quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Frankenweenie


Frankenweenie
(Frankenweenie, 2012)
Comédia - 87 min.

Direção: Tim Burton
Roteiro: Leonard Ripps

com as vozes de: Catherine O'Hara, Martin Short, Martin Landau, Winona Ryder, Charlie Tahan

Vai parecer reprise do que escrevi sobre Sombras da Noite (leia aqui), mas, Tim Burton está aposentado e ainda não o avisaram. Só esse tipo de afirmação rude é capaz de explicar a visível queda de qualidade de seus trabalhos na última década. Não vou me repetir, apenas afirmar - de novo - que o diretor precisa urgentemente de uma reciclagem e de terapia.

Reciclagem porque ele repete pela quadragésima oitava vez (número inventado ok crianças?) os mesmíssimos maneirismos técnicos de suas produções. Está lá a trilha óbvia e reaproveitada de Danny Elfman, personagens de animação primos/irmãos dos de Noiva Cadáver e Estranho Mundo de Jack, temas sobre o terror clássico, homenagens mil a Bela Lugosi, Vincent Price, Christopher Lee e afins e o pior, usar o mesmo plot de um curta para fazer um longa, sem, no entanto se preocupar em dar estofo aquela historia pueril e já derivativa.

Já a terapia passa pelo fato da obsessão de Burton com os mesmíssimos temas por toda a sua vida, me parecendo um garoto grande que não consegue crescer. Vemos Tim Burton "brincar de macabro" desde os anos 80 e por mais honesto que isso seja não existe uma grande evolução nestes trinta anos. Ele continua colocando seus personagens nos mesmos ambientes, com climas praticamente idênticos, visualmente bonitos, mas que depois de tantas produções similares parecem profundamente repetitivo.


Frankenweenie é a transposição do primeiro curta metragem de Tim Burton para o cinemão. Nele o garoto Victor Frankenstein (somos tão literais na nossa homenagem que nem mudaremos o nome do protagonista) é solitário e vive em uma pequena comunidade chamada New Holland. Seu único amigo é seu cachorro Sparky, um vira-lata esquisito e bastante inteligente. Em sua classe, Victor convive com variações - novamente - nada sutis de tipos clássicos do cinema de horror, como o corcunda, o "cientista" oriental maluco, o dândi afetado de sotaque britânico, a garota que vê coisas, o gorducho e sua vizinha que é "parente" da personagem de Winona Ryder em Beetlejuice (e vejam só, curiosamente dublada pela mesma Winona).

A trama realmente tem início quando, depois de seu cãozinho ser tragicamente atropelado, e inspirado por seu professor de ciência (que trás - redundância eu sei - mais uma homenagem nada discreta ao mundo do terror clássico, com Martin Landau reprisando sua imitação de Bela Lugosi de Ed Wood tendo o visual de Vincent Price) resolve ressuscitar seu cãozinho como o sujeito que lhe dá sobrenome um dia o fez no romance clássico de Mary Shelley.

O problema do filme é o mesmo de 99% dos filmes de Burton. Ele tem uma ótima premissa que se perde absurdamente durante a projeção porque o diretor não sabe desenvolver satisfatoriamente uma narrativa. O plot de Frankenweenie funciona que é uma beleza em um curta metragem, mas em um longa é tedioso e se arrasta sem nenhuma emoção por toda a trama. Exemplos: vejamos os pais de Victor. O Senhor Frankenstein é um sujeito amigo e companheiro e sua mãe é uma dona de casa dos anos 50 em pleno século XXI, algo que Burton já mostrou no ótimo Edward Mãos de Tesoura. Depois de ressuscitar seu cão, Victor fica profundamente tenso para esconder seu "projeto" dos pais, o que dá a entender que a reação dos progenitores seria no mínimo (e realisticamente) apavorante. Sem soltar muitos spoilers, não é isso que acontece e Burton não consegue desenvolver aqueles personagens.


A relação de amizade entre o cão e o garoto fica em segundo plano, em detrimento de coadjuvantes genéricos e mais uma dezena de homenagens e maneirismos já vistos antes. Apelando até mesmo para a piada do monstro nas sombras que se revela uma criatura nada ameaçadora, Frankenweenie padece de uma profunda falta de alma, tal qual um morto-vivo.

Tecnicamente, é difícil dizer que o filme é ruim, mas em meio a tantas coisas já vistas, é um trabalho inferior, tanto na criação de personagens (apenas a Garota Estranha - aquela que tem um gatinho - é uma coisa nova e assustadora), quanto nos cenários que dá até para dizer que são pobres. A ideia de filmar tudo em preto e branco é interessante, mas infelizmente isso só sacramenta ainda mais a sensação de estarmos vendo uma versão genérica e cheia de sacarose das historias clássicas de horror.

Outro problema - e aqui vou tentar não dar nenhum spoiler - é sua mensagem, que é assustadora em termos psicológicos. Em vez de apostar no - tudo na vida tem seu ciclo - Burton aposta no - tudo que você quiser vai conseguir até mesmo vencer a morte. Posso parecer reacionário e até chato, mas percebam se não é essa sensação incomoda que o filme transmite. Como disse, Burton precisa de um terapeuta que o faça ir em frente, como seu protagonista que para mim é o melhor dos avatares do diretor.


Nesse amalgama de sua carreira, Victor Frankenstein (do desenho) é a representação dos desejos de seu criador, tal qual no romance de Mary Shelley. Como a Criatura do romance clássico, Victor procura o amor e a amizade, enquanto Burton - me parece - querer apenas receber um cheque gordo e agradar os "burtonettes".

Frankenweenie é uma quase tragédia. Só não é pior, porque o elenco de vozes é muito bom. Martin Short e Catherine O'Hara fazem seis personagens ao todo e claramente se divertem com aquilo tudo. Burton, espero, reuniu toda sua coleção de homenagens e referencias nesse filme e expurgou tudo o que ainda tinha a dizer sobre o tema. Espero voltar a ver a originalidade que um dia fez com que Burton virasse até um adjetivo, que hoje parece muito mais pejorativo do que era no passado.

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