Missão: Impossível - Protocolo Fantasma
(Mission: Impossible - Ghost Protocol, 2011)
Ação/Aventura - 133 min.
Direção: Brad Bird
Roteiro: Josh Appelbaum e André Nemec
Com: Tom Cruise, Simon Pegg, Paula Patton, Jeremy Renner e Michael Nyqvist
Meu nome é Bond, Ethan Bond. Se em algum momento do filme Ethan Hunt, personagem de Tom Cruise, proferisse essas palavras, juro que não me surpreenderia, já que essa quarta aventura da série Missão: Impossível, é a que mais se parece com as aventuras do agente secreto britânico.
As comparações podem começar a serem feitas, a partir do plot retirado de um dos muitos filmes estrelados por Roger Moore em meados dos anos setenta. Temos um vilão megalomaníaco que deseja provocar o caos - os motivos nunca ficam claros e as explicações são simplórias - a partir da energia nuclear, provocando a tensão entre Estados Unidos e Rússia, o que apesar de as tensões entre os dois países terem voltado aos noticiários, ainda soa datado. Hunt por sua vez, viaja pelos quatro cantos do mundo - o que não é novidade na série, é verdade, mas que aqui alcança o grau de exotismo e diversidade que a série não tinha atingido até então - tem um carro modernoso com função touch screen no vidro e sequencias de ação de tirar o fôlego (com o perdão da expressão óbvia).
O que faz então Missão 4 ser inferior ao primeiro e ao mais recente filme da série, é seu roteiro boboca e principalmente, um antagonista que é tão canastrão e dotado de frases tão vazias que fica impossível não lembrar de Owen Davian, o vilão ardiloso e cruel interpretado por Phillip Seymour Hoffman na última produção da série.
Além de apostar na obviedade do plot (terrorista maluco provoca 3ª guerra mundial), tem em Hendricks (vivido por Michael Nyqvist) um ponto fraco, já que o personagem apesar de ter um QI de 190 (sim, isso é informado ao público) é mais um vilão de dotes físicos do que mentais. Apesar de o filme mostrar que o vilão está sempre um passo a frente de nossos heróis, em momento algum o filme nos convence que aquele homem é verdadeiramente um mestre do crime, mais parecendo um maluco qualquer dotado de armas nucleares.
Ao mesmo tempo, o filme aposta em duas tramas paralelas: questiona o que aconteceu com o relacionamento de Hunt e Julia (principal trama no filme anterior) e mostra que graças a um plano do nosso vilão, Hunt e seus amigos do IMF tem de agir na clandestinidade. A segunda dessas tramas dá um tempero na busca dos agentes pelo vilão interpretado por Nyqvist, enquanto a história do passado de Hunt (e que vai se relacionar com a de outro personagem durante o filme) é a mais interessante e bem construída da história, e que funciona como pausa dramática, entre a correria desenfreada numa autentica perseguição global.
Esse problema na credibilidade de um roteiro tão fora de moda (assinado por Josh Appelbaum e André Nemec das séries Life on Mars, Happy Town, Alias entre outras) pode ser exemplificado na sequencia que envolve Cruise e o personagem de Jeremy Renner. Quando os dois estão sendo perseguidos pela polícia russa, seu carro acaba caindo de uma ponte e para fugir dos atiradores, Hunt recorre a "brilhante" ideia de acender um sinalizador e colocar junto ao corpo já morto de outro ocupante do veiculo. Sabe-se lá por que os perseguidores começam a atirar no corpo iluminado, enquanto os dois conseguem fugir. Depois de uma correria, Renner pergunta a Hunt sobre sua ideia, e recebe a seguinte resposta: "não sabia se ia dar certo, só fiz por que tive um palpite". Renner então diz: "mas como sabia que eles iam acreditar na sua ideia", e ouve em seguida: "esse caras não estudaram em Oxford". Traduzindo, Appelbaum e Nemec dizem categoricamente: nosso filme tem buracos, é uma história rasa e que exige uma enorme suspensão de descrença (isso por que não dei o exemplo da conveniente tempestade de areia em Dubai) mas, esqueça isso e desfrute das nossas sequencias de ação legais e do carisma de Mr. Cruise.
Brad Bird debuta no live-action mantendo algumas características de seus longas de animação, como um cuidado especial na construção das ótimas sequencias de ação do filme, que surgem de forma fluída e graciosa, como se o diretor tivesse conseguido montar cada ação de forma coreografada, funcionando muito mais como uma apresentação de dança e dando oportunidade ao espectador de acompanhar cada detalhe das ações em tela, diferente dos muitos cortes abruptos e a estética do piscou perdeu comum no cinema de ação. Só de ter optado por essa solução visual, Bird já mostra que tem um olhar fresco para a direção.
O filme tem mais classe que o anterior (mais urbano e que deixava o personagem de Hunt indefeso emocionalmente), exatamente por apostar numa profusão maior de disfarces, planos mirabolantes e no exotismo típico dos filmes de espionagem. Numa comparação com os exemplares anteriores da serie, Protocolo Fantasma é uma mistura dos gadgets do primeiro com a ideia de filme de perseguição do terceiro, em que também víamos Hunt perseguindo o vilão do filme em um tour mundial.
Protocolo Fantasma por sua vez tem as melhores sequencias de ação da série. A já clássica sequencia que mostra a escalada com as mãos quase nuas de Cruise pelo prédio Burj Khalifa (o maior do mundo) em Dubai, faz a abertura de Missão 2, parecer uma brincadeira de fan film. Profundamente tensa, muitíssimo bem fotografada (sempre destacando o perigo da inacreditável altura a que o personagem estava enfrentando) e com uma montagem ágil e esperta (destacando o embate entre a dificuldade da subida, o fato de que a equipe tem um prazo para cumprir e a tensão no rosto de Cruise para realizar a tarefa), o que demonstra não só uma qualidade técnica invejável quanto à impressão que Bird tem competência para administrar uma trama multifacetada. Essa impressão é reforçada pelos próprios plots múltiplos na história, quanto pela sequencia de ação final em que Bird e seu montador repetem a ideia da sequencia em Dubai.
Tom Cruise conhece mais do que ninguém seu personagem, que surge mais sombrio (por motivos óbvios) nesse quarto filme, mas que continua sendo um herói de ação típico, embora nesse, ainda tenha um conflito interno e uma mágoa acumulada. Nessa aventura, Cruise conta com o auxílio de Benji (Simon Pegg) que no filme anterior era um geek de escritório que ajudava Cruise em determinado momento da trama. O personagem continua o mesmo, mas agora como agente de campo e responsável pelos alívios cômicos do filme, que funcionam, embora não sempre. Paula Patton (a professora de Preciosa) é a agente sexy e durona da vez e Jeremy Renner faz o feijão com arroz. Quem sofre mais é Nyqvist, que tem de interpretar um personagem muito vazio, com diálogos pobres e que precisa passar a impressão de ser um vilão competente, com olhares "malvados" e cheios de ódio. Seu personagem do medíocre Sem Saída era melhor do que essa tristeza que é Hendricks.
Impossível ainda, não destacar mais um excelente trabalho de Michael Giacchino, cada vez mais inteligente e variado, indo na trilha de Protocolo Fantasma, de adaptações ao tema da série a inclusões de batuques étnicos, música russa entre outros detalhes.
Mas o melhor é mesmo comprovar que Brad Bird é um camarada talentoso, mesmo quando dirige "gente de verdade". Já o filme, não se compara a paranóica aventura da produção original e perde pontos por apostar em uma trama tão banal e óbvia. Protocolo Fantasma não consegue ser o grande filme pipoca de 2011, mas não ofende, embora fique em segundo plano em um ano que tivemos os mutantes nostálgicos, macacos revolucionários e garotos criando cinema.
Eu acho difícil dizer qual o melhor da série (excluindo o segundo que é o mais fraco). O primeiro tem o roteiro mais inteligente, o terceiro o melhor vilão e o maior esforço físico e mental de Hunt e este, as melhores cenas de ação e a inclusão de um humor anteriormente deixado em segundo plano.
ResponderExcluirAcho que acabem se igualando e o vilão, apesar de pouco tempo dedicado, tem uma característica invejável que o torna perigosíssimo: o comprometimento absoluto a ponto de realizar o máximo sacrifício por seu plano.
Enfim, me surpreendi bastante, mas concordo geralmente com a crítica.
Abraços.