quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O Exercício do Poder


O Exercício do Poder
(L'exercice de l'État, 2011)
Drama - 115 min.

Direção: Pierre Schöller
Roteiro: Pierre Schöller

com: Olivier Gourmet, Michel Blanc, Zabou Breitman

A política é um meio devassado por todos. Diga-me o nome de dez políticos que confia, pergunto ao leitor? Se conseguir me dar dez nomes dignos de louvor nacional e sem nenhuma mancha em seus currículos, prometo que aplaudirei de pé a cada discurso de cada um dos citados. Repercutir uma produção que mostra o dia a dia de um político em um país como o Brasil é uma tarefa complicada, já que por mais corrupto e desagradável que o personagem na tela seja, sempre ficamos com a impressão de que na vida real, e nesse país, a situação é ainda mais asquerosa.

Dito isso, é louvável que uma produção como Exercício do Poder chegue aos cinemas brasileiros. Primeiro por se tratar de uma produção interessante (embora nunca chegue a ser brilhante) e que merece ser conferida por suas ideias políticas, mas principalmente por dar cores humanas e - na medida no possível - apostar em um realismo para mostrar o dia a dia de um político profissional.

Bertrand Saint-Jean (Olivier Gourmet) é o ministro dos transportes francês, que surge em tela sonhando com uma bizarra representação que beira o surrealismo, o que dará o tom da historia. Ao mesmo tempo em que vemos os meandros e conchavos políticos óbvios em uma administração abarrotada de politicagem e burocracia, o personagem de Gourmet é apresentado com seus medos, problemas, desejos e nunca é visto como um típico político corrupto, mas como um homem que faz aquilo que acha necessário ser feito para manter-se no poder.


A historia começa quando um terrível acidente de trem vitima alguns adolescentes e o ministro é enviado para servir como pára-raios oficial do governo. Uma vez lá, somos apresentados a toda a politicagem envolvida no caso e os muitos conchavos realizados para que Saint-Jean vá se mantendo no poder. A trama gira em torno da ideia da privatização do sistema de trens do país que perdem sua credibilidade depois do acidente. Bertrand é contra por princípios políticos, mas durante o filme suas convicções vão sendo testadas e aquilo que parecia ser intransigente transforma-se em uma espiral de acordos, que vão manchando a conduta do personagem.

No bom português, é a velha mania tão conhecida por nós, de "uma mão lava a outra", dos muitos favores políticos que só tem como objetivo perpetuar em cargos públicos a mesma patota de sempre, o mesmo caso do filme, que a partir desse evento vai dissecando as camadas políticas francesas.

Infelizmente, o filme peca por esse excesso de denúncia, tornando-se panfletário em seu discurso, mas esquecendo quase que totalmente todo o ambiente que envolve Bertrand. Se a cena inicial é constrangedoramente ousada, o restante do filme prefere abordar a vida publica do personagem de Gourmet, em vez de dar voz a suas intenções humanas, ou mesmo ao que o levou até esse ponto.


Mesmo quando o filme humaniza o personagem, o faz de maneira incompleta. Se conhecemos a família de seu motorista e concluímos que Bertrand é um sujeito absolutamente solitário, muito por causa de sua profissão que criam aliados e destrói amizades com a mesma facilidade, não sabemos mais sobre sua esposa ou mesmo seu casamento, ou sua relação com seu staff, a exceção de seu amigo de longa data Gilles (Michel Blanc).

Olivier Gourmet tem uma atuação segura, restrito em uma camisa de força moral, que o faz - como todo político profissional - medir cuidadosamente suas palavras antes de proferi-las em alto e bom som. Apenas quando perde as estribeiras - em duas cenas, uma pateticamente hilária e outra inesperada e muito dramática - é que o filme parece acertar o tom do personagem. Nunca um vilão, e muito menos um santo, mas um sujeito humano preso no emaranhado sem fim de fios que o prendem as engrenagens políticas.

Talvez seja o grito do diretor Pierre Schöller que aponta o dedo para o político para enxergar o homem que veste o terno, procura saber a repercussão de seus discursos na imprensa, monta seu gabinete para melhor conduzir o poder, tira fotos, sonha, ama, sente dor e remorso. Esse retrato humanizado é interessante e nunca sobrepõe a visão áspera que o diretor tem dos meandros políticos de seu país.


Ousado em alguns momentos, honesto o tempo todo, humano na forma de abordar sua historia, mas ainda sim frio e cheio de conversas enfadonhas que incomodam pela pasmaceira constante (o que imagino tenha sido a ideia do filme, já que ele acompanha a rotina de um político) e sem um objetivo claro: humanizar o homem, para que? Enxergar por trás da máscara do Diabo o faz mais belo? Compreensível? Amigável? Infelizmente Pierre Schöller deixa isso sem resposta, e encerra a obra de forma abrupta deixando muita coisa ainda a ser explorada. Exercício do Poder é interessante, mas não chega ao brilhantismo que ensaia em alguns momentos. Perde pontos pela inconstância da narrativa e por apostar demais na redenção de um homem, que não consegue fugir da máxima óbvia: o poder corrompe e deforma a alma.


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