domingo, 12 de dezembro de 2010

Um Homem Misterioso
(The American, 2010)
Drama - 105 min.

Direção: Anton Corbjin
Roteiro: Rowan Joffe

Com: George Clooney, Violante Placido, Johan Leysen e Paolo Bonacelli

Esse não é um típico filme de George Clooney, pelo não o que a maioria das pessoas imagina sendo protagonizado pelo ator/galã/produtor/diretor/boa praça. Essencialmente sombrio e europeu até os ossos, com pouquíssimo espaço para Clooney ser galã The American é uma história simples, mas contada com longas pausas e silêncios.

O filme, mal vendido pelo trailer que emulava uma mistura de agente Bourne com Syriana, é uma história sobre a solidão de um homem que descobre que sua vida passou por seus olhos e que nunca pode se conectar a alguém ou a alguma coisa. Exceto é claro, sua profissão.

Jack (Clooney) é um matador. Não só um matador. Mas um matador de alto nível, muito competente e ainda um mestre na arte da mecânica e da construção de apetrechos mortíferos.


Após se ver envolvido numa aparente traição na gelada Suécia, ele parte para a Itália, onde aguarda ajuda de seu "chefe" Pavel (interpretado com solidez por Johan Leysen). A Itália de The American, não é a bela Roma, ou a romântica Veneza dos cartões postais e do carnaval, ou mesmo a culturalmente imponente Florença ou a fashion Milão. A Itália de American é a mesma de Nicolas Roeg em Don't Look Now ou de Winterbottom no fracassado Genova. Sombria, claustrofóbica, cheia de ruas de pedra medievais e alaranjada, o que causa um contraste fotográfico interessante.

The American acompanha a sobriedade e o tédio desse homem - quase como um diário - mostrando seus dias banais enquanto se prepara para sua "última missão". Obviamente ele se envolve com uma "donna". A belíssima e sexy garota de programa Clara (interpretada com fulgor por Violante Placido). Mostrando sem pudores (mais uma característica européia) a relação carnal dos dois personagens que começa como um negócio e termina como uma paixão violenta, tipicamente latina.

Clooney está extremamente confortável num papel "anti-Clooney". Apesar de sua inegável capacidade de crescer na tela, emulando Cary Grant (como o mundo já sabe) a cada piscada, nesse filme em especial, ele apresenta algo de suas interpretações poderosas de Syriana e principalmente de Michael Clayton. Clayton e Jack são homens perdidos sem destino certo e ligados a nada e a ninguém. Ambos vivem tediosamente a procura de algo que não sabem o que é, nem onde podem conseguir. Ambos passam por mudanças violentas em suas vidas e "crescem" aprendendo a valorizar as pequenas sutilezas da vida.


Se em Clayton tínhamos o cavalo negro que simbolizava a paz interior que o personagem buscava, em The American temos a borboleta que como o personagem diz em certo momento do filme "é mortal apesar de bela". Um hobby estranho para um homem que lida com a morte como seu negócio.

O diretor Anton Corbjin (de Control e de vídeos do U2 e Depeche Mode) é muito feliz ao transformar o que em seu início parecia um thriller europeu tradicional em um drama sobre personagens perdidos e sobre um homem que tenta encontrar as peças que formam o quebra cabeça de sua vida. Auxiliam sua intenção a fotografia inteligente de Martin Ruhe, que sabe como mostrar a Itália medieval das pequenas cidades como uma mistura única de luminosidade e sombras poderosas.

O que faz o filme não ser perfeito são os detalhes. O padre coadjuvante (Benedetto vivido por Paolo Bonacelli) poderia ser mais explorado, assim como a relação entre o casal Clooney/Placido, que apesar de projetar paixão na tela, não funciona tão bem no sentido narrativo. Trocando em miúdos, o relacionamento surge tarde na história e apesar do esforço em transformar os dois em um casal apaixonado (incluindo uma cena de sexo extremamente bem realizada) são pouco mais de quarenta minutos para convencer o público que um matador gelado e uma garota de programa se apaixonam perdidamente.


Mesmo assim, os últimos vinte minutos do final são dignos de uma atenção especial. A tensão surge sem artifícios e Corbjin consegue transformar um cafezinho e uma procissão em uma aula de suspense. Nada que já não tenhamos visto antes, é verdade, mas que é cada vez mais raro de ver na era do "piscou-perdeu".

The American foi mal vendido e talvez por isso o público não o comprou com a intensidade que o filme merecia. Um trabalho corajoso de Clooney - que também é um dos produtores do filme - que muito a vontade em sua "casa" (para quem não sabe o ator tem uma casa no país) apresenta uma de suas melhores interpretações.


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