segunda-feira, 23 de maio de 2011

Lope
(Lope, 2010)
Drama - 106 min.

Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Jordi Gasul e Ignacio del Moral

Com: Alberto Ammann, Leonor Watling, Pilar López de Ayala, Luis Tosar, Miguel Ángel Muñoz, Juan Diego e Selton Mello.



Confesso que em minha brutal ignorância jamais tinha ouvido falar no escritor/dramaturgo/poeta Lope de Vega e muito menos em sua prolífica carreira, por isso não tenho como afirmar quanto de "real" existe na narrativa do filme do brasileiro Andrucha Wadddington. Portanto minha análise é objetivamente sobre o produto final: o filme.


Seguindo a cartilha da cinebiografia, Lope acompanha os "grandes momentos" do surgimento do poeta com todas as desventuras e aventuras do personagem. Lope é interpretado por Alberto Ammann de forma a reforçar ainda mais a impressão de que Lope é um conquistador nato, talentoso e que vive intensamente cada segundo de sua vida. Os demais coadjuvantes não comprometem (apesar de lhes faltar brilho), embora a beleza de Leonor Watling (que vive a ingênua e apaixonada Isabel) e de Pilar Lopez de Ayala (a fogosa Elena Osorio) seja um colírio para os olhos.


Andrucha usa os mesmos (ou muito parecidos) filtros que usara em Casa de Areia, para reforçar o ambiente essencialmente arenoso e inóspito da Madrid do século XVI, além de forçar a saturação para destacar os tons mais escuros da produção.


A narrativa não é episódica e se esforça para dar um panorama da vida do personagem, deixando de lado seu trabalho, que é visto de relance e com destaque para suas poesias destinadas a jovens impressionáveis e a ricas mulheres da corte que eram (igualmente) impressionáveis pelos textos - nesse caso - outorgados a outros, que compravam os poemas do autor. A visão do filme para seu personagem é a de que Lope é um Don Juan egoísta e beberrão, que se importa pouco com aqueles a que agride e deseja apenas "viver intensamente".


Não é das formas mais inteligentes de apresentar seu personagem, ainda mais quando o filme clama pela simpatia do público pelo "devasso" Lope. Longe de acarinhá-lo, o resultado é o oposto e Lope é encarado como um arrogante garoto mimado que não sabe bem o que quer da vida, além do poder e do coração de todas as damas de Madrid.


O roteiro tem uma série de problemas em transportar o espectador para aquele mundo, em especial para provar as relações entre seu protagonista e os coadjuvantes. O exemplo mais bem acabado para mim é a relação com o marques de Navas (Selton Mello) que surge na história e some sem nenhuma explicação, mesmo com o mesmo roteiro - e filme - não cansar de lembrar a Lope e ao publico que a traição de Lope será vingada pelo marquês. Mesmo assim, não existe um segundo para nos mostrar o marques ou seus planos, ou mesmo sua tão falada vingança, que fica - pelo que o filme apresenta - só no campo das idéias. Ou seja, o roteiro insere uma perspectiva de "combate" e o descarta quando opta por outro caminho, o que invalida e enfraquece as motivações dos personagens para fugirem de Madrid.



Lope não é um camarada simpático e nos força - e isso talvez seja intencional - a ver com mais atenção o personagem do Frei Bernardo (Luis Tosar), que parece ser o único a ajudá-lo numa tentativa de "regenerá-lo" e colocar um pouco de sabedoria na cabeça do impulsivo personagem.


A primeira incursão do cineasta brasileiro fora do país não é um fracasso monumental, mas nem de longe pode ser encarado como um sucesso. Prejudicado - desde a saída - por um roteiro que não consegue criar apreço por seus personagens, e uma coleção de coadjuvantes fora de tom ou fracos, o filme parece um longo especial para tv, onde aqui e ali podemos enxergar quadros construídos com esmero e excelente - mesmo - trabalho de direção de arte e figurinos. Falha em seu casting e principalmente ao optar por contar a história de um homem retirando dele suas principais características: suas obras, deixando ao público uma história - já vista antes muitas vezes - sobre um homem perdido em seus sonhos e que quase destrói sua própria vida.

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