quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Fantástico Sr. Raposo
(Fantastic Mr. Fox, 2009)
Aventura/Comédia - 87 min.

Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson e Noah Baumbach

Com as vozes de: George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Bill Murray, Willem Dafoe, Michael Gambon

Demorei um certo tempo para conseguir ver essa animação aclamada por boa parte da crítica como um dos melhores exemplos da animação adulta feita nos Estados Unidos. E definitivamente demorei mesmo, pois O Fantástico Senhor Raposo é um encanto como narrativa e como técnica de animação.

Encantamento pela história (bem simples) tão bem contada e amarrada e leveza pois a condução do filme é de uma fluência muito incomum mesmo em filmes em live action. As peças estão bem encaixadas e ouso dizer que o diretor Wes Anderson igualou aqui seu melhor trabalho: Os Excêntricos Tenembauns.

Como no filme citado, a história gira em torno do patriarca de uma família e tem um grupo de coadjuvantes exóticos e interessantes. Diferente de Tenenmbauns (afora o fato de ser uma animação) o personagem do Sr. Raposo é mais cínico, mas gentil, mais charmoso e é no frigir dos ovos, o herói mesmo, cheio de defeitos e com uma certa dose de arrogância.


A história gira em torno dessa raposa (voz no original de George Clooney, interpretando ele mesmo digamos assim) comum e que age como tal, ou seja, se mantém a base de uma dieta de galinhas e outros pequenos animais que caça nas cercanias de sua toca. Um dia, quando estava acompanhado de sua companheira (A Sra. Raposo, voz da sempre competente Meryl Streep) quase é preso, e então ao ouvir de sua companheira que será “papai”, decide mudar de vida e abandona a vida “bandida”.

Anos depois, Raposo é um colunista de um jornal, vive com sua companheira e seu filho Ash (Jason Schwartzman) numa confortável, porém modesta toca. Raposo vê um anuncio no jornal e decide se mudar para uma vistosa árvore a venda. A partir da instalação da família, digamos que o “animal selvagem” mantido em cativeiro é homeopaticamente solto, o que causa toda uma pequena revolução na vida de sua família, de sua comunidade animal e dos humanos que vivem ao seu redor.


Como disse, a história (baseada em livro, que não li, de Roald Dahl, o mesmo de Fantástica Fábrica de Chocolate) é bastante simples, mas Anderson faz de um filme de animação, mais um de seus filmes indies que são adorados por uma parcela considerável do público. Até aqueles que torcem o nariz para Anderson (em especial depois de Vida Marinha de Steve Zissou e Darjelliing), vão se surpreender com a qualidade do trabalho apresentado.

É óbvio que o Sr. Raposo e todos os outros animais, são simulacros de nós mesmos. Usam roupas, tem profissões e problemas típicos de humanos. O filho de Raposo, Ash, gostaria de ser como o pai, um atleta famoso na escola e ser aceito e admirado pelo pai. Raposo quer sua liberdade de volta, quer voltar a ser simplesmente um bicho, um animal. No fundo Anderson, e obviamente Dahl, usam dos animais para tratarem de temas bem humanos.


O filme que tende a ser visto em seu início como um filme indie de animação pode incomodar alguns com a falta de tridimensionalidade e maniqueísmo de boa parte dos personagens. Agem como humanos, mas falta conflito, em outras palavras.

Mas esse “mal estar” passou durante a projeção, em especial quando a impressão do filme tratar de uma análise mais profunda de problemas humanos, pelo viés da alegoria é encerrada, e caímos no campo da aventura inteligente. Apesar de um elenco incrível de vozes (Bill Murray, Michael Gambon, Owen Wilson e Willem Dafoe) o filme é uma fábula, no melhor estilo “Aventuras no Bosque dos Vinténs” (que tem mais de 20 e poucos com certeza lembra dessa série de animação que fez um certo sucesso na Tv Cultura, e que basicamente trata de animais com trejeitos humanos que vivem em comunidade).


A partir da metade do filme, quando Raposo põem em ação seu plano mirabolante, já estamos embarcados na história de Anderson e sua magia. Magia sim, pois deve ter sido muito complicado ter realizado certas sequencias do filme e criar os bonecos de forma tão foto-realista. Como é de praxe em produções de stop-motion, o realismo do cenário e dos personagens principais (os animais, é claro) não é repetido nos personagens humanos, apesar de nesse filme em especial, eles estarem mais próximos do real.

A parte técnica mereceria todo um texto separado, apenas para analisarmos por exemplo, a fotografia meio envelhecida, meio amarelada (quase que emulando um tom de fim de primavera, ou de campo inglês) é muito bonita. Cheia de referencias visuais ao impressionismo e aos próprios filme live-action de Anderson que sempre são tecnicamente impecáveis. O uso de grafismos é o único ponto que me incomodou, dando a idéia de episódios fechados na vida dos personagens. Mas é um detalhe, e uma certa implicância minha, que não sou fã do uso desses elementos.


Alexandre Desplat consegue aqui, pra mim, seu maior triunfo em sua carreira. A trilha é fabulosa, e facilmente uma das melhores de 2009. Mistura a tradição indie dos filmes de Anderson, com toques de spaghetti western, filmes de ação setentistas e ainda conta com a bela escolha de canções ( Beach Boys, Rolling Stones e Burt Ives).

Muita coragem e uma ligeira “insanidade” de Anderson em apostar numa animação Cult, feita para adultos, mas que não vejo crianças inteligentes não gostando. Definitivamente tem alguém por ai que anda menosprezando a capacidade das crianças.

Cheio de ação, uma ligeira dose de comédia seca e ácida, um ligeiro toque de humor negro, romance e até tendo mensagens (uma hora na vida todos temos que sossegar é uma delas, a outra é aceitar o que se é), O Fantástico Sr. Raposo não sofre do mal do hype. Realmente cumpre a expectativa (alta) que tinha, e se não foi o melhor filme de animação de 2009 (Mary e Max é bem superior), é bem melhor do que a grande maioria do que apareceu nas telas e dvd’s ano passado.



Um comentário:

  1. Eu também comentei Sr. Raposo por esses dias no meu blog. Fiquei encantado! O cineasta Wes Anderson deveria enveredar mais pelo terreno da animação (ele leva jeito para o gênero). É engraçado, bem tramado e as vozes muito bem escolhidas.

    Cultura? O lugar é aqui:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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