sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Marcados para Morrer


Marcados para Morrer
(End of Watch, 2012)
Thriller/Drama - 109 min.

Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer

com: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Anna Kendrick

Às vezes, todas as boas intenções acabam não sendo suficientes quando aqueles responsáveis por realizar uma obra cinematográfica decidem sabotar o esforço de produtores, atores e roteiristas (quando estes não estão envolvidos no ato "terrorista", o que então caracterizaria a produção como auto-sabotagem) destruindo uma historia funcional em detrimento de um estilo, ou linguagem.

Marcados para Morrer (título genérico de filme de ação B que vai direto pra vídeo) conta a historia de dois policiais que trabalham na zona de confronto mais complicada e perigosa de Los Angeles. São eles, Brian (Jake Gyllenhaal) e Mike (Michael Peña), parceiros e amigos muito próximos que dividem histórias, amizade e o risco diário de acabarem mortos em uma zona de guerra não oficializada.

O mais interessante na produção é a química inegável conseguida entre Gyllenhaal e Peña, que parece autêntica. As muitas cenas que acompanham os dois atores dentro de um carro de polícia conversando sobre a vida, o universo e tudo mais, são de longe as mais funcionais do filme. O que não chega a ser um elogio já que a produção recheia sua historia com diversas sequências de ação.


Embora o esforço dos protagonistas seja notório, e que o roteiro seja bastante claro com a historia que pretende contar, o diretor (que curiosamente também o roteirista) David Ayer destrói completamente seu próprio filme quando sofre uma crise aguda de falta de bom senso, inserindo uma intenção fajuta de ser "realista", apostando no risível found fottage. Pior, ao invés de apresentar seu filme inteiramente com essa "linguagem", que apesar de destruir qualquer trabalho estético na concepção das cenas, tem lá seu impacto emocional, mistura sem nenhuma explicação linguagens diferentes apenas prejudicando a compreensão daquilo tudo.

Explico: o filme começa com Gyllenhaal dizendo que está gravando tudo para um projeto em sua faculdade de cinema (oi?), já que como ele gostaria de fazer direito, mas precisaria de créditos a mais para conseguir seu intento, optou por outra qualquer (faz algum sentido para vocês?). Pois bem, mesmo com essa explicação trágica, vamos comprar a ideia de acompanharmos Gyllenhaal e sua câmera de mão, somadas as duas micro-câmeras colocadas nas fardas dele e de seu parceiro e das câmeras, essas sim reais, que ficam dentro do carro da polícia (três para ser exato: uma no console do carro, uma que filma a parte de trás da viatura e outra na frente - aquela que é comumente usada em vídeos policiais). O problema acontece quando ao film da primeira sequência que envolve essa linguagem, Ayer insere uma panorâmica pela cidade de Los Angeles que é seguida por uma longa conversa entre os bandidos da vez. Quando a malandragem termina de conversar, um deles olha diretamente para a câmera e pede que a mesma seja desligada. Ou seja, como é possível que o found fottage, que claramente indica que aquela filmagem foi encontrada e/ou editada por alguém ter sido captada com os bandidos? Será que eles cederam suas imagens? Esse tipo de problema de linguagem atrapalha consideravelmente a credibilidade da obra, já que o filme nos engana ao afirmar que veremos o filme por um ponto de vista único, para depois subverter, sem nenhum resultado prático essa intenção.

Outro problema desse tipo de linguagem é a dificuldade de compreender o que acontece em uma sequência mais tensa ou de ação, como a que envolve um incêndio que os dois policiais acabam se envolvendo. Dificilmente o espectador vai conseguir compreender o que está vendo.


O roteiro como disse não é ruim e apesar de se basear em um conceito absolutamente frágil (policiais enfrentam a vida dura das ruas) ainda acrescenta uma historia de amadurecimento, sacrifício e amizade, nada brilhante, mas que funciona tranquilamente.

Se a direção de David Ayer não fosse tão transloucada querendo mostrar oitenta mil linguagens cinematográficas em um mesmo filme, Marcados para Morrer seria até uma diversão competente, uma reunião de dois policiais "casca grossa", mas honestos (coisa rara de se ver no cinema) enfrentando os vilões genéricos e realmente malvados (os traficantes "chicanos" são de uma canastrice impagável). Esse é um caso de estudo: teria Ayer muita raiva de seu próprio trabalho a ponto de tentar sabotá-lo?



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