quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ato de Coragem


Ato de Coragem
(Act of Valor, 2012)
Ação - 110 min.

Direção: Mike McCoy, Scott Waugh
Roteiro: Kurt Johnstad

Com: Alex Veadov, Jason Cottle

A influência dos games no cinema é nítida nesses primeiros anos do novo século. Se a "nona arte" era tratada com desprezo e recebia adaptações cinematográficas medonhas no final dos anos noventa, começou a ter maior atenção neste novo milênio. Não que a "obra prima" baseada em um game tenha surgido (pelo contrário, os filmes que adaptam games continuam fracos), mas a influência da forma de pensar de um jogo está cada vez mais presente no cinema e vice versa, já que hoje, além de faturar mais dinheiro que a indústria do cinema, os programadores conseguem criar experiências virtuais tão intensas e complexas como alguns dos melhores filmes de gênero do cinema. Não é um absurdo dizer, então, que numa seleção de maiores blockbusters criados nos Estados Unidos, mais da metade da lista deve ser preenchida por games e não por filmes.

Ato de Coragem bebe sem dó nessa tendência. Tendo sido influenciado diretamente pelos livros, filmes e games idealizados por Tom Clancy (que no cinema destacou-se escrevendo as aventuras do agente da CIA Jack Ryan, em filmes como Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos entre outros) é uma overdose de sequências de ação muitíssimo bem realizadas, tensas e que tem os dois pés fincados no mundo real.

Esse realismo está presente graças à ideia, até interessante, de escalar apenas militares americanos como os protagonistas do filme, o que garante seriedade naquilo que o filme tem de mais interessante: a ação. A direção é dividida entre Mike McCoy e Scott Waugh, ambos vindos do mundo dos dublês e roteirizado por Kurt Johnstad, uma das cabeças por trás do épico CG 300, de Zack Snyder.


McCoy e Waugh são seguros na forma de abordar as três grandes cenas de ação do filme, que se desenvolvem por vários minutos, como diferentes "missões" de um grande jogo de guerra. Se a primeira é passada em uma floresta, a segunda acontece no deserto e a terceira em uma cidade. Todas têm um inimigo poderoso a ser derrotado e para isso a equipe precisa agir em conjunto, tentando encontrar uma maneira estratégica de vencer o adversário. Interessante na forma e na abordagem, incluindo ai muitas cenas com câmera subjetiva o que deixa o filme com uma cara ainda mais próxima de um jogo do gênero.

Porém, se todo o visual e as sequências de ação funcionam, todo o restante é muito infeliz. Se os marines são bons no que fazem na vida real, são "atores" muito fracos, e em vez de apostarem em um enredo ainda mais ligado ao mundo virtual, Johnstad apela para uma tentativa infeliz de aprofundar aqueles personagens, incluindo gravidez, famílias, filhos e tudo que está no pacote do heroísmo ianque e que deixa ainda mais nítida a falta de capacidade de interpretação daqueles soldados.

Outro ponto irritante da produção é a criação dos antagonistas, que são, evidentemente, terroristas genéricos, muçulmanos e um contrabandista sem moral. Nada contra, já que o cinema de ação é pródigo em transformar os vilões de seus filmes em protótipos de personagens, mas quando você apresenta os vilões e dá a eles uma cena forte de tensão, que faz até o espectador pensar em estar vendo algum desenvolvimento por ai, espera-se que essa tendência seja mantida. É como oferecer uma colher de doce e recolher antes que a criança consiga comer.


Para piorar, o discurso político do filme é infeliz. Além de não criar nenhuma motivação para os atos de vilania do filme (eles simplesmente são criaturas detestáveis - por hobby talvez), ignora toda e qualquer referencia ao exagero americano em suas mil intervenções mundo afora, o que seria até esperado diante do protecionismo que a produção foi cercada, com militares atuando inclusive como protagonistas da historia.

O filme ainda tem problemas de ritmo - uma gelatinosa barriga - que faz o bom inicio e sua ótima sequência de ação numa floresta perder força diante de um plano terrorista que poderia fazer Jack Bauer (da serie 24 Horas), ou mesmo o já citado Jack Ryan, se remoer em seus túmulos fictícios.

Ato de Coragem é uma tentativa de contar o outro lado da historia, mostrar a visão dos marines diante de suas missões arriscadas, que os impedem de ficar com suas famílias e sua defesa do país (na cabeça deles). Tudo muito válido e interessante como percepção de um ponto de vista quase sempre ignorado - especialmente no cinema. Uma pena que isso tenha se tornado um exagero, com militares sem nenhum talento dramático atuando e uma historia que é melodramática em exagero. Se a produção começa como um jogo de X Box ou Playstation 3, cheio de gráficos geniais, ação e jogabilidade de primeira, aos poucos vai perdendo a graça e no fim percebemos que Ato de Coragem está mais para um jogo ruim do finado Playstation 1, do que um game da nova geração.



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