Francis Ford Coppola
Uma das coisas que mais me atrai em cinema é a visão pessoal dos diretores (isso para os que são realmente diretores de cinema e não meros fabricantes de blockbusters, como tenho visto com mais frequência nos últimos anos). E isso Francis Ford Coppola sempre teve, desde sua estreia cinematográfica em 1963 dirigindo o curta Dementia 13, uma obra simples e aterradora, bem ao estilo dos grandes realizadores hollywoodianos que, concomitantemente, viram sucesso na terra das oportunidades. Ele sempre foi o homem dos projetos audaciosos e grandiosos e, mesmo que muitas vezes tenha esbarrado nos limites impostos pelo regime castrador das produtoras, tendo de abortar muitos de seus projetos mais queridos, ainda assim ele imprimiu uma marca única na história do cinema. E não à toa fez de sua obra-prima em duas partes uma lenda na premiação do Oscar.
Francis Ford Coppola nasceu em 7 de abril de 1939. O filho de Carmine Coppola, músico e compositor, não teve vida fácil desde pequeno (aos 9 anos de idade teve poliomielite, o que quase arruinou sua vida e tirou do público o contato com um grande gênio das câmeras). Após uma formação universitária na UCLA, ganhou a vida no começo da carreira escrevendo roteiros e produzindo películas de baixo orçamento, algumas delas de cunho erótico, ao lado do parceiro e também diretor Roger Corman, até seu primeiro contato com a câmera na década de 1960. Porém, seu sucesso consagrador só ocorreria realmente em 1972, quando do lançamento de sua obra-prima O Poderoso Chefão, adaptação para as telas do romance do escritor Mario Puzo, que contava a saga da família Corleone e sua escalada rumo ao poder. Sucesso esse que se repetiria dois anos depois na continuação, que trazia a juventude do patriarca dessa família, Don Vito Corleone. Ambos os filmes foram consagrados com o Oscar de Melhor Filme (Coppola também ganharia o prêmio de melhor diretor e roteiro pela segunda parte da saga e o de roteiro original pelo filme Patton: rebelde ou herói).
À parte o megasucesso da obra-prima gângster, o diretor sairia-se melhor produzindo para outros cineastas, dentre eles alguns velhos parceiros do tempo de faculdade, como foram as produções THX 1138 e American Graffiti (de George Lucas), Kagemusha (de Akira Kurosawa) e A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (de Tim Burton). Contudo, ainda teve fôlego - resguardados alguns problemas de produção, ego dos artistas e falta de apoio de algumas distribuidoras - para realizar o fantástico filme de espionagem A Conversação (com Gene Hackman na pele de um araponga que acaba caindo numa grave crise de consciência) e arrebatar plateias em 1979 com seu majestoso épico de guerra Apocalipse Now, baseado na clássica obra literária de Joseph Conrad, e vencedora da Palma de Ouro em Cannes. Um produção, entretanto, que foi pautada por todos os tipos de excessos, como o enfarte de Martin Sheen durante as filmagens e a decisão de dirigir Marlon Brando em planos fechados e escuros para ocultar sua obesidade mórbida que já dava sinais mais do que evidentes.
No mais, Coppola oscilou entre retratos da rebeldia e da juventude perdida (como O Selvagem da Motocicleta, Jovens sem Rumo e Peggy Sue: seu passado a espera, onde trabalhou com seu sobrinho Nicolas Cage em início de carreira), a paixão por automóveis (Tucker: um homem e seu sonho), musicais mal sucedidos (o interessante Cotton Club, com majestosa performance do dançarino Gregory Hines, e o até hoje incompreendido Do Fundo do Coração, com Raul Julia e Nastassja Kinski) e uma parceria inusitada com o astro pop Michael Jackson (Capitain EO), até hoje considerada uma das produções mais caras de todos os tempos, feita para um dos parques da Disney. O sucesso de fato só bateria às portas novamente com o clássico de terror Drácula de Bram Stoker, por muitos críticos considerado o seu último filme autoral. Em 2000 ausenta-se do cenário cinematográfico para cultivar em seus vinhedos, hoje sua maior paixão.
Provavelmente os maiores interesses de Coppola na indústria do cinema atualmente sejam a filha prodígio Sofia Coppola, que vem se especializando em dramas humanos - como Encontros e Desencontros e As Virgens Suicidas - e na produtora American Zoetrope onde atualmente está envolvido na produção do filme On the Road, obra máxima da Beat Generation de autoria do escritor Jack Kerouac, a ser dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Seus últimos dois filmes (Youth without Youth e Tetro) passaram despercebidos pelo circuito e ele ainda arrisca uma nova produção, voltando ao gênero horror em Twixt now and Sunrise, que contará com Val Kilmer e Elle Fanning no elenco. Para os mais saudosistas pode parecer pouco (e realmente é, se levarmos em consideração a grandiosidade de seus melhores projetos), mas Coppola simplesmente não se incomoda mais com isso. De alguma forma ela sabe que seu tempo áureo já passou e a única coisa que deseja é sombra e vinho fresco. "O resto", sempre dizem os gigantes da sétima arte quando estão praticamente aposentados, "é pura nostalgia".
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