(Man Tam, 2013)

Direção: Johnny To
Roteiro: Ka-Fai Wai

com: Andy Lau, Sammi Cheng

Johnny To é um sujeito muito original. Seu cinema é sempre marcante e vale a descoberta. Em seu mais recente petardo ele mistura comédia pastelão com uma história de detetive nos moldes de Sherlock Holmes. 

Como protagonista, o brilhante Johnston (Andy Lau) um ex-policial que mesmo depois de ficar cego, mantém a genialidade nas deduções e na resolução de crimes hediondos. Quando o filme começa somos testemunhas de suas capacidades, quando o mesmo precisa encontrar um maluco que joga ácido nos transeuntes. Ao se envolver na investigação conhece a jovem e impressionável Tung (Sammi Cheng) que é a "heroina de ação" da produção e é usada - quase literalmente - por Johnston para realizar as ações fisicas devido a deficiência do protagonista. Na história, ela contrata o sujeito para resolver um antigo caso, enquanto o mesmo usa a garota como parceira para resolver suas próprias investigações em aberto. Em resumo, Johnston pensa e Tung executa, mas, apesar da premissa parecer machista demais, no decorrer da trama percebemos que esse jeito grosseiro e rude é fachada e que a relação dos dois é muito mais intensa do que se imagina, além do respeito que vai crescendo. 

O pastelão e a comédia física funcionam bem e apesar de um incomodo inicial, já que parece quebrar a noção de credibilidade da trama, o tom fabulesco que o filme assume (mesmo diante de uma história sórdida) diverte e alivia a tensão da trama. Talvez não seja o melhor de seu diretor, mas a história certinha é um trunfo e o carisma dos protagonistas ajuda a empolgar.


★★★★ 


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Foxcatcher

Foxcatcher - A História que Chocou o Mundo
(Foxcatcher, 2014)

Direção: Bennett Miller
Roteiro: E. Max Frye, Dan Futterman

com: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo

Um tremendo desperdício. A história dos envolvimento dos dois atletas de luta olímpica com o milionário maluco John Du Pont merecia um pouco mais de cuidado. Apresentado como uma trama assustadoramente incômoda com personagens que parecem sempre caminharem sem se perceber para uma tragédia, o filme de Bennett Miller é uma trama incompleta. Se sobra estudo de personagens (abordo isso abaixo) falta impacto, falta melodrama, falta o tal "choque que assombrou a América".

O que o filme acerta e em cheio, é no estudo de seu antagonista, interpretado com enorme competência por um Steve Carrell que guarda dentro de si um rancor e uma vontade - que supera seus pudores - em ser mais do que aparenta ser. Menino rico, Carrell é o estereotipo do ricaço que precisa de aprovação da mãe e se colocar na embaraçosa posição de líder, diante de um pelotão que o respeita apenas por causa de sua conta bancária. Ninguém o respeita dentro de sua casa, ele sempre é encarado como "aquele cara estranho" que aproveita-se de sua condição financeira para tomar conta de dois atletas que - como ele - não são valorizados dentro dos padrões que impuseram a si mesmos.

Enquanto o personagem de Mark Ruffalo encontra um substituto para esse descaso das pessoas nos braços da família, o personagem de Channing Tatum precisa ser valorizado e encontra em DuPont, alguém que o respeita (ou pelo menos assim parece) e que vai valorizar seu talento.

A primeira hora de "Foxcatcher", justamente quando esses personagens estão tomando lados e apresentando-se ao público é especialmente eficiente, porém falta (como disse acima) impacto e mesmo que a figura de Carrell vá se transformando em uma criatura horrível diante de nossos olhos, o choque de suas ações perdem força. Ao retratar gente fragilizada e impotente de uma forma verdadeiramente honesta, faz do filme um longo prelúdio para o apocalipse. E como todo prelúdio, ele só se completa ao lado de uma atração principal, o que fica faltando nessa produção.


★★★

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Whiplash

Whiplash
(Whiplash, 2014)

Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle

com: Miles Teller, J.K. Simmons

A música não tem regras, nem mesmo um julgamento racional. É muito difícil racionalizar sobre o que faz uma música boa ou ruim, baseando-se apenas em dados estatísticos e afins. Muito do nosso julgamento sobre o que é "boa música" é meramente subjetivo, por isso, quando personagens como os de Miles Teller e o de J.K. Simmons entram em cena fica difícil não se posicionar de uma forma a considerá-los "malucos". Afinal, qual a diferença entre uma batida 100% perfeita e uma 99,9%? Para o professor insano de Simmons, muita. Para o aluno interpretado por Teller, é a diferença entre o sucesso absoluto e o fracasso retumbante.

Não é fácil se afeiçoar a personagens obsessivos, embora os compreendamos. Eu entendo Andrew (Miles Teller): ele é um sujeito que sempre teve um objetivo na vida e que não enxerga nenhuma outra solução para sua vida além de ser o melhor músico do mundo. Quantas pessoas não são assim? Talvez, até mesmo o leitor tenha um pouco dessa obsessão pela perfeição enraizada dentro de si. Por outro lado, quase no final da projeção consigo compreender - embora jamais concorde - os "métodos" de Fletcher (J.K. Simmons) para ensinar aos seus alunos. Ele pretende forçar, quebrar, humilhar, torcer e esmagar até encontrar uma gota de brilhantismo. Doentio, sem dúvida.

É por isso que é tão complicado se apaixonar por esse filme. Ancorado por dois sujeitos no mínimo problemáticos e que tem como principais características afastar as pessoas próximas de seu convívio, "Whiplash" é um exercício de desapego moral em virtude do encantamento cinematográfico. Se moralmente os personagens estão longe da correção, cinematograficamente, a trama de Damien Chazelle é precisa, econômica, direta e virulenta (beirando o exagero em uma sequência que envolve um acidente de carro, apenas para mostrar o comprometimento doentio de um dos personagens) e brutalmente musical. A sequência final do filme, com poucos diálogos mas com uma serie de trocas de olhares entre os protagonistas (que engolem o espectador) é espetacular. Chazelle cria um plot twist dentro de um plot twist nessa sequência, fazendo  espectador sofrer e se regojizar ao mesmo tempo.

Esse é daqueles que devem ser vistos e é ótimo voltar ao Fotograma escrevendo justamente sobre um dos grandes filmes que chegarão aos cinemas brasileiros em 2015.


★★★★★

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Meus Melhores do Ano

Essa lista é um pouco diferente de todas as outras que o Fotograma já publicou. Diferente de um top 10, que é o que sempre fizemos até aqui, essa é uma lista com todos os filmes que vi em 2014 (e como disse, não foram tantos assim) que para mim, mereceram de 4 a 5 estrelas (o que na classificação "diferentona" do blog se encaixam entre "Muito Bom", "Excelente" e "Obra-Prima". Uma observação que sempre me perguntam: as estrelas, ou notas sempre levam em consideração o que se ve ou viu no ano vigente. Ou seja, as 4 ou 5 estrelas desses filmes não significam que eles estejam no mesmo nível de mega clássicos do cinema (alguns até estão).

Outra observação: também pelo fato de não ter escrito praticamente nada sobre nenhum dos filmes citados, cada um deles tem um textinho curto explicando os motivos da minha escolha.




★★★★



Toque de Mestre
(dir: Eugenio Mira)

Esse é um daqueles guilty pleasures imperdíveis. Uma trama absolutamente absurda, mas tão bem construída e com momentos de tensão tão bem bolados que os buracos de roteiro e o abusrdo do plot ficam relegados a segundo plano. Elijah Wood é o pianista recluso que decide voltar ao palco para homenagear um antigo professor, enfrentando seu pavor de palco. Porém, segundos antes de começar a apresentação recebe um bilhete macabro: "toque uma nota errada e você morre". Interessante, não? Por que alguém teria tanto trabalho? E o que ganharia com isso? Construído como uma homenagem aos suspenses clássicos de Hitchcock (sem obviamente a mesma genialidade) e dos sempre criativos Giallos italianos, é um dos poucos filmes que me deixou preso na trama durante toda a projeção, mesmo com seus nítidos problemas de estrutura em sua parte final e um antagonista que deixa a desejar. 


Philomena
(dir: Stephen Frears)

Misture uma trama real que revolta qualquer um e dois atores talentosos e você tem um combo vitorioso. Em uma atuação irrepreensive, Judi Dench faz da simpática e simples Philomena uma das personagens mais cativantes de 2014. Seus gostos nada elegantes e sua incapacidade de mentir envolvem tanto o personagem de Steve Coogan (em uma performance muito mais contida do que em trabalhos anteriores, mas que guarda um humor cínico que lhe é peculiar) quanto o público. As muitas reviravoltas que chocam e emocionam transformam o que poderia ser um dramalhão clichê em um filme que beira a denúncia social. 



Capitão América: O Soldado Invernal
(dir: Joe e Anthony Russo)

Considerado como o mais sério dos filmes da Marvel, para mim essa seriedade (que não é tanta assim) deu lugar a sensação de que esse era o primeiro filme Marvel, verdadeiramente sobre um herói. Vejamos: Tony Stark não é um herói, seus confrontos são localizados em parceiros de negócios surtados e sujeitos vingativos. Que pese sua mudança de postura quanto as armas que vendia, ele não luta para "salvar o mundo", mas reage a uma ameaça que o persegue. Hulk é um sujeito em constante fuga, Thor enfrentou uma ameaça ao seu mundo em sua primeira aventura e os Vingadores são um coletivo que reagiu a um evento global. Thor 2 começou a mudar essa noção, apresentando os personagens do estúdio em momentos mais heróicos, mas a escala e a grandiosidade de Capitão América 2 extrapola o que o estúdio vinha fazendo até então. Se a invasão Chitauri em Vingadores era intensa, a luta do Capitão contra as naves da S.H.I.E.L.D. é igualmente impressionante. Isso sem contar a sequência de ataque a Nick Fury no trânsito ou a já clássica luta no elevador. Em todas elas, notamos um sentimento de urgência e de real perigo que nem mesmo Vingadores (que é um filme muito mais divertido, digamos assim) apresentava. E o personagem do Capitão assume a postura que se espera do "primeiro vingador": liderança, sacrifício pela causa, inteligência, bravura e força. 


Michael Kohlhaas
(dir: Arnaud des Pallières)

Um semi Coração Valente, essa trama sobre um simples comerciante que ao ver seus direitos serem ignorados por um lorde decide criar um levante popular que beira a revolução é mais uma oportunidade excelente para notarmos o talento de Mads Mikkelsen, que aqui vive com extrema sobriedade um personagem destinado a martirização. Porém, em vez de apostar nas frases feitas, o filme é profundamente honesto e trata a situação com uma crueza e realismo que faz com que o protagonista e teoricamente o herói da trama, seja visto em alguns momentos como um homem perturbado, exagerado e de moral duvidosa. Uma beleza de filme.



Refém da Paixão
(dir: Jason Reitman)

Não se enganem pelo ridículo título nacional que mais parece o de um desses romances de banca. O drama (que também tem romance) conta a história de uma mãe e seu filho que se afeiçoam de um criminoso que havia fugido da cadeia e se esconde em sua casa durante um feriado. Kate Winslet constrói uma personagem que sofre de depressão e que enfrenta enormes dificuldades em seguir a vida. Brolin é é o criminoso "de bom coração"que transfigura uma óbvia relação de síndrome de Estocolmo em algo maior e mais interessante. Mesmo com problemas que são resolvidos de forma clichê, a produção tem um certo lirismo e emociona em sua conclusão singela.




Planeta dos Macacos: O Confronto
(dir: Matt Reeves)

Caso raro de continuação que é tão boa (ou melhor) que o filme original. Ok, eu sei que a série Planeta dos Macaccos está sendo reebotada e que talvez a expressão "filme original" não caiba, mas a releitura desse mundo é verdadeiramente muito boa. A trama que no primeiro filme brincava com elementos de cientista louco e afins evolui para discussões sobre humanidade, sobre como uma sociedade pode ser organizada e abrir mão da violência e como o preconceito deve ser combatido sempre. Dizer que Andy Serkis rouba a cena com sua composição (auxiliado logicamente pela tecnologia) de Cesar é ser óbvio. Mas, não é possível esquecer que todo o visual dos símios está ainda mais caprichado e o mundo pós-apocalíptico em que macacos cavalgam como senhores do planeta é dos mais incríveis apresentados recentemente. A estrutura da sociedade dos macacos é igualmente impressionante e novamente, os humanos são coadjuvantes (e que bom que são). Que a saga dos macacos reebotados tenha muito mais sucesso e se mantenha com a alta qualidade mostrada até aqui.


Bem-vindo a Nova Iorque
(dir: Abel Ferrara)

Abel Ferrara é um dos últimos diretores vivos com a coragem de apresentar um personagem tão detestável quanto Deveraux, vívido com incrível intensidade por Gerard Depardieu. Um homem horrível, aproveitador, violento, corrupto, estúpido e que somos obrigados a acompanhar em uma viagem rumo a destruição. Existem momentos no filme que são verdadeiramente especiais: a vistoria que o personagem passa na cadeia e uma conversa franca e aguda, sem rodeios que este tem com sua esposa, vivida com igual capacidade pela brilhante Jaqueline Bisset. Depardieu está elétrico e horrível, fazendo de seu personagem um odioso ser vivo. Mesmo se alongando demais e tendo dificuldades para encontrar um momento para encerrar o filme, esse é um das produções mais fortes do ano que passou.


No Limite do Amanhã
(dir: Doug Liman)

Sim, tem um monte de exageros. Sim, a brincadeira já funcionou em "Feitiço do Tempo" e sim, o confronto tão antecipado, pensado e até sonhado pelos personagens no filme, acontece de forma abrupta e anti-climática. Mas, é muito divertido acompanhar Tiom Cruise brincando de Marty McFly. O visual dos exo-esqueletos saído de um cruzamento de anime com Matrix e a presença magnética de Emily Blunt e sua espada enorme são destaques assim como seu bom humor e percepção de que por mais séria que pareça a proposta, o humor - às vezes, bastante sombrio - é fundamental para contar uma boa história nesses moldes. Se acompanhassemos duas horas de corre-corre e de desespero na tentativa de vencer os alienígenas inimigos sem uma dose de absurdo (afinal, voltar no tempo, matar ets de roupa de robô não é digamos, uma situação das mais "reais") a chance do filme se tornar cansativo, pedante ou simplesmente chato seria enorme. Sempre gosto quando os filmes com premissas tão distantes de nossa realidade, conseguem encontrar formas de brincar so absurdos de suas próprias histórias. Um dos blockbusters mais bacanas do ano. 


Sem Escalas
(dir: Jaume Collet-Serra)

Sim, esse absurdo estrelado por Liam Neeson é das coisas mais legais que vi ano passado. Preso, dentro de um avião e tentando descobrir que tramou contra ele, antes que todos a bordo morram. Um prato cheio para Liam Neeson demonstrar novamente porque ele é o "bad ass" do século XXI, disparar quilos de frases de efeito, dar um jeito em problemas sem sentido com ideias malucas e que funcionam entre outras coisas. Mas, melhor que tudo isso, é notar que a direção de Jaume Collet-Serra sabe o que está fazendo e consegue manter a tensão sem precisar exclusivamente do carisma de seu astro (como é o caso das produções Busca Implacável 1 e 2). Um guilty pleasure com muito orgulho. 




Garota Exemplar
(dir: David Fincher)

Muita gente tem se aprofundado em escrever como esse filme é supervalorizado, criticando inclusive a capacidade intelectual dos espectadores. Isso, além de ser um tanto quanto infeliz (já que, por mais idiota que o filme possa ser, não devemos julgar a capacidade dos outros pelo tipo de entretenimento que ela gosta) demonstra uma incapacidade de notar que todos temos os nossos tetos de vidro, os filmes "ruins" que amamos e por ai vai. Mas, nada disso tem a ver com o filme, que - de fato - não é a ultima bolacha do pacote, ou o melhor filme de David Fincher (por favor, o cara fez "Clube da Luta", "Seven", "Zodíaco"), mas é um excelente thriller, muito bem construído como veículo para uma mensagem anti-sensacionalismo (de leve) e muito sobre enfrentar as aparências em uma sociedade que vive do que mostra ao mundo e não do que realmente sente . Sim, se você assistir uma segunda vez (meu caso) vai notar que existem furos na trama rocambolesca, que coisas não fazem sentido, mas a força do filme não está ai, mas na mensagem. Destaques óbvios para como Fincher conta sua história, com calma e apresentando lados opostos com igual competência. Se Ben Affleck está muito bem, Rosamund Pike é absurda. Sua personagem é um reflexo de todas as ideias que seu diretor e o roteirista Gillian Flynn (que também assina o livro adaptado) quiseram demonstrar. Uma ode ao circo de aparências e que transforma sua situação em algo muito mais complexo do que a percepção de seu marido (Affleck) puderam imaginar.


Dois Dias, Uma Noite
(dir: Jean-Pierre e Luc Dardenne)

Confesso que não sou um grande fã do cinema dos irmãos Dardenne. Muitas vezes, acho que os cineastas belgas fazem muito barulho por nada, desenvolvendo histórias exageradamente complexas sobre um assunto demasiado trivial. Mas, confesso, que quando acertam, o fazem em cheio. É o caso desse "Dois Dias, Uma Noite", uma trama simples sobre uma mulher se recuperando de depressão que tem uma chance de recuperar seu emprego por meio de uma votação dos demais funcionários da empresa. O custo: ela volta a trabalhar, eles perdem um gordo bônus. Por dois dias e uma noite, ela tenta ir atrás de seus companheiros de trabalho encontrando as mais variadas situações, que causam pena, desconforto, raiva, alegria e todo um espectro de sensações. Os Dardenne não se furtam a deixar em aberto se de fato, a situação clínica da personagem (ótimo desempenho de Marion Cotillard) está controlada, mas jamais brincam com os valores da personagem especialmente na parte do filme, que surpreende o espectador e serve como uma boa mensagem.


O Lobo atrás da Porta
(dir: Fernando Coimbra)

Um dos muitos exemplos de filmes brasileiros de muita qualidade que chegam aos cinemas, O Lobo atrás da Porta é um thriller tremendamente eficiente e que coloca a mostra que o país consegue produzir filmes de gênero com grande competência. A trama simples de traição, vingança, mentiras e reviravoltas pode não ser das mais originais, mas é competente e tem um Leandra Leal inspirada como a complexa, enigmática Rosa. Juliano Cazarré e Milhem Cortaz são responsáveis por ancorar o "solo" de Leandra que voa alto para construir a delicadeza sombria de sua protagonista. A forma de contar a trama com flashbacks ajuda ao espectador a ter um pouco da visão de cada personagem e notarmos como cada história vai ser fundamental para montarmos o quadro geral e sermos surpreendidos pelas revelações. Um exemplar 100% nosso de um gênero que parece sempre ligado ao cinema que não é produzido por aqui.


Quando Eu Era Vivo
(dir: Marco Dutra)

Ousado na abordagem, no tema e no casting, "Quando eu Era Vivo" é dos mais perturbadores filmes que vi esse ano. A perturbação não reside no tema, mas na forma como Marcos Dutra resolveu abordá-la. Na trama, um homem aparentemente abandonado pela esposa volta para a casa do pai, para ressuscitar os fantasmas do passado, sejam sobre a mãe misteriosa, o irmão com problemas mentais ou sua sexualidade ao se afeiçoar a bela garota que vive em seu antigo quarto, hoje alugado. Antonio Fagundes e Marat Descartes são atores de grande capacidade e sobre eles não se imagina um trabalho menos do que competente, mas é Sandy que surpreende. Assumir a personagem feminina em filme pequeno, de gênero e que está longe do que se vende como "cinema nacional" para o grande público (a saber: comédias, comédias e mais comédias) é uma saudável ousadia. O resultado final se não é brilhante de sua parte é competente e cria alguns dos melhores momentos do ano que envolvem uma canção assustadora e máscaras de gesso. 


Junho - O Mês que Abalou o Brasil
(dir: João Wainer)

Passados mais de um ano do mês de Junho de 2013 esse documentário se torna ainda mais interessante. Um recorte que se visualmente não trás nenhuma novidade - nenhuma imagem nova ou revelação - serve como uma forma de reflexão sobre o que de fato aconteceu naquele período no país. Felizmente, o documentário não tenta apontar uma resposta definitiva mas convida diversos personagens que fizeram parte das manifestações e alguns analistas (de todos os estilos e espectros de pensamento) para uma colagem de opiniões que tentam resumir os fatos. O que falta em certezas, sobra em variáveis o que reflete com grande exatidão o que aconteceu durante Junho de 2013.


Boyhood
(dir: Richard Linklater)

O que mais impressiona em Boyhood é a escala da aventura de Richard Linklater. Filmar por doze anos as mesmas pessoas e transformar isso em uma história deve ter consumido o diretor/roteirista. O resultado é longo (mas como não seria?) mas é bem honesto e tenta não apelar para a vilanização dos antagonistas. O inglês Michael Apted faz esse tipo de colagem em forma documental a muitos anos na serie "Up", mas transformar isso em uma narrativa cinematográfica de ficção é de fato uma conquista. Mesmo não sendo sempre brilhante (alguns momentos da produção contam com diálogos forçados, como a discussão no restaurante ou clichês para retratar alguns personagens) o filme merece todos os elogios que vem ganhando da crítica internacional. O mais surpreendente é constatar que o garoto Ellar Coltrane, tem de fato, talento para a coisa e que ao lado de atores mais experientes consegue um desempenho bom. Longe de ter uma trama complexa e cheia de idas e vindas, Boyhood é o "coming of age" por definição.




★★★★½

Clube de Compras Dallas
(dir: Jean-Marc Valée)

Um dos desempenhos mais impressionantes de 2014 foi o de Matthew McConaughey como o preconceituoso rancheiro que ao contrair o vírus da AIDS muda sua perspectiva sobre tudo a sua volta e começa a traficar remédios tanto para salvar sua vida quanto o de outras pessoas que sofrem. Jared Leto também "mata a pau" e constrói com delicadeza sua personagem. O que surpreende na trama é que ele não se deixa cair no dramalhão e transforma-se em filme denúncia sem pudor de apontar o dedo aos orgãos de controle da saúde americana como os grandes vilões da trama.





Inside Llewyn Davis
(dir: Joel e Ethan Coen)

Histórias de perdedores sempre me cativam, já que apesar da sociedade vender que todo mundo pode vencer, o mundo real nos mostra que existe uma chance muito grande de que nossos sonhos não se realizem. A trama mostra Llewyn Davis (o ótimo Oscar Isaac) um cantor folk dos anos 60 com algum talento mas que por mais que tente, não consegue sair de uma zona de desagrado, não conquistando nada do que sonha. As participações especiais são ótimas (destaque para John Goodman), as canções ótimas, e os irmãos Coen constroem uma atmosfera sempre escura e gélida que nos impele a ter pena do protagonista. 




Amantes Eternos
(dir: Jim Jarmusch)

Talvez o melhor filme de vampiros da década, o romance indie/rockeiro de Jim Jarmusch tem a melhor interpretação de Tom Hiddleston em muito tempo e uma Tilda Swinton que flutua na tela. Uma trama aparentemente simples, que fala do ciúme que duas criaturas imortais sentem um do outro e que transborda em uma excelente trama de suspense e com final bastante lírico. 







Uma Aventura LEGO
(dir: Phil Lord, Christopher Miller)

Uma ideia caça níqueis que se transformou na animação mais divertida do ano . De sua canção tema irônica, aos protagonistas engraçados, ao acréscimo de personagens de diversas franquias já transformadas em bonequinhos LEGO e um plot twist final que é bastante ousado, emocionante e que surpreende o espectador. A dupla Lord e Miller conseguiu no mesmo ano lançar um dos melhores e um dos piores filmes do ano. Bipolaridade cinematográfica explícita.







O Grande Hotel Budapeste
(dir: Wes Anderson)

Wes Anderson está de volta com um dos trabalhos mais incríveis de sua carreira. Com todas as características que fizeram do seu cinema um dos mais criativos e amados por uma parcela do público, a trama do hotel - contada em flashback - é deliciosa, muito bem amarrada, com um humor ácido e por vezes cruel, mas com personagens maravilhosos. Ralph Fiennes engraçadíssimo, F. Murray Abraham - um dos meus atores favoritos - em um papel digno de sua capacidade, além de um excelente elenco que inclui Jude Law, Matthieu Almaric, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Edward Norton, Saorsie Ronan, Bill Murray entre muitos outros. 



Guardiões da Galáxia
(dir: James Gunn)

O mais divertido dos filmes da Marvel, com uma seleção de tipos peculiares que divertem o público por sua falta de pretensão, excelente uso de trilha sonora, humor constante e um visual que mistura o melhor de Star Wars com obras de fantasia. Groot e Rocket Rackoon já entraram para a lista dos melhores personagens do cinema recente, e Chris Pratt foi revelado ao mundo como um sujeito capaz de segurar uma franquia. O mais diferente dos filmes de heróis do ano e o melhor deles todos. 






Godzilla
(dir: Gareth Edwards)

Um dos mais polêmicos da lista, principalmente devido as opções de seu diretor em abordar o mítico monstro japonês de forma mais crível e desenvolver uma trama familiar para fazer o filme fluir. Gosto muito das escolhas visuais do filme, da ideia de não apresentar o monstro de uma vez (muito parecido com que o Gareth Edwards havia filme em seu filme de estreia "Monsters") e de deixar de lado a gratuidade de confrontos entre monstros para falar a respeito dos impactos que um monstro gigante tem nas cidades atingidas, preferindo mostrar os destroços e o rastro de destruição do que sequências, que poderiam ficar ridículas de um gigantesco lagarto quebrando prédios. Quando utiliza esse expediente, tudo é com bom gosto. Acho a seleção do elenco acertada, mesmo entendendo os problemas das pessoas com o drama familiar que é bastante comum e já foi apresentado em muitos outros filmes.


The Rover: A Caçada
(dir: David Michôd)

Uma das produções mais interessantes do ano, mostra um futuro distópico e pós-apocalíptico, onde um homem (Guy Pearce) parte em busca de seu carro roubado por um grupo de criminosos pé rapados. A atmosfera desoladora, sempre suja, abafada e que nos parece dizer que estão todos condenados a miséria eterna é bastante crível. A fauna e os personagens exóticos, bizarros ou simplesmente incompreensíveis é extensa. Destaque para a excelente composição que Robert Pattinson faz para seu personagem, um homem que não cresceu, que parece sofrer de algum problema mental e que mistura rompantes de violência com atitude singelas e doces. The Rover ainda tem um dos finais mais inteligentes e amargos do cinema recente e que leva a uma reflexão sobre o verdadeiro estado de coisas desse mundo perdido.


Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
(dir: Francis Lawrence)

A serie Jogos Vorazes é um enorme sucesso de público e seus filmes vem melhorando em qualidade, intensidade e discussões propostas. Que pese que a discussão não se pretende a ser profunda, ela ainda assim está lá presente em meio a um thriller tenso com bons personagens novos (destaque para a presidente vivida por Julianne Moor, uma participação ainda mais soturna de Donald Sutherland e Jennifer Lawrence cada vez mais a vontade no papel. Perdeu - pra mim - por muito pouco para "Guardiões da Galáxia" como o blockbuster numero 1 do ano.





O Abutre
(dir: Dan Gilroy)

Que pedrada na cara! Esse primo bastardo e mais sujo de "Rede de Intrigas" (um dos meus filmes favoritos) é um dos melhores filmes do ano com muitas sobras. Acompanhar o obsessivo e doentio personagem de Jake Gyllenhaal pelas noites alaranjadas e mortíferas de Los Angeles é entrar em um mundo onde os escrúpulos e a moralidade foram deixados de lado. Uma visão muito crível de um possível futuro de nossa sociedade cada vez mais apaixonada pelos extremos e que busca romper os limites sempre que pode. 







O Congresso Futurista
(dir: Ari Folman)

Que ideia absolutamente criativa e com resultado ao mesmo tempo crítico e lírico. A produção do israelense Ari Folman aponta suas armas para a substiuição dos atores quando a idade chega e não se furta a dizer ao mundo que esse é um processo em franco desenvolvimento. A mistura de película com animação funciona muito bem, e os traços animados que misturam Osamu Tezuka com Chuck Jones  e Ralph Bakshi é perfeita para a trama a ser contada. O lirismo de sua meia hora final é uma excelente forma de explicar o conceito de eternidade sem apelar para feng shui, sol e estrelas ou a formação dos planetas. A melhor ficção científica do ano.



Era uma vez em Nova Iorque
(dir: James Gray)

Apesar do título óbvio, a trama de "A Imigrante" (tradução literal do título original) é tudo menos óbvia. Apesar de começar parecendo um dramalhão sobre as dificuldades da imigração (que existem até hoje), é um dos grandes filmes sobre perdão que o cinema recente produziu. Brilhantemente fotografado, fazendo de Nova Iorque uma cidade sombria, cinzenta e ainda mais dura de se viver, a história da imigrante Ewa (Marion Cotillard) e sua luta incessante para ajudar sua irmã doente é verdadeiramente emocionante. A obsessão do personagem de Joaquin Phoenix é palpável e sua interpretação merece uma indicação a todos os prêmios possíveis. Com momentos que lembram "Terceiro Homem" (a perseguição pelo esgoto), e algumas das imagens mais belas que vimos no cinema esse ano, é um daqueles filmes para se ver e rever sempre.




★★★★★



Até o Fim
(dir: J.C. Chandor)

Até agora, não sei o que me fez gostar tanto de Até o Fim. A trama, óbvia de sobrevivência, já foi apresentada antes e os desafios mostrados idem. Porém, é a fragilidade de Robert Redford que me cativa. Um homem que luta por sua vida sem apelar para a gritaria, o desespero ou que desiste e apela aos céus. A vida lhe preparou para enfrentar esse desafio e ele o encara de forma adulta. Perfeita na construção da tensão e maravilhosamente interpretado é um dos melhores contos sobre crescimento e sobrevivência que o cinema fez.





O Lobo de Wall Street
(dir: Martin Scorsese)

O meu filme favorito do ano é uma coleção de insanidades propostas por Martin Scorsese. Uma comédia ácida sobre os excessos. Excessos de dinheiro, burrice, ingenuidade, violência, drogas, sexo entre outros. Nesse primo elegante de "Bons Companheiros" é incrível perceber o quão a vontade Scorsese parece transitar por temas tão perigosos sem, no entanto, resvalar para a solução fácil. Sem se importar com o que os outros vão pensar, ou sobre acusações de apologia ao crime, o diretor conta a história do homem que usava tudo e todos para conseguir mais e mais poder. Como um lobo , criou uma matilha de parceiros subservientes que respondiam ao chamado do macho alfa. Scorsese tira sarro desse excesso, aponta a câmera para a gente e parece dizer: "acho que você está se divertindo, não é?" E não se prende a essa indagação, pois depois de nos divertir com seu humor que beira o doentio, aponta novamente a câmera e nos diz: "mas veja quão babaca você é?". "Lobo de Wall Street" é Scorsese tirando sarro da expectativa do público e dizendo que no fundo, todo mundo quer vencer.