Turnê
(Tournée, 2010)
Comédia/Drama - 111 min.
Direção: Mathieu Almaric
Roteiro: Mathieu Almaric, Philippe Di Folco, Tom Frank, Marcelo Novais Teles e Raphaelle Valbrune
Com: Mathieu Almaric, Miranda Colclasure, Suzanne Ramsey, Dirty Ramsey, Julie Atlas Muz e Angela de Lorenzo
Vencedor do prêmio de melhor direção no festival de Cannes de 2010, Tournê é o terceiro filme do também ator Matthieu Almaric, e sem dúvida o mais bem sucedido. Apostando em um roadie movie Cult e cheio de momentos de êxtase visual e sonoro, o filme conta a história de Joachim, um ex-produtor da tv francesa que organiza um grupo de dançarinas burlescas americanas em uma turnê por sua terra natal, em busca de sua própria identidade e de redenção.
Como em quase todo roadie movie, o roteiro peca pelo excesso de episódios que se ligam numa tentativa de criar uma história. Almaric, como diretor, tenta dar fluência ao emaranhado de pequenos eventos e de diversos personagens exóticos e interessantes que o filme apresenta.
O mais interessante desses personagens é interpretado pelo próprio Almaric. Joachim é um homem perdido entre um passado quase destruído, um presente confuso (abandonado pela família, com amigos que o desprezam e filhos que sentem sua falta) e um futuro previsivelmente triste e solitário. Embora esteja sobre a navalha, Joachim encontra forças para montar seu show e Almaric mantém-se sempre interpretando a ambiguidade encarnada. Tentando se esforçar para - aparentemente - melhorar como pessoa, mais lutando contra uma vida pregressa cheia de complicações, o personagem de Almaric vaga pela tela em busca de um caminho para sentir-se vivo.
Essa mesma sensação de falsa existência é compartilhada pela dançarina principal, Mimi Le Meaux (a voluptuosa e profundamente sexy dançarina na vida real Miranda Colclasure), que passa o filme procurando seu lugar na terra. As demais personagens femininas também são interpretadas por dançarinas reais o que confere credibilidade ao filme. Além de Miranda, Suzanne Ramsey, Dirty Martini, Julie Atlas Muz e a atriz Angela de Lorenzo interpretam as engraçadas e talentosas dançarinas do grupo de Joachim.
Os shows são um desbunde de criatividade, bom gosto e talento, além de serem responsáveis por grandes momentos da direção de Almaric e da trilha sonora. Os shows profundamente eróticos, mas igualmente engraçados de Dirty Martini (destaque para sua dança com a mão de borracha), ou quase mágicos de Suzanne Ramsay (e seu número dos lenços) ou os momentos sensuais de Mimi são os grandes destaques do filme, que não esquece também dos dançarinos masculinos (ao som de Louie Louie, um dos rapazes interpreta um afetado Rei Louis XVI de forma genial) e de montar os shows de forma a passarmos de forma orgânica dos bastidores a frente do palco e a visão do público. Tudo isso ainda conseguindo mostrar os shows de forma sensual e desenvolver os personagens.
Outro grande destaque são os créditos de abertura magnificamente construídos de forma a transformar o nome dos atores em um gigantesco luminoso que parece ter vindo de Las Vegas. A fotografia compra a ideia de Almaric e consegue transmitir urgência quando o filme assume seu lado roadie movie (muito close, muita câmera na mão) e ser enérgico e rígido quando mostra os shows, que surgem de forma diferente em cada uma das apresentações. Um grande trabalho de Christophe Beaucarne (de Mr. Nobody e Coco Antes de Chanel).
Turnê, no entanto, peca pelo mesmíssimo problema que aflige 99% dos road movies: a falta de coesão de seu roteiro. Os diversos acontecimentos não têm uma ligação entre si e vão se somando sem parecerem estar unidos por uma mesma história. Soma-se isso o fato de que por mais sensuais e interessantes que as dançarinas sejam, não são atrizes e estão interpretando a si mesmas, o que por um lado é positivo (já que transforma os diálogos em conversas informais e leves), mas por outro é extremamente negativo, pois impede um crescimento dramático daquelas personagens.
Almaric parece ter mão para "a coisa". Construiu um filme interessante, delicioso de se assistir, embora tenha os problemas típicos do gênero que abraça.
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