segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Jonah Hex
(Jonah Hex, 2010)
Ação/Drama - 81 min.

Direção: Jimmy Hayward
Roteiro: Mark Neveldine e Brian Taylor

Com: Josh Brolin, John Malkovich e Megan Fox



O termo "inassistivel" muitas vezes é empregado sem o devido respeito que a palavra merece. Em raros casos, essa palavra forte e aterradora para 10 entre 10 produções culturais, é usada sem necessidade, demonstrando uma falta de respeito com a gramática e com o espectador/leitor, que caso tenha a coragem de ir contra os conselhos do escriba de plantão, assiste a produção e sacramenta: "ei, isso não é tão ruim assim".


Tirando a óbvia falta de conhecimento e de capacidade de diferenciação de boa parte do público para o que pode ser considerado bom ou ruim (vide as bilheteria de certas bobagens inacreditáveis, enquanto outros filmes bastante interessantes são rejeitados), os críticos às vezes exageram em seu amor e ódio por determinada produção. Todos fazemos isso (eu, por exemplo, faço com alguma freqüência) e quando revemos o filme a empolgação diminui e o ódio pode ser aplacado também.


Porém, existem casos que nem mesmo a palavra "inassistivel" é suficiente para descrever a "experiência" vista numa tela. É o caso de Jonah Hex, baseado num dos personagens mais legais da DC Comics.



Só por isso, o vilipendio imperdoável de uma obra divertida, o filme e seus autores mereceriam chibatadas profundas. Mas nem mesmo como diversão escapista, ou passatempo bobo o filme funciona.


Jonah - o filme - conta uma história confusa de um rancheiro (imagino) que trai um de seus amigos e é marcado a fogo pelo pai deste, ao mesmo tempo em que vê - sem poder reagir - o massacre de sua mulher e filhos. Deixado para morrer, o "herói" é salvo por índios e adquire um estranho poder (nunca satisfatoriamente explicado) de se comunicar com os mortos.


A história gira em torno desse personagem e em sua vingança sobre o homem que matou sua família e deformou seu rosto. Num prólogo, feito em animação simplista, o público fica sabendo que o vilão morreu num incêndio, apenas para descobrirmos que na verdade ele não morrera (também não fica claro se ele voltou dos mortos ou simplesmente forjou a própria morte). Confuso para uma história que tem menos de 90 minutos de duração e que não define se é um western sobrenatural ou uma bobagem no estilo James West (lembram desse?).



Os primeiros minutos apontam para a primeira opção, com a escuridão fazendo parte da história e Jonah usando suas armas para destroçar (claro que sem sangue algum) inimigos. Porém, quando entra em cena o presidente dos Estados Unidos e um plano digno do pior que os quadrinhos podem oferecer, o filme consegue a proeza de fazermos sentir falta de Will Smith, Kevin Kline e do cofrinho de Salma Hayek na mal-fadada produção do detetive James West.


Jonah Hex é um filme mal humorado, apoiado por um elenco infeliz e que parecia notar a bobagem que se metera. Nem mesmo a alardeada aparição de Megan Fox como uma cortesã ajuda. A menina pode até ser bonita - embora a fotografia estourada ajude a dar um ar de "anjo das ruas" a atriz - mas é uma atriz medíocre, ou sendo condescendente, limitada.


John Malkovich, que vive o vilão do filme Quentin Turnbull, vem se especializando em misturar projetos inteligentes e válidos a sua carreira, com estupidez e mau gosto com produções como essa. Josh Brolin, o único com algo a provar em tela (não tendo a popularidade de Fox, ou o respeito adquirido em anos por Malkovich) faz o que pode com o fiapo de roteiro que tem em mãos.



Incrível o que Mark Neveldine e Brian Taylor conseguiram com seu roteiro. São 80 minutos em que por quase cinqüenta vemos uma espécie de prólogo - que faz o espectador esperar por uma conclusão de impacto - para resultar em uma "luta final" mal filmada, mal editada e bobamente terminada.


Falta o mínimo de preocupação em estabelecer motivações aos personagens. Por que o personagem de Malkovich bola um plano tão mirabolante? Raiva do mundo? Fanatismo? E porque Hex se torna tão próximo da personagem de Fox? Mesmo vivendo assombrado pelas memórias da mulher ele não se furta em "dar uns pegas" da garota de programa. Mas, se sua motivação apaixonada persiste, como entender sua paixão pela garota? Quanto tempo se passa entre os eventos mostrados no prólogo e na história do longa? Qual a natureza dos poderes de Hex? E onde entram os índios na história? Fizeram o "meio campo"? Ou podem infligir o poder nos outros?


Por mais fútil e infeliz que um filme seja, é inadmissível que ao fim de um longa que pretende ser simplista e esquecível como uma porção de pipoca, fiquemos com tantas dúvidas sobre a estrutura da narrativa. Longe de levantar perguntas, ou apresentar fatos para o espectador montar seu quebra cabeça em casa, Jonah Hex não sabe comunicar-se como uma narrativa cinematográfica.



É tolo, fútil e mal construído e principalmente mal conduzido pelo seu diretor, Jimmy Hawayrd, um egresso da animação (dirigiu Horton e o Mundo dos Quem) que parece não ter entendido que diferente da animação se você não consegue construir bons quadros ou extrair boas performances de seus atores - munidos é claro, de uma história frouxa - a pós-produção não salvará seu pescoço. Que sirva de aprendizado ao diretor, ao estúdio - que apostou num personagem desconhecido apostando na combinação western/terror/Fox para ganhar dinheiro - e ao público que nesse caso cumpriu o que dele se espera: não sacramentou com seus suados pagamentos essa bobagem sem graça chamada Jonah Hex.


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