segunda-feira, 18 de março de 2013


Duro de Matar - Um Bom Dia para Morrer
(A Good Day to Die Hard, 2013)
Ação - 98 min.

Direção: John Moore

Roteiro: Skip Woods

com: Bruce Willis, Jai Courtney, Sebastian Koch, Mary Elizabeth Winstead


Rambo, musculoso e menos atormentado com a guerra, se transformou uma máquina de matar em sua cinessérie. John Matrix, portando uma bazuca de quatro canos, destruía seus inimigos sem dó, visando salvar sua filha. O esquisito alienígena na selva até destruiu seus inimigos sem dó, como um legítimo Predador, mas não foi páreo para o destruidor ... e seu esconderijo na lama. Os bandidos de Los Angeles nunca representaram perigo para os óculos escuros de Marion Cobretti. E Nico, sempre acima da lei, mostrava que a economia nas palavras tornava o machão dos filmes dos anos 80 ainda mais ameaçador.

E tinha aquele policial de Nova York, pai ausente e marido equivocado, que foi obrigado a caçar, descalço, o vilão. E sangrar muito no processo.

Se há algo claro que transformou Duro de Matar em clássico, foi a vulnerabilidade do nada bombado Bruce Willis. A persistência do policial tornava a ação mais envolvente que nos exemplares da década. Para a segurança e força descomunal de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, Willis tinha ansiedade e falibilidade.




Uma pena, portanto, que John McClane tenha se tornado um super-soldado nas mãos de Skip Woods e John Moore. No novo exemplar da série, indubitavelmente o pior filme da série, McClane sai de suas férias para entrar em uma intriga internacional ao lado de seu filho. Seria confortante se a trama fosse ruim apenas sozinha, mas Woods faz questão de deturpar a própria série.

A começar pela estruturação da narrativa: de longas de ação não se espera muita inovação em carpintaria do roteiro, mas dividir um filme em três grandes cenas frenéticas com poucos respiros é abusar da boa fé do espectador.

O roteiro de Woods se inicia com uma sequência de créditos iniciais que mostra o plano de Jack (Jai Courtney) para assassinar um criminoso e, com isso, se aproximar de uma importante testemunha para a CIA. Se a cena já não impressiona sozinha, e é melhor para o público pensar que John Moore não quis copiar Saul Bass nos letreiros, se torna mais implausível como parte do plano inteligentíssimo que Woods constrói. Logo após a primeira explosão do filme, Jack tem que escapar com seu protegido. O problema é que seu pai, ah esse velho rabugento e teimoso!, veio para a cidade, atrás de soluções para a prisão súbita do filho, arrumando muita confusão. Viva o entretenimento para toda família.




Chega a ser cômica a cena que John McClane chega a Moscou. É o velho recurso do herói mundano porque está preso no trânsito, mas aplicado após uma apresentação nula do herói. Já conhecemos o personagem, obviamente, mas era mesmo necessário introduzi-lo através de uma mera conversa num estande de tiro? Logo após, já em solo russo, e depois de enfrentar o trânsito, McClane parece simplesmente INTUIR onde seu filho está, achando-o em questão de minutos. Não se cobra muita verossimilhança de um filme do gênero, e McClane já sobreviveu a um acidente de caça, mas o policial novaiorquino não poderia abordar seu filho com tanta certeza. A única explicação possível é a que Bruce Willis leu o roteiro e descobriu tudo. Além disso, as reviravoltas são absolutamente dispensáveis e, seguindo o exemplo de Salt, apenas servem para dilatar a narrativa. E por dilatar me refiro à meia hora de filme, já que há cerca de 65 minutos de ação na película.

Já que o fiapo de história não se sustenta, Duro de Matar 5 se apoia nas sequências de ação: a do início (nas ruas de Moscou), a do meio (em um prédio) e a do final (em Chernobyl [!!!]). Nesse fator, o olho estético de John Moore para coordenar uma ação estilizada funcionaria na teoria. Os problemas começam quando o diretor investe em câmera na mão e recursos realistas para criar uma perseguição totalmente cartunesca pelas ruas da cidade. É difícil temer pelo herói quando cerca de 30 bilhões de carros são destroçados ao seu redor, enquanto Bruce Willis nem ao menos sangra. O esforço de Woods em soar cool é tão grande que, além de obrigar McClane a gritar "estou de férias" como se fosse algo hilário, o roteirista escreve passagens que questionam sua sanidade mental, como a de McClane conversando com a filha no celular enquanto foge dos capangas.

Mas há, no clímax, uma epifania sobre esse novo capítulo na vida do policial. A certa altura, um personagem vê que está sem balas e, subitamente, acha válido arremessar seu helicóptero para dentro de um prédio. É um senso de urgência falso, um gatilho nervoso onde a primeira solução possível é a melhor, que rege Duro de Matar 5. Na melhor tradição do filme B, todos os obstáculos da narrativa são eliminados em prol da ação. Se os heróis estão sem armas, há um carro com o porta-malas destrancado cheio delas; para escapar, sabendo que se jogar de um prédio seria muito absurdo, os heróis usam um tubo estrategicamente localizado para a descida.




E, por último, não podemos esquecer. Pra que Jack iria chamar seus superiores da CIA, que poderiam liquidar a missão com facilidade, para combater o vilão? Porque é missão de pai e filho, ora. Está no cartaz: pai e filho, no céu e no inferno. A primeira solução possível é a melhor, lembra?


A fotografia acinzentada realista, sem vida até, não é suficiente pra transformar o filme em um exemplar da série. Se Skip Woods não sabe quem é seu protagonista, não é o medíocre fotógrafo Jonathan Sela que saberá. John McClane sempre se destacou porque era rabugento, insistente, humano. Diante de tramas banais (no 1 e no 2) ou de tramas elaboradas (3 e, principalmente, o 4), o policial sempre caía muito antes de conseguir perseverar. O segredo da série era saber dar um tratamento arcaico, mesmo na mais tecnológica das tramas; em Duro de Matar 5, John McClane é um soldado espião, à altura de seu filho. É um tratamento tecnológico para uma trama "elaborada".

O fato da ascensão de McClane a Exterminador do Futuro é meramente acidental e demonstra a falta de tato de Woods e de Moore. John McTiernen, melhor diretor que Renny Harlin e Len Wiseman (e uma profissão de distância de John Moore), resolveu a questão vulnerável do policial apenas ao fazê-lo descalço. Já aqui, Willis nem ao menos troca de cartucho para disparar sua metralhadora.




Ao colocar em pauta a falibilidade de McClane como pai novamente, após um belo desfecho no ótimo Duro de Matar 4, o roteiro de Woods dilui o personagem até em seus problemas pessoais. Não há um acerto sequer: ao assumir as falhas como pai, McClane fala enquanto Jack o ouve escondido.

Não é querer dizer que sou fã de John Moore, o pior esteta autoral em Hollywood, ou que seu leve olho visual o isenta de culpa, mas se há algo que seus filmes tem em comum é justamente a péssima escolha de roteiros. Característica que Skip Woods também mantém. Coerente, ao menos.

Diferente da ótima série Duro de Matar, que logo agora que conhece seu primeiro ponto fraco, vai direto ao fundo do poço.


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