sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Amizade Colorida
(Friends with Benefits, 2011)
Comédia/Romance - 109 min.

Direção: Will Gluck
Roteiro: Keith Merryman, David A. Newman e Will Gluck

Com: Justin Timberlake, Mila Kunis, Patricia Clarkson, Jenna Elfman e Richard Jenkins

Não é preciso chegar nem a metade de Amizade Colorida para descobrir com precisão matemática, como o filme de Will Gluck irá terminar, já que apesar de "brincar" com a idéia das convenções desse gênero tão maltratado é no fundo mais uma comédia romântica óbvia, apenas salpicado de uma pretensa modernidade e muitas referencias pop da época o que devem fazer do filme datado em pouquíssimo tempo.

O filme narra a história de duas pessoas profundamente desiludidas com relacionamentos. Apresentados com uma montagem que nos dá a entender que os personagens principais namoram e estão prestes a se encontrar, Dylan (Justin Timberlake) e Jamie (Mila Kunis) são jovens, bem sucedidos e que se enxergam como "estragados" para o amor. Dylan trabalha em um blog de sucesso e que lhe basta para pagar suas contas (coisas infelizmente apenas de americano) e Jamie é uma headhunter ávida, que convida Dylan para vir a Nova Iorque (ele mora em Los Angeles) com a proposta de ser o diretor de arte da famosa revista GQ.

Logo, os dois se entendem, e passam a sair juntos, mantendo uma amizade divertida e que faz bem aos dois, machucados por recentes términos de namoro. Um dia, vendo uma melada comédia romântica, começam a divagar sobre as convenções do gênero e do amor em si, e decidem, iniciar um relacionamento puramente sexual sem nenhum compromisso, e ainda manter a amizade.


Recentemente, dois outros filmes trataram de temáticas semelhantes, Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal estrelaram Amor e Outras Drogas, e Natalie Portman e Ashton Kutcher estiveram em Sexo sem Compromisso, que é ainda mais parecido com o filme criticado aqui. Enquanto Amor e Outras Drogas era mais ousado e tinha uma certa dose de drama, Sexo sem Compromisso é basicamente a repetição da mesma história de Amizade Colorida.

Isso me leva a crer que o "tema" dessa temporada tenha sido esse, com executivos correndo em seus escritórios aprovando projetos com astros jovens e sexualmente atraentes com intuito de capitalizar o máximo possível. Nesse triunvirato do sexo fácil, vence com sobras o filme de Hathaway. Além de mais intenso e realmente sexy ainda tinha uma discussão um pouco mais profunda e interessante por trás de todo o açúcar.

Já Sexo sem Compromisso e Amizade Colorida, sofrem do mesmo mal. Condenam abertamente a comédia romântica e suas convenções, mas no fim, querem dizer que essa história de "mudernidade" e sexo fácil é errado, condenável e que não te trará felicidade. Sem julgar valores do que é certo ou errado, o problema é que escolher essa saída convencional condena o filme ao hall das produções ordinárias e que se sustentam na persona de seus interpretes. É nisso que o diretor Will Gluck e os roteiristas Keith Merryman, David A. Newman e o próprio Gluck apostam sem nenhum pudor. Que Timberlake e Kunis conseguirão manter o interesse do público e apresentar um bom trabalho.


Não é segredo algum que gosto do trabalho de Timberlake como ator, e que o mesmo vem se tornando cada vez mais competente e versátil. O mesmo pode se dizer de Mila Kunis, que vem de um trabalho sensacional em Cisne Negro. Por isso, em comparação com seu irmão de alma (Sexo sem Compromisso), Amizade Colorida vence a corrida, já que Timberlake é muito mais talentoso do que o insosso Ashton Kutcher.

O elenco de coadjuvante de Amizade também é interessante. A sempre talentosa Patricia Clarkson como a hiponga mãe de Jamie tem bons momentos, assim como Richard Jenkins que é quase um mágico ao conseguir tirar de tão pouco uma interpretação tão segura. E chegamos ao hilário Woody Harrelson, aqui vivendo o diretor de esportes da revista. Brincando com nossas expectativas, faz de Tommy, um homossexual viril e que não se encaixa nos estereótipos que o cinema geralmente apresenta ao público.

Mas, apesar de tiradas divertidas e muitas e muitas referências pop (que vão de citações de filmes, ao Google até o uso do flashmob como parte importante da história), Amizade Colorida é a velha (e melhor contada milhões de vezes) história do garoto encontra garota-se apaixonam-brigam-final feliz, tal qual um conto de fadas cheio de sacarose para um público cada vez mais abobalhado e engolidor de pipoca. Bobinho e descartável.



quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Contra o Tempo
(Source Code, 2011)
Sci Fi/Drama - 93 min.


Direção: Duncan Jones
Roteiro: Ben Ripley

Com: Jake Gyllenhaal, Vera Farmiga, Michelle Monaghan e Jeffrey Wright  

O primeiro passo é sempre o mais complexo. Para o filho de David Bowie, foi mais difícil ainda. Ainda que tendo o apoio do pai e a Sony como distribuidora, Duncan Jones tinha apenas 5 milhões para realizar uma ficção-científica existencial. Mesmo com todos os problemas de distribuição mundial, relegando o filme ao home video aqui no Brasil, Moon viu a luz do dia e se consagrou como um dos sci-fi mais instigantes e criativos do século XXI. Já com um BAFTA de Melhor Estreante na lareira, Jones obviamente ganhou mais crédito para com as produtores. A Summit Entertainment, com os cofres cheios recentemente após realizar a "Saga" Crepúsculo, agora começou a apostar em novos projetos, menores, mas com um bom potencial comercial. Precisando de novos diretores, baratos, para tocar seus projetos, a Summit viu em Jones um diretor para rodar o roteiro de Ben Ripley. Era a escolha óbvia do inglês, portanto, ser um mero diretor de aluguel para o projeto. Porém, contrariando a lógica e demonstrando personalidade, Duncan Jones deu seu toque de autor para o roteiro e transformou o filme dos produtores da Summit em "Um Filme de Duncan Jones".




Os créditos iniciais são registrados da visão de cima. Chicago, labiríntica e desafiadora, retrata bem o espírito da produção. Sendo preciso ao registrar a cidade dessa maneira, Jones já introduz Source Code de forma elegante. O take que se aproxima com agilidade no trem, marcado pela movimentação do pato na água, é o que dá partida para a jornada de Colter Stevens (e é o que nos liga com as transições Código-Fonte/Trem).Jornada essa, bem complicada. Assim que acorda abruptamente no trem, o capitão vivido com imenso carisma por Jake Gyllenhaal se vê completamente perdido. A mulher à sua frente parece o conhecer e conversa normalmente com ele. Parecendo assustado com cada movimento estranho, Colter já investiga tudo só no olhar, mesmo confuso e sem saber como foi parar ali. Gyllenhaal capta com perfeição esses trejeitos de investigador, demonstrando para o espectador a capacidade inegável de Colter mesmo antes de a trama começar. A coisa piora quando Christina, a mulher da frente, começa a chamá-lo de Sean. E depois de se ver no espelho, comprovando não estar no seu próprio corpo, uma explosão chega.

O mistério dá as cartas desde o princípio. Sendo direto, o filme tenderia a sair perdendo por não apostar em um desenvolvimento de personagens. Porém, quando se entende a proposta de Ripley com seu roteiro, é inegável a admiração pelo trabalho. Quando Colter pergunta o que está havendo, ele ganha as explicações, nem sempre fáceis. Assim como o espectador. Ao optar por revelar cada peça do quebra-cabeça tanto para o protagonista quanto para quem assiste, Source Code se revela mentalmente estimulante. Utiliza celulares, conversas com os especialistas e até meras observações para investigar. Cientificamente simples, sem utilizar muitos termos técnicos (Dr. Rutledge explica de maneira bem concisa o conceito do Código-Fonte para Colter), o filme procura utilizar a ficção-científica como um meio para contar sua história, não o tema principal. O foco do filme é na tensão da investigação e, mais que isso, é no desdobramento das relações de Colter, tanto com Christina quanto com si mesmo. E é satisfatório falar que o filme é absolutamente brilhante nas duas tarefas.





Apostando nas duas vertentes, a de ação e a da emoção, Source Code assim se assemelha a Inception, recente obra-prima de Christopher Nolan. Se as relações de Cobb com seu passado eram angustiantes, as de Colter são potencializadas ao desenrolar da trama. Utilizando o mesmo esquema de solução dos mistérios, o roteiro entrega para o público o mesmo que entrega para Colter. E a cada nova descoberta intrigante sobre a bomba no trem, temos uma descoberta espetacular sobre o capitão. A distância entra as duas obras fica no grau das emoções. Se Inception utiliza as regras da ficção para realizar a sua complexa ação, Source Code tem regras menos complicadas e descomplica-as, se focando na tensão do perigo iminente e na emocionante relação com os passageiros do trem, principalmente Colter e Christina. E isso é mais um acerto de Source Code.


O desenvolvimento de personagens é fundamental. Ao criar situações críveis e emoções genuínas nos rostos de Gyllenhaal e Michelle Monaghan, o filme toma o espectador de assalto, tanto intelectualmente quanto emocionalmente. Os laços afetivos que criamos com os personagens já começam no princípio do filme, mas ao encontrar o lado humano no meio do thriller, o trabalho de Duncan Jones só cresce. As atuações genuinamente boas, fruto do excelente diretor de atores que Jones é (lembrem-se do soberbo Sam Rockwell em Moon), só aumenta essa identificação do espectador com os personagens. Enquanto o competente Gyllenhaal demonstra carisma, Monaghan aposta nas composições físicas para atuar. O roteiro faz metade do desenvolvimento e o olhar sereno de Monaghan faz o resto. O fato de a atriz estar divinamente bela e apaixonante no filme entra na equação, já que torna mais verossímil o interesse de Colter em Christina.



Essas emoções que o filme aposta só aumentam gradativamente. Nisso, o genérico título Contra o Tempo se dilui mais fácil ainda. Sugerindo uma trama apenas de perseguição, o título brasileiro só aponta um segmento do roteiro do filme. A tradução Código-Fonte seria muito mais eficaz já que, além de dar uma aura cult ao projeto, exploraria o mecanismo tanto científico quanto emotivo da produção. O tal Source Code é a porta tanto para a realidade do trem quanto para a confusa mente de Colter. Já Contra o Tempo aproxima Source Code de filmes como Ponto de Vista. E diferente do repetitivo filme de 2008, Source Code nunca soa forçado ou cansativo, sendo tenso e brilhante a cada segundo. Mesmo voltando constantemente para a mesma situação, Colter leva com bom humor as passagens repetidas (antecipando alguns movimentos) e procura, racionalmente, resolver cada peça a cada vez que volta, o que é ótimo para a fluidez do projeto.


O clímax, vale notar, é preciso ao finalizar com perfeição um dos segmentos do filme e ainda oferecer um angustiante "epílogo", com um sentimento que deriva justamente da ligação profunda que Jones e Ripley criaram com seus personagens. É complicado explicar sem spoilers, mas vale apenas dizer que em certo ponto, quando Colter olha para uma sorridente Christina, a emoção é contagiante. E a ótima fotografia de Don Burgess, em conjunto com a correta trilha de Chris Bacon, ajudam a contar momentos de puro brilhantismo, como uma passagem em que a câmera passeia pelo vagão num instante singelo e extremamente simbólico.



Não satisfeito em acertar nos dois lados da alma do ser humano, Source Code ainda cria conceitos extremamente interessantes para uma ficção-científica. Ripley se diverte ao apresentar explicações sobre subsolos de realidade e vias espaciais alternativas. Despretensioso e feel-good, Source Code é perfeito nas suas escolhas e se apresenta como um dos melhores filmes do ano até aqui. Ao continuar respeitando as escolhas dos clássicos de ficção, Duncan Jones acerta em cheio em seu segundo trabalho absurdamente memorável. Caminhando a largos passos para se tornar um dos grandes do Cinema recente, Jones ainda se demonstra versátil ao criar projetos racionais em conceito mas focados no drama humano. Em Moon, Sam Bell tinha crise de identidade por ser um clone. Em Source Code, Colter Stevens tem uma crise justamente por não se reconhecer ao olhar no espelho, literalmente.


E depois de tantos sentimentos envolvidos nos ágeis 92 minutos, é revigorante saber que esse era exatamente o lugar que Colter devia estar. Momentos como o vagão sorridente, são eternos.


Para nós e para Colter. Assim como toda informação que é mostrada nesse excepcional Source Code.




quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Contracorrentes
(Contracorrientes, 2009)
Drama - 100 min.

Direção: Javier Fuentes-León
Roteiro: Javier Fuentes-León

Com: Manolo Cardona, Cristian Mercado e Tatiana Astengo

Preconceito, essa palavra pesada e terrível, talvez seja a grande macula a ser destruída no século XXI. Em todos os níveis sociais, essa desonrosa condição humana ainda nos impede de respeitarmos os diferentes, aqueles que por um motivo ou outro, tem visões ou condições diferentes da maioria. O ser humano, como um grande animal instintivo e beligerante, ergue sua clava pontiaguda e afronta a todos aqueles que divergem de sua verdade absoluta. Não estou dizendo nada que o leitor não conheça e talvez (espero que não) pratique. A arte sempre foi a maior das armas contra o preconceito, e o cinema com sua infinita capacidade de abordar todos os assuntos imaginados na história do planeta, é prodigioso em defender bandeiras e tentar estimular o dialogo entre os mais radicais.

Por isso, quando um filme como Contracorrente chega aos cinemas, seria de se esperar que a mídia desse espaço, que fosse pauta dos mais diferentes programas de televisão e que a internet pipocasse em referências ao filme. Se vivesse no mundo mágico de Oz, isso talvez aconteceria. Mas vivendo no Brasil, um dos últimos baluartes da "carolice" em estado bruto, toda e qualquer forma artística contestadora é relegado a mera curiosidade bizarra ou vitimada pelos esquadrões da decência e da moral da sociedade.

Ao filme sobra apenas o nicho. Aquele pequeno espaço que prega para os convertidos (usando uma expressão provocadora religiosa) que é fundamental, é claro, mas que dificilmente terá a capacidade de despertar discussões que eventualmente podem vir a transformar a cabeça de alguém.


O leitor, intrigado, se pergunta: afinal o que faz de Contracorrente um filme que mereça três parágrafos de elucubrações sobre preconceito?

Explico. O filme dirigido por Javier Fuentes-León sintetiza as mais variadas formas de preconceito em sua singela - e repleta de realidade fantástica - história do pescador Mico. O personagem, as vésperas de se tornar pai, mantém secretamente um caso com o pintor e fotografo Santiago em meio a uma aldeiazinha encravada em uma praia, que vive em função da pesca e da igreja local.

Mico vive em profunda indecisão. Sua consciência preconceituosa não aceita seu amor pelo fotografo, que mais esclarecido, tenta compreender o amante, ao mesmo tempo em que procura mostrar a Mico que não existe nada de errado na paixão dos dois. Detalhe importante e que funciona perfeitamente com o espectador acostumado aos estereótipos: nenhum dos dois atores, interpreta seus personagens apelando para os trejeitos normalmente atribuídos aos homossexuais. Não existe nenhum traço visível de uma pretensa feminilidade, e isso causa um choque ao espectador quando, com menos de quinze minutos de filme, o diretor Fuentes-León apresenta uma cena de sexo bastante direta entre os dois homens.


A história ganha novo impulso quando Mico passa a ser o único capaz de ver ou ouvir o amante. Abraçando sem dó a realidade fantástica, Fuentes-León discute com maestria o preconceito embutido no próprio personagem do pescador, que apenas depois de perceber que ninguém nota a presença de Santiago, passa a andar com ele pela cidade, demonstrando publicamente carinho e amor para com o rapaz.

Às vezes, parece dizer o filme, o pior dos preconceitos existe dentro de nós, e na nossa incapacidade de nos aceitarmos mesmo diante das maiores dificuldades externas. Mico é um fraco, que "engana" a mulher e não assume seu amor pelo fotógrafo, e a interpretação vacilante e na beira do colapso de Cristian Mercado é muito intensa. Surgindo como uma entidade a parte, Santiago é interpretado com sutileza por Manolo Cardona, utilizando com maestria a linguagem corporal e o olhar para demonstrar fragilidade e severidade em medidas iguais.


A fotografia é lindíssima, e usa e abusa do cenário natural de Cabo Blanco, Peru (onde foram filmadas as cenas da praia). Luminosa e intencionalmente provocando a sensação de profundo isolamento da comunidade pesqueira, funciona perfeitamente para descrever também Mico. Isolado dentro de si mesmo, preso a um casamento que talvez não seja aquilo que ele realmente quer e temendo se deixar levar pelo amante de anos (a impressão que temos no filme é que Mico e Santiago são amantes há anos). A trilha sonora também é delicada e funciona perfeitamente como moldura bucólica e melancólica da história fadada a um final infeliz.

Contracorrente venceu o prêmio do público no festival de Sundance no ano de 2010, o que prova que uma obra abertamente homossexual pode emocionar qualquer tipo de público, e não apenas ter sua vida "útil" dentro do nicho a que pertence, em teoria. Um prova de que talvez a humanidade esteja vencendo suas próprias e retrogradas regras de conveniência e remando contra a maré. Ou como prefere o diretor Fuentes-León, contra a corrente.



terça-feira, 27 de setembro de 2011


Footloose




O remake do filme de 1984, que revelou Kevin Bacon para o mundo, tem o primeiro trailer, já mostrando tudo que o filme pretende. Com a mesma trama do original, sobre o garoto apaixonado por música que chega para uma cidade onde a mesma é quase proibida, o filme havia sido escrito sob medida para Zac Efron estrelar, com a direção do coreógrafo Kenny Ortega. Os dois acabaram saindo do remake, que caiu nas mãos muito mais habilidosas de Craig Brewer (Black Snake Moan e Ritmo de um Sonho), mas o tom ligeiramente similar a High School Musical permaneceu, com o galã dançarino e a menina apaixonada. Uma atualização para um novo público jovem parece se ensaiar, portanto. O Fusca também está lá, para os fãs mais ferrenhos. Provavelmente fiel ao original, o remake tem nesse trailer uma boa síntese do que será, mostrando danças, beijos, conflitos dramáticos, explosões (?!?!) e etc. Uma boa pedida para os fãs dos musicais e do original. Para os não-fãs, resta ver a atualização que Brewer dará ao clássico oitentista..



segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Moneyball




O excelente trailer do próximo filme de Bennett Miller, diretor de Capote, apresenta elementos dramáticos consagrados e se coloca como um potencial candidato ao Oscar em diversas categorias. Se já não fosse empolgante suficiente o fato do roteiro ser do competente Steven Zaillan e do excelente Aaron Sorkin, de A Rede Social, o filme ainda conta com um elenco soberbo, com Brad Pitt entrando já na disputa de melhor ator. A trilha inspiradora, em conjunto com a montagem que oscila entre o cool e o drama de superação, colocam o filme bem próximo de O Vencedor, que utilizava uma trama esportiva de "volta por cima" para colocar elementos angustiantes e cômicos. A montagem final, que demonstra também o cuidade estético de Miller e o diretor de fotografia Wally Pfister, mostram bem como o filme se demonstrará tocante. Um grande projeto para o fim de ano das premiações.

domingo, 25 de setembro de 2011

Sem Saída
(Abduction, 2011)
Ação - 106 min.

Direção: John Singleton
Roteiro: Shawn Christensen

Com: Taylor Lautner, Lily Collins, Maria Bello, Jason Isaacs, Alfred Molina, Sigourney Weaver e Michael Nyqvist

Transformar Taylor Lautner, de galã juvenil descamisado em herói de ação "mothafucka" era a missão do diretor John Singleton (Os Donos da Rua) afastado da tela grande desde 2005. Ancorado por bons coadjuvantes (Jason Isaacs, Maria Bello, Alfred Molina, Sigourney Weaver e o sueco Michael Nyqvist), a chance crescia cada vez mais. Sem Saída poderia não ser o filme de ação do ano, mais poderia ser uma diversão descompromissada e relaxada com algum pedigree.

O título inglês (Abduction) faz muito mais sentido, do que a opção em português, já que resume o plot em uma palavra. Abduction ou abdução é um sinônimo de rapto/sequestro, e, embora sempre seja vista em referência a ufologia (as famosas abduções alienígenas) no fundo significa a mesma coisa. Sem Saída fala sobre isso. Nathan (Lautner) é um garoto comum, festeiro, sempre em busca de diversão e que vive com os pais Mara (Maria Bello) e Kevin (Jason Isaacs), que apesar de razoavelmente rígidos, parecem boas pessoas e são profundamente preocupados com o garoto. Kevin vive treinando o garoto como se o preparasse para algum evento posterior. Caso parecido com o de Eric Bana no ótimo Hanna (que sai em DVD no Brasil em breve e terá crítica do Fotograma), que funciona como mentor e treinador da garota que dá título ao filme de Joe Wright.

Tudo muda quando um apaixonado Nathan, consegue uma chance de se reaproximar de sua paixão de infância Karen (Lily Collins, que viverá a Branca de Neve na versão de Tarsem Singh da história), graças a um trabalho da escola. Durante a pesquisa do mesmo - crianças desaparecidas - Karen encontra um site que mostra fotos dessas crianças e suas respectivas atualizações para os dias de hoje. Uma delas assusta Nathan, que acaba descobrindo que é uma das crianças desaparecidas. Mas como? Ele é adotado? Se ele é adotado, por que aparece no site? E por que ele está com essa família? Quem são essas pessoas que ele chamava de pai e mãe até ontem?


Sem Saída passa os próximos noventa minutos tentando apresentar respostas para essas perguntas de forma coerente. Infelizmente, esbarra na própria pergunta. Após soltar no ar muitas duvidas, faz de Nathan uma versão adolescente de Jason Bourne que precisa descobrir sua identidade enquanto é perseguido por uma organização que deseja matá-lo. Nada de muito original, é verdade, mas que tem bom ritmo e algumas ótimas sequências de ação.

O problema é crer que o garoto do high school tem força e técnica suficiente para enfrentar capangas mercenários e bolar planos mais elaborados e geniais do que a CIA, apenas com a ajuda de sua namoradinha e de um amigo da escola.

Ao mesmo tempo, o tal McGuffin da história que faz tanta gente estar atrás do garoto (em determinado momento, o FBI e o tal bandido vivido por Nyqvist procuram o garoto ao mesmo tempo) é uma bobagem e a motivação dos personagens é clichê.


Sobram frases de efeito e momentos desnecessários, como a forçada cena romântica entre Lautner e Collins em um trem enquanto são perseguidos por meio mundo. O roteiro do filme (do novato Shawn Christensen) abusa dos maneirismos e desperdiça ótimos coadjuvantes, como Alfred Molina, relegado ao posto de homem fraco e sem pulso que comanda a investigação e que tem uma motivação extra para seu empenho, e de Nyqvist que aporta nos Estados Unidos vindo do sucesso da versão original da trilogia de Stieg Larsson (cujo primeiro livro será refilmado por David Fincher), como o vilão europeu exótico da vez.

Singleton por sua vez é um diretor em profunda decadência. Depois da estréia de alto nível, vem sendo relegado a filmes de aluguel e produções quase b. Mesmo nas sequências de ação, o diretor não consegue se destacar, não apresentando nada de novo ou que prenda a atenção do espectador. O filme começa tenso e interessante, mas depois que a revelação de Nathan surge, transforma-se em um thriller fuleiro sem grandes destaques.

Lautner - que é o melhor ator do trio principal "crepuscular" - vai bem no quesito presença, mas a idéia de um adolescente dar conta de uma série de marginais realmente não funciona. Mesmo com treinamento e a demonstração de que o garoto sabe se virar, não dá pra se deixar convencer de seu êxito tão fácil. Quando precisa demonstrar qualquer outra emoção (dor, ódio, medo, carinho) o garoto se esforça bastante, mais ainda parece um pouco imaturo, porém, é salutar o fato dele parecer estar buscando novos horizontes, menos egocêntricos e pretensiosos (como certo vampiro brilhante que vive em produções onde tem de ser galã, jamais convencendo). Taylor parece que vai seguir no caminho trilhado por Ben Affleck, que não é um grande ator, mas escolhe projetos mais modestos e mais próximos de seu talento.


Sem Saída é um filme de ação mediano, não ofende, mas está longe de conseguir seu intento. Desperdiça gente talentosa (Weaver, coitada, tem três cenas), aposta na ação juvenil, em motivações já mais que exploradas e não tem nenhum "fato novo" que possa tirá-lo do limbo das produções medíocres de 2011.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Confiar
(Trust, 2010)
Drama/Thriller - 106 min.


Direção: David Schwimmer
Roteiro: Andy Bellin e Robert Festinger


Com: Clive Owen, Catherine Keener e Liana Liberato


Annie é uma menina de 14 anos. Ela é esportiva, feliz, gosta de se exercitar, cuida de sua saúde muito bem. Mas gosta de chats também. A eficiente sequência pré-título funciona justamente para nos mostrar bem a personalidade da adolescente. E é esse chat, aparentemente inofensivo, que se tornará o motivo de sua ruína. Uma extensão da vida real, já que Annie não consegue encontrar um bom menino fora do computador. A falta de confiança na sociedade, a descrença em sua geração. E essa descrença a leva a caminhos extremos. Não apenas a garota, mas sua família inteira.

E é sobre isso que Confiar fala. Ele fala de inocência perdida, melodrama, obsessão e amor. Mas fala, sobretudo, sobre confiança.

A família de Annie é feliz. Dá à menina o suporte - tanto emocional quanto de criação - máximo que ela precisa. Porém, se o tópico envolvendo sexualidade é bem natural com o filho mais velho, com a menina, dos recém-completados 14 anos, é mais difícil. Não que seja algo intocável, que é proibido até mesmo de comentar, mas o sexo torna-se desnecessário ao debate devido á personalidade fechada da adolescente. Meiga, retraída, reservada, Annie não gosta do senso comum das garotas mais "maduras" que discutem o sexo em suas minúcias com uma naturalidade estranha aos olhos dela. Não que ela seja a nerd freak maniqueísta típica dos filmes reducionistas (o que, com certeza, mataria um projeto como Confiar desde a concepção), mas apenas uma garota diferente das outras. Por isso mesmo que, ao ver uma garota de sua idade com os seios de fora, em cima de um touro mecânico, a reação não é de repulsa; é de graça.




Porém, existe Charlie. Compreensivo, atlético, bonito. E o único que entende os dilemas e questionamentos de Annie. Trocando confidências com o garoto de 16 anos, a menina vê na sua vida pacata e calma um refúgio. Vendo naquele relacionamento virtual um futuro promissor (e é angustiante ver a felicidade meiga de Annie ao pensar com carinho no "menino"), a adolescente começa a se abrir mais sentimentalmente para o garoto de 20 anos. "Por que você continua mentindo?", ela pergunta chorando para a voz inacessível do telefone, quando revela ter 25 anos. Mas o amor e inocência são maiores que isso e o encontro torna-se inevitável. Para o cético espectador, não é surpreendente quando avistamos o homem de meia idade no shopping. Mas o rosto sofrido de Annie não poderia ser mais doloroso.

O homem ganha voz e expressão. E um rosto. Seu poder coercitivo é enorme e não tarda para Annie entrar em seu carro. A pacata trilha da vida da garota encontrava um novo caminho, que não poderia ser mais doloroso (filmar o extenuante exame no corpo de Annie através dos passos em relatório é uma sacada excepcional). O maniqueísmo não dá as caras. A dor é visceral.

Aliás, é em maniqueísmo que Confiar encontra seu extremo oposto. O filme, realista na construção de seus personagens e situações, não cria máscaras nos diálogos referentes aos adolescentes. Diferente de um filme como As Melhores Coisas do Mundo, Confiar demonstra a futilidade de maneira mais sutil, sem jogar tão na cara. Se no exemplar brasileiro a futilidade é perigosamente romantizada, aqui a imparcialidade é essencial, ao analisar o conceito sem julgá-lo certo ou errado. E isso já evita que o filme, com um tema pungente e vigente, imploda em sua falta de transparência. Portanto, não se estranha o imediatismo que o filme passa. Quando o filme começa, Charlie já é amigo de Annie e tem uma relação próxima á ela. David Schwimmer, investindo no melodrama, está mais interessado nas fraturas que o pedófilo deixará do que no ato de aproximação da vítima com o criminoso. Se há um erro ou outro (habilidoso agente do FBI esquece sua maleta num encontro?), é pouco para destruir a interessante crônica com tom de fábula distópica. Todos os arcos na introdução, emocionais ou narrativos, são diretos ao ponto, fruto da cautela (e compromisso com o realismo) dos realizadores.




O que nos leva à técnica apurada do projeto. Essa fidelidade com o conceito da verossimilhança não se restringe apenas ao bom roteiro escrito por Andy Bellin e Robert Festinger. O diretor Schwimmer, dando aqui seu primeiro grande passo como diretor após o fraco Maratona do Amor, consegue utilizar uma eficaz lógica interna ao focar nos seus personagens com enquadramentos rígidos, sempre retratando bem a frieza necessária ao filme. Além disso, Schwimmer é competente ao apresentar "realismo" sem utilizar a câmera na mão, um recurso que qualquer diretor com senso técnico menos apurado usaria. O diretor também é eficaz ao utilizar a montagem de Douglas Crise, acrescida com soluções visuais, para causar momentos emocionais, como o dilema de Annie ao ser convidada para se encontrar com Charlie pela primeira vez. Soberba também é a passagem em que Annie insiste em manter as aparências do que ocorreu, ao falar em off que está tudo bem, mesmo chorando compulsivamente no vestiário feminino. Schwimmer demonstra habilidade nessas passagens e encaixa um perfeito equilíbrio entre técnica e emoção.

Fundamental também, na ótica verossímil de Schwimmer, é a fotografia do ótimo Andrzej Sekula, que utiliza de uma iluminação mais sutil para registrar os momentos mais tensos dos dias de tempestade da família Cameron. Guardando uma linguagem visual mais elaborada apenas para os momentos de impacto (o foco de Annie na luz durante o estupro, a luz divina que banha o rosto ainda virginal da garota em seu quarto), o que demonstra a inteligência do casamento entre técnica e roteiro, em prol do realismo. Tudo para tornar mais pesado o drama de Annie.

O choque na família é mais forte ainda. Fugindo de um esquemático e óbvio caminho que o filme poderia tomar, se focar apenas no estupro, Schwimmer acha mais interessante estudar as consequências do ato. Lynn, a mãe, se entrega a dor ao ficar de mãos atadas. Como mulher, o sofrimento é melhor captado pela figura materna. Will, o pai, encara enraivecido o fato e, em busca de uma cruzada desesperada por vingança, se esquece que a maior vítima está no quarto ao lado do seu. Não respeita os pedidos clementes da filha (como não contar ao irmão o que ocorreu), não entende a dor real do imbróglio (seriam as fraturas apenas carnais?). O terror de sua personalidade acaba retratado por uma sequência-delírio exagerada, em que Will finalmente se vinga. Bem mais brilhante, porém, é a festa de seu trabalho, em que vemos um Clive Owen com os olhos desgastados, "vendo" um cartaz de sua filha, com roupas íntimas. O orgulho de pai, que se considera culpado por não proteger seu bem maior, acaba ultrapassando o senso urgente de compreensão. Annie perdeu sua virgindade, sim, mas precisa de apoio. Está apaixonada.




O apoio da psicóloga, as reflexões angustiadas da protagonista e seu olhar perdido. Tudo é importante para reconstruir uma personalidade que conheceu, da maneira mais pesada possível, a crueldade do ser humano. Crueldade essa que acaba acometendo seu pai, tão animalesco quanto o desprezível pedófilo. Porém, quando o baque é entendido, quando o choque de realidade atinge em cheio o coração da menina, não é o abraço da psicóloga que vai curá-la. Não é o amor incondicional de sua mãe, que tenta lidar com a tragédia da melhor maneira possível. É o amor ao seu pai perdido, que se deixou destruiu por um erro incontrolável. O pai está certo em ter raiva? Sim, com certeza. Ele viu uma face mais chocante da filha, ao ler a conversa do chat ("Nossa filha parece uma atriz pornô!" grita Owen, com um ódio retumbante e medonho). Mas um pai, mesmo na situação mais extrema, deve saber que nenhuma vingança substitui o amor pela sua prole. Nada corrompe o senso de um homem correto. E isso é o que torna, como demonstra o breve tape nos créditos, Will e Charlie como nêmesis.

A conversa na escada é fantástica por fechar o problema, mesmo que da maneira mais difícil possível, marcada á ferro e fogo na alma do espectador. Liana Liberato, brilhante e digna de diversas premiações, demonstra mais maturidade que todos em cena nos 104 minutos de projeção. Racional, mesmo com ódio, a menina ensina a seu pai o que deve ser feito na situação. E o abraço na beira da piscina, depois do parecer emocionado de Will, não poderia ser mais bonito. A confiança deve voltar. Will deve se lembrar de quem é sua filha e Annie deve se lembrar que é seu pai. Ambos devem voltar a ser confidentes.

O bom Confiar pode até ter seus problemas estruturais esporádicos, mas sabe o que pensa e o que tem para dizer.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Missão: Madrinha de Casamento
(Bridesmaids, 2011)
Comédia - 125 min.


Direção: Paul Feig
Roteiro: Kristen Wiig e Annie Mumolo


Com: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covery, Ellie Kemper e Melissa McCarthy


Quando vamos falar de comédia, uma coisa já precisa ser deixada bem clara: de modo geral, aquelas voltadas ao público feminino - as famosas comédias românticas - são terrivelmente ruins. Pode parecer uma generalização, mas na verdade é pura estatística. A cada Diário de Bridget Jones lançado, temos hordas de mediocridades - vide A Proposta -  e também verdadeiros atentados terroristas á intelectualidade - consulte os trabalhos recentes de Katherine Heigl . Atualmente, não podemos dizer que a situação melhorou de forma agradável - a moda de filmes ''mulher bomba-relógio'', chegou até no Brasil, com desastres lamentáveis como Qualquer Gato Vira-Lata . Moda essa, aliás, que surgiu justamente dos longas protagonizados por Heigl.

Ironicamente, a atriz que cometeu pérolas como A Verdade Nua e Crua e Par Perfeito, foi revelada nas telonas justamente por um dos criadores mais inventivos e originais da atualidade: o aclamado Judd Apatow. Detentor de personagens verdadeiros e que roubam a atenção do espectador justamente por sua tridimensionalidade singular, - algo difícil de se encontrar no  mercado do cinema - Apatow mal sabia que estava trazendo ao mundo em Ligeiramente Grávidos uma atriz que viria a  produzir - e atuar - comédias femininas desprezíveis e imbecis. Com Bridesmaids, em 2011, o produtor parece vir trazer um pedido de desculpas, e também um desvio necessário ao fluxo que as comédias destinadas ás mulheres seguiam.


Escrito por Annie Mumolo e Kristen Wigg - esta também protagoniza a película - Bridesmaids trás um tema  mais que surrado, clássico de comédias destinadas ao público feminino, trabalhado anteriormente em diversas ocasiões: o dilema da mulher balzaquiana e o casamento. Justamente por estabelecer uma premissa já tão conhecida pelos espectadores, Bridesmaids trás desde sua concepção um espírito de subverter o gênero, ainda mais por contar com alguém do estilo de Apatow apadrinhando a produção. A trama, como já é de costume dos filmes de Judd Apatow, não representa grandes diferenciais na sua estrutura, mas ao revelar seus personagens e suas interações minuciosas, ganha grandeza.

Nela, conhecemos Annie (Kristen Wigg) uma mulher solteira de 30 e poucos anos, que não tem um relacionamento sério, e apenas é a ''peguete'' de Ted (Jon Hamm, em aparição hilária e não creditada). Ainda frustrada pela falência de sua loja de doces, Annie encontra felicidade na companhia da amiga de infância Lilian (Maya Rudolph). Tudo começa a mudar, entretanto, quando Lilian é pedida em casamento. Quando os preparativos começam, também se iniciam os pesadelos de Annie, que se entristece por não ter um namorado.  Helen (Rose Byrne) dondoca arrogante que preparará o casamento, vira  amiga inseparável de Lilian, gerando desgosto e ciúmes por parte de Annie. Então, entre reuniões para damas de honra e chás de panela, começam as gags.


Num cenário atual onde comédias para "macho" fazem sucesso de público e por ventura também de crítica  - Se Beber, Não Case! é o exemplo mais citado - entra em cena uma comédia destinada ao público feminino, mas que trás um bom humor e gags de qualidade tão elevada quanto às do filme de Todd Phillips. É explícito de onde Bridesmaids bebe da fonte. A cena emblemática: o grupo de mulheres que protagoniza o filme (a noiva e suas cinco damas de honra) anda em câmera lenta, unido, com uma música estilosa ao fundo. Sobra espaço até para a gordinha engraçada do grupo levar uma pochete cruzada na barriga - algo que o personagem de Zack Galifianakis já eternizou em Hangover. Além dessas referências claríssimas, é também muito interessante ver como um filme teoricamente ''feito pra mulher'' usa e abusa de palavrões sem pudor, otimizando todos para construções de ótimas gags. Há até humor escatológico bem utilizado - e sabemos a linha tênue que separa o hilário do estúpido, quando o assunto é "Gross humor" .

Mas o que nos faz comprar a idéia de Bridesmaids é sua verdade. Realismo que não encontramos em enlatados - os da TV e os do cinema. Não é a toa que Judd Apatow topou produzir o projeto. Seu olhar tridimensional ao retratar personagens encontra reflexo no roteiro do longa.  Por seus trunfos de criar personas cristalinas, o script de Bridesmaids só aumenta em comparação com similares. Só para tomar um exemplo, comparemos este filme com Sex and The City - e aqui me prenderei a avaliar apenas a obra cinematográfica, e não a série de TV. Ora, os dois produtos apresentam tramas semelhantes -  a ''já não tão balzaquiana'' Sarah Jessica Parker também estava à procura de um marido no longa de 2008 - mas desenvolvimentos completamente diferentes. Sex and The City se mostra extremamente superficial em duas vias: tanto naquela que se refere ao sexo, mas também naquela que trata de suas personagens - que, convenhamos, são meras peruas que não despertam muito além do que pena, por suas vidas fúteis. Em Bridesmaids, o elo criado com o espectador é mais fundo, pois a construção das personas é mais verdadeira. É possível perceber isso nos diversos diálogos sinceros entre as protagonistas. São toques sutis, mas muito significativos.


Só que nem tudo são flores,  em Bridesmaids. Apesar de, desde já, ser uma comédia importantíssima por subverter um gênero que andava muito mal das pernas, o roteiro é conduzido por uma estrada que não inventa, e demonstra ser um tanto quanto comum. Se na hora de desenvolver personagens há o sucesso, com atuações muito interessantes - destaque para  o talento de Kristen Wiig para a comédia - o mesmo brilho não surge na hora de prender cada gag e cada personagem numa história em si. Entre momentos hilariantes e  diálogos interessantes, há um vazio de história, que se baseia simplesmente na disputa entre duas mulheres pela amizade de uma terceira. Assim, o longa perde fôlego ao longo da exibição, se tornando uma obra mais modesta do que dava a impressão de ser.

Usando a linguagem de televisão desde o primeiro frame do filme, o diretor egresso dos seriados de TV, Paul Feig, consegue sucesso ao aplicar seu modo de dirigir séries como The Office, em diversas sequências de Bridesmaids. Afinal, em The Office a vergonha alheia dita as risadas, e aqui também funciona assim.


Nada de negativo, entretanto, tira a força simbólica que Bridesmaids tem. Em tempos onde há roteiristas cretinos fazendo humor fácil e babaca para encaixar no suposto '' gosto'' das mulheres em geral, é muito bom ver obras subvertendo gêneros e ganhando reconhecimento com isso - Bridesmaids faturou muito nos EUA, tanto em crítica, como em público. Em vez de preparar cotas para um tipo de comédia ''para mulheres'' no mercado do cinema, é muito melhor retratar o quanto de humor tipicamente masculino elas conseguem desenvolver por si próprias. Afinal, não é isso que é igualdade dos sexos?