quinta-feira, 26 de julho de 2012

Aqui é o Meu Lugar


Aqui é o Meu Lugar
(This Must be the Place, 2011)
Drama/Comédia - 118 min.

Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino, Umberto Contarello

Com: Sean Penn, Frances McDormand, Eve Hewson, Judd Hirsch, Kerry Condon, Harry Dean Stanton, Olwen Fouéré

Paolo Sorrentino vem de dois trabalhos muito interessantes. O lento e ironicamente intenso La Conseguenze dell'Amore e o poderoso e satírico Il Divo. Dois trabalhos bastante diferentes, mas que cada um a sua maneira tinham como protagonistas personagens que estavam fora do padrão. Criaturas exóticas, excêntricas e diferentes.

Não é muito diferente do que se apresenta nesse Aqui é o Meu Lugar, seu primeiro filme fora da Itália e falado em inglês. O excêntrico da vez (dando muitos passos nesse sentido, diga-se de passagem) é o roqueiro dos anos 80, Cheyenne, uma figura estranhíssima, que parece um cruzamento de uma Drag Queen idosa, com os cabelos de Robert Smith do The Cure e que age com a lentidão de um Ozzy Osbourne depois de anos de abusos. Por baixo de toda essa máscara esta um dos grandes atores americanos de sua geração, o excelente Sean Penn, que consegue dar credibilidade a um personagem que tinha tudo - mesmo - para cair na caricatura fácil e se transformar em motivo de piada apenas.

Mas é a ótima interpretação do ator que segura o filme. Sensível em retratá-lo como um homem absolutamente insatisfeito e covarde com sua vida, que se mantém parado no tempo durante mais de 30 anos. Continua vestindo-se, maquiando-se como se estivesse no auge do sucesso, mesmo não fazendo praticamente mais nada há muitos anos. Contrabalanceando a situação, temos Frances McDormand que vive a efusiva e vivaz esposa de Cheyenne, a bombeira Jane, que é o lado forte da relação. Muito mais decidida, direta e cheia de ideias do que seu marido funciona como a âncora que prende o cantor no mundo real.


Completam o núcleo principal de personagens a garota gótica Mary ( Eve Hewson), que tem problemas em sua casa desde que seu irmão sumiu sem deixar vestígio algum, o amigo Jeffrey (Simon Delaney) viciado em sexo, o garoto Desmond (Sam Keeley) que Cheyenne tenta juntar com Mary, e a mãe da garota (Olwen Fouéré) que passa seus dias na janela esperando o retorno de seu filho.

O filme é balanceado com uma espécie de humor que remete aos filmes dos irmãos Coen, e Penn tem ótimas frases de efeito sendo proferidas por sua dicção infantilizada e olhar perdido e tristonho, o que fazem do personagem ainda mais interessante. A historia altera o status quo da vida de Cheyenne quando ele recebe a noticia que seu pai (com quem não fala há trinta anos) está morrendo. Por ter medo de voar, decide ir de navio e quando chega até a casa do pai, ele já faleceu. Tal situação mostra o absurdo da construção do personagem de Penn.

Porém, Aqui é o meu Lugar tem problemas por tentar unir - numa mesma narrativa - muitos elementos diferentes sem no entanto aprofundar-se em nenhum. Apesar de estar ligado a historia do personagem de Penn, as referencias ao passado judeu na segunda guerra mundial soam apenas panfletários, sem nunca parecerem realmente profundas. Parecem - guardadas as devidas proporções - o que se faz em geral por aqui nas novelas e mini-series. Apresenta-se um plano de fundo histórico, mas no fundo o que realmente importa é a historinha de amor. Nesse caso, o que importa mesmo é esse sujeito que vaga pelos Estados Unidos (encontrando uma serie de personagens exóticos e excêntricos no caminho, uma verdadeira fauna) para realizar uma espécie de desejo moribundo do pai: encontrar o torturador do pai em um campo de concentração nazista.


É a historia desse homem perdido que precisa reencontrar o pai a partir de suas memórias e de seu desejo de justiça, de punir aquele que o humilhou. É também sobre encontrar seu lugar, o tal "This Must be the Place" (em tradução livre: esse deve ser o lugar) que o personagem encontra - sim, ele encontra - após sua peregrinação norte-americana.

Aqui é o meu Lugar é uma produção esquisita. Lembra - como disse - a ideia de humor que os irmãos Coen têm, uma forma de fazer rir muito particular. As mensagens cifradas do filme, em especial na parte final, que podem gerar algumas interpretações também merecem atenção.

Tecnicamente, Sorrentino é extremamente competente. Ele abusa dos planos abertos mesmo nas cenas internas, usando a câmera como um enxerido voyeur, sempre em movimento, sempre rondando a ação, sabe conduzir seus atores e monta o filme de forma inteligente, surpreendendo o espectador com alguns bons ângulos montados com outros absolutamente banais, causando um choque simples, mas eficiente, e bastante comum no cinema independente americano.


A estreia do diretor italiano em língua inglesa não é ruim, mas em comparação com seus trabalhos anteriores sai perdendo (o que pode até ser injusto, admito) e mesmo ancorado em uma boa interpretação de Penn, peca por apresentar muitas pequenas historias. Além da trama principal, durante sua viagem Cheyenne se envolve com uma garçonete que o ajuda em sua busca e que tem um filho pequeno que tem medo da água, uma idosa com problemas para aceitar seu passado, o inventor da mala de rodinhas e ainda tem o drama (que pode gerar algumas interpretações interessantes e curiosas) do sumiço do irmão de Mary. Isso tudo além de perseguir o torturador nazista e encontrar seu lugar. Muitas ideias, algumas funcionando bem, outras ficando pelo meio do caminho.



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