terça-feira, 16 de agosto de 2011

Balada do Amor e do Ódio
(Balada Triste de Trompeta, 2010)
Drama/Romance - 107 min.

Direção: Alex de la Iglesia
Roteiro: Alex de la Iglesia

Com: Carlos Areces, Antonio de la Torre e Carolina Bang



Você conhece Alex de la Iglesia? Se a resposta for negativa, por favor (de coração) vá atrás de seus filmes, quase todos grandes trabalhos. Ação Mutante, O Dia da Besta, 800 Balas e até mesmo os mais regulares como Crime Ferpeito e Comunidade tem grandes momentos. Apenas The Oxford Murders pode ser considerado um fracasso e mesmo assim tem classe e uma boa (apesar de batida) história de investigação.


Balada Triste de Trompeta é visualmente impressionante e inesquecível, e feito com pouco dinheiro imagino. Conta a história do palhaço "triste" Javier, filho de palhaço e que viu seu pai ser preso durante a Segunda Guerra pelos franquistas. Anos mais tarde e já um adolescente, Javier tenta ajudar o pai a fugir e na confusão o vê ser morto. Esses primeiros minutos são lindamente fotografados em alto contraste deixando o filme onírico, aumentando a percepção de que aquele lugar e época não têm vida e estão condenados.



Quando o filme para de avançar no tempo, vemos Javier novamente, dessa vez como um gordinho solitário e tímido, que talvez por trauma ou por desconhecer outra vida, está vivendo como palhaço começando em um novo circo. Iglesia é muito feliz em seu casting pois além de Carlos Aceres ser um ator expressivo como Javier, conta com coadjuvantes interessantes ao seu redor. Figuras marcantes que adornam a sensação de inesperado e quase mágico que o circo e seus personagens trazem a cabeça das pessoas.


A história realmente engrena quando Javier conhece seu futuro parceiro, o palhaço Sérgio (Antonio de la Torre), um violento e petulante homem que é casado com a lindíssima e brutalmente sensual Natalia (Carolina Bang), que Javier vem a se interessar. A partir dai a história acompanha de forma bufa e recheada de humor negro a história desses três personagens e suas idas e vindas entre amor e ódio.


Recheado de homenagens ao cinema (Frankenstein e Monstro do Circo entre outras) o trabalho de Alex é uma versão menos exótica e mais pé-no-chão de Fellini, e como tal abusa do lirismo e das imagens acachapantes para passar sua mensagem. Sua direção de arte é inspiradíssima e a fotografia caminha entre o gótico sombrio e as luzes naturalistas. Na segunda metade do filme, quando a sátira política é abertamente exposta (até então, o mais profundo disso que tínhamos visto eram os cenários que emolduravam o circo: cidades destruídas e gente muito pobre) e os personagens estão definidos, Alex voa alto, tão alto que perde um pouco o pé e faz o filme perder força.


Tomando cuidado - mesmo - para não soltar nenhum "spoiler" apenas digo que a transformação física e mental de Javier e Sergio, apesar de visualmente serem espetaculares e assustadoras, surgem exageradas pelo abuso do diretor. Depois de certo tempo a sátira e as situações que os personagens enfrentam soam excessivas. Notem - quando virem o filme, é claro - o exagero da transformação mental de Javier. Visualmente é impressionante, mas o filme não consegue me convencer que um homem passando pelo passou tornar-se-ia o que se torna na parte final da película.



A história pareceu curta demais para o desbunde visual que o filme tem. O ato final é muito longo, e muita coisa poderia ser resumida com mais parcimônia. A própria inclusão da tal Balada Triste, que surge absolutamente do nada, tem função meramente estética e pouco acrescenta a narrativa, além de mostrar mais uma vez que o personagem Javier é exageradamente apresentado.


Por isso, é mais interessante acompanhar as histórias de Sérgio e Natalia, dois personagens mais cheios de nuances e de personalidade mais interessantes. Sérgio começa como um monstro perturbado, violento e amedrontador, mas extremamente amoroso com as crianças e em sua moral perturbada, apaixonado por Natalia. Ela por sua vez além de sensual, mostra-se ardilosa ao não abrir mão de Sergio, ao mesmo tempo em que não impede os avanços de Javier. Soando confusa e até ingênua por boa parte da projeção, Natalia é a musa que conduz a história e como tal mantém-se emocionalmente distante até quase o derradeiro frame.



Final esse que abusa do lirismo e da poesia para transmitir a mensagem de que o amor e o ódio caminham de braços dados como grandes amigos e que basta uma fagulha mal apagada para que uma explosão de sentimentos transforme a vida de uma pessoa. Pena que a fagulha seja pequena e que a explosão possa ser controlada por um sopro.

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