sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens
(Cowboys & Aliens, 2011)
Ação/Thriller/Sci-Fi - 118 min.

Direção: Jon Favreau
Roteiro: Roberto Orci, Alex Kurtzman, Damon Lindelof, Mark Fergus e Hawk Ostby

Com: Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Paul Dano, Keith Carradine, Clancy Brown e Sam Rockwell

Jon Favreau conseguiu o que parecia impossível: transformou um filme que envolve cowboys, aliens, James Bond e Indiana Jones em uma produção sem nenhuma personalidade, sem charme, graça, e que não é nem mesmo divertida. Mesmo envolvendo dois gêneros estabelecidos (juntando-os em uma - esperada - terceira realidade, onde ambos consigam conviver em "paz"), o filme jamais decola. Favreau para aumentar ainda mais as expectativas quanto ao filme, ainda conseguiu Daniel Craig (Bond) e Harrison Ford (Indi.. ahh vocês sabem), para co-estrelar a produção. Um prato suculento e cheio até a boca para fãs sedentos da melhor diversão escapista da história da humanidade. Pelo menos, essa era a pretensa intensão do filme.

Cowboys & Aliens conta a história do pistoleiro amnésico Jake (Craig) que desperta no deserto, sozinho, sem nem sequer lembrar de quem é, e com um bracelete/pulseira estranho no braço direito. Vagando, ele chega até a cidade de Redemption, uma dessas minúsculas cidadezinhas americanas de Velho Oeste, que cansamos de ver nos filmes e games. Lá é ajudado pelo pastor Meacham (Clancy Brown) e descobre que tudo gira em torno da mão de ferro de Dollarhyde (Ford), o fazendeiro que dita às regras da cidade. Nesse ambiente inóspito, o filme apresenta seus coadjuvantes como o dono do bar Doc (Sam Rockwell), a bela e misteriosa Ella (Olivia Wilde), o xerife Taggart (Keith Carradine) e o mimado e apalermado filho de Dollarhyde, Percy (Dano) que é confrontado por Jake e acaba sendo preso.


Quando - de forma bisonha - o xerife descobre que Jake é um homem procurado, também o prende e enquanto Dolarhyde pai parte em busca da libertação do filho, e Jake tenta entender quem é, uma misteriosa luz surge na cidade que é sumariamente atacada por naves espaciais. O que poderia ser o sonho de qualquer moleque de 14 anos de idade, se mostra uma coleção sem coesão de clichês, com vilões fracos que não convencem por sua motivação e um desperdício absurdo de grandes atores.

Comecemos por esse último item. Cowboys reúne Craig, Ford, Rockwell, Dano, Brown, Carradine e a inexpressiva Olivia Wilde, um elenco repleto de nomes fortes para subutilizar boa parte dele. Rockwell passa o filme inteiro reclamando da vida, de seus medos e tenta ser o alívio cômico fracassado do filme. Dano, Brown e Carradine estão no filme, imagino, por serem caras "conhecidas" do publico, já que não podem fazer quase nada com seus personagens unidimensionais e vagos. Dano, como o garoto arrogante de voz afetada, chega a irritar, enquanto Brown serve como o pretenso guia moral da redenção de Jake e Carradine mais como motivador da busca do garoto Emmett (Noah Ringer, o péssimo Aang de Último Mestre do Ar).


E Wilde? Incrível constatar como as pessoas continuam entregando personagens importantes para essa atriz que demonstra, ser dotada de um número cada vez mais limitado de expressões e que tem um carisma menor do que o de uma formiga agonizante. Completamente fora de sintonia como a misteriosa mulher que diz conhecer os segredos sobre Jake e sobre os invasores alienígenas.

Craig estrela o filme tentando parecer uma mistura de Clint Eastwood e Charles Bronson, mas fica muito longe de qualquer um deles. Craig é um ator lacônico, que interpreta com a presença e o olhar, portanto seria fácil afirmar que Jake é um personagem feito na medida para o ator. De fato é, mas ao mesmo tempo, é alguém com quem o espectador tem dificuldade de se identificar, já que o personagem parece ser um tipo desprezível e por mais que Favreau e seu time de roteiristas (que inclui gente boa como Damon Lindelof da série LOST, Roberto Orci e Alex Kurtzman de Star Trek e Mark Fergus e Hawk Otsby de Filhos da Esperança) tentem amenizar a condição do personagem, Craig é um protagonista muito duro para que consigamos crer em qualquer tipo de suavidade em sua personagem.


Diferente de Ford, que muita gente crê interpretar a si mesmo em uma série de variações, que consegue sempre humanizar seus personagens, por mais vazios e rasos que os mesmos pareçam. Cheio de cacoetes típicos de todas as suas outras interpretações, Ford se não é brilhante, pelo menos dá dignidade ao seu personagem. Uma pena que quando atuam juntos, Craig e Ford - outra falha de Favreau - não consigam entregar sequer uma cena memorável. O mesmo vale para a falta de química entre Dano e Ford nas pouquíssimas cenas em que atuam juntos, como pai e filho.

Tecnicamente, Favreau comete mais um erro crasso em seu filme. Convidou o premiado e talentoso Matthew Libatique (conhecido da filmografia de Darren Aronofsky) para ser seu fotografo, que parece estar, como o diretor, perdido entre fazer um filme moderno e um western tradicional. Essa mistura estranha de estilos pode ser percebida pelas escolhas incomuns na forma de fotografar uma batalha a cavalo. Aqui, se foge dos grandes planos abertos, dos confrontos que são emoldurados pelo cenário, e prefere-se dar espaço ao combate direto, utilizando-se até de câmera de mão. E quando Craig surge em tela, trôpego e fugindo do covil alienígena, Favreau amarra ao ator uma steadycam nos moldes do que Danny Boyle adora fazer em seus filmes. Ao mesmo tempo, o filme é exageradamente escuro prejudicando a compreensão de algumas cenas importantes no filme.


Apesar de seguir uma típica estrutura dos westerns após o surgimento da ameaça alienígena (e aqui quem já viu qualquer western vai entender o que digo), o filme não segue exatamente esse rumo. Diferente do que acontece quando acompanhamos um grupo de pistoleiros no encalço de bandidos (um exemplo claro disso é o excelente Bravura Indômita, o remake, dos irmãos Coen), quando temos tempo para conhecer aqueles personagens, motivações, dramas pessoais e medos, Cowboys & Aliens, por precisar explicar a presença alienígena na Terra, opta por inserir a dissonante personagem de Olivia Wilde, quem vem se revelar como mais importante do que aparentava e é responsável por explicar os motivos absurdos e ridículos da presença alien na terra. Talvez se optasse por não explicar diretamente a presença dos seres no planeta, mas apenas conduzir essa aventura onde o papel dos vilões (quase sempre destinados aos índios) seria vivido pelos ETs, o filme se saísse muito melhor.

E quando tenta mostrar a ação, Favreau acaba com ela - em especial no clímax - quando monta seu filme de modo a apresentar todos os elementos do filme de uma vez, entrecortando e prejudicando seqüências de ação que poderiam tornar-se épicas e impactantes. Mesmo quando tenta criar tensão com o surgimento aqui e ali de alienígenas, não consegue fazer o espectador sequer piscar de medo.


Cowboys & Aliens começou a ser vendido com a salada mais gostosa do cinema. Misturaria dois gêneros consagrados e que jamais haviam de forma direta coabitado o mesmo filme. Infelizmente, Favreau se empolgou com seu brinquedo, esqueceu de fazer um faroeste interessante e de apresentar um sci-fi descente. A salada de Favreau não tem sal, azeite e vinagre, e no meio de tantos vegetais, alguns de gosto bastante duvidoso.



Um comentário:

  1. Aceitável? Esse filme é SOFRÍVEL...!!! Um dos piores que vi esse ano.Esses hollywoodianos acham que é só colocar um efeito especial pra fazer um filme

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