terça-feira, 30 de agosto de 2011

Singularidades de uma Rapariga Loura
(Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009)
Drama - 64 min.

Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira

Com: Ricardo Trêpa, Carolina Wallenstein e Diogo Dória


É emocionante presenciar um homem de mais de 100 anos disposto a fazer arte e contar histórias em um planeta cada vez mais imediatista e sem paciência para esperar nada mais do que cinco segundos. Por isso, Singularidades de uma Rapariga Loira é um importante registro da força de vontade e do talento desse fenômeno chamado Manoel de Oliveira.


Esse sentimento complacente não impede, no entanto, que o filme seja avaliado de forma crítica. E Singularidades não é um filme perfeito (longe disso), mas é ousado por contar sua história em pouco mais de uma hora (outra coisa raríssima). Acompanha Macário, um jovem secretário que trabalha na loja do tio, e que se apaixona por uma bela loira que mora em frente ao seu trabalho. Por meio de flashbacks, o rapaz , que viaja de Lisboa para o interior, conta a uma completa desconhecida, a história de sua paixão pela tal rapariga loira.



A fotografia é primorosa e os enquadramentos são tecnicamente perfeitos. Rígidos em sua forma e precisos em suas intenções pretendem (a meu ver) retratar a incrível incapacidade de uma sociedade em se abrir ao novo e suas complexas e difíceis relações sentimentais. Macário em sua epopéia para conquistar, noivar e desposar Luísa (a loira) precisa enfrentar a resistência dos a sua volta e manter-se financeiramente estável para (em sua cabeça) ser digno de dar um futuro a sua amada. O visual do filme amplia essa sensação de imobilidade do texto de Eça de Queirós e da idéia de Manoel.


Um dos problemas do filme, e que o impede de conseguir a nota máxima, é a forma quase declamatória com que os atores apresentam seus diálogos. Talvez trate também da idéia de Manoel de Oliveira de que a sociedade portuguesa é tão arraigada as tradições que mesmo em conversas informais o tom de formalidade não seja esquecido. Mas, isso prejudica a fluência do filme e impede que o espectador creia naquela gente. Parecem bonecos de cera repetindo a oração de Oliveira contra os problemas de Portugal.



Mesmo tendo menos de setenta minutos de duração, Singularidades sofre com um ritmo claudicante que faz o filme parecer muito mais longo do que é. A tal inteligência crítica para falar do país também sofre com excessos (como a homenagem a Eça de Queirós que aparece deslocada), mas tem em seu final ácido uma grande sacada.


Singularidades é um filme interessante por suas propostas, estética singular nos dias de hoje, mas que peca por suas próprias qualidades. Aposta demais em suas críticas e esquece que além de teorizar é necessário criar uma história que sustente essas idéias, o que infelizmente não é o caso do filme.

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