Sem Saída
(Abduction, 2011)
Ação - 106 min.
Direção: John Singleton
Roteiro: Shawn Christensen
Com: Taylor Lautner, Lily Collins, Maria Bello, Jason Isaacs, Alfred Molina, Sigourney Weaver e Michael Nyqvist
Transformar Taylor Lautner, de galã juvenil descamisado em herói de ação "mothafucka" era a missão do diretor John Singleton (Os Donos da Rua) afastado da tela grande desde 2005. Ancorado por bons coadjuvantes (Jason Isaacs, Maria Bello, Alfred Molina, Sigourney Weaver e o sueco Michael Nyqvist), a chance crescia cada vez mais. Sem Saída poderia não ser o filme de ação do ano, mais poderia ser uma diversão descompromissada e relaxada com algum pedigree.
O título inglês (Abduction) faz muito mais sentido, do que a opção em português, já que resume o plot em uma palavra. Abduction ou abdução é um sinônimo de rapto/sequestro, e, embora sempre seja vista em referência a ufologia (as famosas abduções alienígenas) no fundo significa a mesma coisa. Sem Saída fala sobre isso. Nathan (Lautner) é um garoto comum, festeiro, sempre em busca de diversão e que vive com os pais Mara (Maria Bello) e Kevin (Jason Isaacs), que apesar de razoavelmente rígidos, parecem boas pessoas e são profundamente preocupados com o garoto. Kevin vive treinando o garoto como se o preparasse para algum evento posterior. Caso parecido com o de Eric Bana no ótimo Hanna (que sai em DVD no Brasil em breve e terá crítica do Fotograma), que funciona como mentor e treinador da garota que dá título ao filme de Joe Wright.
Tudo muda quando um apaixonado Nathan, consegue uma chance de se reaproximar de sua paixão de infância Karen (Lily Collins, que viverá a Branca de Neve na versão de Tarsem Singh da história), graças a um trabalho da escola. Durante a pesquisa do mesmo - crianças desaparecidas - Karen encontra um site que mostra fotos dessas crianças e suas respectivas atualizações para os dias de hoje. Uma delas assusta Nathan, que acaba descobrindo que é uma das crianças desaparecidas. Mas como? Ele é adotado? Se ele é adotado, por que aparece no site? E por que ele está com essa família? Quem são essas pessoas que ele chamava de pai e mãe até ontem?
Sem Saída passa os próximos noventa minutos tentando apresentar respostas para essas perguntas de forma coerente. Infelizmente, esbarra na própria pergunta. Após soltar no ar muitas duvidas, faz de Nathan uma versão adolescente de Jason Bourne que precisa descobrir sua identidade enquanto é perseguido por uma organização que deseja matá-lo. Nada de muito original, é verdade, mas que tem bom ritmo e algumas ótimas sequências de ação.
O problema é crer que o garoto do high school tem força e técnica suficiente para enfrentar capangas mercenários e bolar planos mais elaborados e geniais do que a CIA, apenas com a ajuda de sua namoradinha e de um amigo da escola.
Ao mesmo tempo, o tal McGuffin da história que faz tanta gente estar atrás do garoto (em determinado momento, o FBI e o tal bandido vivido por Nyqvist procuram o garoto ao mesmo tempo) é uma bobagem e a motivação dos personagens é clichê.
Sobram frases de efeito e momentos desnecessários, como a forçada cena romântica entre Lautner e Collins em um trem enquanto são perseguidos por meio mundo. O roteiro do filme (do novato Shawn Christensen) abusa dos maneirismos e desperdiça ótimos coadjuvantes, como Alfred Molina, relegado ao posto de homem fraco e sem pulso que comanda a investigação e que tem uma motivação extra para seu empenho, e de Nyqvist que aporta nos Estados Unidos vindo do sucesso da versão original da trilogia de Stieg Larsson (cujo primeiro livro será refilmado por David Fincher), como o vilão europeu exótico da vez.
Singleton por sua vez é um diretor em profunda decadência. Depois da estréia de alto nível, vem sendo relegado a filmes de aluguel e produções quase b. Mesmo nas sequências de ação, o diretor não consegue se destacar, não apresentando nada de novo ou que prenda a atenção do espectador. O filme começa tenso e interessante, mas depois que a revelação de Nathan surge, transforma-se em um thriller fuleiro sem grandes destaques.
Lautner - que é o melhor ator do trio principal "crepuscular" - vai bem no quesito presença, mas a idéia de um adolescente dar conta de uma série de marginais realmente não funciona. Mesmo com treinamento e a demonstração de que o garoto sabe se virar, não dá pra se deixar convencer de seu êxito tão fácil. Quando precisa demonstrar qualquer outra emoção (dor, ódio, medo, carinho) o garoto se esforça bastante, mais ainda parece um pouco imaturo, porém, é salutar o fato dele parecer estar buscando novos horizontes, menos egocêntricos e pretensiosos (como certo vampiro brilhante que vive em produções onde tem de ser galã, jamais convencendo). Taylor parece que vai seguir no caminho trilhado por Ben Affleck, que não é um grande ator, mas escolhe projetos mais modestos e mais próximos de seu talento.
Sem Saída é um filme de ação mediano, não ofende, mas está longe de conseguir seu intento. Desperdiça gente talentosa (Weaver, coitada, tem três cenas), aposta na ação juvenil, em motivações já mais que exploradas e não tem nenhum "fato novo" que possa tirá-lo do limbo das produções medíocres de 2011.
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