quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Larry Crowne - O Amor Está de Volta
(Larry Crowne, 2011)
Comédia/Drama/Romance - 98 min.

Direção: Tom Hanks
Roteiro: Tom Hanks e Nia Vardalos

Com: Tom Hanks, Julia Roberts, Roxana Ortega, Cecric the Entertainer e Wilmer Valderrama

Não dá para levar a sério e se identificar com um personagem principal tão obtuso como Larry Crowne. Um sujeito limitado por sua própria falta de ambição, que se contenta com pouco e que se sente "agredido" pela sociedade quando precisa, vejam vocês que coisa torpe, estudar. 

Larry é um simplório vendedor de uma loja de departamentos que ama e se dedica aquilo como se fosse a melhor coisa do mundo. Admiro as pessoas que amam o que fazem, mas também penso, que temos sempre que estar preparados para os novos desafios. Em suma: parar no tempo não ajuda em nada. Larry é um camarada que está parado no tempo, e quando perde seu emprego - depois de uma pesquisa interna em sua empresa, onde percebeu-se que Larry não tendo uma formação universitária era o com menor chance de crescimento na empresa - se ve com uma mão na frente e outra atrás e precisa correr atrás do prejuízo.


Absurdamente ingênuo - chegando há lembrar um pouco Forest Gump, com a diferença de que o personagem oscarizado tinha uma deficiência - decide (por sugestão de um orientador) fazer o curso de oratória - porque afinal falar em público e enrolar os outros é uma arte que precisa ser valorizada - e o de economia, já que enrolando os outros e amparado de termos técnicos de "economês", sua vida certamente melhorará.

A visão profundamente "infantiloide" que o filme tem de assunto sérios - mesmo estando na seara das comédias - é ofensivo. Larry vive, com o salário de vendedor de loja de departamentos, em uma bela casa de subúrbio, tem como vizinho um insuportável vencedor de loteria e uma existência patética.


Quando começa a universidade, em dois minutos conquista a amizade da mais que exagerada Alvarez, uma garota que vive em outra dimensão e que pertence a uma gangue de motoristas de scooters (sim, scooters). Em sala de aula, além de fazer parte da turma mais politicamente correta do planeta (temos latinas, loiras, negros, asiáticas e até maconheiros), conhece a entediada e mais que frustrada Mercy, uma mulher que fez o que se espera - em teoria - de uma pessoa: estudou, tentou sempre chegar ao topo de sua área, e que se ve dando aula em uma faculdade comunitária para alunos desinteressados.

Obviamente o espectador já pode imaginar o que acontece daqui em diante na história. Tendo nas mãos dois astros do calibre de Tom Hanks e Julia Roberts, é mais do que óbvio que as coisas não seriam simplesmente resolvidas com a relação entre professor e aluno, já que um é separado e a outra vive com a quintessência do homem "adulto" que não cresceu, interpretado com igual desconforto pelo ótimo Bryan Cranston.


Também é fácil de adivinhar, que, sendo Crowne um sujeito boa praça (e realmente ele o é) claramente será o melhor em tudo aquilo que faz, seja na aula de oratória ou nas de Economia 1, onde tem a companhia do involuntariamente hilário George Takei (ele mesmo, o Sr. Sulu, aqui vivendo o professor da matéria).

Os problemas do roteiro de Crowne é que no fundo - além de defender abertamente os abusos da sociedade contra o self-made man - ele é burro, dizendo na nossa cara que por mais que Larry tivesse chance jamais se interessou em melhorar de vida, crescer como profissional e talvez seja por isso que sua mulher o deixou (o filme não deixa claro). O roteiro da pavorosa Nia Vardalos e do próprio Hanks (que também assina a direção) nos diz: esse personagem passou vinte anos na marinha como cozinheiro. Jamais teve interesse em estudar? Em aprender outra profissão? Quando o filme começa, dá a impressão de Larry estar empregado nessa loja há algum tempo, ou seja, assim que saiu da marinha empregou-se nessa loja. Como podemos torcer para alguém obtuso assim?


A idéia de que a "escola da vida" o levou a conhecer o mundo é linda, poética até, mais é perigosa. Ao deixar claro que seu herói é um cara sensacional, mas que precisa que todos o levem pela mão para entender que vive no mundo real, e que para se ter alguma coisa é preciso lutar e melhorar a cada dia, perde uma grandiosa oportunidade de fazer graça com a situação de muitos homens de meia idade, sem curso superior e que pela necessidade da vida são obrigados a trabalhar com o que podem para sustentar suas casas.

Não ajuda em nada, o fato de seu vizinho e grande amigo, não trabalhar, mas ser um sujeito que ganhou na loteria e que passa os dias fazendo nada, vendendo objetos usados em uma interminável feira de garagem. O que esse pessoal pensa? Realmente é chocante perceber os nomes de Tom Hanks e Julia Roberts envolvidos em um projeto tão obtuso e fraco.


Hanks ainda dirige sem comprometer, o filme, que é recheado de momentos de profundo constrangimento. Qual a real função da personagem Alvarez? Sua ligação forte e absolutamente injustificada para com Larry vem da onde? Ela não tem pai? Ve em Larry, a figura paterna que não tem? E Wilmer Valderrama, aqui, o namorado da garota que protagoniza a patética sequencia de estalar de dedos quando Larry se junta à perigosa gangue de scooters (sim, eu sei que é uma piada, mas honestamente não teve a menor graça).

A personagem de Julia é muito mais interessante e crível. Trata da questão da frustração profissional (um contraponto a paixão de Larry), a de uma vida vazia (outro contraponto a alegria e a sempre ensolarada vizinhança de Crowne, em comparação aos assépticos e frios ambientes da casa de Mercy) e a da questão de ainda acreditar em si mesmo (Larry jamais se deixa esmorecer - ótima qualidade -, Mercy já largou os pontos). Incrivelmente existe um fiapo de química entre os dois (apesar da paixonite de Roberts por Hanks acontecer de forma mais que artificial) , e nenhum dos dois compromete diante das câmeras. Isso faz Larry Crowne suportável, apesar de sua história mais do que absurda e de moral profundamente questionável. Tentando não soltar spoiler, apenas digo que a aura de não tenho nada e preciso comprar roupas em brechó, não combina com o fato de uma das personagens largar os estudos e abrir um restaurante (com que grana, ela trabalhava antes?). E a conclusão de nosso herói de que o que ele mais gostou em entrar na universidade, e aprender, foi o fato de encontrar um amor é mais do que bobalhona, e subverte completamente todo o drama que o personagem sentia no começo do filme. O que ele vai fazer com seus cursos?


Hanks, diretor, diz ao Hanks, ator: não importa, pegue sua possante lambreta e passeie por Los Angeles, já que quem se importa com a vida real. Bom mesmo é dar uma banda de motoca, uma brasa, mora.



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