terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os Penetras


Os Penetras
(Os Penetras, 2012)
Comédia - 88 min.

Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Andrucha Waddington, Nina Crintzs, Rafael Dragaud e Marcelo Vindicato

com: Marcelo Adnet, Eduardo Sterblich, Mariana Ximenes, Mielle, Stephan Nercessian, Suzana Vieira, Elena Sopova

Você tem dois comediantes interessantes. Você tem um diretor de cinema talentoso e reconhecidamente competente. Uma fotografia ensolarada que só ajuda ao filme, transformando o Rio de Janeiro em uma metrópole (ainda mais) calorosa, e que também funciona como amplificador da sensação de que os moradores de grandes cidades vivem em extremos de alegria e tristeza. Também é possível perceber um cuidado com a cenografia e até mesmo com algumas pequenas inserções mais cínicas sobre o cotidiano.

Mas, mesmo com tudo isso, por que Os Penetras não deixa de ser apenas mais uma produção cômica nacional, apenas - e sendo bastante gentil - mediana? Por que dando corpo a todo esse esmero técnico está um roteiro juvenil, sem graça e bastante irregular, até mesmo quando tenta ser simplesmente bobo. A própria ideia da produção é derivativa e no caso de um filme que não consegue nem mesmo fazer o arroz com feijão bem feito, o resultado não pode ser muito melhor.

Mas, sejamos justos: essa não é uma daquelas comédias onde o foco é o riso fácil, as gags físicas, mas um humor de situação. No caso, dois homens que se envolvem graças a um desentendimento, e seguindo a tradição das comédias de erros, acabam criando uma improvável amizade. Porém, esse tipo de comédia mais sutil, precisa ser baseada em um texto minimamente interessante, onde os acasos e as idas e vindas soem orgânicos, o que não é o caso. Tudo parece acidental em excesso, mesmo que levarmos em consideração que o filme tem um tom leve. Fica claro que mesmo tentando se desprender do rótulo de "new chanchada", os momentos mais engraçados da produção aconteçam quando Eduardo Sterblich se solta e protagoniza gags hilariantes, muito próximas de improvisos. Um grande achado.


Porém, se Sterblich está bem, graças ao seu estilo de fazer humor, que é o de criar tipos únicos, com uma construção de personalidade, fala e gestual que resvala no caricatural, Adnet se ve refém de um texto que nos tenta convencer de toda a malandragem de seu personagem. Adnet me parece um comediante/ator que funciona muito melhor (visto suas experiências cinematográficas recentes) com um texto seu, onde ele possa criar seus próprios cacos e desenvolvê-los. Aqui, apesar de muito mais contido do que no inclassificável Agamenon, ainda sofre com um personagem simplório. Mesmo assim, se a dupla não fosse boa (como disse na frase que abre esse texto) o filme seria praticamente insuportável.

Andrucha Waddington diretor talentoso de filmes como Casa de Areia é muito seguro com o que quer mostrar e consegue - felizmente - fugir da estética do "filme de TV de luxo" que a imensa maioria das comédias brasileiras infelizmente parece abraçar.

Os coadjuvantes (inúmeros) do filme em geral também são boicotados pelo texto frágil do filme. Mariana Ximenes surge deslumbrante, mas pouco tem a acrescentar além de uma dose generosa de beleza e sex appeal a uma personagem que serve deveria servir como grande mote do filme. O mesmo vale para Stephan Nercessian, descolado de diversas chanchadas, que como o parceiro de gaiatices do personagem de Adnet, tem brilharecos. Os demais pouco a se dizer, Suzana Vieira, uma atriz limitada e Mielle tem pouco a apresentar e a bela atriz russa/brasileira Elena Sopova, tem função semelhante à de Ximenes, embora revele um plot twist curioso a sua personagem.


Outra questão curiosa, é que esse tipo de produção, caso fosse rodado nos anos 70 ou 80, certamente apresentaria uma dose generosa de mulheres nuas, cenas de sexo simulado e afins. O que funcionaria muito bem para o filme, que tem cenas "pseudo-quentes" com alguns personagens. Porém, é tudo muito frio, muito carola, indicado para a mamãe, o papai e o filhinho darem risadinhas vendo as mesmas "sacanagens" que veem nas novelas da TV. Reflexos de uma cultura plastificada onde nem mesmo a sacanagem passa incólume. Hoje em dia, cena de sexo no cinema nacional, só mesmo nas produções independentes e que atraem um público menor. Que mundo maluco é esse, não? Onde um peitinho vende menos do que uma bad trip em uma viatura policial.


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