domingo, 7 de agosto de 2011

Quero Matar Meu Chefe
(Horrible Bosses, 2011)
Comédia - 98 min.

Direção: Seth Gordon
Roteiro: Michael Markowitz, John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein

Com: Jason Bateman, Charlie Day, Jason Sudeikis, Kevin Spacey, Jennifer Aniston, Colin Farrell e Jamie Foxx

Atualmente, há duas grandes vertentes para comédias, de modo geral. Basicamente, dividem-se em dois subgêneros que ganham cada vez mais força entre um subgênero maior ainda - o da comédia adulta. Um deles, que atrai em maioria o público feminino, são as comédias românticas com debate de conteúdo sexual. São filmes como Sexo sem Compromisso, Amor e outras Drogas, e até o futuro Friends with Benefits, que dialogam com a temática do sexo desvinculado-o de um relacionamento sério. Paralelamente, outro tipo de produção que voltou a ser explorado em massa foi o das comédias de "macho" - motivado principalmente com o fenômeno de crítica e público de 2009, Se Beber, não Case! . Desde lá, tivemos várias outras tentativas de filmes humorísticos que abordassem a relação "porreira" entre homens, o tal "bromance" (aquela relação de camaradagem entre amigos em um bar por exemplo) e é só citar alguns desse ano, vale lembrar da própria continuação fraca de Se Beber... e do falho Passe Livre.

Somando isso aos desastres nucleares que vem passando pelo cinema de humor nacional - Cilada.com e derivados - e dá para se ter uma ideia de que não estamos em um período muito produtivo para as comédias adultas. Com repetições de temas aos montes, falta claramente originalidade aos roteiros, mas também alguém com mão firme para coordená-los a ponto de saírem minimamente satisfatórios. Desse modo, não fica difícil esperar algo diferente de Quero Matar meu Chefe, comédia que podia desafogar o gênero do eixo repetido de roteiros que ele passa. Entretanto, o longa que se propunha em sua divulgação - e até mesmo em sua introdução - uma dinâmica interessante sobre o cotidiano e a relação de um empregado com seu chefe, na verdade não passa de mais uma comédia de macho, onde os protagonistas se metem em situações absurdas e precisam sair delas, junto com seus "bros". Nesse aspecto, Quero Matar meu Chefe pode até ser uma enganação enquanto foco narrativo, mas nunca enquanto produto, afinal é dono de um resultado que, no final das contas, se sai muito bem ao lado de vários similares inferiores.




A trama acompanha a vida de três empregados - interpretados por Jason Bateman, Charlie Day e Jason Sudeiskis - e cada um deles tendo um carma em seu trabalho: seus respectivos chefes. Um deles é perseguido por um chefe psicopata (Kevin Spacey), o outro não consegue lidar com o assédio sexual da dentista ninfomaníaca (Jennifer Aniston) para a qual trabalha, e o terceiro não admite a conduta irresponsável e cretina de um cheirador inconseqüente que virou seu chefe após a morte do patrão anterior. Decididos a não suportar mais isso, eles decidem organizar um plano para matá-los, e para isso consultam Motherfucker Jones (Jamie Foxx) um criminoso experiente que os ensina táticas para realizar os crimes com sucesso.

O roteiro dos estreantes John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein e Michael Markowitz é interessante, mas claramente carece da originalidade sob o qual se disfarça nos meios em que é divulgado. Não é um filme essencialmente sobre os chefes, e em certos momentos os alvos em questão se tornam meros MacGuffins para uma trama de um trio de homens - composto pelo galanteador, o certinho e o pancada - que se metem em uma teia de acontecimentos de relevância criminal, e que precisam se desvencilhar dela, atravessando no decorrer diversas intempéries, tais como perseguições de carro, prisões, invasões de domicílio e experiências com drogas. Um tanto semelhante a Se Beber, Não Case!, comédia-modelo para os estúdios atualmente. O problema de ter um espírito tão parecido implica numa parcial falta de criatividade, mas também gera outros problemas. Afinal, os roteiristas criam um emaranhado de acontecimentos que procuram - só procuram - remeter à inteligência genial do filme de Todd Phillips, mas não conseguem nem mesmo resolvê-los dentro de sua lógica ''mirabolante''.




Aí surgem resoluções simplistas, fáceis, e algumas vezes previsíveis. Cria-se uma cadeia de eventos, e por não saber nem mesmo construí-la com sucesso completo, formam-se soluções incompatíveis. Ora, desse modo, começam a aparecer os buracos de roteiro, que permeiam silenciosamente a produção, mesmo que não sejam escandalosos, mas que geram certa suspensão de descrença, e também a necessidade de ter que relevar algumas situações propostas. Aliás, incongruências não se resumem apenas as partes de resolução da narrativa, mas também á sua premissa. Qual o sentido do personagem de Charlie Day, com receio de trair sua noiva com sua chefe, matar a mesma? Ele possui caráter o suficiente para não trair, mas se dispõe a cometer um assassinato sem hesitar sobre suas implicações morais? Além disso, é de Jennifer Aniston que estamos falando, e sua namorada retratada no filme não tem muitos atributos - tanto físicos quanto intelectuais - para criar essa resistência por parte do personagem.

A sorte e a salvação de Quero Matar Meu Chefe é que ele se trata de uma comédia, e possui outras características que compensam seus eventuais defeitos. Se ele se propõem a dar um belo espetáculo de gags, então ele dá: São várias, e elas conseguem ser certeiras e fazer a platéia rir sem forçar a barra. Dentro de cada ambiente que o roteiro faz seus personagens chegarem, há uma boa exploração de comicidade, com gags múltiplas, e que fazem o filme sobreviver diante de seus problemas. A melhor sacada do roteiro seja, talvez, a gag intraduzível - infelizmente - do Motherfucker Jones. Jamie Foxx ajuda muito nas cenas que participa, e as piadas proferidas pelos protagonistas não soam forçadas, e fluem naturalmente, resultado de um grupo de atores que estavam bastante á vontade.




Á vontade, na zona de conforto, não precisavam impressionar, e suas figuras serviram como meros peões para a construção das situações e para discursar piadas. Os atores se saem na média - diferente do que se tem em Se Beber Não Case! - e não são tão carismáticos, deixando o lugar para os chefes. Os mesmos - caricaturas - são engraçadíssimos apenas na sua construção de personagem, sem precisar de uma fala elaborada ou situação-chave . Kevin Spacey encarna solenemente o famoso estereótipo de chefe irredutível - diferente do Lester Burnham demitido de Beleza Americana - e demonstra sua versatilidade e habilidade que lhe renderam fama; Jennifer Aniston não precisaria de muito mais do que corpo para atuar, mas mesmo assim, se sai melhor que os demais nas cenas que participa; Colin Farrel, num papel de drogado - o que o ator já foi - se transfigura, e demonstra competência para o humor - como já visto em Na Mira Do Chefe. Basicamente, os atores mais competentes e experientes parecem que foram os que mais se dedicaram em atuar, e mesmo tendo curto espaço de tela, se sobressaem.

Depois de fazer o fraquíssimo, Surpresas do Amor, Seth Gordon parece ter aprendido a realizar humor de situação, ganhando muito mais timing para sua coordenação de set. As piadas e as gags são o ponto alto de Quero Matar Meu Chefe, mas tudo isso não esconde sua originalidade baixa e o fato de seguir a trilha das comédias de macho que surgem por aí. A única diferença dentro do contexto desse subgênero, é que o filme de Gordon fica na média, sem derrapar a níveis mais baixos. Ou seja, Quero Matar meu Chefe não é revolucionário, inteligente ou original como Se Beber, Não Case!, mas também não é fraco e infantil como Passe Livre. Entre homens em Vegas ou crianças que brincam com merda, vale o que um personagem diz durante o film : '' Vocês estão agindo como adolescentes da oitava série!''. No meio do caminho, na média, afinal.



Um comentário:

  1. comedia romantica neah, ai ja viu, mas serve pra assistir com mulheres....

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