quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Missão: Madrinha de Casamento
(Bridesmaids, 2011)
Comédia - 125 min.


Direção: Paul Feig
Roteiro: Kristen Wiig e Annie Mumolo


Com: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covery, Ellie Kemper e Melissa McCarthy


Quando vamos falar de comédia, uma coisa já precisa ser deixada bem clara: de modo geral, aquelas voltadas ao público feminino - as famosas comédias românticas - são terrivelmente ruins. Pode parecer uma generalização, mas na verdade é pura estatística. A cada Diário de Bridget Jones lançado, temos hordas de mediocridades - vide A Proposta -  e também verdadeiros atentados terroristas á intelectualidade - consulte os trabalhos recentes de Katherine Heigl . Atualmente, não podemos dizer que a situação melhorou de forma agradável - a moda de filmes ''mulher bomba-relógio'', chegou até no Brasil, com desastres lamentáveis como Qualquer Gato Vira-Lata . Moda essa, aliás, que surgiu justamente dos longas protagonizados por Heigl.

Ironicamente, a atriz que cometeu pérolas como A Verdade Nua e Crua e Par Perfeito, foi revelada nas telonas justamente por um dos criadores mais inventivos e originais da atualidade: o aclamado Judd Apatow. Detentor de personagens verdadeiros e que roubam a atenção do espectador justamente por sua tridimensionalidade singular, - algo difícil de se encontrar no  mercado do cinema - Apatow mal sabia que estava trazendo ao mundo em Ligeiramente Grávidos uma atriz que viria a  produzir - e atuar - comédias femininas desprezíveis e imbecis. Com Bridesmaids, em 2011, o produtor parece vir trazer um pedido de desculpas, e também um desvio necessário ao fluxo que as comédias destinadas ás mulheres seguiam.


Escrito por Annie Mumolo e Kristen Wigg - esta também protagoniza a película - Bridesmaids trás um tema  mais que surrado, clássico de comédias destinadas ao público feminino, trabalhado anteriormente em diversas ocasiões: o dilema da mulher balzaquiana e o casamento. Justamente por estabelecer uma premissa já tão conhecida pelos espectadores, Bridesmaids trás desde sua concepção um espírito de subverter o gênero, ainda mais por contar com alguém do estilo de Apatow apadrinhando a produção. A trama, como já é de costume dos filmes de Judd Apatow, não representa grandes diferenciais na sua estrutura, mas ao revelar seus personagens e suas interações minuciosas, ganha grandeza.

Nela, conhecemos Annie (Kristen Wigg) uma mulher solteira de 30 e poucos anos, que não tem um relacionamento sério, e apenas é a ''peguete'' de Ted (Jon Hamm, em aparição hilária e não creditada). Ainda frustrada pela falência de sua loja de doces, Annie encontra felicidade na companhia da amiga de infância Lilian (Maya Rudolph). Tudo começa a mudar, entretanto, quando Lilian é pedida em casamento. Quando os preparativos começam, também se iniciam os pesadelos de Annie, que se entristece por não ter um namorado.  Helen (Rose Byrne) dondoca arrogante que preparará o casamento, vira  amiga inseparável de Lilian, gerando desgosto e ciúmes por parte de Annie. Então, entre reuniões para damas de honra e chás de panela, começam as gags.


Num cenário atual onde comédias para "macho" fazem sucesso de público e por ventura também de crítica  - Se Beber, Não Case! é o exemplo mais citado - entra em cena uma comédia destinada ao público feminino, mas que trás um bom humor e gags de qualidade tão elevada quanto às do filme de Todd Phillips. É explícito de onde Bridesmaids bebe da fonte. A cena emblemática: o grupo de mulheres que protagoniza o filme (a noiva e suas cinco damas de honra) anda em câmera lenta, unido, com uma música estilosa ao fundo. Sobra espaço até para a gordinha engraçada do grupo levar uma pochete cruzada na barriga - algo que o personagem de Zack Galifianakis já eternizou em Hangover. Além dessas referências claríssimas, é também muito interessante ver como um filme teoricamente ''feito pra mulher'' usa e abusa de palavrões sem pudor, otimizando todos para construções de ótimas gags. Há até humor escatológico bem utilizado - e sabemos a linha tênue que separa o hilário do estúpido, quando o assunto é "Gross humor" .

Mas o que nos faz comprar a idéia de Bridesmaids é sua verdade. Realismo que não encontramos em enlatados - os da TV e os do cinema. Não é a toa que Judd Apatow topou produzir o projeto. Seu olhar tridimensional ao retratar personagens encontra reflexo no roteiro do longa.  Por seus trunfos de criar personas cristalinas, o script de Bridesmaids só aumenta em comparação com similares. Só para tomar um exemplo, comparemos este filme com Sex and The City - e aqui me prenderei a avaliar apenas a obra cinematográfica, e não a série de TV. Ora, os dois produtos apresentam tramas semelhantes -  a ''já não tão balzaquiana'' Sarah Jessica Parker também estava à procura de um marido no longa de 2008 - mas desenvolvimentos completamente diferentes. Sex and The City se mostra extremamente superficial em duas vias: tanto naquela que se refere ao sexo, mas também naquela que trata de suas personagens - que, convenhamos, são meras peruas que não despertam muito além do que pena, por suas vidas fúteis. Em Bridesmaids, o elo criado com o espectador é mais fundo, pois a construção das personas é mais verdadeira. É possível perceber isso nos diversos diálogos sinceros entre as protagonistas. São toques sutis, mas muito significativos.


Só que nem tudo são flores,  em Bridesmaids. Apesar de, desde já, ser uma comédia importantíssima por subverter um gênero que andava muito mal das pernas, o roteiro é conduzido por uma estrada que não inventa, e demonstra ser um tanto quanto comum. Se na hora de desenvolver personagens há o sucesso, com atuações muito interessantes - destaque para  o talento de Kristen Wiig para a comédia - o mesmo brilho não surge na hora de prender cada gag e cada personagem numa história em si. Entre momentos hilariantes e  diálogos interessantes, há um vazio de história, que se baseia simplesmente na disputa entre duas mulheres pela amizade de uma terceira. Assim, o longa perde fôlego ao longo da exibição, se tornando uma obra mais modesta do que dava a impressão de ser.

Usando a linguagem de televisão desde o primeiro frame do filme, o diretor egresso dos seriados de TV, Paul Feig, consegue sucesso ao aplicar seu modo de dirigir séries como The Office, em diversas sequências de Bridesmaids. Afinal, em The Office a vergonha alheia dita as risadas, e aqui também funciona assim.


Nada de negativo, entretanto, tira a força simbólica que Bridesmaids tem. Em tempos onde há roteiristas cretinos fazendo humor fácil e babaca para encaixar no suposto '' gosto'' das mulheres em geral, é muito bom ver obras subvertendo gêneros e ganhando reconhecimento com isso - Bridesmaids faturou muito nos EUA, tanto em crítica, como em público. Em vez de preparar cotas para um tipo de comédia ''para mulheres'' no mercado do cinema, é muito melhor retratar o quanto de humor tipicamente masculino elas conseguem desenvolver por si próprias. Afinal, não é isso que é igualdade dos sexos?



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