sábado, 10 de abril de 2010

Meu Amigo Harvey
(Harvey, 1950)
Comédia/Fantasia - 104 min.

Direção: Henry Koster
Roteiro: Mary Chase e Oscar Brodney

Com: James Stewart, Josephine Hull, Peggy Dow, Charles Drake, Cecil Kellaway, Victoria Horne, Jesse White e William H. Lynn

Imagine-se entrar numa casa e dar de cara com um homem na faixa de uns quarenta e poucos anos, bem vestido, simpático e falante, que insiste em lhe apresentar seu “grande amigo Harvey”. E você espera pacientemente, imaginando quem será o “famoso” Harvey. O homem então se vira para o nada e diz: “Esse é Harvey, meu amigo”.

Segundo o homem, Harvey é um coelho de 1,91, branco e que tem uma voz profunda e grave. Segundo você, Harvey é o nada e aquele homem precisa urgentemente de tratamentos médicos.

Esse exercício de imaginação que fiz acima, é o mesmo que enfrentam vários personagens no longa metragem Meu Amigo Harvey, estrelando James Stewart como Elwood P.Dowd, o tal “maluco” que vê coelhos gigantes.


Elwood é um homem excessivamente feliz com sua vida, que vive com sua irmã Veta (Josephine Hull) e sobrinha Myrtle Mae (Victoria Horne). As duas vivem com vergonha das situações bizarras e do desconforto por viverem com alguém que crê ser amigo de um ser imaginário.

Após a apresentação dos personagens, que o diretor Henry Koster faz com bom humor e segurança, descobrimos o “segredo” de Elwood e o plano desesperado de sua bem intencionada irmã: ela quer que o irmão seja tratado num sanatório. As desventuras causadas por esse evento serão as responsáveis pelo restante do filme.


A primeira parte é bastante divertida e leve, com alguns elementos típicos das comédias americanas dos primeiros anos do cinema. Confusões, entra e sai de personagens, gente que interrompe o outro impedindo uma revelação que encerrará de vez algum problema, personagens carismáticos e interpretações seguras e competentes.

O mais interessante do filme, e que o afasta da sucessão de gags e situações embaraçosas que poderiam envolver o tal coelho invisível, é que de fato o bicho nunca é sequer vislumbrado, nem mesmo sua sombra ou algo do tipo. As únicas referências a ele são, um quadro pintado de Elwood com Harvey e um chapéu furado no topo de onde, imagina-se, saíssem duas orelhas.


Outro ponto que reforça a competência atemporal de Meu Amigo Harvey, é a tremenda credibilidade e naturalidade com que James Stewart (que segundo Hitchcock era usado em seus filmes pois era “um ator que dava mais emoção aos filmes”) consegue, mesmo vivendo um personagem que em outras mãos poderia parecer ridículo, nos comover e emanar uma sinceridade que coloca essa interpretação entre suas mais impressionantes. No fim da projeção queremos mesmo é que deixem ele em paz, com seu coelho, ou o que é que seja o amigo invisível do personagem.

Meu Amigo Harvey é um grande exemplo de como abordar uma situação fantasiosa e ainda sim deixá-la crível e mais do que tudo, divertida. Notem que Stewart está sempre acompanhado de alguém em todas as suas cenas, o que “casa” perfeitamente com a personagem (descrita como o bom vivant e caloroso, cheio de amigos) e que reforça a condição de que Harvey é o “amigo imaginário” de Stewart, pois mais ninguém consegue vê-lo.


O filme ainda indicou (e premiou) a atriz Josephine Hull como melhor atriz coadjuvante, por seu personagem histriônico, exagerado e engraçado, mas sentimental e de bom coração. Bela interpretação, mas o filme é todo Stewart e do vazio ao seu lado.

Um vazio de 1,91, branco, de gravata que atende pelo nome de Harvey.

Obs: o filme é referenciado diretamente em Donnie Darko, onde o personagem principal enxerga um coelho gigante, e em Campo dos Sonhos, onde o personagem de Costner é comparado ao de Stewart, pois ambos vêem coisas que os demais não vêem. Em Campo dos Sonhos inclusive, existe uma cena em que a filha do ator está justamente vendo o filme na televisão.



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