sexta-feira, 6 de abril de 2012

Jovens Adultos

Jovens Adultos

(Young Adult, 2011)
Drama/Comédia - 94 min.

Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody

Com: Charlize Theron, Patton Oswalt, Patrick Wilson

Crescer é muito ruim. Abandonar a tranquilidade da infância e a falta de responsabilidade da adolescência, onde nossos únicos problemas são nossas notas e a garota (ou garoto) que queremos "pegar". Não sei como essa geração adolescente lida com isso (afinal tem gente que já aos 15 anos parece profundamente amargurada com a vida e fazendo força para "ser adulto" de forma até ridícula), mas sei que para mim, crescer foi uma coisa dolorosa. Adquirir responsabilidades é o que separa "os garotos dos homens", e saber que seu trabalho e suas atitudes podem sim modificar alguma coisa (para o bem ou para o mal) são exemplos desse novo status adquirido.

Jovens Adultos fala a muitos de nós diretamente, a outros como aviso do que virá e a maioria como uma lembrança do que passamos, claro que não na proporção quase apocalíptica que a personagem Mavis Gary (Charlize Theron) passa.

Mavis é uma mulher intragável. Profundamente mimada e arrogante, exemplifica claramente a adolescente que não cresceu, que vive uma vida mentirosa, que esconde sua incapacidade de encarar seus problemas por trás de uma fachada de "sou superior a humanidade". Somada a essa condição, a personagem enfrenta uma desventura em seu trabalho (espertamente o roteiro a coloca como ghost writer de uma famosa série de livros para "jovens adultos", ou adolescentes se você não for politicamente correto), quando vê seu castelo de cartas ruir, ao ser informada que a serie está sendo cancelada.


Para deixar sua vida ainda mais divertida, Mavis vem enfrentando a separação - complicada e dolorosa, como todas - do marido, e sobrevive de fast-food e uma dieta televisiva do pior que o meio de comunicação pode prover.

Quando ela recebe um e-mail com a foto do primeiro filho, do ex-namorado de colégio, tem um súbito ataque de arrogância e decide ir até a pequena cidade em que viveu boa parte da vida, e reconquistar o namorado, que hoje é um sujeito casado (e feliz).

Mas para Mavis isso não é nada, e em sua cabeça cheia de problemas, Buddy continua a amando loucamente e vive uma existência presa ao comodismo da cidade pequena e que basta um estalar de dedos para que ele perceba o quanto ela é superior a todos os outros habitantes da cidade (e do mundo talvez) e resolva partir com ela para a cidade grande.


O mais interessante do ótimo roteiro de Diablo Cody (ela mesma, vinda do desastre chamado Jennifer's Body, mas com o interessante Juno e um careca dourado no currículo) é que em momento algum somos tomados por alguma simpatia pela personagem de Charlize. Mavis é uma pessoa inconveniente, e o roteiro não faz questão alguma de mudar essa ideia, apenas elabora uma serie de "lições" para que a personagem vá percebendo - muito vagarosamente - que o melhor a se fazer é seguir em frente e não tentar encontrar respostas para o hoje no que passou. Por isso, se o espectador estiver esperando uma história edificante, sobre uma mulher que aprende que sua suposta superioridade frente aos demais não existe, melhor não assistir Jovens Adultos.

Os coadjuvantes estão muito bem. Patton Oswalt, um daqueles atores que você certamente já viu, mas que dificilmente lembra de seu nome, tem uma chance ótima de elaborar um personagem que foge do lugar comum de sua carreira. Patton é um comediante, e dizem (concordo) que são eles que têm maior capacidade de transitar com qualidade entre os gêneros cinematográficos. Mas - imagino que por puro preconceito - geralmente são deixados para brilhar em seus nichos, longe das possibilidades de personagens que possam fugir da persona criada pela mídia para os interpretes.

Por isso, é muito bom ver Oswalt vivendo Matt Freehauf, um homem marcado por uma tragédia que deixou sequelas físicas e - principalmente - mentais, e que assim com Charlize vive numa profunda amargura camuflada por hobbies exóticos. Matt faz whisky caseiro numa pequena destilaria em sua garagem e cria bonecos misturando diversas peças de outros, para criar algo novo, mais bonito e completo. A metáfora em relação a sua condição física é evidente.


Nada mais natural, então, que ambos criem um laço de amizade, já que ambos são reflexos de uma mesma coisa. Mavis parou no tempo, e ainda vive como se fosse a rainha do baile, admirando-se em todos os espelhos possíveis, tendo produzir-se cada vez mais para aparentar estar sempre tão bela quanto era aos 16 anos. É engraçado notar como a maquiagem de Charlize, apesar de todos os esforços da personagem, jamais parece verdadeiramente boa. A impressão é que a personagem nunca poderá esconder quem é, e as marcas que o tempo produziu. Jason Reitman - em mais uma direção segura, que proporciona aos atores o palco ideal para ótimas interpretações - mostra ao público que está (literalmente) na cara, que aquela mulher está fazendo um papel idiota tentando recriar uma situação que jamais acontecerá.

Matt é o homem que marcado pela infelicidade e refugiado em um mundo fantástico, vive cada dia sabendo exatamente os seus limites, sabendo onde pode pisar e como pode encontrar soluções para seus problemas. Mesmo assim, mantém a marca de que algo muito grande - e que não terá substituição - lhe foi arrancado.

Mavis vive presa ao passado de alegrias, e Matt vive preso ao presente, sem forças e nem vontade para repensar o passado de tristezas. Em um simples diálogo Matt, resume perfeitamente essa sintonia e simbiose entre as duas personagens. Quando Mavis diz que está no auge (entenda-se auge físico, menta e afins), ele rebate dizendo: "Você não está no auge, porque quando eu estava no meu auge - durante a adolescência, quando ambos se conheceram - você nem olhava para mim". Isso revela a autoimagem que Matt tem de si mesmo. Para ele é impossível conceber que uma mulher tão bonita pudesse querer qualquer tipo de amizade/envolvimento com alguém tão pequeno e inferior como ele.


Patrick Wilson vive o ex-namorado, um homem que cresceu. Que viveu sua vida intensamente durante a adolescência, mas soube o momento de guardar a jaqueta de estrela do futebol e criar uma família e encontrar algo para fazer de sua vida. E sua esposa Beth, é compreensiva e percebe o quanto Mavis é insegura e passa por problemas.

Na cena de catarse de Mavis, mantém-se tranquila, como se observasse a personagem de Charlize como uma criança que acaba de dar chilique porque não conseguiu comer o pedaço de bolo com a cereja em cima. Essa atitude é a que todos os personagens parecem ter com ela, menos a irmã de Matt, a insegura Sandra, que é responsável por encaixar a personagem de Charlize nos trilhos, lhe apontando a direção da estrada do hoje, ao mostrar que a pequena Mercury não é nada demais, e que como tudo na vida de todos nós, passa. Cabe a nós seguirmos em frente e relembrarmos aqueles momentos com uma saudosa nostalgia, mas sem traumas, mesmo que alguns deles ainda persistam em nos assombrar.

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