Truque de Mestre
(Now You See Me, 2013)
Thriller - 115 min.
Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt
com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Morgan Freeman, Michael Caine, Isla Fisher, Woody Harrelson, Melánie Laurent, Dave Franco
Ao término de Truque de Mestre minha
primeira sensação foi a de que tinha acabado de ver um dos mais competentes
elencos reunidos no cinema recente...a serviço de um dos piores roteiros da
atualidade. Na ânsia de acertar e criar uma "magia", Louis Leterrier e equipe
construiu uma historia óbvia que cai por terra por tentar ser tanta coisa e não
conseguir ser nada.
A trama até começa instigante com um grupo
de quatro mágicos de rua (Daniel Atlas/Jesse Eisenberg, um especialista em magia de cartas, Henley/Isla Fisher uma
especialista em fugas, Merritt/Woody Harrelson um "mentalista" e Jack/Dave Franco um sujeito que é
ágil com as mãos e bom com fechaduras) sendo convocados por meio de cartas de
tarô misteriosas para se encontrarem em um apartamento praticamente abandonado.
O filme dá um salto de um ano quando aquele grupo de mágicos está reunido em Las Vegas para
apresentarem-se pela primeira vez. Além dos quatro protagonistas somos
apresentados ao financiador daquele grupo Arthur Tressler/Michael Caine e a Thaddeus Bradley/Morgan Freeman
que ganha a vida como uma espécie de "Mr. M" sem máscara, desvendando
os segredos dos truques de mágica.
O show culmina com um truque em que um
sujeito da platéia é "transportado" para um banco francês e vê o
dinheiro do cofre do banco simplesmente sumir. A montagem é eficiente aqui e
cria tensão entre o homem vendo o dinheiro ser sugado e o pessoal do banco
chegando para mais um dia de trabalho. E a surpresa (e que cria uma falsa
esperança de vermos uma trama "arrumadinha” nos moldes de Onze Homens e um
Segredo por exemplo) é que de fato o dinheiro no banco francês havia sumido.
Como?
Entra em cena o personagem de Mark
Ruffalo, um agente do FBI que ao lado de uma bela enviada da Interpol tem a
missão de tentar entender o que de fato aconteceu. E a partir dai a historia
segue acompanhando os policiais tentando antecipar o que o grupo de mágicos
pretende, enquanto esses preparam mais dois shows, com objetivos ainda mais
chocantes.
A direção é do mediano Louis Leterrier que
parece ter feito um curso intensivo de "michaelbaysmo" já que adota
alguns cacoetes do mal fadado diretor de Transformers, abusando dos movimentos
de câmera frenéticos quando não existe a menor necessidade para isso e
ilustrando muitas sequências com uma irritante câmera que contorna os
personagens quando esses simplesmente conversam. Por outro lado, a montagem
tenta pisar no freio de tanta insanidade deixando a ação ao menos compreensiva.
Mas não é aí que o filme de fato escorrega
rumo a quase desgraça, mas na tentativa de ser muita coisa ao mesmo tempo. Além
de reunir um elenco de estrelas e não dar espaço para nenhum desses personagens
serem bem desenvolvido, busca criar toda uma historia de fundo com alguma
profundidade para racionalizar as ações dos mágicos. Essa escolha resulta em uma
trama mais furada que um queijo suíço, com a motivação de uma serie de
personagens não fazendo o menor sentido quando analisada com calma. Sem cair na
armadilha dos spoilers, essa é uma daquelas historias que tentam ser tão
espertas e enganar de forma tão inteligente o expectador que acabam se
complicando ao ponto de sua resolução não fazer muito sentido.
Esbarrando nas revelações da trama, os
mágicos parecem facilmente convencidos de seus papéis e não existe sequer um
conflito entre eles. Não existe uma dúvida em relação ao que deve ser feito, se
de fato vale a pena enquanto outros personagens, como o de Michael Caine são
absolutamente desperdiçados. Isso sem falar em Morgan Freeman em um
dos papéis mais desagradáveis de sua carreira, parecendo profundamente entediado
com sua função na história.
Outra bobagem que Truque de Mestre comete
é tirar o foco daquilo que verdadeiramente era interessante, os quatro mágicos
e deixar o público acompanhar tudo pelo viés do policial de Ruffalo e sua
parceira eventual a francesa Alma/Melánie Laurent. Ok, entendo a opção de deixar os planos do
grupo em suspense, e fazer do público refém das informações do policiais, mas
diante da resolução da trama, fica impossível não fazer questionamentos sobre a
infeliz (e constante) ideia de transformar tudo em um gigantesco plot twist.
Plot twist é sempre difícil de prever. A
chance de uma bobagem surgir dai é sempre muito grande, principalmente quando
não existem pistas para a resolução da trama encaixadas na historia. A cada
Sexto Sentido, existem duzentos Em Transe e Truque de Mestre. Truque ainda
tenta plantar uma pista sobre sua resolução, embora de forma difusa.
Trocando em miúdos, a resolução não agrada, pois parece ter sido pensada muito
mais como forma de surpreender o público do que como encerramento para a trama.
Valendo-se do choque pelo choque, o filme naufraga gloriosamente. Truque de
Mestre chega a enganar o espectador, com dois atos que nos mantém presos na
ação e ansiando para uma resolução para o que vemos em tela. Porém , quando
ela vem à decepção é inevitável.
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