quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos - A Origem
(Rise of the Planet of the Apes, 2011)
Ação/Sci-Fi - 105 min.

Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Rick Jaffa e Amanda Silver

Com: Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, Brian Cox e Tom Felton

Existem algumas formas de falar sobre preconceito na tela grande. As mais comuns são: o discurso direto e contemporâneo e o uso da fantasia para ilustrar a discussão sobre minorias. Em 1968, o Planeta dos Macacos deu sua gigantesca contribuição ao utilizar a fantasia para falar sobre a situação política e social da época. Para os que faltaram na aula de história, o ano de 1968 (também conhecido como o "ano que não terminou") foi pródigo em manifestações contra o preconceito, atos de autoritarismo, guerrilhas urbanas e insatisfação política a níveis globais.

A adaptação do romance de Pierre Boulle (Le Planet des Singes) aproveitou a idéia de uma sociedade dominada por macacos, onde os humanos eram os "animais", e adicionou camadas de discussão contemporânea a situação. Claro, embaladas pela ação, ficção cientifica e o final mais impactante e surpreendente da história do cinema.


Do filme original, seguiram-se quatro sequências bem realizadas em sua maioria, e que, em maior ou menor grau, continuaram a apostar nos comentários políticos e sociais intrinsecamente ligados ao filme original. Dentre eles, o terceiro filme, Fuga do Planeta dos Macacos (construído como uma comédia de situação que vai se transformando em thriller) e o quarto, Conquista do Planeta dos Macacos (que mostra a ascensão dos primeiros macacos e a primeira vitória dos símios contra os humanos) são os dois que melhor aproveitaram essa idéia do original. Muitos anos mais tarde, Tim Burton realizou a sua fantasia sobre o mesmo romance, com resultados medíocres. Investiu tanto - como é de praxe em sua produções - na questão visual, que esqueceu de rechear seu filme com os mesmos comentários que são parte integrante da graça e do sucesso dos macacos no cinema. O Planeta de Burton é um filme de ação genérico, que tem como diferencial atores vestidos de macaco e que ainda tem a cara de pau de "copiar" - em essência - o final surpresa do filme original.

Parecia então, que os macacos teriam encontrado aqui seu derradeiro destino. Mas, a Fox resolveu apostar novamente na franquia, tentando recontar sua origem (como está na moda) e apresentar do zero a uma "nova geração" a mitologia da série. Conseguem?

Em termos. Estão de volta os comentários sociais e as criticas a contemporaneidade, mas o roteiro erra - e feio - ao simplificar muitas das soluções que o filme desenvolve por boa parte de sua projeção.


A história fale do doutor Will Rodman (James Franco), um médico geneticista que em desespero para encontrar a cura para a doença de seu pai Charles (John Lithgow), testa sem muito esmero e cuidado, uma série de vacinas em chimpanzés, procurando vencer a doença e por conseqüência ajudar a humanidade. Aparentemente a vacina dá certo e quando Will apresenta a descoberta para o grupo de acionistas de sua empresa, o macaco que apresentava melhoria cerebral invade a sala e tem de ser abatido. O que ninguém sabia - nem Will, já que mesmo sendo cientista ele jamais se preocupou em testar o sangue de seus animais - é que o macaco, ou melhor a macaca, estava grávida. Num arroubo incompreensível de solidez moral, Will leva o animalzinho para casa e com o passar do tempo, passa a perceber que o macaco apresenta uma inteligência muito acima da média para sua espécie. Obviamente a questão de manter um animal profundamente inteligente em cativeiro (ou melhor, preso) causa conflito, ao mesmo tempo em que o pai de Will cria o macaco, agora batizado César, como um filho.

A relação entre Charles - em mais uma interpretação muito boa de John Lithgow - Will e o macaco César é o que faz do filme interessante na maior parte do tempo. Notem a sensibilidade dos pequenos gestos, como a cena que envolve um café da manhã, quando César - aqui já adulto - ajuda Charles a comer e troca olhares preocupados com Will. Uma proeza técnica e um dos poucos momentos realmente mágicos do filme.


O problema mais evidente na história de Rick Jaffa e Amanda Silver é a fragilidade do personagem de James Franco. Apresentado como um gélido e insensível médico, que não tem dó em testar qualquer nova vacina em animais, o personagem se afeiçoa ao macaco e começa a gostar dele, mas apenas, quando percebe que o bicho não age como tal, mas mimetiza o raciocínio humano. Por outro lado, não ve problemas, mesmo convivendo com um animal, em continuar a testar suas vacinas "como se não houvesse amanhã" em outros animais.

Isso merece um parêntese: por mais evoluídos que sejamos, ainda não conseguimos nos comunicar diretamente com os animais, portanto nossa percepção de inteligência e racionalidade é baseada em nossa própria condição. Planeta dos Macacos - mesmo o original - mimetiza essa idéia. Uma vez que os macacos são inteligentes e usam mais de sua capacidade cerebral, mais racionais e próximos dos humanos eles vão se parecer.


Essa é uma das discussões propostas pelo novo filme: a nossa incapacidade de aceitar as diferenças e de respeitar as individualidades de cada espécie na natureza. Em resumo: a velha critica do homem quando brinca de Deus e acaba criando alguma coisa que modificará sua realidade. Mas, o filme não convence quando apresenta a relação do médico e do animal. Passa boa parte do filme demonstrando que Will realmente gostava do macaco, para, em uma cena patética, dispensar completamente essa idéia, de forma apressada.

Por mais que consideremos Franco o personagem principal do filme, esse é um conceito "preconceituoso". O verdadeiro protagonista do filme é o macaco César, fruto da tecnologia impecável e profundamente crível da Weta (a mesma que criou o Gollum) e da interpretação fabulosa de Andy Serkis. Já passou da hora dos "velhinhos das academias" considerarem o ator para uma premiação. O trabalho de construção da personalidade de César é maravilhoso. César surge mais tri-dimensional e interessante do que todos os personagens humanos do filme. Serkis transfigura o personagem, mostrando todos a sua evolução desde o macaco brincalhão e interessado em encontrar uma namorada para Will (namorada essa vivida de forma unidimensional pela bela Freida Pinto), até a negação e o medo enfrentados pelo personagem quando é destituído de seu lar, culminando na autoconfiança, capacidade de liderança e inteligência tática que o transforma em uma espécie de general na parte final do filme. Serkis faz tudo isso com imensa qualidade, César é um personagem que nos emociona, nos aflige, nos causa medo e compaixão. Como todo grande personagem cinematográfico deveria fazer.


Os demais coadjuvantes cumprem as funções básicas dos estereótipos que são seus personagens. Desde o chefe da empresa de engenharia genética, corrupto e ávido pelo dinheiro (que em um comentário social nada sutil é interpretado pelo ator negro David Oyelowo), passando pelo cientista bondoso que se apega aos animais, aos demais macacos que são forjados como: o durão, o grandão de coração mole e o biruta, culminando nos tratadores de macacos humanos - que surgem posteriormente na historia - que são a encarnação da ignorância e do mal. Tom Felton repete as caretas de Draco Malfoy, e Brian Cox faz de seu personagem uma versão light de William Striker de X Men 2.

O único destaque entre os humanos vai para o mal aproveitado (imagino que na "versão do diretor" veremos mais do personagem) John Lithgow, que sendo um ator preciso e talentoso, faz de Charles um personagem crível.


Tecnicamente Ryan Wyatt (do bom O Escapista) é um diretor seguro do que quer mostrar, apesar de ser didático demais em alguns momentos. Como exemplo, uso a cena em que um determinado personagem diz, em meio a uma discussão, sua profissão, que virá a ter papel importante no final da trama. Um diretor mais ousado apostaria em não descrever a profissão do personagem e surpreender os espectadores mostrando-o quando fosse necessário, causando surpresa na platéia. Nas seqüências de ação (e existe uma na ponte Golden Gate, que é das melhores do ano, sem dúvida) o direto também vai bem, preferindo - felizmente - criar pequenos clímaces quando possível e em dar o escopo necessário às cenas, apostando em cenas aéreas, ou closes dos personagens para evidenciar as reações emocionais dos personagens. Aqui e ali, o vicio moderno da câmera treme-treme dá o ar da graça, mais de forma muito mais sutil do que a maioria das produções de ação. 

A montagem de Conrad Bluff IV e Mark Goldblatt é frenética, fazendo do filme um thriller de ação desde a saída. Isso faz o público ficar atento a ação na tela, mas prejudica o ritmo quando é necessário ter mais tempo para apresentar os personagens.


Os fãs por sua vez - imagino - gostarão da série de homenagens e referencias ao filme original presentes em Planeta - A Origem. Frases clássicas estão lá, ditas em contextos diferentes é claro, assim como detalhes mais sutis, como a nomeação dos macacos que fazem parte da experiência genética de Olhos Brilhantes (como o personagem de Charlton Heston era chamado no filme original), ou mesmo a inserção proposital da primeira viagem a Marte, como posicionamento histórico do filme novo dentro da franquia (para quem não sabe, a viagem do filme original que culmina na chegada ao "planeta dos macacos" era a primeira tripulada para Marte).

Planeta dos Macacos - A Origem não é a tragédia anunciada que poderíamos imaginar. Mas,  perde muitos pontos por ter como fio condutor da história, um roteiro tão frágil e que simplifica as ações dos personagens. O final é quase esquizofrênico, quando propõe uma redenção de personagem por meio do discurso fajuto "foi tudo minha culpa", que poderia - e deveria - ter sido evitado. No fundo o personagem de Franco, uma visão da humanidade destrutiva, jamais gostou do bicho, e só o mantinha em casa por comodidade e como bizarra experiência genética.


Muito diferente do dono de circo Armando (Ricardo Montalban), que no clássico Conquista do Planeta dos Macacos, realmente amava o "seu" César e o respeitava como tal. Teríamos involuído? Ou a visão de Ryatt é mais próxima do que a humanidade realmente é? Hipócrita, maligna e autodestrutiva. Somente o tempo, o senhor de todo o universo, será capaz de dizer se nosso futuro será o mesmo de O Planeta dos Macacos.

3 comentários:

  1. o planeta dos macacos é destruído por um míssil nuclear, farão remake?

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  2. Roberto, o novo filme conta a origem dos macacos inteligentes, funciona como "prequel" de toda a franquia

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  3. Assisti os 6 filmes da série e ele simplesmente mudou toda a história, como eu posso gostar disso?!? Só tenho que destacar o gollum,opa, Cesar, que merece ganhar o Oscar de melhor ator

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