sábado, 21 de fevereiro de 2015

Birdman

Birdman
(Birdman, 2014)

Direção: Alejandro González Iñarritu
Roteiro: Alejandro González Iñarritu, Nicólas Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo

com: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Zach Galifianakis, Andrea Riseborough, Naomi Watts

Birdman tem ideia e conceitos bastante contemporâneos: fala sobre a nossa busca incessante por amor, na forma obsessiva com que perseguimos o sucesso e como a noção de popularidade pode estar ligada a fatores cada vez menos óbvios e de difícil compreensão. "Birdman" tem essas grandes qualidades mas derrapa na megalomania, na tentativa de transformar uma simples história de um sujeito desesperado por um "come back" ao sucesso em uma epopeia sobre o sucesso.

Brega, exagerado, beirando o ridículo muitas vezes, "Birdman" é um exercício de estilo ancorado em bons atores que entenderam a brincadeira melhor do que o próprio diretor. Michael Keaton - esse sim consegue um comeback digno de nota - Edward Norton (que transfigura-se entre o seu "eu real" e o "eu representativo" de forma que quase parecem duas pessoas diferentes), além de Emma Stone, dona dos diálogos mais mordazes e eficientes da trama. Todos os personagens são verborrágicos e vociferam abobrinhas que não tem sentido algum apenas para "chocar" o espectador com um timing cômico bastante duvidoso o que dificulta que a paródia seja bem construída. 

Visualmente, apesar de bonito, a ideia de inúmeros planos sequência não fazem sentido narrativamente. Estão ali para mostrar que a trama é fluída? Para dizer que a mente do personagem de Keaton está tão perdida que não existe espaço para "desligar"? Para dar a entender que tudo aquilo está se passando emn um perôdo curto de tempo e por isso é interessante mostrar que ele é uma longa espiral rumo ao fatalismo de seu final? Teorias e achismos que são a base do que a maioria dos assim chamados críticos adoram reproduzir em textos empolados e cheios de "e ses". Críticos esses que levam a melhor bordoada do filme no diálogo entre Keaton e a crítica azeda (e clichê). Confesso que vibrei.

Aliás, o julgamento sobre a arte e sucesso é talvez o grande acerto do filme. Quem somos nós para julgarmos o que para o outro é o seu melhor? Temos esse direito? De transformar um fracasso em sucesso e vice versa? E se tivermos, por quê? O que nos faz especiais? E principalmente, como alguém consegue sobreviver a uma avalanche de ódio e desprezo? Por outro lado, a visão careta do filme a respeito dos blockbusters não funciona mais no século XXI. 

As ilusões/viagens/sonhos de Keaton com seu personagem símbolo, o "Birdman", são as mais reais do filme e gosto de pensar que talvez sejam as únicas verdadeiramente honestas, já que colocam o personagem em um lugar que é o que parece mais correto: um ator trabalhador, mas apenas isso. Nada de gênio, brilhante ou afins. Um sujeito que devia ter aproveitado o sucesso, ganhado dinheiro e sossegado em vez de perseguir um sonho que - infelizmente - ele não tem capacidade para atingir.


★★½

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