sexta-feira, 20 de julho de 2012

Armadilha


Armadilha
(ATM, 2012)
Terror - 90 min.

Direção: David Brooks
Roteiro: Chris Sparling

Com: Alice Eve, Josh Peck, Brian Geraghty

O cinema às vezes nos revela pequenas tragédias. Filmes incompetentes, descabidos, infelizes ou simplesmente ruins demais. Armadilha é um desses casos. A começar de sua premissa que é quase risível: três pessoas "presas" dentro de um caixa eletrônico enquanto são perseguidos por um maníaco.

Sejamos claros: o que ganha um sujeito observando de forma masoquista três pessoas congelando em pleno inverno dentro de um caixa automático sem calefação? Ora, essa é a "graça". Descobrir a motivação por trás de tal comportamento bizarro de mais um dos muitos serial killers que se vestem de forma estranha. Esse usa um abrigo para aguentar o frio e está armado de uma chave de roda (muito malvado).

Porém, correndo riscos de estragar a "diversão" de quem pretende acompanhar essa pequena tragédia, apenas aviso que o nosso amigo do capuz é mais um daqueles personagens preguiçosos criados por roteiristas que acham que as explicações não são importantes, que as historias se resolvem sozinhas e que alguns sustos isolados são suficientes para convencer o espectador de que ele acaba de acompanhar uma historia interessante.


Na primeira cena do filme vemos o misterioso sujeito planejando suas maldades. Debruçado sobre folhas plásticas transparentes ele traça linhas, marca outras, cria plantas e sai de seu cubículo. O público já o reconhece como o "inimigo", já que a direção de David Brooks (um estreante na função) não mostra seu rosto, não permitindo o contato visual do público com aquele homem, o que, em uma produção com essa temática, dificilmente indicaria que aquele sujeito poderia ser o herói da história.

Este herói é apresentado na sequência seguinte. Em plena época de Natal, David (Brian Geraghdy), um jovem analista financeiro acaba de dar a noticia para um cliente de que boa parte de seu dinheiro foi perdido. Cena que só está no filme, por que: a) planta uma possível pista sobre a identidade do futuro perseguidor e b) apresenta características do personagem, que é visto como preocupado, interessado em resolver os problemas dos clientes e que fica profundamente apreensivo com a noticia que deu ao homem que ouviu que boa parte de suas economias escorreram pelo ralo.

O outro personagem masculino é seu amigo Corey, que é o babaca da historia. Perdoem o linguajar "baixo", mas não existe outra definição para o personagem de Josh Peck. Cheio de piadinhas sem graça, folgado, inconveniente e ainda atrapalha a tentativa de David e da bela Emily (Alice Eve) em saírem tranquilos. Aliás, é graças aos pedidos insistentes de Corey que o trio para no tal caixa eletrônico, onde tudo acaba acontecendo. A "mocinha" da historia não tem grande função na historia além de deixar o filme mais bonito e servir de interesse romântico para David.


A ação é genérica e apesar dos personagens serem obrigados a se manterem no mesmo lugar durante todo o tempo, as situações apresentadas são absolutamente inverossímeis. Caixa eletrônica sem telefone de segurança? Confere. Violência contra as máquinas que não resultam em nenhuma chamada para a polícia? Confere. Personagem que surge - literalmente - do nada para confundir os protagonistas e render uma sequência de ação óbvia? Confere. Motivação para toda aquela violência desmedida? Não confere.

E essa é a pior - das muitas infelicidades - de Armadilha. Reduzir o vilão a uma criatura sem personalidade alguma, que não faz nem o mais sádico dos espectadores torcer para que ele termine com aqueles chatos personagens ranzinzas da forma mais criativa possível. Sem nenhuma característica que o faça marcante, o filme se arrasta por uma coleção de situações já vistas em outros filmes do gênero, só que aqui transposta para a bizarra localização dos personagens. Para piorar, o seria killer ainda é dotado de "super poderes" já que some e reaparece com uma incrível velocidade, e apesar de quase no final do filme aparentar certa humanidade, não dá para entender como um personagem que parece planejar tudo com tamanho cuidado pode demorar tanto para colocar seu plano em ação. Curiosamente, o roteiro dessa pequena bobagem é escrito pelo mesmo autor do claustrofóbico e intenso Enterrado Vivo, um dos grandes trabalhos de 2010, o que parece indicar que Chris Sparling, ou é ciclotímico ou deu muita "sorte" com seu roteiro de estreia.

Estamos diante de um dos fortes candidatos a estar nas primeiras posições da lista de piores do ano. Fraco como entretenimento mais rasteiro, Armadilha apresenta mais um "maluco" fantasiado que não chega a lugar algum, uma fauna de pequenos personagens estereotipados e ruins e uma conclusão de dar nos nervos, tamanha falta de imaginação para criar uma mínima conclusão lógica e aceitável que não apele para o óbvio (e cada vez mais clichê) vilão que gosta de ver o circo pegar fogo.


2 comentários:

  1. Li hoje mesmo três resenhas falando mal desse filme. Mas, mesmo a sua, que também fala mal, me atiçou a curiosidade acerca dessa obra. Vou vê-la eventualmente, talvez logo - estou à procura de um título ruim para me divertir.

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