quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lanterna Verde
(Green Lantern, 2011)
Ação/Fantasia - 114 min.

Direção: Martin Campbell
Roteiro: Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg

Com: Ryan Reynolds, Blake Lively, Mark Strong, Peter Sarsgaard, Tim Robbins

Massacrado pela grande maioria dos críticos mundo afora, Lanterna Verde apresenta ao grande público o personagem da DC Comics que tem a mais complexa e vasta galeria de personagens, aventuras e escopo da editora. Afinal, o Lanterna Verde (ou melhor, Hal Jordan UM DOS Lanternas Verdes) faz parte de uma força policial que toma conta de todo o universo. Sim, de todo o universo. Só essa idéia, já faz pensar na quantidade inconcebível de histórias, personagens e aventuras que os personagens, conhecidos como a Tropa dos Lanternas Verdes poderiam se envolver.

O filme, infelizmente, não consegue traduzir esse escopo, sendo mais um na lista de blockbusters baseados em quadrinhos que funcionam apenas como uma diversão passageira, não deixando marcas em quem o vê. Deixando de lado muito dessa idéia de policia espacial, o filme de Martin Campbell (Goldeneye, Fim da Escuridão) abraça sem piedade o mal fadado filme de origem, um mal necessário para apresentar ao público o personagem, seus coadjuvantes, um antagonista a altura de nosso herói e toda a gama de informações necessárias para a compreensão de um mundo novo e até então inexplorado.


Ryan Reynolds é Hal Jordan, um piloto de avião falastrão, irresponsável e sem respeito algum pelas regras, em suma, um bad boy. Ao mesmo tempo, o filme (precariamente) apresenta em um forçado flashback, seus problemas em relação à morte de seu pai, que serve tanto para dar alguma profundidade ao personagem quanto para dizer ao público que embora Hal seja um maluco que não respeita as regras, no fundo, ele é um bom rapaz.

Seguindo em paralelo, o filme mostra brevemente o mundo dos Guardiões (uma raça de seres talvez tão antigos quanto o universo e criadores da Tropa dos Lanternas Verdes), Oa, um lugar aparentemente bucólico e de arquitetura praticamente pré-histórica, cheio de curvas, picos e prédios de profunda assimetria. Bem feito, mas profundamente óbvio. O grande destaque na construção desse mundo único é a estrutura de uma espécie de salão de reunião, onde os guardiões recebem os Lanternas para conferencias, planejamento de suas ações entre outras coisas. O grande vilão do filme também surge aqui: Parallax. Originalmente sendo visto como um guardião que tentou comandar uma força maior do que deveria, foi preso em um planeta perdido no meio de uma galáxia abandonada (ou algo assim). Quando um grupo de alienígenas surge em seu habitat, acidentalmente despertam a fúria do ser responsável por comandar o medo.


Parallax é uma entidade, uma força sombria que deveria ser representado como algo tão imponente quanto força dos guardiões, mas me lembrou um inimigo qualquer de desenho animado de segunda, com direito a rosto ameaçador surgindo de uma "misteriosa" fumaça e aquela tradicional e óbvia voz gutural e profunda. Não sou um conhecedor dos quadrinhos do Lanterna e muito menos do personagem citado, mas deixo claro aqui, que caso Parallax seja - no material original - tão risível quanto surge nesse filme, é desde já um personagem a ser incluído na lista dos vilões mais fajutos da história.

Quando penso na representação do medo, jamais consigo imaginar uma forma física, mas uma espécie de vírus, algo intangível ao ser humano. Mesmo que houvesse a necessidade de uma representação física do Medo, ou de alguém que controla o medo, a produção poderia ter pensado em alguma coisa mais eficiente e assustadora do que uma cabeça surgindo entre uma fumaça sinistra.


Por outro lado a maquiagem que tem de causar asco e admiração é muito bem realizada. Sinestro (Mark Strong) com sua pele púrpura é ao mesmo tempo severo e nobre, nos causando só por seu visual a dubiedade que é condizente com o que filme diz de seu personagem. A maquiagem de Abin Sur (Temuera Morrison) também nos espanta ao mesmo tempo em que nos faz pensar no caráter daquele personagem, quando ele surge pela primeira vez em frente a Hal Jordan. Mas, a grande maquiagem em Lanterna Verde é a destinada ao vilão humano Hector Hammond, que passa por uma transformação física durante o filme. Apesar de não ser uma maquiagem inovadora é muito bem realizada e parece integrada ao ator, não surgindo como um apêndice deslocado.

Infelizmente as tão antecipadas e recheadas de expectativas roupas dos Lanternas surgem aqui brutalmente artificiais. A ideia de um traje que fosse uma extensão do pensamento do personagem é interessante em teoria, mas a realização dessa ideia é mediana. As roupas surgem artificiais e claramente produzidas com auxilio da computação gráfica o que resulta em um figurino que não faz jus a ideia dos realizadores.


A montagem do filme tenta dar ritmo a história. Em especial na sequencia em que vemos o "nascimento" do vilão Hammond, quando intercala sua mutação com uma espécie de exame médico a que Hal é submetido em Oa.

O elenco é bom, mas pouco pode avançar além da mordaça juvenil que o texto de Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldberg impõe. Ryan Reynolds é um protagonista carismático ainda que mantenha alguns cacoetes de suas inúmeras comédias românticas. Longe de ser uma falha, mas demonstra que a construção de Hal Jordan foi realmente açucarada, já que Reynolds solta aqui e ali uma série de piadinhas (como as vistas no trailer, por exemplo). Apesar disso, Ryan - que teve um desempenho matador em Enterrado Vivo - é um ator com talento para manter-se entre o irônico e o caricato, e é dessa forma (para o bem e para o mal) que Hal Jordan surge no filme.


Os coadjuvantes vão bem, em especial Mark Strong (o vilão favorito de Hollywood) que faz de Sinestro um personagem interessante. Auxiliado pela ótima maquiagem, constrói um personagem de características vilanescas embora isso não fique claro para o grande público, que talvez enxergue Sinestro apenas como um camarada nervoso e rígido. Já Peter Sarsgaard tem o melhor desempenho de todo o elenco. Fazendo de Hector Hammond um vilão cínico, falível e bastante humano (apesar de na parte final parecer mais estúpido do que a maioria de nós humanos) seria um vilão digno a produção se a idéia do filme fosse algo mais sério e menos cartunesco.

Explico: Lanterna Verde aposta nas piadinhas, em simplismos para explicar suas situações e em soluções narrativas apressadas, que parecem terem saído de um episódio de um desenho animado juvenil. Nada contra, se o resultado fosse interessante e bem realizado. O clima "sessão da tarde" é divertido, mas se enrola na hora de apresentar os antagonistas e encerrar o filme. Como já disse na crítica, Parallax é um inimigo de proporções tão exageradas que usá-lo como vilão de um filme de origem, nos faz pensar em quanto os produtores terão de trabalhar para encontrar um novo vilão tão gigantesco como o desse filme (porque obviamente o herói vence o vilão, ou vocês acham que ele perderia?).


Isso leva a outra reflexão a cerca do final do filme. Sem revelar o que e como, basta dizer que falta amplitude na sequência, deixando a impressão que a ameaça enfrentada não é tão grandiosa como o filme insiste em dizer, já que as soluções para encontrar a vitória são exageradamente simples. Em suma: o vilão não é páreo para o nosso herói, o que é uma pena. Hal não precisa "suar a camisa" para enfrentar seus antagonistas. O clima levemente açucarado atrapalha a ação e a aventura, e parece ter sido resolvido de última hora.

Lanterna Verde é o herói com maior potencial de se transformar em febre, dentre os do "panteão" da DC Comics, para acompanhar os já universalmente famosos Batman, Superman e Mulher Maravilha. Uma pena que para a editora, a escolha para tal intento tenha sido o de apostar em uma simplificação exagerada de conflitos e personagens, que em Lanterna (o filme) são tão bi-dimensionais como uma revista em quadrinho.


PS: Existe uma cena pós-créditos - para os fãs - mais que é brutalmente deslocada do restante do filme.



Um comentário:

  1. filme dificil de se fazer esse, acho que teve muitas interferências na produção dele

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