sexta-feira, 5 de abril de 2013

Mama


Mama
(Mama, 2013)
Terror - 100 min.

Direção: Andrés Muschietti
Roteiro: Neil Cross, Andrés Muschietti, Barbara Muschietti

com: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse

Volto a tocar num ponto que parece inevitável toda vez que se fala de algum novo filme de terror: a dificuldade para encontrar uma produção que funcione como seu gênero pede. Tramas insossas, efeitos visuais exagerados, sustos previsíveis ou até mesmo um excesso de violência desnecessária a trama, tudo pode comprometer a experiência assustadora que o filme pretende ter.

Porém, às vezes, mesmo contando com uma serie desses elementos que dariam descrédito a qualquer produção, a coisa funciona. É o caso de Mama. Méritos a equipe do filme que usa dos clichês a seu favor, e diante de uma trama batida de fantasmas e crianças ligadas ao macabro consegue encontrar uma forma de acertar no clima, com bons atores e soluções óbvias e eficientes.

Primeiro com uma trama que cria tensão em duas frentes, já que de saída apresenta o sobrenatural ao colocar um pai perturbado - que acabará de chacinar colegas de trabalho e sua mulher - levando suas duas filhas para o meio da floresta e sendo morto por alguma coisa estranhíssima que nunca fica visível ao público. O filme então avança cinco anos no tempo e apresenta seus reais protagonistas, um jovem casal moderno que o público alvo do filme consegue se relacionar de saída. Nikolaj Coster-Walden (o galã Jaimie Lannister de Game of Thrones) é o irmão gêmeo do tal pai maluco e passou todo esse tempo em busca do irmão e das sobrinhas. Ele vive com a namorada, Annabel (a linda e talentosa Jessica Chastain em versão "garotinha rock'n'roll') baixista de uma banda e que não tem grande vontade de ser mãe. Depois de muitos gastos com a busca, as garotas são encontradas e o filme ganha sua segunda frente de interesse: "como é que essas meninas sobreviveram e mais ainda, como é que elas estão cinco anos depois de serem largadas sem nada no meio da floresta?"



O segundo motivo para Mama funcionar bem é seu elenco. Se a já citada Jessica Chastain dá credibilidade a uma personagem que tinha tudo para ser mas um esqueleto vazio e sem força nas mãos de uma atriz com tendência maior ao escândalo, as jovens Megan Charpentier e Isabelle Nélisse (especialmente a primeira) estão no mesmo tom de Chastain buscando encontrar emoções genuínas na interpretação dessas garotas que vão se transformando de pequenas selvagens em garotas "normais". Por outro lado, o galã Nikolaj tem um papel ingrato já que sua importância na trama é sumariamente diminuída, deixando claro que esse é um jogo para garotas e que as "Mamas" é que são as estrelas da companhia.

Isso leva aos clichês do gênero que aqui estão todos representados. Temos aqueles sustos óbvios com o auxílio da trilha sonora, aqueles vultos que atravessam a tela, barulhos sinistros e até mesmo as - hoje populares - manchas escuras na parede e insetos que simbolizam a podridão. Mas, mesmo assim, a direção de Andrés Muschietti é eficiente e consegue manter o espectador preso com alguns momentos visuais realmente bons, como a curta sequência que envolve uma brincadeira entre as duas irmãs no quarto, vista em um ângulo que divide a tela em três quadrantes. Na esquerda, temos a visão do corredor da casa e uma escada que liga o patamar do alto (onde a sequência se passa) ao piso inferior. No centro a divisão dos batentes entre as duas ações. E na direita uma visão do quarto. Mas Muschietti é inteligente e nos mostra apenas uma fração do quarto, e quando vemos a pequena Lilly (Nélisse) se divertindo e tentando se soltar de um lençol, somos sutil e assustadoramente surpresos. O diretor usa dos clichês para criar uma experiência muito convincente e divertida, especialmente se você é um fã do gênero e identifica esses símbolos.

E a tal Mama? Os méritos vão para a escolha do estranhíssimo Javier Botet, que por baixo de uma boa maquiagem e efeitos visuais que auxiliam os voos e outras aparições fantasmagóricas, realmente convence como essa criatura macabra e com uma linguagem corporal que desafia as leis da física. Muschietti é corajoso ao temer expor de forma direta sua personagem principalmente na parte final do longa, o que demonstrar ainda mais confiança na caracterização de Javier que consegue criar asco e simpatia na mesma personagem.



Se não é uma grandiosa produção, com inovações e etc, Mama é ótimo no que se propõe a fazer. Uma historia de fantasma simples, direta ao ponto, com suas convenções e clichês, o que já é muita coisa em um período bastante complicado para o gênero. Que bom, que ainda existam produções que não tentem surpreender o espectador de qualquer jeito, mas que se atenha ao "arroz com feijão" que quando bem temperado, sempre será suculento.

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