sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mais um colaborador adentra o nosso humilde barco. O nome dele é Roberto Queiroz e a partir de hoje ele também passará a dar seus "pitacos" por aqui. Seu primeiro texto é a crítica desse sci-fi que passou despercebido por aqui e que o Fotograma já comentou nessa outra crítica aqui. Como somos democráticos e sempre estamos procurando novas visões sobre as obras mostradas aqui, nada mais natural do que revermos esse filme, pelos olhos de outro crítico.

Abraços !

Os Coletores
(Repo Men,2010)
Ficção Científica - 111 minutos

Direção: Miguel Sapochnik
Roteiro: Eric Garcia e Garrett Lerner

Com: Jude Law, Forrest Whitaker, Liev Schreiber, Alice Braga, Carice Von Houten, Chandler Canterbury, Liza Lapira, RZA.

Vivemos a era da oferta e da procura exacerbada. Nas ruas só o que se ouve é o bom e velho (força de expressão) “o que eu tenho a ver com isso?”. Os moradores de rua, então, já decretaram o fim de tudo pelo menos há uma década, e isso porque esse humilde blogueiro está sendo generoso. Tudo isso, essa degradação, é fruto de um capitalismo globalizado que não respeita nem o nosso direito a vida. É fato, meus amigos: Estamos maus na parada, como certamente cantaria um rapper. Para Miguel Sapochnik, diretor da inovadora e muito bem construída ficção-científica Os Coletores, o futuro ainda é mais misterioso e aterrador do que possa sonhar a nossa vã filosofia, como bem lembraria Shakespeare se ainda estivesse vivo.

Num mundo onde quem precisa de transplante assina um contrato com uma companhia em termos muito bem ajustados e com parcelas suaves ao gosto do cliente, a simples hipótese de honrar o compromisso faz com que a corporação envie seus “coletores”, para buscar e apreender o(s) órgão(s) comprados. Dentre esses competentes profissionais, Remy (Jude Law) e Jake (Forrest Whitaker) são os melhores em atividade. No caso específico de Remy, uma escolha difícil que envolve uma crise no casamento e uma existência marcada por mortes as mais diversas e estúpidas ao seu redor. Contudo, quando um trabalho teoricamente fácil, rotineiro, transforma sua vida de já complicada em um cliente da companhia para qual trabalha, ele começa a perceber que viver (leia-se: fugir, esconder-se, burlar regras para sobreviver) pode ser mais complicado do que qualquer ideia que tenha feito à primeira vista em todos esses anos de bons trabalhos prestados.

Existe um clima anárquico em Os Coletores que me faz lembrar de outra grande sci-fi que assisti não faz muito tempo: Filhos da Esperança, do diretor latinoamericano Alfonso Cuarón. E esse clima é a sensação – muitas vezes criada pelos poderosos, pelas autoridades que ditam as regras – de que só existe uma salvação e nós (o estabilishment), somente nós, sabemos o que é realmente certo para vocês, pobres cidadãos. A dupla Law-Whitaker dá conta do recado bem como a brasileira Alice Braga, no papel de uma mulher cheia de implantes (os tais artiorgs, ou órgãos artificiais comprados juntos a empresa) por quem Remy acaba se apaixonando. É dessa trinca que surgem os grandes questionamentos de um roteiro que, se não prima pelo brilhantismo, pelo menos deixa claro para os espectadores um posicionamento social que, quer gostemos ou não, é preocupante e verdadeiro. Vide diariamente o escandaloso mercado negro de órgãos ao redor do mundo.

De forma geral, o filme acaba se mostrando como uma bela crítica ao mercado corporativo, que tudo faz para manter seus cofres abarrotados de grana. Um lugar onde não existe ética, justiça, família nem qualquer outro conceito básico para se viver em solidariedade uns com os outros. O que importa aqui – na película e, se permitirmos nas próximas décadas, na vida – é o status e, principalmente, o que se constrói como legado e/ou herança (fique à vontade para escolher a melhor definição), mantendo a roda girando sempre a favor de uma minoria.



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