Outra observação: também pelo fato de não ter escrito praticamente nada sobre nenhum dos filmes citados, cada um deles tem um textinho curto explicando os motivos da minha escolha.
★★★★
Toque de Mestre
(dir: Eugenio Mira)
Esse é um daqueles guilty pleasures imperdíveis. Uma trama absolutamente absurda, mas tão bem construída e com momentos de tensão tão bem bolados que os buracos de roteiro e o abusrdo do plot ficam relegados a segundo plano. Elijah Wood é o pianista recluso que decide voltar ao palco para homenagear um antigo professor, enfrentando seu pavor de palco. Porém, segundos antes de começar a apresentação recebe um bilhete macabro: "toque uma nota errada e você morre". Interessante, não? Por que alguém teria tanto trabalho? E o que ganharia com isso? Construído como uma homenagem aos suspenses clássicos de Hitchcock (sem obviamente a mesma genialidade) e dos sempre criativos Giallos italianos, é um dos poucos filmes que me deixou preso na trama durante toda a projeção, mesmo com seus nítidos problemas de estrutura em sua parte final e um antagonista que deixa a desejar.
Philomena
(dir: Stephen Frears)
Misture uma trama real que revolta qualquer um e dois atores talentosos e você tem um combo vitorioso. Em uma atuação irrepreensive, Judi Dench faz da simpática e simples Philomena uma das personagens mais cativantes de 2014. Seus gostos nada elegantes e sua incapacidade de mentir envolvem tanto o personagem de Steve Coogan (em uma performance muito mais contida do que em trabalhos anteriores, mas que guarda um humor cínico que lhe é peculiar) quanto o público. As muitas reviravoltas que chocam e emocionam transformam o que poderia ser um dramalhão clichê em um filme que beira a denúncia social.
Capitão América: O Soldado Invernal
(dir: Joe e Anthony Russo)
Considerado como o mais sério dos filmes da Marvel, para mim essa seriedade (que não é tanta assim) deu lugar a sensação de que esse era o primeiro filme Marvel, verdadeiramente sobre um herói. Vejamos: Tony Stark não é um herói, seus confrontos são localizados em parceiros de negócios surtados e sujeitos vingativos. Que pese sua mudança de postura quanto as armas que vendia, ele não luta para "salvar o mundo", mas reage a uma ameaça que o persegue. Hulk é um sujeito em constante fuga, Thor enfrentou uma ameaça ao seu mundo em sua primeira aventura e os Vingadores são um coletivo que reagiu a um evento global. Thor 2 começou a mudar essa noção, apresentando os personagens do estúdio em momentos mais heróicos, mas a escala e a grandiosidade de Capitão América 2 extrapola o que o estúdio vinha fazendo até então. Se a invasão Chitauri em Vingadores era intensa, a luta do Capitão contra as naves da S.H.I.E.L.D. é igualmente impressionante. Isso sem contar a sequência de ataque a Nick Fury no trânsito ou a já clássica luta no elevador. Em todas elas, notamos um sentimento de urgência e de real perigo que nem mesmo Vingadores (que é um filme muito mais divertido, digamos assim) apresentava. E o personagem do Capitão assume a postura que se espera do "primeiro vingador": liderança, sacrifício pela causa, inteligência, bravura e força.
Michael Kohlhaas
(dir: Arnaud des Pallières)
Um semi Coração Valente, essa trama sobre um simples comerciante que ao ver seus direitos serem ignorados por um lorde decide criar um levante popular que beira a revolução é mais uma oportunidade excelente para notarmos o talento de Mads Mikkelsen, que aqui vive com extrema sobriedade um personagem destinado a martirização. Porém, em vez de apostar nas frases feitas, o filme é profundamente honesto e trata a situação com uma crueza e realismo que faz com que o protagonista e teoricamente o herói da trama, seja visto em alguns momentos como um homem perturbado, exagerado e de moral duvidosa. Uma beleza de filme.
Refém da Paixão
(dir: Jason Reitman)
Não se enganem pelo ridículo título nacional que mais parece o de um desses romances de banca. O drama (que também tem romance) conta a história de uma mãe e seu filho que se afeiçoam de um criminoso que havia fugido da cadeia e se esconde em sua casa durante um feriado. Kate Winslet constrói uma personagem que sofre de depressão e que enfrenta enormes dificuldades em seguir a vida. Brolin é é o criminoso "de bom coração"que transfigura uma óbvia relação de síndrome de Estocolmo em algo maior e mais interessante. Mesmo com problemas que são resolvidos de forma clichê, a produção tem um certo lirismo e emociona em sua conclusão singela.
Planeta dos Macacos: O Confronto
(dir: Matt Reeves)
Caso raro de continuação que é tão boa (ou melhor) que o filme original. Ok, eu sei que a série Planeta dos Macaccos está sendo reebotada e que talvez a expressão "filme original" não caiba, mas a releitura desse mundo é verdadeiramente muito boa. A trama que no primeiro filme brincava com elementos de cientista louco e afins evolui para discussões sobre humanidade, sobre como uma sociedade pode ser organizada e abrir mão da violência e como o preconceito deve ser combatido sempre. Dizer que Andy Serkis rouba a cena com sua composição (auxiliado logicamente pela tecnologia) de Cesar é ser óbvio. Mas, não é possível esquecer que todo o visual dos símios está ainda mais caprichado e o mundo pós-apocalíptico em que macacos cavalgam como senhores do planeta é dos mais incríveis apresentados recentemente. A estrutura da sociedade dos macacos é igualmente impressionante e novamente, os humanos são coadjuvantes (e que bom que são). Que a saga dos macacos reebotados tenha muito mais sucesso e se mantenha com a alta qualidade mostrada até aqui.
Bem-vindo a Nova Iorque
(dir: Abel Ferrara)
Abel Ferrara é um dos últimos diretores vivos com a coragem de apresentar um personagem tão detestável quanto Deveraux, vívido com incrível intensidade por Gerard Depardieu. Um homem horrível, aproveitador, violento, corrupto, estúpido e que somos obrigados a acompanhar em uma viagem rumo a destruição. Existem momentos no filme que são verdadeiramente especiais: a vistoria que o personagem passa na cadeia e uma conversa franca e aguda, sem rodeios que este tem com sua esposa, vivida com igual capacidade pela brilhante Jaqueline Bisset. Depardieu está elétrico e horrível, fazendo de seu personagem um odioso ser vivo. Mesmo se alongando demais e tendo dificuldades para encontrar um momento para encerrar o filme, esse é um das produções mais fortes do ano que passou.
No Limite do Amanhã
(dir: Doug Liman)
Sim, tem um monte de exageros. Sim, a brincadeira já funcionou em "Feitiço do Tempo" e sim, o confronto tão antecipado, pensado e até sonhado pelos personagens no filme, acontece de forma abrupta e anti-climática. Mas, é muito divertido acompanhar Tiom Cruise brincando de Marty McFly. O visual dos exo-esqueletos saído de um cruzamento de anime com Matrix e a presença magnética de Emily Blunt e sua espada enorme são destaques assim como seu bom humor e percepção de que por mais séria que pareça a proposta, o humor - às vezes, bastante sombrio - é fundamental para contar uma boa história nesses moldes. Se acompanhassemos duas horas de corre-corre e de desespero na tentativa de vencer os alienígenas inimigos sem uma dose de absurdo (afinal, voltar no tempo, matar ets de roupa de robô não é digamos, uma situação das mais "reais") a chance do filme se tornar cansativo, pedante ou simplesmente chato seria enorme. Sempre gosto quando os filmes com premissas tão distantes de nossa realidade, conseguem encontrar formas de brincar so absurdos de suas próprias histórias. Um dos blockbusters mais bacanas do ano.
Sem Escalas
(dir: Jaume Collet-Serra)
Sim, esse absurdo estrelado por Liam Neeson é das coisas mais legais que vi ano passado. Preso, dentro de um avião e tentando descobrir que tramou contra ele, antes que todos a bordo morram. Um prato cheio para Liam Neeson demonstrar novamente porque ele é o "bad ass" do século XXI, disparar quilos de frases de efeito, dar um jeito em problemas sem sentido com ideias malucas e que funcionam entre outras coisas. Mas, melhor que tudo isso, é notar que a direção de Jaume Collet-Serra sabe o que está fazendo e consegue manter a tensão sem precisar exclusivamente do carisma de seu astro (como é o caso das produções Busca Implacável 1 e 2). Um guilty pleasure com muito orgulho.
Garota Exemplar
(dir: David Fincher)
Muita gente tem se aprofundado em escrever como esse filme é supervalorizado, criticando inclusive a capacidade intelectual dos espectadores. Isso, além de ser um tanto quanto infeliz (já que, por mais idiota que o filme possa ser, não devemos julgar a capacidade dos outros pelo tipo de entretenimento que ela gosta) demonstra uma incapacidade de notar que todos temos os nossos tetos de vidro, os filmes "ruins" que amamos e por ai vai. Mas, nada disso tem a ver com o filme, que - de fato - não é a ultima bolacha do pacote, ou o melhor filme de David Fincher (por favor, o cara fez "Clube da Luta", "Seven", "Zodíaco"), mas é um excelente thriller, muito bem construído como veículo para uma mensagem anti-sensacionalismo (de leve) e muito sobre enfrentar as aparências em uma sociedade que vive do que mostra ao mundo e não do que realmente sente . Sim, se você assistir uma segunda vez (meu caso) vai notar que existem furos na trama rocambolesca, que coisas não fazem sentido, mas a força do filme não está ai, mas na mensagem. Destaques óbvios para como Fincher conta sua história, com calma e apresentando lados opostos com igual competência. Se Ben Affleck está muito bem, Rosamund Pike é absurda. Sua personagem é um reflexo de todas as ideias que seu diretor e o roteirista Gillian Flynn (que também assina o livro adaptado) quiseram demonstrar. Uma ode ao circo de aparências e que transforma sua situação em algo muito mais complexo do que a percepção de seu marido (Affleck) puderam imaginar.
Dois Dias, Uma Noite
(dir: Jean-Pierre e Luc Dardenne)
Confesso que não sou um grande fã do cinema dos irmãos Dardenne. Muitas vezes, acho que os cineastas belgas fazem muito barulho por nada, desenvolvendo histórias exageradamente complexas sobre um assunto demasiado trivial. Mas, confesso, que quando acertam, o fazem em cheio. É o caso desse "Dois Dias, Uma Noite", uma trama simples sobre uma mulher se recuperando de depressão que tem uma chance de recuperar seu emprego por meio de uma votação dos demais funcionários da empresa. O custo: ela volta a trabalhar, eles perdem um gordo bônus. Por dois dias e uma noite, ela tenta ir atrás de seus companheiros de trabalho encontrando as mais variadas situações, que causam pena, desconforto, raiva, alegria e todo um espectro de sensações. Os Dardenne não se furtam a deixar em aberto se de fato, a situação clínica da personagem (ótimo desempenho de Marion Cotillard) está controlada, mas jamais brincam com os valores da personagem especialmente na parte do filme, que surpreende o espectador e serve como uma boa mensagem.
O Lobo atrás da Porta
(dir: Fernando Coimbra)
Um dos muitos exemplos de filmes brasileiros de muita qualidade que chegam aos cinemas, O Lobo atrás da Porta é um thriller tremendamente eficiente e que coloca a mostra que o país consegue produzir filmes de gênero com grande competência. A trama simples de traição, vingança, mentiras e reviravoltas pode não ser das mais originais, mas é competente e tem um Leandra Leal inspirada como a complexa, enigmática Rosa. Juliano Cazarré e Milhem Cortaz são responsáveis por ancorar o "solo" de Leandra que voa alto para construir a delicadeza sombria de sua protagonista. A forma de contar a trama com flashbacks ajuda ao espectador a ter um pouco da visão de cada personagem e notarmos como cada história vai ser fundamental para montarmos o quadro geral e sermos surpreendidos pelas revelações. Um exemplar 100% nosso de um gênero que parece sempre ligado ao cinema que não é produzido por aqui.
(dir: Marco Dutra)
Ousado na abordagem, no tema e no casting, "Quando eu Era Vivo" é dos mais perturbadores filmes que vi esse ano. A perturbação não reside no tema, mas na forma como Marcos Dutra resolveu abordá-la. Na trama, um homem aparentemente abandonado pela esposa volta para a casa do pai, para ressuscitar os fantasmas do passado, sejam sobre a mãe misteriosa, o irmão com problemas mentais ou sua sexualidade ao se afeiçoar a bela garota que vive em seu antigo quarto, hoje alugado. Antonio Fagundes e Marat Descartes são atores de grande capacidade e sobre eles não se imagina um trabalho menos do que competente, mas é Sandy que surpreende. Assumir a personagem feminina em filme pequeno, de gênero e que está longe do que se vende como "cinema nacional" para o grande público (a saber: comédias, comédias e mais comédias) é uma saudável ousadia. O resultado final se não é brilhante de sua parte é competente e cria alguns dos melhores momentos do ano que envolvem uma canção assustadora e máscaras de gesso.
(dir: João Wainer)
Passados mais de um ano do mês de Junho de 2013 esse documentário se torna ainda mais interessante. Um recorte que se visualmente não trás nenhuma novidade - nenhuma imagem nova ou revelação - serve como uma forma de reflexão sobre o que de fato aconteceu naquele período no país. Felizmente, o documentário não tenta apontar uma resposta definitiva mas convida diversos personagens que fizeram parte das manifestações e alguns analistas (de todos os estilos e espectros de pensamento) para uma colagem de opiniões que tentam resumir os fatos. O que falta em certezas, sobra em variáveis o que reflete com grande exatidão o que aconteceu durante Junho de 2013.
Boyhood
(dir: Richard Linklater)
O que mais impressiona em Boyhood é a escala da aventura de Richard Linklater. Filmar por doze anos as mesmas pessoas e transformar isso em uma história deve ter consumido o diretor/roteirista. O resultado é longo (mas como não seria?) mas é bem honesto e tenta não apelar para a vilanização dos antagonistas. O inglês Michael Apted faz esse tipo de colagem em forma documental a muitos anos na serie "Up", mas transformar isso em uma narrativa cinematográfica de ficção é de fato uma conquista. Mesmo não sendo sempre brilhante (alguns momentos da produção contam com diálogos forçados, como a discussão no restaurante ou clichês para retratar alguns personagens) o filme merece todos os elogios que vem ganhando da crítica internacional. O mais surpreendente é constatar que o garoto Ellar Coltrane, tem de fato, talento para a coisa e que ao lado de atores mais experientes consegue um desempenho bom. Longe de ter uma trama complexa e cheia de idas e vindas, Boyhood é o "coming of age" por definição.
★★★★½
(dir: Jean-Marc Valée)
Um dos desempenhos mais impressionantes de 2014 foi o de Matthew McConaughey como o preconceituoso rancheiro que ao contrair o vírus da AIDS muda sua perspectiva sobre tudo a sua volta e começa a traficar remédios tanto para salvar sua vida quanto o de outras pessoas que sofrem. Jared Leto também "mata a pau" e constrói com delicadeza sua personagem. O que surpreende na trama é que ele não se deixa cair no dramalhão e transforma-se em filme denúncia sem pudor de apontar o dedo aos orgãos de controle da saúde americana como os grandes vilões da trama.
Inside Llewyn Davis
(dir: Joel e Ethan Coen)
Histórias de perdedores sempre me cativam, já que apesar da sociedade vender que todo mundo pode vencer, o mundo real nos mostra que existe uma chance muito grande de que nossos sonhos não se realizem. A trama mostra Llewyn Davis (o ótimo Oscar Isaac) um cantor folk dos anos 60 com algum talento mas que por mais que tente, não consegue sair de uma zona de desagrado, não conquistando nada do que sonha. As participações especiais são ótimas (destaque para John Goodman), as canções ótimas, e os irmãos Coen constroem uma atmosfera sempre escura e gélida que nos impele a ter pena do protagonista.
Amantes Eternos
(dir: Jim Jarmusch)
Talvez o melhor filme de vampiros da década, o romance indie/rockeiro de Jim Jarmusch tem a melhor interpretação de Tom Hiddleston em muito tempo e uma Tilda Swinton que flutua na tela. Uma trama aparentemente simples, que fala do ciúme que duas criaturas imortais sentem um do outro e que transborda em uma excelente trama de suspense e com final bastante lírico.
Uma Aventura LEGO
(dir: Phil Lord, Christopher Miller)
Uma ideia caça níqueis que se transformou na animação mais divertida do ano . De sua canção tema irônica, aos protagonistas engraçados, ao acréscimo de personagens de diversas franquias já transformadas em bonequinhos LEGO e um plot twist final que é bastante ousado, emocionante e que surpreende o espectador. A dupla Lord e Miller conseguiu no mesmo ano lançar um dos melhores e um dos piores filmes do ano. Bipolaridade cinematográfica explícita.
O Grande Hotel Budapeste
(dir: Wes Anderson)
Wes Anderson está de volta com um dos trabalhos mais incríveis de sua carreira. Com todas as características que fizeram do seu cinema um dos mais criativos e amados por uma parcela do público, a trama do hotel - contada em flashback - é deliciosa, muito bem amarrada, com um humor ácido e por vezes cruel, mas com personagens maravilhosos. Ralph Fiennes engraçadíssimo, F. Murray Abraham - um dos meus atores favoritos - em um papel digno de sua capacidade, além de um excelente elenco que inclui Jude Law, Matthieu Almaric, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Edward Norton, Saorsie Ronan, Bill Murray entre muitos outros.
(dir: James Gunn)
O mais divertido dos filmes da Marvel, com uma seleção de tipos peculiares que divertem o público por sua falta de pretensão, excelente uso de trilha sonora, humor constante e um visual que mistura o melhor de Star Wars com obras de fantasia. Groot e Rocket Rackoon já entraram para a lista dos melhores personagens do cinema recente, e Chris Pratt foi revelado ao mundo como um sujeito capaz de segurar uma franquia. O mais diferente dos filmes de heróis do ano e o melhor deles todos.
Godzilla
(dir: Gareth Edwards)
Um dos mais polêmicos da lista, principalmente devido as opções de seu diretor em abordar o mítico monstro japonês de forma mais crível e desenvolver uma trama familiar para fazer o filme fluir. Gosto muito das escolhas visuais do filme, da ideia de não apresentar o monstro de uma vez (muito parecido com que o Gareth Edwards havia filme em seu filme de estreia "Monsters") e de deixar de lado a gratuidade de confrontos entre monstros para falar a respeito dos impactos que um monstro gigante tem nas cidades atingidas, preferindo mostrar os destroços e o rastro de destruição do que sequências, que poderiam ficar ridículas de um gigantesco lagarto quebrando prédios. Quando utiliza esse expediente, tudo é com bom gosto. Acho a seleção do elenco acertada, mesmo entendendo os problemas das pessoas com o drama familiar que é bastante comum e já foi apresentado em muitos outros filmes.
The Rover: A Caçada
(dir: David Michôd)
Uma das produções mais interessantes do ano, mostra um futuro distópico e pós-apocalíptico, onde um homem (Guy Pearce) parte em busca de seu carro roubado por um grupo de criminosos pé rapados. A atmosfera desoladora, sempre suja, abafada e que nos parece dizer que estão todos condenados a miséria eterna é bastante crível. A fauna e os personagens exóticos, bizarros ou simplesmente incompreensíveis é extensa. Destaque para a excelente composição que Robert Pattinson faz para seu personagem, um homem que não cresceu, que parece sofrer de algum problema mental e que mistura rompantes de violência com atitude singelas e doces. The Rover ainda tem um dos finais mais inteligentes e amargos do cinema recente e que leva a uma reflexão sobre o verdadeiro estado de coisas desse mundo perdido.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
(dir: Francis Lawrence)
A serie Jogos Vorazes é um enorme sucesso de público e seus filmes vem melhorando em qualidade, intensidade e discussões propostas. Que pese que a discussão não se pretende a ser profunda, ela ainda assim está lá presente em meio a um thriller tenso com bons personagens novos (destaque para a presidente vivida por Julianne Moor, uma participação ainda mais soturna de Donald Sutherland e Jennifer Lawrence cada vez mais a vontade no papel. Perdeu - pra mim - por muito pouco para "Guardiões da Galáxia" como o blockbuster numero 1 do ano.
O Abutre
(dir: Dan Gilroy)
Que pedrada na cara! Esse primo bastardo e mais sujo de "Rede de Intrigas" (um dos meus filmes favoritos) é um dos melhores filmes do ano com muitas sobras. Acompanhar o obsessivo e doentio personagem de Jake Gyllenhaal pelas noites alaranjadas e mortíferas de Los Angeles é entrar em um mundo onde os escrúpulos e a moralidade foram deixados de lado. Uma visão muito crível de um possível futuro de nossa sociedade cada vez mais apaixonada pelos extremos e que busca romper os limites sempre que pode.
O Congresso Futurista
(dir: Ari Folman)
Que ideia absolutamente criativa e com resultado ao mesmo tempo crítico e lírico. A produção do israelense Ari Folman aponta suas armas para a substiuição dos atores quando a idade chega e não se furta a dizer ao mundo que esse é um processo em franco desenvolvimento. A mistura de película com animação funciona muito bem, e os traços animados que misturam Osamu Tezuka com Chuck Jones e Ralph Bakshi é perfeita para a trama a ser contada. O lirismo de sua meia hora final é uma excelente forma de explicar o conceito de eternidade sem apelar para feng shui, sol e estrelas ou a formação dos planetas. A melhor ficção científica do ano.
Era uma vez em Nova Iorque
(dir: James Gray)
Apesar do título óbvio, a trama de "A Imigrante" (tradução literal do título original) é tudo menos óbvia. Apesar de começar parecendo um dramalhão sobre as dificuldades da imigração (que existem até hoje), é um dos grandes filmes sobre perdão que o cinema recente produziu. Brilhantemente fotografado, fazendo de Nova Iorque uma cidade sombria, cinzenta e ainda mais dura de se viver, a história da imigrante Ewa (Marion Cotillard) e sua luta incessante para ajudar sua irmã doente é verdadeiramente emocionante. A obsessão do personagem de Joaquin Phoenix é palpável e sua interpretação merece uma indicação a todos os prêmios possíveis. Com momentos que lembram "Terceiro Homem" (a perseguição pelo esgoto), e algumas das imagens mais belas que vimos no cinema esse ano, é um daqueles filmes para se ver e rever sempre.
★★★★★
Até o Fim
(dir: J.C. Chandor)
Até agora, não sei o que me fez gostar tanto de Até o Fim. A trama, óbvia de sobrevivência, já foi apresentada antes e os desafios mostrados idem. Porém, é a fragilidade de Robert Redford que me cativa. Um homem que luta por sua vida sem apelar para a gritaria, o desespero ou que desiste e apela aos céus. A vida lhe preparou para enfrentar esse desafio e ele o encara de forma adulta. Perfeita na construção da tensão e maravilhosamente interpretado é um dos melhores contos sobre crescimento e sobrevivência que o cinema fez.
O Lobo de Wall Street
(dir: Martin Scorsese)
O meu filme favorito do ano é uma coleção de insanidades propostas por Martin Scorsese. Uma comédia ácida sobre os excessos. Excessos de dinheiro, burrice, ingenuidade, violência, drogas, sexo entre outros. Nesse primo elegante de "Bons Companheiros" é incrível perceber o quão a vontade Scorsese parece transitar por temas tão perigosos sem, no entanto, resvalar para a solução fácil. Sem se importar com o que os outros vão pensar, ou sobre acusações de apologia ao crime, o diretor conta a história do homem que usava tudo e todos para conseguir mais e mais poder. Como um lobo , criou uma matilha de parceiros subservientes que respondiam ao chamado do macho alfa. Scorsese tira sarro desse excesso, aponta a câmera para a gente e parece dizer: "acho que você está se divertindo, não é?" E não se prende a essa indagação, pois depois de nos divertir com seu humor que beira o doentio, aponta novamente a câmera e nos diz: "mas veja quão babaca você é?". "Lobo de Wall Street" é Scorsese tirando sarro da expectativa do público e dizendo que no fundo, todo mundo quer vencer.
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