terça-feira, 6 de setembro de 2011

Desconhecido
(Unknown, 2011)
Thriller/Suspense - 113 min.

Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Oliver Butcher e Stephen Cornwell

Com: Liam Neeson, January Jones, Diane Kruger, Aidan Quinn, Bruno Ganz e Frank Langella

Liam Neeson vem se especializando em interpretar o "ordinary guy" jogado em uma situação extrema e que precisa lidar com as dificuldades impostas. Nesse Desconhecido, uma mistura de O Fugitivo e Busca Frenética com toques da trilogia Bourne, ele interpreta o biólogo Dr. Martin Harris, que se vê perdido e sem saber sua identidade em uma fria cidade de Berlim.

Harris chega na cidade acompanhado da esposa Elizabeth (January Jones) para uma convenção. Esquece sua mala no aeroporto e ao chegar no hotel decide voltar aonde imagina ter esquecido o objeto e resgatá-lo. Toma um taxi e se envolve em um grave acidente que o deixa em coma por quatro dias. Quando acorda volta ao hotel e descobre que outro homem está se passando por ele e pior que sua esposa não o reconhece. Passa então a tentar descobrir o que de fato aconteceu e quem ele é na verdade.


A direção é de Jaume Collet-Serra (o mesmo dos terríveis Casa de Cera e Gol 2 e do mediano A Órfã) que não é nada sutil em sua abordagem da questão da confusão mental do personagem. Basta o tema entrar em discussão para Serra entornar sutilmente o eixo da câmera e desfocar o segundo plano. Reparem que em todas as cenas em que Neeson descobre peças desse quebra cabeça a câmera faz esse mesmo movimento.

Neeson aliás anda se especializando em papéis "Fordianos". Em Busca Explosiva e nesse Desconhecido, o ator emula Harrison Ford por toda a película, além da linha narrativa ter muito de Fugitivo, no tocante ao apresentar um personagem lutando contra o mundo em busca de respostas. Mesmo assim, Neeson veste a camisa e convence como herói de ação involuntário.


Uma pena que os coadjuvantes que o acompanham sejam em sua maioria medíocres. Diane Kruger, a mulher mais bonita da história da humanidade segundo Wolfgang Petersen e que Tarantino fez sofrer, ter uma perna quase arrancada e morrer de forma triste, é a taxista com quem o personagem de Neeson se acidenta. Vazia e previsível, funciona como a garota pobre e inocente que se ve metida em ago muito maior do que sua compreensão. January Jones cada dia mais prova suas limitações como atriz. Depois de enfeitar a tela em X Men Primeira Classe (ou antes, caso tenha visto Desconhecido primeiro) ela surge aqui linda e inexpressiva como sempre. Tendo que ser uma personagem importante (tão quanto Liam Neeson) em momento algum ela apresenta talento suficiente para nos convencer de suas capacidades. Repare em seu olhar sempre vazio e em sua voz monocórdica, não expressando nenhum traço de intensidade.

Completam o elenco de coadjuvantes desperdiçados, o irrelevante Aidan Quinn, como o tal  "substituto" que pouco tem a fazer, além de servir de escada para Neeson e o deslocado Frank Langella que com pouco mais de dez minutos de cena, está no automático, lembrando uma versão menos exagerada de seu personagem em A Caixa.


O grande coadjuvante do filme (e que divide o fardo com Neeson quando está em cena) é o talentoso ator alemão Bruno Ganz (dos brilhantes Asas do Desejo e A Queda entre outros), que dá uma credibilidade e tanto ao personagem de um velho investigador da polícia da ex Alemanha Oriental, procurado por Neeson para ajudá-lo a descobrir que é. Suas cenas são bastante interessantes embora o personagem pareça ter poderes sobre-humanos para desvendar os mistérios da trama com incrível facilidade.

Culpa do roteiro previsível e cheio de explicações minuciosas que são forçosamente desnecessárias. Dou como exemplo toda a sequencia da invasão ao apartamento da taxista vivida por Diane Kruger. Assim que entra no apartamento ela não esquece de dizer que as paredes são de gesso e portanto finas. Tentando dar credibilidade a posterior sequencia em que durante uma briga, personagens atravessam a parede do apartamento em direção aos vizinhos.


Ao mesmo em que o roteiro perde tempo para apresentar essa minúcia, simplesmente não explica a capacidade extra-sensorial do personagem principal para decifrar códigos, ou mesmo na revelação final (o último dos plot twists) as motivações para toda uma trama mirabolante que parece ter saída do pior dos filmes de Bond.

O problema de Desconhecido é o mesmo que aflige a imensa maioria dos thrillers de mistério: expectativa. Geralmente bem construídos em seus dois primeiros terços, criam uma expectativa monstruosa para uma conclusão épica e genial, mas afundam em sua própria dificuldade em responder suas perguntas.



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