quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Círculo de Fogo

Círculo de Fogo
(Pacific Rim, 2013)
Ação/Aventura - 131 min.

Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Travis Beacham e Guillermo del Toro

com: Charlie Hunman, Idris Elba, Rinko Kikuchi, Charlie Day, Burn Gorman, Ron Perlman, Robert Kazinsky

Caro Alexandre,

Resolvi te escrever porque acabei de ver um filme que tenho certeza que você vai gostar muito, baseado em meu conhecimento sobre sua coleção de revistinhas Herói, seus bonecos do Changeman e máscaras do Jiban que eu sei que tem espalhadas pela casa. Chama-se "Círculo de Fogo" e não, não é sobre nada que envolva diretamente fogo, mas sobre uma invasão de criaturas gigantescas (como um Godzilla ou os monstros dos super sentai) ao planeta Terra graças a uma falha no fundo do Oceano Pacífico. O que acontece é que a humanidade precisa enfrentar esses monstros e para isso constrói um monte de robôs gigantes que são pilotados por dois pilotos.

Por que dois pilotos, você pode me perguntar? Por que é muito difícil para um sujeito (ou sujeita) conseguir manobrar o robô super pesado sozinho. No filme, os cientistas dividem o comando do robô para que duas pessoas possam comandar cada um dos hemisférios do "cérebro do robô" e assim o movimentar (acho que você já deve ter estudado essa coisa dos hemisférios cerebrais em ciências, mas se não, pergunte ao seu professor). Pois bem, para melhorar a interação entre os pilotos eles se conectam mentalmente e acabam partilhando suas memórias, mantendo-se ligados como se fosse um só. Pra mim, foi uma ideia muito inteligente do diretor Guillermo del Toro, que dirigiu os filmes do Hellboy que você já viu e Labirinto do Fauno (que acho um pouco violento demais pra você ainda, o que me faz pensar que talvez tenha de omitir esse filme dessa carta para que você não se anime a procurá-lo).


A ideia é inteligente porque desse jeito ele poupou tempo com as óbvias explicações sobre os personagens principais, inserindo-as quando os pilotos se conectam e suas memórias (até aquele momento) são mostradas ao público. Assim ele ganha tempo para que os robôs e monstros possam ser o foco da ação, mesmo que os protagonistas sejam até desenvolvidos, especialmente a dupla Raleigh/Charlie Hunman e Mako/Rinko Kikuchi - que tem uma relação de aprendizado mutuo e de vitória sobre traumas apresentada de forma inteligente - e principalmente Pentecost/Idris Elba, o chefão dos robôs gigantes chamados Jaeger (esqueci de dizer o nome deles e sei como você é chato com essas coisas, só pra constar os monstros são chamados de Kaijus), que é daqueles chefes que impõe respeito com sua forma de agir e seu sentido de honra e respeito ao seu dever, mesmo que tenha que arriscar sua vida. Como te disse, tudo muito parecido com os seriados japoneses que você gosta de ver.

Além deles, e isso eu também achei legal, existe toda uma coleção de robôs para os diferentes paises que estão ali representados, dando uma dimensão genuinamente global a ameaça dos Kaijus. O robô russo, o Cherno Alpha, é todo quadrado e parece ter saído de alguma experiência espacial da antiga União Soviética (espero que tenha prendido o que foi a União Soviética na escola) é todo retro e é o mais pesado e lento. O chinês, Crimson Typhoon, é comandado não por dois, mas por três pilotos diferentes, que usam o robô com três braços (sim, na tela fica um pouco estranho porque ele parece meio penso, mas ainda assim é bem feito) enquanto o australiano, Striker Eureka, é o mais moderno e mais veloz, parecendo demais um robô do anime Evangelion (que é outro que acho você muito novo pra ver...estou me complicando nessas referencias). Os protagonistas usam o robô americano, o Gypsy Tango, que é o com mais cara de robô de super sentai e pra mim o mais bonito de todos eles.

Se você quiser levar uma namoradinha que não curte muito essa coisa de robôs gigantes e monstros, avise a ela que alguns personagens são os "alívios cômicos" e que deixam o filme mais leve. O Hellboy em pessoa, Ron Perlman faz um comerciante de partes de monstros (que ideia legal né?) e a dupla de cientistas responsável pelos equipamentos da base dos robôs também é divertida. Um é uma espécie de biólogo obcecado com os Kaijus e o outro um matemático que prevê quando os monstros vão aparecer. Apesar de super inteligentes, os dois são usados muitos mais nos momentos cômicos da trama. Pessoalmente, e acho que você não vá ligar pra isso, achei os dois exagerados em alguns momentos, errando um pouco o tom da piada, mais nada que me fizesse desgostar do filme.


Mas, tenho certeza absoluta que você vai adorar cada segundo dos combates. Tem de tudo que você possa imaginar e não, não vou ficar contando sobre os apetrechos dos robôs para não estragar a surpresa. Só te falo que o Del Toro parece ter visto a maioria dos seriados que você gosta, porque não esqueceu praticamente nada que esse pessoal usa. A escala dos robôs foi outra coisa que me impressionou demais (e que certamente vai te fazer falar muitos WOW na sala de cinema). Fazem os Transformers parecerem brinquedos de criança. Quando eles caminham as ruas são destruídas, não porque eles saiam quebrando tudo, muito pelo contrário (Del Toro inclusive colocou uma cena em que um dos robôs pula uma ponte para não destruí-la), mas porque eles são tão pesados que nenhum asfalto do mundo resistiria ao tamanho dessas criaturas.

Os monstros (vou ser sincero) não têm o design mais original do mundo e parecem-se demais fisicamente, mas também são enormes e fazem um grande estrago por onde passam. Aliás isso é outra coisa que o filme acerta em cheio: as cidades são realmente devastadas e você sente medo pelos habitantes daqueles lugares, em especial quando o filme mostra uma memória passada em Tóquio e você vê uma garotinha fugindo da destruição. É a cena mais bonita do filme pra mim (certamente pra você não será, mas fazer o que). O que ele fez aqui foi dar uma cara à destruição, simbolizar toda a perda das pessoas e da cidade naquela menininha e isso faz com que a gente se identifique com aquela batalha.

As lutas são todas muito bacanas como te disse, mas na primeira delas eu fiquei um pouco perdido com tanta coisa acontecendo (talvez esteja ficando velho), mas depois o Del Toro parece ter se acertado e eu compreendi melhor tudo o que se passava no filme nessas sequências de ação. Talvez você fique um pouco entediado em alguns momentos, já que o filme - pra mim, felizmente - não ficou apenas nas brigas dos robôs e muita ação acontece em "terra firme". Acho que você não vá ligar muito pra isso (mas posso estar enganado, por isso me avise), mas os atores, a exceção da japonesa Mako e do chefão Pentecost, são medianos (alguns na verdade meio fraquinhos), mas a forma como a historia é contada disfarça esses problemas com saídas inteligentes como as das memórias e o sentido de urgência de toda a trama que se passa praticamente toda em um intervalo de tempo bastante curto, e que nos faz relevar maior complexidade daqueles homens e mulheres enfrentando a morte.


Outra coisa bacana é que a introdução do filme é toda feita por um dos personagens que rapidamente conta para o público à situação a ser enfrentada, como os monstros surgiram e a construção dos robôs. Tudo rápido e de forma bastante ágil, como se tudo tivesse sendo resolvido ao mesmo tempo e já nos colocando no meio da trama.

Eu vi pequenos problemas na trama em si, que achei muito óbvia e com alguns clichês que talvez por ser mais velho e já ter visto muito mais coisa que você, chegaram a me incomodar. Mas é outra daquelas coisas que você vai achar implicância de velho. Quando tinha sua idade, adorava (e ainda adoro) Fúria de Titãs (o de 1981, não o remake) e acho que esse filme vai ter o mesmo impacto em você que o filme dos monstros mitológicos teve em mim. Na verdade, acho que você vai sair do cinema gritando: "esse é o melhor filme do mundo".

E pra você, certamente será.

Um abraço,
Alexandre Landucci


(essa é uma carta - ou e-mail sejamos modernos - enviada pelo crítico Alexandre Landucci, 28 anos para seu eu de treze anos de idade numa realidade alternativa onde no ano de 2013, ele ainda tem essa idade)


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