quarta-feira, 4 de maio de 2011

Freakonomics
(Freakonomics, 2010)
Documentário - 93 min.

Direção: Seth Gordon, Morgan Spurlock, Alex Gibney, Eugene Jarecki, Heidi Ewing e Rachel Grady

Roteiro: Seth Gordon, Jeremy Chilnick, Morgan Spurlock, Peter Bull, Alex Gibney, Eugene Jarecki, Heidi Ewing e Rachel Grady




Freakonomics é uma colagem de vários mini-documentários baseados no livro de Steven Levitt e Stephen Dubner (que eu nunca li) que propõe um uso "real" da estatística e da economia para encontrar as respostas por trás das coisas.


Estranho não? Pois é. A introdução do filme, com os dois autores tentando mostrar a audiência como são geniais e brilhantes e como suas idéias são as mais fabulosas da história das idéias, além de não esclarecer o espectador ainda parece auto-indulgente.


Mas, felizmente quando o filme verdadeiramente começa é divertido, questionador, polêmico e melodramático. Um verdadeiro Frankenstein graças à colagem e os diferentes estilos de cada documentarista que a partir de temas diferentes desenvolveu documentários separados e que podem e talvez devam, ser analisados de forma individual.



O primeiro é "A Roshanda by Any Other Name" é dirigido por Morgan Spurlock (de Super Size Me) e tem a cara de seu realizador. Leve, mais entretenimento do que uma verdadeira investigação sobre o tema, funciona bem para o tema mais "descontraído" do filme: o nome que você dá ao seu filho, influencia seu futuro? Trocando em miúdos chamar seu filho de (exemplo) Roberval ou Antonio mudará as chances dele de "ser alguém"? Fico espantado como existam pessoas que realmente pesquisam esse tipo de dado e chocado em como nossa sociedade (no caso, a americana que é a estudada) é tão canalha a ponto de pensar nesse tipo de coisa ao dar um nome a uma criança. É claro que ninguém imagina (espero que os leitores também pensem assim) em dar ao filho/filha algum nome que os fará se sentirem humilhados, mas dai a imaginar um nome de maior "credibilidade social" é o fim. Spurlock - e isso é inerente a seus filmes - não se define entre análise e séria e grande chacota da situação, o que faz do segmento o mais dúbio e confuso de se analisar.



O segundo segmento é "Pure Corruption" dirigido por Alex Gibney (Taxi to the Dark Side e Enron: os Mais Espertos da Classe) e é o mais "sério". Partindo do estudo de caso do sumô, o filme apresenta o conceito de que a maior das purezas pode esconder a pura corrupção, seja ela econômica, política ou social. De longe o segmento mais interessante, e grande responsável pela nota alta da cotação do filme, o segmento de Bulle (roteirista) e Gibney apresenta um estudo estatístico bastante interessante sobre como se foi possível entender como os lutadores de sumô arranjavam suas lutas, ao mesmo tempo em que o filme traça um paralelo entre a pureza do esporte (profundamente ligado ao xintoísmo e cercado de rituais) e a dita pureza dos lideres da economia mundial, responsáveis pelos grandes escândalos econômicos do mundo. Em pouco mais de quinze minutos, Pure Corruption é mais interessante (como narrativa) do que o incensado The Inside Job conseguiu com seu enfadonho falatório.



O terceiro segmento é intitulado "It's Not a Wonderful Life" dirigido por Eugene Jarecki (de Razões para a Guerra) e usando de muitos grafismos e da excelente sacada do uso do clássico de Frank Capra, Felicidade Não se Compra aponta o mais polemico dos conceitos do livro. Tenta explicar o porquê a violência nas grandes cidades americanas, após uma incrível ascensão, passou a diminuir a partir dos anos 90. O livro/filme analisa os fatores mais apontados como responsáveis pela imprensa e chega à conclusão que todos eles são responsáveis por apenas metade da equação. A outra metade é polêmica, e apesar disso, faz sentido quando analisada no contexto. Não chega a ser tão interessante quanto o segmento numero dois, mas pelo tempo apertado em que as informações e revelações surgem do que pela direção interessante e criativa de Jarecki.



O segmento final é o mais fraco e se parece demais com Waiting for Superman, que também acompanha crianças (aqui mais velhas) e suas famílias em busca de uma melhoria em sua educação. "Can a Ninth Grader be Bribed to Succeed?" é dirigido por Heidi Ewing e Rachel Grady (de Jesus Camp) e conta a experiência da Universidade de Chicago em premiar os estudantes do ultimo ano do ensino médio com 50 dólares caso suas notas (todas) tivessem conceitos acima ou igual a C. A idéia era provar se o estimulo financeiro poderia mover os estudantes mais a frente, dando-os incentivo para melhorar suas notas e continuar na escola. O problema do segmento é que ele é arrastado, apesar do pouco tempo e melodramático ao escolher dois personagens que não parecem tão interessantes.; De todo modo, serve como um espelho interessante para mostrar a falta completa de perspectiva de uma porcentagem da juventude do país.



Freakonomics - dono do pôster mais cool de 2010 - não procura dar respostas sobre nenhuma tipo de questão, mas (como os autores dizem) fazer o espectador/leitor questionar as coisas por outro ponto de vista, tentando vislumbrar outras respostas as mesmas perguntas. Por esse lado é brutalmente valido, em uma sociedade cada vez mais pasteurizada e mumificada, mas por outro surge como uma tentativa de "pseudo-culto" a genialidade dos economistas responsáveis por todas as respostas do mundo. A divisão em segmentos não atrapalha o filme já que fica claro que cada um dos segmentos por mais diferente que sejam partem do mesmo principio: ver as questões por outros ângulos. Infelizmente o último segmento esbarra no excesso de melodrama e o primeiro na auto-paródia, deixando o filme irregular como um todo.


Talvez investir nas duas questões mais palpitantes do filme (Corrupção e criminalidade) poderia ter colocado o filme na lista dos grandes documentários do ano passado. Como não fez, ganha apenas a medalha de ouro e os 500 dólares pelo pôster genial e pelos grafismos divertidos.

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