sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O Ataque

O Ataque
(White House Down, 2013)
Ação/Drama - 131 min.

Direção: Roland Emmerich
Roteiro: James Vanderbilt

com: Channing Tatum, Jamie Foxx, James Woods, Maggie Gylenhaal, Richard Jenkins

Roland Emmerich está de volta ao mundo maravilhoso das explosões, tiroteios, efeitos visuais pirados e falta de verossimilhança. Igualzinho ao que fazia no final dos anos 90 e início dos 2000, uma época mais ingênua onde tudo que viesse embalado por vermelho, azul e branco era saudado como a verdade absoluta. Emmerich parece ter parado um pouco no tempo na forma com que conta sua história (pra variar) absurda sobre a tomada da Casa Branca por um grupo de terroristas.

Por outro lado, Emmerich ao menos cria uma motivação atual e bastante pertinente para o ataque à sede do governo americano. O Obama genérico, o presidente Sawyer (Jamie Foxx) decide retirar os soldados americanos do Oriente Médio e negociar de vez um acordo de paz. Essa atitude não agrada a todos, especialmente aos empresários do ramo armamenticio. O roteiro de James Vanderbilt é ácido ao - por diversas vezes - apontar essas empresas como as verdadeiras "donas" do país. Discurso até ousado, mas que não é incomum em produções de Emmerich. Afinal, quem não se lembra das cenas dos americanos cruzando o Rio Grande em busca de refúgio no México em O Dia Depois de Amanhã? Por mais ufanista que pareça, Emmerich vez ou outra cutuca a política americana.

Outro uso moderno na produção é a do YouTube como ferramenta de identificação dos terroristas. Sem entrar em muitos detalhes, em determinado momento da trama um dos personagens filma com seu celular os terroristas e isso acaba ganhando importância no reconhecimento dos mesmos.



Porém, apesar de boas intenções e até alguns questionamentos válidos como premissa, O Ataque sofre com personagens frágeis e uma trama rocambolesca que pouco diverte. O plot básico além da invasão terrorista coloca o "John McClaine" bombado de Channing Tatum como um segurança particular do chefe da câmara dos deputados que está no lugar errado, na hora errada. Horas antes o sujeito estava tentando conseguir uma vaga como oficial do serviço secreto na Casa Branca, e pra piorar, tinha sua filha como acompanhante quando o ataque acontece. Tatum ao menos não vacila no que dele é exigido e convence como herói de ação, embora a cada tentativa de fazer graça (o que funcionou muito bem em Anjos da Lei) o ator não consiga sucesso. Foxx parece perdido na construção do personagem, que nunca convence como o líder de um país. Auxiliado por um roteiro que entrega frases como "eu sou o líder do mundo livre" (que clama por aplausos dos rednecks na platéia), o ator é outro que escorrega ao tentar achar humor na trama. As diversas observações sobre a dificuldade dos mais velhos lidarem com tecnologia (e chamarem um vlog de blog de vídeo, o que em teoria é a mesma coisa) e a piadinha canalha sobre os tênis presidenciais não garantem muito sucesso. Foxx ainda protagoniza um vergonhoso ataque munido de... uma caneta (para legitimar o discurso de que a caneta é mais forte que a espada, entenderam?).

Entre os coadjuvantes, um sumido James Woods passa vergonha com um personagem descontrolado, traumatizado e que mergulha na caricatura, assim como toda a trupe dos terroristas, que incluem o líder carismático, o segundo em comando e que questiona as ordens, o pirado e o hacker que precisa ser "diferente", tudo o que segue a risca o manual do filme de ação nos anos noventa. "Ação anos 90" que também está presente nas muitas sequências de ação, que incluem tanques explodindo coisas, limusines a prova de bala, helicópteros e aviões de caça sobrevoando a Casa Branca e uma quantidade enorme de tiroteios e afins.

O problema não está no exagero desse tipo de produção (que, não sejamos ingênuos, sempre fez parte do mundo dos filmes de ação hollywoodianos) mas na forma séria com que é apresentado ao público. Emmerich opta por tentar criar algum realismo na trama e ao não acertar com as cenas de humor (o que conseguiu em Independence Day, por exemplo) deixa a responsabilidade nos ombros de personagens sem nenhuma profundidade e situações absurdamente exageradas e que beiram a vergonha alheia (que incluem o já citado ataque da caneta e o uso da bandeira presidencial para alertar um ataque militar entre outros momentos).



O Ataque é um filme datado de nascimento. Parece ter sido achado numa gaveta, perdido em meio a outros roteiros descartados por quaisquer motivos. Alguém achou o texto, atualizou as motivações, inseriu alguma coisa mais tecnológica na mistura e entregou pro Emmerich dirigir. Falta à urgência dos filmes de ação modernos, falta o humor ácido das produções que não se levam a sério e uma trama que não apele para crianças perdidas, presidente herói e vilões vingativos. Já vimos isso antes há umas duas décadas... e melhor.


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