domingo, 26 de dezembro de 2010

Tron - O Legado
(Tron: Legacy, 2010)
Aventura/Sci Fi - 127min.

Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Edward Kitsis e Adam Horowitz

Com: Jeff Bridges, Garett Hedlund e Olivia Wilde


Em 1982, a computação gráfica dava seus primeiros passos no cinema. Foi Tron- Uma Odisséia Eletrônica, que introduziu os primeiros arcaicos esboços de um artifício que viria a ser explorado em proporções caoticamente mais avançadas décadas mais tarde . Era com uma história simples, mas recheada de detalhes, que Tron exibia diversos conceitos do seu mundo digital: as clássicas lightcycles, os grandes planos quadriculados e negros, além de uma infinidade de construções poligonais que, devido à clara limitação dos efeitos da época, eram primitivas e até simplórias, comparadas aos efeitos tão realistas de hoje em dia. Por isso mesmo, por seu estilo conceitual tão datado, um dos filmes precursores da utilização da computação gráfica é tão vagamente lembrado nos dias de hoje, sendo citado apenas por escassos aficionados por clássicos cult. Entretanto, se na década de 80, Tron foi criado para exibir a temática cibernética com os efeitos visuais que eram novidade, nada mais justo e interessante, que estabelecer um equivalente nos dias atuais, onde a computação gráfica tem níveis cada vez melhores e o 3D se desenha como uma inovação que veio para ficar.


Portanto, é uma atitude atrativa, e também corajosa, trazer Tron: O Legado, para os cinemas, 28 anos depois de o original ter sido lançado. Viver a experiência do mundo eletrônico proposto no clássico oitentista com toda a tecnologia digital existente hoje, foi de fato o argumento mais forte para a realização do longa. Uma grande atualização, um enorme update das concepções visuais do primeiro filme é o que se estampa logo de cara, como a motivação primordial para a existência da seqüência. Porém, como já estamos calejados de saber, nada que se baseia em alegorias - e efeitos especiais não passam disso no cinema - tem muito futuro. Se este novo Tron fosse apenas um filme lindo, mas que nada possuísse em conteúdo, seria uma verdadeira frustração, devido à expectativa que se criou em cima dele. Graças aos deuses do cinema, enfim, não foi isso que aconteceu dessa vez, e Tron: O Legado mostra que, mesmo com alguns tropeços, é mais do que apenas um “rostinho bonito”.



A história começa alguns anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, com Kevin Flynn (Jeff Bridges) conversando com seu filho de sete anos, Sam, sobre sua recente descoberta, a Grade. Depois disso, o pai de Sam desaparece, e não mais retorna. Passam-se mais 20 anos, e o já adulto Sam (Garret Hedlund) ocupa seu tempo atrapalhando o curso da companhia que herdou: a ENCOM. Até que um dia, o paradeiro de sue pai é dado na velha casa de jogos onde trabalhava. Indo até lá, Sam acaba adentrando o mundo cibernético que seu pai havia criado há tantos anos, e precisa ajudá-lo a sair de lá.


O roteiro desta seqüência faz jus exatamente ao original de 1982: uma trama com estrutura enxuta, típica de aventura, onde existe um objetivo e este precisa ser alcançado. Entretanto, no clássico cult oitentista, tínhamos um tipo de desenvolvimento mais lento, com uma narrativa que acabava por tornar o caminho que parecia tão simples, mais “tortuoso”, se assim podemos dizer. Em Tron: O Legado, todas as arestas que sobravam do original foram aparadas, tanto em seu roteiro, quanto no seu visual (este sendo muito explícito, obviamente). A narrativa do longa de 2010, mostra sua simplicidade sem medo, coloca seus objetivos em tela, e aguarda seus protagonistas irem atrás deles. Entretanto, num ritmo mais veloz e adequado. É também preciso ser dito que o roteiro é amarrado e apresenta um encadeamento de fatos coerente.


Diante disso, só é triste constatar que os roteiristas fizeram o mais difícil, com sucesso – criaram toda uma estrutura narrativa coesa – e o mais fácil, com erros – bolaram diálogos, parte fácil do roteiro, com infantilidades e alguns tropeços tolos. Uma revisada básica não faria mal algum nesta situação.



A escolha do diretor, o egresso de curtas e comerciais Joseph Kosinski, se apresentou acertada, no balanço geral. Kosinski mostra certa segurança na direção e tem seu diferencial nas partes de ação, que coordena com maestria, conseguindo arrepiar o crítico que vos fala na seqüência da luta das lightcycles. Boa direção somada a efeitos primorosos. Um resultado de encher os olhos. Kosinski nem aparenta ser estreante, e já se mostra preparado para qualquer outro grande blockbuster que pegar pela frente.


Tecnicamente, Tron é irretocável. Os efeitos especiais do mundo cibernético são sensacionais, belíssimos e muitos elegantes. Todos os aparatos – desde veículos até as roupas usadas – são de uma beleza simples, porém rara. Neste ponto, todos estão de parabéns, tanto o pessoal dos efeitos especiais quanto o da direção de arte. Impecável, e ilustra uma evolução indescritível. E se a parte visual do filme teve uma evolução tremenda, nem se fale da trilha sonora. Um conjunto de sons estranhos do primeiro filme dá lugar ao ritmo eletrônico ESPETACULAR da dupla francesa Daft Punk. A trilha é parte essencial ao filme, e o incrementa de maneira incrível. As músicas funcionam adicionando ao filme um potencial cool impressionante. Uma das melhores trilhas que não vejo há tempos.



Já nas atuações, não teríamos problema algum, não fosse Garret Hedlund. O ator tem problemas na interpretação de Sam Flynn, que vão desde o modo como desempenha suas falas até o modo como seu corpo se movimenta. Hedlund anda como um modelo, seu jeito de se mover é incrivelmente artificial, quase robótico. Fora Hedlund, todos os outros dão o seu melhor, destaque para Bridges, sempre à vontade e Olívia Wilde que empresta uma atuação muito adequada á personagem Quorra.


Numa cotação final, Tron: O Legado agrada muito. Possui um roteiro estrutural muito agradável e que tem tanto no seu conteúdo, quanto no seu ritmo uma superioridade ao original. Se esta continuação de Tron foi pensada para uma evolução visual, teve, por resultado final, uma verdadeira revolução visual e uma boa evolução em sua história, suprindo ás expectativas na medida certa.


Obs: O 3D é um tanto quanto inócuo, e o que surpreende mesmo é a beleza dos efeitos, com a tridimensionalidade ficando visivelmente de lado.


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