quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Rede Social
(The Social Network, 2010)
Drama - 121 min.

Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkn

Com: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer e Rooney Mara

Quando esse texto estiver no ar, um outro falando sobre Scott Pilgrim já terá visto a luz do dia. Por umas dessas conjunções astrais quase divinas assisti Rede Social na seqüência do filme de Edgar Wright. Ao final do filme de Fincher - Rede Social - cheguei à conclusão de que o "filme do facebook" mostra - obviamente de maneira mais séria - a mesma geração que a comédia romântica do diretor inglês apresenta.

Rede e Scott falam sobre os jovens que dominam o mundo. São os criadores de tecnologia, plataformas, conteúdo e o público desses mesmos apetrechos.

Por isso Rede Social é um filme tão importante nesse momento. Ele conta a história de uma revolução, comandada por um rapaz amargurado, egocêntrico, problemático e irascível. E mesmo assim, conseguimos ver humanidade e qualidade mesmo no meio de tanta bagunça emocional. Mark Zuckerberg - no filme pelo menos - é um protagonista odioso e apaixonante. David Fincher não fez nenhuma questão de esconder que seu personagem e os métodos para obter sucesso do mesmo eram no mínimo questionáveis. E por dar esse verniz humano - sem julgar como certo ou errado suas atitudes - é que Rede Social é um dos filmes mais importantes da década.


Retrata com virulência um jovem - quase adulto - que usando de sua inteligência acima da média transformou-se de um paria social, que planava sem rumo pelos grupos sociais abastados sem conseguir penetrar nos corredores da "nobreza", em um magnata da nova ordem mundial.

A era das conexões, onde tudo é fácil e próximo com um clique, e onde podemos falar com qualquer um em todo o canto do planeta, deve muito a "invenção" de Zuckerberg. A chamada web 2.0 tem como um de seus marcos a inauguração do facebook, que em pouco mais de quatro anos tem mais de 500 milhões de usuários conectados, criando um clubinho - cada vez maior - que compartilha conteúdo, idéias, opiniões, paixões e ódio com a mesma intensidade.

O filme de Fincher permeia essa construção - desde suas origens no "roubo" da idéia dos gêmeos Winklevoss - que mostra como uma idéia simples, fruto de amargura pode gerar tanto dinheiro.


Tudo isso regado a diálogos ácidos e rápidos, com Jesse Eisenberg parecendo uma metralhadora - de fazer inveja a Scorsese - disparando códigos, frases de efeito e lições sobre a vida moderna sobre os espectadores. Eisenberg constrói seu personagem cheio de sombras, nunca apresentando ter certeza sobre para onde seguir e nem quais calos aceitaria pisar. Melancólico encurvado, como um corcunda gótico numa catedral, apenas vociferando suas amargas respostas. Um trabalho bastante interessante, mas que não funcionaria sem o excelente roteiro de Aaron Sorkin, um dos grandes trabalhos do ano, apesar de aparentemente não se importar em aproximar aqueles personagens do espectador.

Sim, os personagens. Pois não é apenas Zuckerberg que é apresentado com inúmeras falhas. Eduardo Saverin (interpretado pelo novo Homem Aranha, Andrew Garfield) também é falível. Se não tanto do ponto de vista moral, do ponto de vista empresarial é um desastre. Mostrado como um proto executivo medroso e que não consegue vender a idéia do facebook. O trabalho de Garfield é interessante, mas não passa do básico. Falta alguma coisa a mais ao ator, que passa muito tempo tentando convencer ao espectador - e a si mesmo - de que não é tão ruim como Zuckerberg. Complexo de cachorro abandonado é o nome mais comum a essa síndrome.


Os coadjuvantes mais importantes ajudam o filme a ressaltar essa condição. Armie Hammer tem um trabalho complexo ao dar vida aos irmãos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss e consegue apresentar dois personagens diferentes, com linguagem corporal e tons de voz diferentes. Um trabalho difícil e muito bem realizado. Justin Tinberlake dá mais uma mostra que realmente tem talento dramático, fazendo de Sean Parker um bom vivant bastardo com cara de bom moço.

E Mr. David Fincher, o senhor responsável por Clube da Luta e Seven (só dois dos mais importantes filmes americanos da última década)? Um banho. Um show. Um espetáculo. Só a mirabolante seqüência da regata já vale a indicação aos prêmios de direção no ano que vem. Fora isso, sua construção em "cascata" emula - pelo menos foi minha impressão - o funcionamento do facebook. Como assim, o leitor pergunta? O diretor usa as duas acareações que Zuckerberg teve que enfrentar como ponto de partida e insere os flashbacks que ilustram as passagens e explora cada segmento até o fim do mesmo, voltando depois a "programação normal", ou seja, as audiências. Da mesma forma funciona o facebook. Você publica em seu perfil e seus amigos comentam até exaurir a última gota daquele assunto, formando uma "cascata" de informações.


O trabalho de edição - que deve ganhar prêmios - é de Kirk Baxter e Angus Wall e é soberbo. Tirando dessa montanha de informações um longa coeso e bem centrado no que precisa. Outro que merece prêmio é Trent Raznor e Atticus Ross pela beleza de trilha sonora, moderna e clássica acertando em cheio o que o filme exige.
Rede Social - e me atrevo a comparar - está para a geração atual o que Clube da Luta está para a geração anterior. Acerta - por meio de uma biografia é verdade - no âmago das frustrações de uma geração apreensiva com o futuro, com vontade de criar e de mudar a cor do céu, mas retraída, ansiosa e dependente da aceitação do outro. Cruel, frio e sem abrandar os respingos. Rede Social é um soco na cara.


Nenhum comentário:

Postar um comentário